Ticket To Ride escrita por Jojo Almeida


Capítulo 4
Flight 974


Notas iniciais do capítulo

Hey galera!
Eu sei, absurdo. Fico meses sem postar, e volto assim na maior cara dura. Mas, por favor, compreendam que eu estou terrivelmente sem tempo.
Sei que é um saco autoras que não postam, então acho que eu entendo se vocês resolverem me abandonar. E é claro que vcs tem todo o direito de me odiar. Só... Sei lá. Acho que isso vai me deixar triste do mesmo jeito.
Enfim, aproveitem o capitulo!



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- Você... Você precisa pensar sobre Travis, não é? – Juliet perguntou com a voz incerta, fuzilando Travis com os olhos. Travis franziu o cenho para ela.

- Não. Quer dizer, sim. Eu não sei. – Katie respondeu, se corrigindo. A ligação estava completamente estável. Era meio difícil entender sua voz em cima do caos de sons estranhos.– Eu só sei que... Bom, eu preciso de um tempo. Pra pensar sobre absolutamente tudo. Colocar as coisas em ordem, sabe. É complicado.

- Para onde? – Travis perguntou a Juliet num sussurro praticamente sem som, articulando exageradamente a boca para que ela entendesse o que queria. Ele estava ao seu lado, equilibrando-se e contorcendo-se de forma que também pudesse escutar todas a conversa do celular que Juliet segurava num ângulo que permitisse isso. Ela assentiu, em silêncio.

- Mas... Katie... Para aonde você está indo? – disse, mordendo os lábios nervosamente e rezando aos deuses para que a irmã desse a resposta que ela queria.

- Eu estou indo para.... AH! – Katie parou de falar, a ultima palavra se contorcendo num grito fino surpreso quase histérico. Um banque surdo, e depois nada. A linha ficou muda.

Juliet franziu o cenho. Ela e Travis se encararam, os dois com a mesma expressão de confusão.

-E agora? – ele perguntou hesitante. Não tinha nem ideia do que dizer. Nem um dos dois tinha, na verdade. Juliet olhou de um jeito estranho.

- E agora? – ela repetiu quase exasperada. – Katie... Ela... Arrgh! – resmungou sem conseguir formar sequer uma frase conexa. – Katie está em perigo, seu idiota!

- Hãn... Ela me pareceu bastante bem. – Travis comentou dando de ombros. – Outch! – reclamou bobamente quando Juliet deu um tapa sem dó nele. A filha de Demeter se levantou repentinamente, como se não conseguisse ficar parada nem mais um segundo.

- Bem? – repetiu, e em seguida riu com escárnio. – Bem porra nenhuma! – Travis levantou uma sobrancelha pra ela. A coisa devia ser bem séria para Juliet se atrever a usar um palavrão. – Você ouviu isso! Katie gritou. Gritou. Ela obviamente está em perigo.

- Tenho certeza que está tudo bem. Katie já em bem grandinha. Ela sabe se cuidar. Você não disse que ela estava com um punhal, néctar e sei lá? Não vai acontecer nada com ela. – Travis insistiu sem dar muita importância.

- Mas e se acontecer alguma coisa com ela? – Juliet rebateu impaciente, voltando a morder nervosamente o lábio inferior já violentamente marcado e avermelhado.

- Não vai. Acredite. – ele respondeu dessa vez num tom de voz mais traquilizador. – E mesmo assim... Não acho que podemos fazer qualquer coisa a respeito.

Juliet olhou para ele durante meio segundo, antes de se jogar no espaço vazio do sofá ao seu lado novamente. Ficaram em silencio. Os dois encarando fixamente algum espaço do vazio fizamente, como se fosse a coisa mais interessante que jamais viram.

- Você pode. – Juliet disse de repente, ficando ereta e se virando para ele, um brilho estranho passando em seu olhar. Travis ergueu uma sobrancelha para ela. Não gostou nem um pouco daquele brilho.

- Posso? – repetiu duvidoso.

- Pode! – Juliet assegurou com mais convicção, sorrindo bobamente. – Não acabou. Lembra? – não esperou por uma resposta. – Você ainda pode consertar as coisas! Ainda pode dar certo para vocês dois.

- Não, Juliet... Não. – Travis murmurou, fechando os olhos. Estava começando a ficar realmente cansado.

- Você só tem que ir atrás dela... Para Athens. – Juliet insistiu sem ligar para ele. – Eu tenho certeza que Dana ajudaria a gente. Dá até para você ir de carro! São o quê, dois dia na estrada? Travis, pode dar certo!

- Não. Não, não. – ele continuou a murmurar. – Juliet, nós nem temos certeza de para onde ela está indo.

- Para Athens. É claro. – ela rebateu como se fosse obvio. – Eu tenho certeza que ela está indo para Athens. Certeza absoluta. Para onde ela iria, afinal.

Travis suspirou.

- Juliet... Não. – Disse suavemente, quase que num tom de pedido, se levantando e pegando a jaqueta de couro que deixara em cima da mesa em quanto ia em direção a porta. A filha de Demeter se apressou em segui-lo.

- Eu te empresto o meu carro. – ofereceu numa barganha. – Você me devolve assim que puder. Não me importo de usar o metro por um dias. – ele não a escutou. – Eu mesma ligo para Danna. – ela tentou. – Travis, você não vê? – perguntou exasperada. – Pode dar certo!

Travis estendeu a mão na direção da maçaneta, mas ela se meteu entre ele a porta ficando na ponta dos pés para igualar a altura de sés rotos e segurando-o pelos ombros em quanto o fitava com aqueles grandes e chorões olhos verde-planta, tão iguais aos de Katie.

- Ao menos pense sobre isso. – insistiu com o tom de voz tão inocente e pidão que Travis teve que resistir contra o impulso de abraça-la e dizer que ia ficar tudo bem, que o mundo lá fora era um lugar terrível e detestável, mas que mesmo assim ia ficar tudo bem. Ele suspirou, desviando os olhos dela antes de achar forças para responder.

- Não, Juliet. Não é isso. – Disse com a voz suave, afastando suas mãos da forma mais delicada que conseguiu. – Você não entende. Esse não é o problema. – hesitou. – Eu estou cansado de correr atrás de Katie. Simplesmente... Cansado. Se ela quiser mesmo que as coisas deem certo... Dessa vez é ela que tem de fazer algo a respeito.




Katie batucou na mesinha cinza que estava aberta na sua frente. Rodou os olhos pela parte do avião que podia ver de novo.

Ela estava em uma fileira de dois lugares. Na sua frente uma senhora de casbelos brancos que ou estava morrendo de sono quando entrou ali, ou simplesmente acabara de morrer. Ao lado dela, um senhor se encontrava no mesmo estado. Atrás de Katie, um homem com cara de executivo via um filme na televisãozinha do acento, um garoto pequeno apagado ao seu lado. Já ao lado de Katie havia um garoto provavelmente de sua idade, absorto em uma edição de algum jornal qualquer.

Parecia tudo detestavelmente normal. Mas Katie estava se contorcendo de tanto nervosismo. Nunca fora de ter medo de avião, inclusive já voara muitas vezes. Mas alguma coisa parecia simplesmenteerrada (porque aquela aeromoça tinha um aspecto tão reptil? Aquela senhora ali a esquerda estaria usando um turbante, ou era impressão sua? O homem que fora ao banheiro há um tempo era meio coxo, não era?). Como, de fato, tudo que havia acontecido nas ultimas horas parecia irreversivelmente errado Katie estava tentando ignorar a sensação ao máximo possível, o que não era nada fácil.

Abriu o romance que comprar na livraria. O fechou novamente. Olhou para o sol poente pela janela. Abriu o romance. Batucou os dedos no canto da pagina. Mudou de posição desconfortavelmente. Fechou sonoramente o romance num súbito acesso de raiva. Era impossível ler qualquer coisa com as letras insistindo em flutuar para fora da página daquele jeito.

-Hey, você sabe que ficar checando a cada dois minutos não vai fazer as palavras mudarem, certo? – O garoto ao seu lado perguntou com um forte sotaque inglês, fechando o jornal e se inclinando levemente na direção dela. Katie arregalou os olhos surpresa, tendo que conter um grito. Ela riu nervosamente, corando. – Você está bem?

- Claro. – mentiu descaradamente, sem saber qual seria outra resposta aceitável. Tentou sorrir, mas talvez tivesse parecido mais com uma careta do que tudo. – Porquê?

- Bom... – ele deu de ombros levemente, olhando num caro relógio prateado que estava em seu pulso esquerdo. – Nós estamos voando a exatamente sete minutos e você parece prestes a pirar.

-Eu estou ótima. – Katie o assegurou corando fortemente, certa que devia soar exatamente como a grande mentira que aquilo era. Havia algo no jeito dele que era tão acolhedor. Como se ele não estivesse a julgando pelo fato dela parecer prestes a pirar, apenas tentando compreender isso. Como se estivesse prestes a ajuda-la.

- Você não parece ótima. – ele insistiu delicadamente. – Mas se é o que diz... – encolheu os ombros. – Qualquer coisa, eu vou estar bem aqui.

- Eu vou me lembrar disso. – ela disse com um leve sorriso, abrindo o romance novamente e tentando se concentrar nas palavras flutuantes. Leu uma, talvez duas páginas, antes de fechar novamente o livro e se virar desconfortavelmente na cadeira pela milésima vez. – Sabe o que eu odeio?

- Hãun? – Ele a incentivou a continuar falando, dobrando o jornal e guardando-o no compartimento da poltrona da frente. Não como se fosse um inconveniente, mas na verdade como se ele estivesse realmente contente dela ter resolvido falar com ele.

- A forma com que os caras sempre mudam nesses livros. – Katie continuou, sem saber ao certo de onde estava tirando aquilo. Mas as palavras lhe vinham tão naturalmente no meio da cacofonia de sua mente. Talvez porque fosse verdade. - Quer dizer, ninguém vai de idiota drogado para cara bonzinho em alguns meses com uma garota. Isso não é o tipo coisa que acontece.

- Talvez, não. Talvez sim. – ele disse pensativo. – Acho que o objetivo desses livros é justamente mostrar que todos podem ter um feliz. Apesar das diferenças.

- Ta aí. Uma coisa é ter um final feliz apesar das diferenças. Outra coisa é ter um final feliz se convertendo completamente paraaniquilar as diferenças. – ela balançou a cabeça. – Isso não é certo. Não é sequer real. As pessoas não mudam desse jeito por outra pessoa. Se elas são idiotas vão continuar sendo idiotas. E não importa o que você faça sobre isso.

- Você está sendo um pouco cruel demais com a humanidade, não? – ele perguntou gentilmente, ajeitando-se para poder olhar melhor para ela.

- Sim. Hãn, não. Eu acho... Sei lá. Tanto faz. – Katie deu de ombros. – É apenas a verdade. As pessoas não mudam. Simplesmente...Não. É uma condição essencial da própria natureza humana. As pessoas não mudam. E isso é um fato.

Os dois ficaram em silêncio durante um minuto, cada um a sua maneira pensando na declaração que Katie havia acabado de fazer.

- Então... Quem é a pessoa que fez você acreditar tão fielmente que as pessoas não mudam e estão todas destinadas a continuarem a ser idiotas pelo resto da vida? – ele perguntou com um leve tom de humor, fazendo com que ela soltasse um riso baixo.

- É uma longa história. Longa demais. – Katie respondeu sorrindo tristemente para ele, baixando os olhos em quanto brincava com a manga de sua jaqueta de couro.

- Nós temos muitas horas de voo até Londres.- ele a assegurou com um sorriso tímido. Kay não pode evitar fixar seus olhos neles e realmente pensar na hipótese.

- Eu mal te conheço. – ela disse bobamente.

- Viu? Essa e a melhor parte. Você pode despejar toda a longa história em cima de mim, liberar seja lá o que esteja te deixando tão culpada e depois disso nós vamos embora. Cada qual segue com o seu caminho. Talvez a gente nunca mais se veja. – ele argumentou gentilmente.

- E o que você ganha com isso? – Kay perguntou duvidosa.

- Algo ao qual prestar atenção nas próximas muitas horas de voo. – ele respondeu simplesmente. – Além do mais, é bom pensar nos problemas de outra pessoa para variar. Os meus já estão ficando gastos.

Fez-se um curto silêncio.

- Vamos, é uma oferta irrecusável. – Ele insistiu. Katie sorriu levemente. O pior de tudo, é que realmente era uma oferta irrecusável.

-Eu nem sei o seu nome. –Ela disse mesmo assim, a única coisa que veio a sua mente.

- Harry Cardon-Mienville Rosseau Edgware. – ele se apresentou com um sorriso. Ou pelo menos foi isso que Katie acreditou que ele tinha dito. O primeiro e o ultimo nome foram pronunciados com seu forte sotaque inglês, em quando os dois do meio (ou seriam três?) certamente estava em francês.

- Katie. Katie Gardner. – ela devolveu. Pensou em adicionar seu primeiro sobrenome (aquele que era de Isabel, sua madrasta) mas lhe pareceu levemente errado. Sempre adotava só o sobrenome do pai. – Mas eu prefiro Kay. – acrescentou.

Ela hesitou. Escavando incansavelmente sua mente em busca das palavras. Baixou os olhos, desconfortável, brincando com a manga da jaqueta de novo.

- Você acha que eu sou uma pessoa horrível? – ela ouviu sua própria voz perguntar baixinho, entrecortada. Olhou para cima novamente, subitamente notando como seus olhos estavam marejados.

Harry sorriu levemente.

- Você não me parece uma pessoa horrível. – comentou, fazendo com que Kay tentasse sorrir aliviada de volta. Mas as lagrimas já presas em sua pestana e a tremedeira incontrolável dos soluços que estavam por vir certamente fez com que fosse um careta de desagrado.

E, sem saber como, Katie começou a despejar toda a história no meio das lágrimas. Começou exatamente do começo de tudo. Aquele dia, nos bosques, durante a caça a bandeira (disse apenas que era uma acampamento de verão, evitando a palavra “semideus”). Passou pelo dia em que se beijaram, no metro de Washington. E pelas brincadeiras insuportáveis de Travis. Tentou resumir o máximo possível. Quando deu por si, estava quase desidratada de tanto chorar, mas lagrimas continuavam a escorrer, o jantar já havia chegado e ido embora a muito tempo sem que ela conseguisse comer nada, e ainda estava no começo daquela estranha semana no ultimo verão.

Foi aí que ela percebeu como os bons momentos doíam muito mais, e faziam com que mais lagrimas rolassem descontroladamente. As brigas eram estupidamente fáceis de contar. Já os bons momentos sempre ficavam entalados em sua garganta. Não sabia o que isso significava, mas certamente não lhe soava nada bem.

- E-e então – Katie dizia, controlando os soluços que balançavam o seu corpo. Harry tirou um lenço branco aparentemente do próprio ar e o estendeu na direção de Kay. Ela o aceitou imediatamente, sem parar pra pensar em que tipo de garoto andava com lenços brancos. –a três semanas atrás, e-ele vai para a Cali-lifornia tratar de negócioscom um tal de Brick que estava lhe devendo dinheiro. Aí eu me lembro “hey, você podia falar com Aly! Tenho certeza que ela vai te ajudar”.

- Aly? – Harry a interrompeu gentilmente, parecendo perdido no meio da narrativa.

- Minha amiga de infância. – Katie respondeu fazendo um gesto estranho com a mão esquerda. Respirou fundo, tentando conter os soluços. – Nós costumávamos ser vizinhas em Anthens. Eu, ela e Dana. Mas aí o pai dela recebeu uma oferta de emprego melhor na California há uns quatro anos atrás e eles se mudaram. Mantemos contato total, claro. Às vezes ela costuma ir passar as férias de verão em Anthens.

- Ah, certo. – Harry murmurou encorajando-a a continuar.

- Enfim, os dois combinaram de se encontrar. Ela ia mostrar a cidade pra ele, ou algo do tipo. Travis falou que Aly prometera leva-lo numa festa incrível no ultimo final de semana que passasse em Los Angeles, antes de ir pra San Diego. Ele vai para o aeroporto, e nenhuma noticia pelos próximos dez dias – Kay balançou a cabeça, mais lagrimas rolando pelas bochechas. – O próximo telefonema que recebo é de Aly, em lágrimas, falando que eles haviam ficado ficado na ultima festa. Acredita? O babaca me trai com minha amiga de infância e não tem nem a decência de me contar. Ele sequer pretendia me contar, alias.

- Espera, ele traiu a namorada com a melhor amiga e achou que ela não descobriria? – Harry perguntou indignado, levantando as sobrancelhas para ela. – O cara merece alguns pontos pela idiotice.

- E não é só isso. Ele ainda voltou agindo como se estivesse tudo absolutamente bem. Como se nada tivesse acontecido. Eu fiqueiirada. Qual era o problema dele? Depois de tudo o que passamos ele não tem nem a decência de contar que me traiu? – Katie parou, suspirando pesadamente. – E foi aí que começamos a brigar. E brigar, e brigar, e brigar. Passávamos mais tempo brigando do que respirando. Até que, há três dias atrás, eu não aguentei mais. E disse... e disse que talvez fosse melhor não ficarmos mais juntos.

- Isso não explica o que você está fazendo em um avião para Londres. – Harry comentou, arrancando um sorriso triste dela. Katie abaixou os olhos, brincando com o lenço branco que ele havia dado a ela e vasculhando sua mente em busca das palavras que explicassem essa parte da história.

- Meu pai sempre quis que eu fizesse intercâmbio. Ele fez quando tinha dezessete anos, e disse que os amigos e as experiências que teve durante um ano fora foram inigualáveis. Eu acabei concordando em ir na agência só para que ele parasse de falar sobre isso. Duas semanas depois, eu recebi a carta falando que fui aceita. Claro que as chances de eu sair de Washington quando tinha o apartamento, a escola, e o namorado dos sonhos bem ali eram nulas. Disse não de cara. Até hoje de manhã. Quando meu pai me ligou dizendo que Isabel havia contado para ele sobre Travis, e que não era tarde demais para dizer sim. Que o tempo máximo era vinte e quatro horas antes da chegada do voo.

Katie respirou fundo, passando a mão pelo cabelo. Parecia tão incrívelmente idiota quando se colocava em palavras que ela mal conseguia organizar seus pensamentos.

- Eu teria dito não. Eu devia ter dito não. – continuou, abaixando o tom de voz. Eram as únicas pessoas conversando (se é que aquilo poderia ser chamado de conversa. Beirava um monólogo, se não fosse pelas interrupções delicadas de Harry) em todo o avião. Para não dizer que poderiam ser as únicas acordadas. – Se não fosse pela carta de Tia May que eu achei no meio da correspondência em quanto falava com ele.

Harry a olhou confuso, aguardando pacientemente que justificasse.

- Tia May é minha madrinha. Uma pessoa incrível em tantas formas que é impossível caracteriza-la corretamente. Ela sempre fez o tipotia legal, que te leva no parque de diversões e te dá chocolates quando os pais não estão olhando. Chorei durante horas quando ela disse que se mudaria para a Inglaterra, há seis anos atrás. Para correr atrás de seu sonho como apresentadora de TV; o que, aliás ela conseguiu. Agora ela mora em uma casa grande no subúrbio de Londres e tem o emprego que sempre quis. Por outro lado, Tia May nunca se casou. Ela também não teve filhos. Nós somos sua única família. – Katie parou, suspirando. –Isso me pareceu tão errado quando li na carta a parte que mencionava o Cancêr. Tia May não merece ter que lidar com isso sozinha.

O ouvinte de Katie pareceu levemente chocado com a afirmação. Mas, se estava, não se pronunciou sobre isso. Apenas continuou a escuta-la.

- E aí – um forte soluço balançou os ombros de Katie, obrigando a parar de cuspir as palavras. – tudo que eu consegui pensar foi: que merda é essa? O que eu estou fazendo aqui? Bom, antes eu tinhas falado não por causa de Travis. Agora está tudo acabado entre nós dois. E Ti May... Ela pode dizer que é forte, que consegue lidar com isso sozinha. Mas eu não acredito nela. Ninguém consegue lidar como uma coisa tão grande assim sozinha. Ela precisa de alguém. E esse alguém pode ser eu. Então, o que está me prendendo em Washington? Nada. Fiz minhas malas, peguei um taxi e agora estou aqui chorando pateticamente ao lado de um estranho.

Kay baixou os olhos, se encolhendo dentro da jaqueta de couro preto macio, subitamente com frio. As lágrimas estavam finalmente parando, mas agora seus ombros se choaqualhavam com uma série de soluços secos e sua cabeça estava doendo. Havia falando tanto, e tão absurdamente rápido que até mesmo Juliet ficaria impressionada.

- O pior de tudo – ela acrescentou com a voz baixinha, a lembrança da irmã atingindo-a em cheio – é que eu não tenho a mínima ideia de nada. Não sei o que vai acontecer agora, não sei nem mesmo qual é o meu pior medo.

Um silêncio estranho pairou sobre os dois. Katie não havia dado trégua desde que saíram de Washington, e Harry parecia subitamente absorto em seus pensamentos. Ela sentiu as bochechas queimarem com força, aproveitando para dar uma boa segunda olhada nele.

Harry era bem alto e levemente musculoso – não tanto quanto os caras do acampamento, mas o suficientemente impressionante para um mortal. Ele tinha pele clara, o que criava um certo contraste com o preto absoluto de seus cabelos curtos e bagunçados. Olhos azuis claros, meio acizentados, uma beleza quase clásica. Usava um suéter de cashmere azul escuro em cima de uma polo branca com um calça jeans escura, arrumado demais pra quem só pretende ficar algumas horas em um avião. A luz pálida que vinha das luzinhas de leitura na cadeira a frente refletiam em seus olhos e fazia seu cabelo brilhar, dando-lhe um aspecto quase que angelical.

Kay tentou imaginar seu estado atual. Olhos inchados, vermelhos, tremeideira dos soluços, voz meio esganiçada, cabelo como um ninho de ratos e as roupas completamente amassadas. Que maravilha.

- Deuses. – ela disse, balançando a cabeça e rindo nervosamente. – Você deve me achar completamente patética e psicótica. Olha... Só me prometa que não vai falar com seus amigos mais tarde sobre aquela garota louca que chorou um oceano no avião para Londres.

- EU nunca diria que você é louca, patética e psicótica. – Harry respondeu sorrindo como se definitivamente achasse graça dela. – Você também não é uma pessoa horrível. Só... – ele deu de ombros. – Confusa, azarada o suficiente para acabar com o cara errado e e esperta o suficiente para fugir.

- Você acha mesmo? –Katie perguntou bobamente, sentindo os olhos se encherem de lágrimas de novo. Deuses. De onde estava vindo todo aquele sentimentalismo? Ela não costumava ser assim.

- Não vejo porque mentir para aquela garota louca que chorou um oceano no avião para Londres. –Ele devolveu divertido, fazendo-a rir.

- Isso é tão estranho. – Katie comentou ainda rindo um pouco. – Você sabe absolutamente tudo sobre a minha vida e eu não sei absolutamente nada sobre você.

- Eu tenho três irmãos mais novos, moro em Londres com meu pai e... – ele começou a listar, parando pensativo. – Bom, e minha vida é um tédio total comparada com a sua.

Kay gargalhou, jogando a cabeça para trás e acabando com sorriso bobo no rosto. É. Quem sabe Londres não ia ser tão ruim assim, afinal de contas.



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Notas finais do capítulo

E aí?
O que acharam?
Do Harry, do Travis bobão...?
Por favor galera, deixem reviews! Recebi muitos poucos no ultimo capitulo, e isso acabou me desanimando um pouco. Não vejo porque continuar morrendo para escrever uma coisa que certamente ninguém gosta.
Nem que seja só pra dar um oi. Juro que não mordo.
Beijos e até!
Jojo