11- Maldição

- Escute Jamie. A senhora Stewart está sobre um tipo de comando de Zora, umas das cabeças do nosso clã. – mas o que ele estava falando? Não fazia sentido, só o que fazia sentido era minha vontade de bater em Mika, ele me irritava constantemente. Comecei a pensar.

- Pense bem, a senhora Stewart quase nunca sai de casa e muito menos fala com os vizinhos. Porque exatamente na hora que você chegou em casa, ela estava a sua “espera”? – ele chegou mais perto ainda, ficando a poucos centímetros do meu rosto, porque eu me incomodava tanto com Mika tão perto assim?

- Então o que vamos fazer?

- Vamos sair daqui agora. – ele me puxou até seu carro nada discreto, um mercedes de cor preta.

- Você falou sobre uma tal de Zora. Ela é um dos três ceifeiros que estavam na cabana aquele dia?

- Sim ela é o poder maior do clã, ela controla mentes e as induz a fazer o que querem, e depois a memória da pessoa é apagada para que não lembre do que fez. – era tão estranho conversar com Mika civilizadamente.

Parei um pouco pra pensar, e imediatamente o que veio a minha cabeça foi Jake, e a dor voltou. Mas antes que eu me perdesse em minha dor, havíamos chegado ao que me parecia ser, uma igreja.

- Onde estamos? Porque me trouxe aqui? – fazia aquelas perguntas, mas de uma certa forma eu confiava nele.

- Espere e verá.

Quando entramos, prestei atenção em cada detalhe daquele lugar, não havia santos, nem estátuas de anjos ou algo do tipo que devia haver em uma igreja. A estrutura renascentista era, quadros retratando maus tratos a humanos por toda a extensão do local. Aonde deveria ser o altar, havia velas ao redor de algo que parecia ser um símbolo antigo.

- Mika o que você está fazendo? Por favor me responde logo. – comecei a me desesperar, aquele lugar era sombrio.

- Jamie você quer reencontrar o Jake não é isso? – ele falava quase em sussurros, porque?

- É claro eu sim. – minha voz estava trêmula de tanto pavor.

Então Mika começou a olhar para uma das janelas de vidro em mosaico que havia no alto de uma das torres da falsa igreja. Uma luz forte veio em direção a nós dois, vi Mika engolir em seco. Coloquei o braço pra bloquear a forte luz de meus olhos e vi que a luz era um tipo de projeção, e lá estava a imagem de Jake, sentado em uma colina a encarar o nada. Meu coração estava em disparada, comecei a andar em direção a projeção tentando tocá-lo, sem sucesso, meus olhos cheios de dor e lágrimas, queriam que aquilo fosse real.

De repente por entre a projeção, surgiu um ser obscuro e sombrio, que quase flutuava em minha direção, dei dois passos para trás.

- Então você que está causando todo esse problema? – Olhos negros como pelugem de um corvo, cabelos ondulados e brancos que nem neve, pele prateada e uma beleza sem igual, era a mulher que eu avistara em minha frente e me olhava como se fosse um inseto, que deveria ser exterminado o quanto antes.

Ela andou mais um pouco em minha direção, com sua capa preta, deveria de ser Zora o poder maior, como dissera Mika. Tentei fugir, mas braços fortes como aço me seguraram, e quando vi, minha reação foi totalmente o contrario do que iria ser realmente a algum tempo atrás.

Desolada, olhei para Mika e senti a dor da traição. Em vez de sentir ódio, senti dor, dor de ter confiado em Mika e de alguma forma, gostar dele.

- Me perdoa. – ele olhava pra mim suplicante, serrando os dentes, como se segurasse alguma coisa em suas palavras.

- Agora cumpra o que me prometeu Zora. Quero minha carta de alforria. Não servirei mais a suas carnificinas. – então era isso, ele me ofereceu em troca de sua liberdade e independência.

Quando olhei para trás Mika se fora, sem deixar rastros. E Zora se aproximou de mim com um sorriso pecaminoso em seus lábios perfeitos. Como uma criatura demoníaca poderia ser tão divina como ela. Acredite, nada mais fazia sentido pra mim. Ela se pôs em minha frente e ergueu sua mão em direção ao meu rosto e tudo se apagou.

Acordei com vozes em minha cabeça, acredito que dois homens conversando.

- O que acha que Zora irá fazer com a mortal?

- Não sei, mas sabe que ela detesta empecilhos em seus planos. Mika sempre se mostrou rebelde no clã, só fazia o que dava na telha. Zora apenas uniu o útil ao agradável. – o primeiro parecia ter uma linguagem mais formal e antiga que o outro e ambos estavam ansiosos.

Levantei e observei onde estava. Era um tipo de cativeiro ou algo do tipo. As paredes eram de pedras, como aquelas que vemos em castelos de filmes medievais. Sentei na cama antiga e por mais estranho que pareça, não estava mais assustada. Me concentrei mais um pouco na conversa dos homens.

- Espera. Lembra do holocausto de 1568 em nosso clã?

- Sim. O que tem?

- Zora foi desafiada por Amber do clã dos anjos protetores e lançou uma maldição a ela.

- Agora me recordo. Só o sacrifício de uma alma pura poderia quebrar a maldição.

Não estava gostando do rumo dessa história. Me aproximei da porta pra continuar escutando.

- Todos esses anos e Zora sem poder se alimentar de almas boas para poder manter a imortalidade. Só se protege com um feitiço do seu braço direito Claus. Agora sei a finalidade da garota.

Tinha de sair daquele lugar. Jake estava bem e eu iria atrás dele em qualquer lugar. E precisava escapar do que me esperava. Esperei saber mais, mas os homens se calaram. Olhei em meu relógio e percebi que tinham se passado 3 dias, como assim? Fiquei desacordada por 3 dias?

Andei de um lado por outro procurando uma solução. Percebi que os homens lá fora eram algum tipo de guardas, provoquei barulho dentro do quarto, arrastando a cama. Imediatamente os dois homens entraram no lugar e me escondi atrás de uma coluna, havia empurrado a cama em direção a uma janela, para parecer que saíra pela mesma. Corri para a porta, que parecia pesar toneladas, e tentei fechá-la sem sucesso, avistei um corredor que não tinha a mínima ideia de onde iria dar. Corri e vi uma saída, que iria dar em um tipo de floresta seca e sombria, não dei importância e continuei a correr. Vi os dois guardas correrem atrás de mim e tentei apressar o passo.

Meu despreparo físico era notável, cansada me escondi em um monte de galos secos caídos no chão. Respirei um pouco quando os vi passar direto de onde eu estava. Ainda avistava a casa velha onde eu estava alguns minutos, foi quando o vi na janela, era ele. Jake olhava a movimentação sem entender. Ele estava ali o tempo todo, como Zora me escondera de Jake? Ele sentia minha presença a quilômetros, sempre dizia ter uma ligação direta comigo.

- Jamie? Como você conseguiu sair de lá? – olhei incrédula para o que via. Mika. Era mesmo meu pior pesadelo.

- Você não tinha ido embora? Não havia conseguido sua liberdade? O que está fazendo aqui? – virei de costas e quando olhei Jake não estava mais na janela.

Saí de trás dos galhos e estava decidida a entrar lá de novo e ir a encontro de Jake.

- Ei, aonde vai? Está louca?- pegou em meu braço e meu ódio se manifestou.

- Me solta Mika. Não cansou de me seguir não? Me deixa em paz. Aliás não sei o que faz ainda aqui. Ainda tem algo que você queira, que inclua uma troca? – ele baixou a cabeça.

- Eu pedi seu perdão.

- Pra que? Achou que ia apagar o que você fez? Não Mika eu não confio mais em você.

- Logo você vai entender o que eu fiz. – ele falou e eu o ignorei.

- Mas por favor não entra lá.

- Porque isso agora? Você sabe que faço qualquer coisa por Jake, porque eu te escutaria?

Saí correndo por entre as árvores velhas e sem vida e olhei para trás para ver se Mika ainda estava por perto, e nada, senti um desapontamento, mas ignorei.

Entrei por uma porta que estava apenas encostada. Minha ânsia para encontrar Jake me dava coragem, um passo em falso e tudo estava perdido. Estava escuro no local, ao que parecia ser um porão.

- Jamie? O que está fazendo aqui? – quase gritei com o susto, mas minha satisfação e alívio foi maior. Estava nos braços de Jake, pereciam um pouco estranhos depois de tanto tempo, mas era bom como sempre.

- Oh Jake, onde esteve? Como senti sua falta. – falei quase chorando em ver seu lindo rosto perto do meu.

- Eu também meu amor. Mas o importante é que estamos juntos de novo. – e então me abraçou.

Mika rompeu pela porta do porão.

- Sai de perto dela agora. – falou entredentes.

- O que está fazendo? Perdeu a noção das coisas? – não acreditei no que estava acontecendo, como Mika se voltara com o próprio irmão daquela forma?

Em um piscar de olhos os dois começaram a lutar quebrando tudo que estava pela frente.