Já no outro dia, na escola, antes das aulas começarem, a única coisa que se falava era sobre o tal do concurso. Especulavam-se quem teria se inscrito, e parecia que aqueles que tiveram coragem de se inscrever estavam com medo de se pronunciar. Todos os que se dirigiam até a secretaria eram vigiados pelos olhos atentos dos outros alunos que tentavam descobrir os participantes.

- Sorte que a Sra Briggs já nos inscreveu, imagina todos esses enxeridos encarando a gente se inscrever ali na secretaria. - Freddie comentava com a Sam enquanto pegava seus livros em seu armário.

- Pois é. - Sam suspirou, olhando para os coitados que se dirigiam à secretaria. - Por que a Carly não veio contigo?

- Ah, ela disse que o Spencer iria trazê-la, que ele tinha que conversar com umas pessoas aqui do colégio.

- Por que será? Duvido que os professores o tenham chamado pra conversar sobre o rendimento ou o comportamento da Carly, quero dizer, ela sempre está acima da média e se equipara a um anjo no quesito educação.

- Também fiquei pensando nisso. Você não acha que ele está agindo meio estranho?

- Aham, sempre se esquivando quando está falando no celular, e ele está indo cada vez com mais frequência ao lixão, não é? Tenho quase certeza que tem algo haver com alguma nova escultura ou algo do tipo.

- Mas se for só isso mesmo, por que ele está agindo com todo esse mistério? Ah, a Carly chegou, vamos pedir se ela está sabendo de algo.

Carly vinha em direção aos dois.

- Bom dia! - Carly exclamou ao vê-los, e eles foram rumando juntos para os armários das meninas.

-Hey Carls, você está sabendo de algo que o Spencer pode estar tramando? - Sam perguntou, enquanto girava a senha na fechadura do seu armário.

- Ah, então vocês também notaram que ele ta meio estranho? - Os três foram andando em direção a sala de aula quando o sinal tocou. - Eu tentei arrancar algo dele hoje de manhã, mas ele disse que não quer e não pode me contar o que está tramando. Mas eu estou meio receosa, quero dizer, deve ter algo haver com o colégio, porque ele estava todo animado hoje dizendo que precisava falar com o diretor e tudo o mais. - Os três se olharam com olhares de indagação.

A manhã correu normalmente, com a Carly e o Freddie prestando atenção na aula e a Sam cochilando de tempos em tempos. No intervalo, de novo todos ficaram encarando quem se dirigia a secretaria, e no final do intervalo, chegaram a conclusão de que bem poucas pessoas tinham se inscrito. Depois de mais três aulas, o Sr Henning disse que esperassem um pouco mais para irem embora, pois o diretor iria passar mais um recado pelas caixas de som, sobre o concurso de dança.

- Tudo isso já ta começando a me deixar nervoso. - Freddie comentou, no que as garotas só o encararam por alguns segundos.

- Bom dia! - Soou a voz do diretor nas caixas de som. -  Não vim tomar um tempo muito grande do seu dia, só vim aqui para anunciar as duplas que irão competir no concurso e relembrá-los que a primeira aula já é hoje, às 15 horas, no ginásio do colégio. Cinco casais se inscreveram... (“Ou foram forçados a se inscrever... “- Sam resmungou lá do seu canto) e as duplas são: Valerie Brown e Andrew Fawcett, Cindy Magog e John Pepper, Tiaffany Scarlet e Arthur Goldie, Megan Scott e Pierre Zalewski, e finalmente, e surpreendentemente, - Ele suspirou. - Samantha Puckett e Fredward Benson. Boa sorte a todos e não faltem nas aulas! Um bom dia!

- A Sam? A Sam e o Freddie? Vão dançar juntos? – Foi só o que se ouviu na sala, murmúrios e conversinhas paralelas, e eles sentiram os olhares se voltarem para eles. O professor ainda tentou acalmar os estudantes, mas foi em vão, todos eles já faziam piadinhas e algazarra. O sinal tocou, e não foi diferente no corredor, todos os apontavam com tons de surpresa e incredulidade, e ouviam-se comentários do tipo “O que esses dois pensam que estão fazendo?” e “Duvido que passem da primeira fase” o que os fez andar rápido e quando chegaram na porta do colégio, Sam, já vermelha de raiva, virou-se pra trás e berrou:

- E pra aqueles que estiverem cogitando a ideia de zoar com a nossa cara, eu sugiro que antes de fazê-lo paguem um plano de saúde e um bom seguro de vida! - E saiu batendo as portas. - Argh, da pra acreditar nisso? - Ela resmungou para os amigos e saiu andando decidida, no que os outros dois a seguiram - Querem saber o que mais? Eu vou mostrar pra eles o que é bom pra tosse.

- E o que você quer dizer com isso, exatamente? - Freddie perguntou desconfiado.

- Eu já te disse uma vez Benson, e vou repetir agora: - Ela se virou e ficou de frente pra ele, apontando pra cara dele com o dedo. - Eu não jogo pra perder. Jogo pra ganhar, e nada diferente disso. E agora nós vamos ganhar esse concurso. - Ela virou-se e saiu andando. - Te encontro aqui na frente da escola ás 15 horas! - Ela berrou pelo ombro.

- Ai meu Deus, isso vai ser um inferno. - O moreno suspirou, encarando a loira se afastar. - É bem capaz de ela ficar obcecada com isso.

- É, eu não duvido nada. - Carly deu tapinhas no ombro dele tentando confortá-lo. - Olha lá sua mãe, vamos indo. - Eles se dirigiram para o carro da Sra Benson, enquanto Freddie suspirava mais alto e Carly ria baixinho.

 Às 14:40 horas Freddie chegou na frente do colégio. Ele tinha a consciência de que teria que esperar Sam chegar, afinal, ela sempre chegava em cima da hora ou atrasada. Ficou lá, com as mãos nos bolsos da calça, andando de um lado para o outro, tentando imaginar como seria a tal da aula de dança. E para sua surpresa, Sam chegou logo depois dele, resmungando com alguém no celular.

- Tá bom, tá bom, eu vou tentar. Tchau - E desligou o aparelho.

- Ué?! Nem está na hora ainda, e você já chegou? - Freddie disse irônico. - E com quem você tava falando no celular? O que você vai tentar? - Ele já parecia desconfiado.

- Era a Carly, ela pediu pra eu pegar leve com você.

- Pegar leve comigo?

- É. E eu cheguei cedo porque eu sabia que você já estaria aqui, e eu preciso falar contigo antes da aula. Te dar uns toques. E já vou começar criticando sua roupa, o que você pensa que vai fazer de calça jeans? Tinha que ter vindo com algo mais confortável!

- O quê?! - Freddie parecia confuso e contrariado. - Do que você ta falando? O que você entende de dança?

- Se esqueceu que eu participava de concursos de beleza quando pequena? Eu fazia aulas de dança. Já sei muita coisa sim, senhor, e sem querer me gabar, eu era muito boa. Aliás, ainda sou. Então é melhor você seguir meus conselhos se você quiser ganhar.

 - E quem disse que eu quero ganhar?

 - Mas eu quero. E, infelizmente, ganhar não dependerá só de mim. - Ela o olhou de cima abaixo, analisando-o. - Pelo menos a gente tem uma altura compatível. Seria horrível se fosse você muito baixinho.

 - E por que eu teria que ser o baixinho? Eu sou mais alto que você, você que é a baixinha aqui.

 - Olha aqui Benson... - Ela parou a frase no meio, pois outros casais estavam chegando. Entre eles, estava Valerie.

 - Ei, essa não é aquela Valerie que você namorou um tempo? Aquela que só estava interessada em acabar com o iCarly?

- É sim. É o último ano dela aqui na Ridgeway.

- Olá! - A garota chegou para os dois. - Eu realmente não acreditei que vocês iriam mesmo competir juntos, mas agora vejo que é verdade. E como vão as coisas? - Ela perguntou toda melosa.

- Vão muito bem, obrigada. E seu webshow, foi pra frente? - Perguntou Sam, venenosa.

- Aah não, eu parei faz tempo, me dei conta de que esse tipo de coisa é pra gente que não tem mais o que fazer. - Ela foi se dirigindo para o ginásio. - A propósito, o tempo só fez bem pra você, eim Freddie? Tá melhor do que nunca. - Acrescentou por cima do ombro.

- Ai que ódio que eu tenho dessa garota! - Sam xingou quando os dois também foram andando em direção ao ginásio. Eles podiam ver as costas dela, enquanto ela se enroscava no braço do seu parceiro.

- Eu não tenho nada contra ela. - Freddie sorria abobado.

- Ai Freddie, pelo amor de Deus, acorda! Ela quis acabar com o iCarly! Você só está falando isso porque ela ficou toda melosa pro seu lado.

- É bom quando alguém é lagal comigo, ok? Pra mim, isso é motivo suficiente pra gostar de alguém. - Ele se esquivou de um tapa da loira enquanto eles entravam no ginásio. Todos os outros casais já estavam por ali, meio sem saber o que fazer, parecendo meio perdidos.

- Boa tarde! - Exclamou uma animada profª Hart, enquanto entrava no ginásio segurando um rádio. - Vejo que todos já estão aqui, ótimo, ótimo! - Ela colocou o rádio em uma mesinha que tinha por ali. - Bom, vamos começar com uma pequena apresentação e algumas explicações. Eu sou a professora Alecia Hart, sou formada em dança na Faculdade de Juilliard, e já trabalho há 12 anos com dança de salão, dando aulas em várias escolas.

- Há doze anos? - Exclamou Cindy. - Todo esse tempo? Nossa, mas você parece tão nova!

- Ah, obrigada querida! - Sam deixou escapar um “puxa-saco” baixinho, e Freddie sufocou uma risada. - Vai ver é a dança que me rejuvenesce! - Ela tinha um sorriso muito sincero no rosto, e era muito simpática também. - Bom, como vocês estão vendo, este não é um lugar apropriado pra praticarmos dança, mas enquanto não tivermos um lugar decente, vamos nos contentar em ficar por aqui mesmo. - Ela juntou as mãos e deu um suspiro. - Bom, primeiramente eu gostaria de contar pra vocês como o concurso funcionará. Como vocês estão apenas em cinco casais, número que achei bem pequeno, - acrescentou com amargura. - eu já ajustei como serão as eliminatórias. Será assim: terão apenas duas fases. Na primeira fase, vocês dançaram todos juntos uma mesma coreografia, e ninguém será desclassificado, será apenas para se acostumarem um com o outro, pegarem um pouco de intimidade com o parceiro. - Freddie olhou de esguelha para Sam, e os dois enrubesceram um pouco. A ideia de ter intimidade um com o outro era, no mínimo, constrangedora. - Já na segunda fase, cada casal dançará uma coreografia diferente e todos vocês batalharão pelos primeiro, segundo e terceiro lugares! - Ela deu mais um grande sorriso. - Alguma pergunta? Ah sim, você!

- Com licença professora. - Megan começava a falar. - Quais serão os ritmos que você irá nos passar?

- Ah sim, cada fase trará um ritmo diferente, mas só vou anunciá-los quando começarmos a praticá-los. Por exemplo, o ritmo da primeira fase é a salsa. Foi por onde decidi começar. Mas vocês irão saber os outros ritmos apenas na hora de praticá-los. - Ela foi se aproximando dos casais. - Muito bem! Vamos começar logo essa aula com alguns alongamentos, ok? Agora, todo mundo esticando o braço lá em cima... - E seguiu-se uns 5 minutos de alongamento, onde os alunos imitavam os movimentos da professora. - Certo! Agora, deixem-me ver... - Ela lançou um olhar crítico aos alunos. - Poucos de vocês vieram realmente preparados para dançar. Vejo que apenas a Srta Puckett, a Srta Brown e a Srta Magog vieram com roupas confortáveis. Espero que isso não se repita, mas darei um desconto, afinal é só a primeira aula. - Sam olhou para o Freddie com aquele seu olhar de “Eu te disse”, o qual foi revidado com uma careta. - Muito bem então, a salsa! Ah, a salsa! Acho que não tem ritmo melhor para começarmos. Salsa, uma palavra espanhola que quando traduzida dá "tempero". Ela é bem simples de se entender, pelo menos o movimento básico. Antes de eu soltar a música, irei mostrar os passos básicos da salsa e vocês tentarão me acompanhar, tudo bem? Cada um dançando sozinho por enquanto, façam duas fileiras... isso... - Os alunos se endireitavam em duas fileiras. - Muito bem... agora, a salsa contém oito batidas. Você pisa com a ponta dos pés em seis tempos, enquanto os outros dois tempos são pausas. É assim: pra frente, 1, 2, 3, pausa, ou seja, o 4 não conta, agora pra trás, 5, 6, 7, pausa, porque o oito também não conta. - Os alunos foram a imitando timidamente. - Pegaram? Mais uma vez então: 1, 2, 3... 5, 6, 7. Bom, esses são os passos básicos, que parecem simples quando você está aprendendo, mas quando se dança com música ao vivo, a coisa muda de figura. Bom, mas vamos treinando-os assim por enquanto.

E assim se passaram uns 10 minutos, em que eles foram pegando os passos básicos com algum receio e vergonha. A profª Hart foi andando entre eles, corrigindo o que estava errado.

- Agora, quero que vocês mecham os braços junto. Vão no instinto, o que der vontade de fazer com os braços façam, mas os movimentos devem ser realizados mais ou menos na altura da cintura. Os movimentos dos braços conferem à salsa uma naturalidade e beleza únicas, desde que acompanhem, de forma instintiva, o movimento do corpo. - Mais alguns minutinhos praticando desse jeito. - Bom, muito bem. Agora, vamos partir para a dança a dois, que é a mais comum na salsa. - Sam e Freddie se olharam timidamente. - Vamos ainda sem música. Os passos são os mesmos, mas quando a moça vai pra trás, o rapaz vai para a frente. Vamos, vamos, não se acanhem. Quando se dança salsa, os bailarinos estão ligeiramente separados e mantêm todo o seu peso na ponta dos pés. A mão direita da mulher e a mão esquerda do homem podem estar dadas ou entrelaçadas, enquanto a mão direita do homem é pousada no ombro esquerdo da mulher , por baixo do braço dela, ou, em alternativa, na sua anca. O braço esquerdo da mulher deve estar levemente apoiado no do homem. Agora vamos começar primeiramente com a moça indo pra trás e o rapaz para frente. - Eles começaram timidamente a refazer os movimentos que estavam fazendo antes. Freddie colocou seu braço em torno de Sam, que por sua vez apoiou o seu em cima do braço dele, do jeito que a profª mostrava que era o certo. Ao passo que os dois entrelaçaram as mãos, começaram a suar frio e a ficarem vermelhos. Aquela aproximação não era normal para eles, apesar de não estarem muito encostados, pois a salsa não requeria isso - Apesar do passo de salsa ser mais compacto, é extremamente relaxado, permitindo uma liberdade fluida e sensual. - Continuou a profª. - Os movimentos das ancas, principalmente dos homens, são igualmente tranquilos, até sutis.

Mais alguns minutos transcorridos de passos tímidos, que na verdade foram se tornando um pouco mais descontraídos.

- Ok, agora a segunda coisa que você aprende é a condução para girar, a garota gira para a esquerda e o rapaz, para a direita. Durante o giro, é importante manter o foco no rosto ou no pescoço do parceiro. Vocês garotas devem olhar exatamente para o mesmo ponto no parceiro, enquanto estiverem girando. Isso eliminará a tontura inerente aos muitos giros e movimentos da dança. E lembrem-se que enquanto o rapaz leva o pé esquerdo para trás a garota leva o direito para frente. E também lembrem-se todos vocês de que precisam sempre manter contato visual com o parceiro então nada de olharem para os pés. - Ela foi ensinando alguns giros básicos para eles. Já que eram um pouco mais complicados, demoraram uns 20 minutos até que todos tivessem pego o jeito.

- Nossa, vocês estão indo muito bem! - A profª exclamou satisfeita, apoiando as mãos na cintura. - Agora, eu vou soltar a música e vocês farão exatamente o que acabaram de fazer sem ela, mas mesmo assim vocês verão que a coisa muda mesmo de figura. - Ela se dirigiu para o rádio, e soltou a música. Ela era meio lenta, mas era agitada ao mesmo tempo. Era bem legal, e contagiante. Sam e Freddie começaram a dançar, fazendo exatamente o que estavam fazendo antes, até que...

- Ai Freddie, não pisa no meu pé!

Essa expressão foi repetida muitas vezes, e não só por Sam. A profª ia andando no meio dos casais, ajeitando a posição correta dos braços e corrigindo os erros nos passos. Passada quase uma hora naquele vai-e-vem de casais, a professora desligou o rádio.

- Muito bom, pessoal! Pra uma primeira aula, vocês estão em um nível muito bom! Estou realmente satisfeita! Mas já chega por hoje, estamos aqui há quase duas horas! - Ouviram-se suspiros de alívio. - Pra quem quiser ouvir a música em casa, e poder praticar um pouco também, o nome dela é “Sway”, e quem canta é o Michael Bublé. Amanhã vocês serão informados do dia e horário da próxima aula. Estão dispensados! Tchau!

Os alunos foram se dirigindo para a saída. Muitos comentavam a aula, e comparavam seus desempenhos. Mas Sam e Freddie seguiam quietos, lado a lado, para a rua, cada um ligando pra sua mãe. Todo aquele contato físico ainda estava muito fresco na memória deles. Apenas quando chegavam na calçada que o Freddie quebrou o silêncio:

- Então... não foi tão ruim assim, não é? - Arriscou ele.

- Diga por você. Eu não vou sentir meus pés por dias.

- Ah, eu nem pisei tanto assim no seu pé, e eu já pedi desculpas!

- Tá, tá, que seja.

- Mas então... Acha que foi muito ruim? - Ele arriscou de novo, olhando-a de canto de olho.

- Devo admitir que estava esperando menos de você, Benson. - Ela respondeu, depois de um longo suspiro. - Você meio que me impressionou. Mas temos muito o que trabalhar com você ainda, então não vá se animando. - Ela acrescentou ao ver que ele já abria um sorriso. - Minha mãe já chegou, to indo. - Freddie notou que a garota teve um pequeno impulso de ir dar um beijo de despedida no rosto do amigo, mas parou no meio do caminho. Então Sam apenas atravessou a rua e entrou no carro de sua mãe, deixando um Freddie risonho pra trás.