Desejos Inconsequentes escrita por Bruno Silfer


Capítulo 14
Capítulo 14: Inveja


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal! Cumprindo com o que prometi ( um capítulo por semana ) estou aqui para postar mais um capítulo.

Primeiramente agradeço de coração a leitora Thaty Horan pela recomendação. Quando a vi fiquei imensamente feliz por ter feito algo capaz de merecer uma recomendação. Obrigado mais uma vez e espero que goste deste capítulo que foi feito especialmente para você.

Boa leitura ^^.



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Ino voltou da escola cabisbaixa. Sentia-se sozinha. Mesmo com o chamado que escreveu no caderno Gaara não havia aparecido. Será que ele havia recebido a mensagem? Ela sabia que sim, afinal já o testara muitas vezes. Então por que não voltou? Por causa da dor? Também achou improvável. Ele era forte demais para se abalar com algo como aquilo. Dúvidas pairavam sobre sua mente. Ainda com essas dúvidas ela chegou em casa e, ao entrar no quarto, viu que ele a estava esperando no seu lugarzinho de costume. Na poltrona próxima a janela. Sua reação imediata foi abrir um imenso sorriso, que iluminou tudo ao redor.

– Tudo isso é por felicidade de me ver? - Gaara brincou.

– Não seja convencido. - retrucou Ino - Mas sim, é por sua causa sim.

– Agora me senti importante.

– Você é importante.

Silêncio. Nada mais foi ouvido por alguns segundos.

– Por que demorou tanto?

– Eu disse que poderia demorar.

– Eu sei, mas... Hoje eu vi que não gosto que fique longe de mim.

Gaara se sentiu feliz com essas palavras. Perguntou:

– Como foi a escola hoje?

– Como assim?

– Você tem o seu poder de volta. Como se sentiu?

– Estranha.

– Estranha? - indagou o ruivo surpreso - Por que estranha?

– Como explicar... Antigamente eu amaria tudo isso. Amaria ser desejada, notada, admirada como era antes e fui hoje. Mas quando tudo aconteceu hoje... Pareceu que nada fazia sentido, que aquilo não me satisfazia mais. Não sei o que houve.

– Eu sei bem o que houve.

Ino, que estava sentada na cama, ajeitou-se melhor para ouvir o que Gaara, que estava de pé, iria falar.

– O que houve é que você passou a ver que aquilo que você vivia era pura ilusão.

– Como assim?

– Você vivia para agradar os outros e inflar o seu ego, em outras palavras, era orgulhosa em excesso.

– Mas não acho que seja errado ficar bonita.

– E não é. Só que no seu caso você ficava bonita, não por satisfação própria, mas para mostrar aos outros quem é a mais bonita. Entende a diferença?

– Acho que sim.

– Eu não seria tolo para dizer para uma garota que ela não deve se produzir, ficar bonita e se vestir bem; desde que não se faça isso para se mostrar aos outros. E era isso que você fazia.

– Entendi. Acho que você tem razão.

– Eu impus aquele custo a você, para que percebesse que aquilo que você conseguia com tudo isso eram amizades falsas e a incapacidade de ver suas verdadeiras qualidades.

Ino ficou confusa.

– Minhas verdadeiras qualidades?

– Ainda não posso te dizer quais são elas, mas você as verá naturalmente a partir de hoje.

– Você é misterioso demais.

– Todos os humanos são. Semideuses não fogem a essa regra.

– Mas ainda acho incrível não ter sentido nada quando tudo voltou ao normal.

– Um dos sintomas do orgulho é que você não olha mais para si mesmo. Se acha perfeito e que tem tudo o que precisa para ser feliz. Eu poderia dizer que a soberba é uma estátua de aço com pés de barro.

– Não entendi.

– Uma estátua de aço é indestrutível por si mesma. Nada pode abalá-la. Em contrapartida sua base tem que ser firme assim como todo o resto. Caso contrário ela não aguentará seu próprio peso e cairá.

Ino permanecia em silêncio. Ele continuou:

– Você era assim Ino. Uma estátua de aço. A mais bonita e desejada. Se achar muita coisa por ser bonita é superficial demais. Essa era a sua base frágil. O que aconteceria se surgisse uma outra mais bonita que você? Como reagiria? Não teria como fazer nada. Você era uma estátua de aço com pés de barro. Tudo o que fiz foi quebrar seus pés de barro para fazer a estátua cair mais rápido. Você só não ficou abalada porque eu fiz isso, fiz a sua estátua cair, mas depois estava lá para te levantar.

Ino ficou com vergonha. Ter toda a verdade jogada na cara assim de uma vez só não era fácil. O pior de tudo, é que não havia nada que pudesse dizer para se defender. Ele a decifrou perfeitamente.

– Não caia nessa armadilha de novo Ino. - disse Gaara se aproximando - Você não precisa provar nada para ninguém.

Uma lágrima caiu do olho direito da loira, mas não era de tristeza e sim de alegria.

– Obrigada Gaara. - disse emocionada - Obrigada por ficar perto de mim. Eu queria ser imortal igual a você. Para poder ficar assim para sempre...

Gaara se surpreendeu com essa resposta e tocou seu rosto com ternura. Depois respondeu:

– Não sabe o que está dizendo.

– Eu sei o que estou dizendo. Todo mundo já sonhou em viver para sempre. Talvez depois da morte isso seja possível, mas... Talvez seja tão distante...

– Tem certeza que aguentaria?

– Como assim?

– Ser imortal significa ter de abrir mão de muita coisa.

– Não entendo.

– Por exemplo... Não seria viável um imortal se apaixonar. Os imortais não envelhecem. Como se sentiria se o seu amor envelhecesse e morresse na sua frente sem que você pudesse fazer nada?

Ino não respondeu e ficou triste com a cabeça baixa. Parecia que tudo o que ela queria estava errado. Vendo o constrangimento da sua pequena, ele sentou-se na cama e a olhando nos olhos disse:

– Vou te contar um segredo.

A loira levantou o olhar na mesma hora e o fitou com uma carinha de curiosa. Ele aproximou-se mais e começou a falar.

– Só te peço que nunca diga isso para ninguém. Nem para as suas amigas.

– Eu prometo.

Ele respirou fundo e manteve seu olhar nos belos olhos azuis da sua protegida.

– Nós semideuses temos inveja dos humanos. - com a cara de dúvidas que ela esboçou, ele completou - Justamente por serem mortais.

– Não entendo. Viver para sempre não é bom?

– Nossa vida é sem sentido. Não temos para onde ir, nem motivação para seguir em frente. Tudo por causa de vivermos para sempre sem algo que nos mova.

– Mas por que ser imortal seria ruim?

– Entenda Ino. Tudo fica mais bonito quando sabemos que aquele momento talvez seja o único. Você vive mais intensamente quando sabe que tem um tempo limitado. Você sabe que seu tempo vai acabar um dia, por isso precisa fazer o que gosta, buscar a felicidade onde quer que ela esteja, sentir as dores quando tudo dá errado, sentir a satisfação da conquista, e antes de morrer, olhar para trás e ver que tudo valeu a pena.

Ino estava encantada com aquelas palavras. Gaara continuou.

– Quem é mortal precisa arriscar para poder viver em paz. Ao encontrar um amor, não pode deixá-lo fugir, pois ele sabe que talvez aquele momento jamais volte a acontecer de novo. Eles não tem uma segunda chance. Devem fazer o certo agora e sempre. Assim a vida ganha sentido. Tudo ao redor sorri para você. Entenda uma coisa Ino. Nós estamos no seu quarto agora, mas depois de tudo as boas lembranças vão ocupar o lugar desse momento. Nós jamais viveremos este momento do mesmo modo, nós nunca mais estaremos aqui e você nunca mais estará tão linda quanto está agora.

Ino desabou em lágrimas. Não eram lágrimas de tristeza, nem de dor, mas eram lágrimas que ela guardou em tantos anos em que não se permitiu chorar pelo seu orgulho. Aquilo era a última coisa que ela precisava fazer para se libertar daquelas correntes que a prenderam por tanto tempo.

– Obrigada de novo Gaara. - disse enxugando o rosto com as costas das mãos - Você me faz enxergar tão longe... Sabe que acabou de me salvar?

– Essa é a minha missão.

– Só está fazendo isso por ser a sua função? - perguntou triste.

– No começo era. Agora eu não te ajudo por causa disso.

– Por que então?

– Eu quero te ver feliz todos os dias. Talvez eu não consiga e falhe algumas vezes, mas sempre que precisar de mim estarei aqui.

– Eu preciso Gaara. Não sabe o quanto...

Sim, ele sabia. Ela que não sabia o quanto ele precisava dela. Depois da conversa com a semideusa de cabelos brancos decidiu não negar o que sentia, mas só confessaria para a Ino, caso ela o fizesse primeiro. Os humanos quando sentem desespero não pensam nas consequências de seus atos e ele contava com isso para que ela revelasse seus sentimentos. Não seria fácil, mas ele queria acreditar que tudo terminaria bem. Só não sabia como.

Nesse momento o telefone toca. Ino atende e dez minutos depois volta com um sorriso no rosto.

– Qual o motivo de tanta felicidade?

– A Sakura me chamou para passar o final de semana na casa de praia da família dela.

– Uma excursão.

– Não exatamente. Só vão algumas pessoas. Só amigos próximos mesmo.

– Vai ser bom. Faz tempo que não vejo uma praia de perto.

– Sério? Pensei que via tudo. - disse a última frase de forma irônica.

– E realmente vejo. Mas ultimamente eu ficava observando o universo.

Eles se calaram e sorriram. Ele um meio sorriso, que a deixou muito satisfeita. Ela, por outro lado, um sorriso largo e feliz que não fazia questão de esconder de ninguém sua felicidade. Por mais que ele negasse e negasse, ao lado daquela loira ele se sentia em casa, se sentia em paz e leve. Como se tudo o que o preocupava em tanto tempo de vida sumisse de repente. Ele sabia que aquele era mais um sintoma de amor, mas, diferente das outras vezes, se sentiu bem com aquele fato e se deixou levar por tal sentimento misterioso.


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