Gael entrou no Chalé 5 com um acesso de fúria. Ele chutou tudo que viu pelo caminho, socou partes das paredes, até que por fim soltou um urro de raiva jogando-se na cama. Dois de seus irmãos estavam conversando lá dentro, quando viram a cena.

– Alguém está em um péssimo dia. – Comentou o moreno. O outro era loiro, e concordou com a cabeça de imediato (reprimindo a vontade de rir de Gael).

– Alguém falou com vocês?! – Exclamou ele com raiva. Os dois riram do estresse de Gael, e o filho de Ares chutou um pequeno banco com revistas em cima.

– Ei! Sabe quanto custou para comprar essas dos Stoll?! – Reclamou o loiro quase avançando para uma briga, mas o moreno o puxou. Seu nome era John, e ele olhou para o irmão irritado com um certo tom de humor.

– O que aconteceu, hein? Levou uma surra de alguém? – Perguntou cruzando os braços – Nunca vi você tão irritadinho.

– Não enche! – Reclamou Gael levantando-se da cama inquieto. Ele olhou pela janela e depois se virou com ainda mais raiva – A culpa toda é dela!

– Dela? Ih, tem garota na história. – Riu o loiro, Edgar.

– Claro. Sempre tem garota na história. – Riu John – Quem é a figura?

– Vocês sabem muito bem! Todo o Acampamento sabe agora, porque aquela loira burra saiu cantando para todo mundo. – Reclamou ele revirando os olhos.

– Ahm? – Fizeram os dois sem entender, e Gael deu um tapa na própria testa.

– Rayssa, lesados! Acho que ela não é a única pessoa burra daqui. – Comentou ele virando-se para a janela novamente. Podia ver vários campistas andando de um lado para o outro fofocando sobre a notícia que ela espalhara – Tinha que ser prole de Apolo.

– Cara... Dá para falar o que ela fez, antes que eu te dê um soco? – Perguntou Edgar. Gael soltou um suspiro pesado e olhou para o irmão.

– Ela saiu pelo acampamento inteiro parando todos os semideuses e semideusas para dizer que é a nova namorada de Ares. – Contou Gael. Os dois irmãos franziram os cenhos e se entreolharam.

– Isso... Aconteceu mesmo? Quero dizer... Como isso aconteceu? – Perguntou John. Gael deu de ombros.

– Sei lá! Papai disse que não queria nada com ela, mas minutos depois... Tcharam! Eles são namorados. – Resmungou ele de mau humor – É ridículo. Ela tem 14 anos, se não me engano, e ele tem milhares a mais. Sem falar que ela está com o nosso pai! Que nojo!

Edgar sorriu maldoso e negou com a cabeça.

– Acho que não é isso que te incomoda. – Comentou ele. Gael olhou para o garoto e ele riu um pouco – Você, por acaso, não estaria com raiva dela porque a Ray te trocou?

– O que?! De onde tirou isso, sua besta?! É claro que não! – Exclamou ele irritado – Eu mesmo disse que não queria nada com ela. Mas... Isso também mostra outra coisa. Que tipo de garota fácil larga troca um cara por outro na mesma tarde?!

Eles se entreolharam e assentiram.

– Afrodite pode ser tão má ás vezes. – Comentou Edgar – É por isso que o meu coração está com a guerra sempre.

– O meu também. Imagina acabar como ele? Triste, não? – Comentou John.

– Triste? Eu diria patético, mas se chama assim... – Riu ele. Gael avançou contra eles morrendo de raiva, mas os irmãos só desviaram.

– O que querem dizer com isso?! Sejam diretos! Eu estou bem aqui! – Berrou.

– Eu achei que você tivesse pisado no coração daquela garota, mas acho que foi o contrário. Foi ela que acabou com o seu! – Riu Edgar. John riu também.

– E quem se deu bem no final foi ela e o papai! – Riu negando com a cabeça – Acho que você não tem sorte no amor, Gael. Mas continue tentando. Quem sabe vocês não ficam juntinhos? Seus pombinhos fofos!

– Calem a boca e sumam daqui! – Berrou ele com raiva. Os dois foram embora rindo e Gael gritou mais umas últimas frases – Eu não gosto dela! Eu odeio Rayssa Oliveira! Odeio!

Assim que bateram a porta, Gael jogou-se em sua cama e mordeu o travesseiro com raiva. Ele sabia que não odiava Rayssa. Que estava só com raiva momentânea por ela ter ficado com seu pai, mas algo ainda o incomodava. Como seu pai podia ficar com ela?!

Um absurdo, pensava ele enquanto tentava esfriar a cabeça. Agora todos sairiam por ai dizendo que Rayssa era a namorada de Ares, e Gael não sabia ao certo porque aquilo lhe dava tanta raiva.

De repente, ele ouviu a porta se abrir e fechar com força. O filho de Ares colocou-se de pé e cerrou os punhos.

– Eu não mandei vocês irem embora?! – Perguntou com raiva.

– Cale essa boca. Você não manda em ninguém, pivete! – Exclamou Ares avançando na direção dele. Gael trincou os dentes.

– Pensei que estivesse atrasado. Por acaso não tem um encontro ou coisa parecida? Vai ficar com a filha de Apolo! – Exclamou Gael virando as costas para o pai, mas ele não deixou por isso. Ares segurou o ombro de Gael e virou-o para si, forçando o filho a ficar de frente para ele.

– A culpa disso tudo é sua! – Reclamou irritado.

– Minha?! Eu perguntei se você queria algo com ela! Você disse não, e depois ela saí cantando pelo acampamento inteiro que você escolheu ela! – Reclamou Gael.

– Eu não teria que passar por toda essa situação ridícula se você não tivesse aceitado! – Exclamou Ares.

– Aceitado?! Aceitado o que, pai?! – Perguntou.

– Aceitado ela! Eu lembro muito bem! – Exclamou Ares – Ela foi até você no treinamento, falou de todos os sentimentos lindos e melosos que tinha por você, e o idiota aí mandou ela ir embora! Se tivesse ficado com ela, como um garoto normal, eu não teria esse problema.

Gael piscou os olhos tentando entender.

– Você veio até aqui só para reclamar comigo por não ter ficado com a Rayssa? Por que, se eu fizesse isso, seria bom para você? – Perguntou ele franzindo o cenho.

– Ora, não é óbvio?! Vim até aqui colocar juízo na sua cabeça, moleque! Volte com aquela garota para eu ter paz de novo! – Exclamou Ares – Graças a esse maldito amor incorrespondido, essa pirralha vai me arrastar para um encontro romântico. Deu para notar como isso é irritante?!

Gael sentiu ainda mais raiva.

– Você só sabe pensar em você, não é? Não está nem aí para ela, não está nem aí para mim, só está se importando com a sua paz. – Disse ele fitando o pai. Gael pegou algo que Ares não identificou, e bateu-o contra o peito do Deus – Espero que você fique muito bonito para o encontro de vocês. Divirta-se muito, pai. Por que agora ela é sua.

Gael tirou a mão do peito dele, e Ares segurou o objeto que estava na mão dele. Uma gravata borboleta.

– Como é que você falou comigo?! – Perguntou de modo ameaçador.

Ele foi embora antes que o Deus da guerra pudesse fazer algo. Gael saiu do Chalé corendo um pouco, pois sabia que poderia ser gravemente castigado por ter dito aquilo.

Eros, no entanto, não estava correndo. Ele observava Gael do teto do Chalé 5. Viu o garoto sair, e nesse exato momento preparou sua flecha. Mirou em Gael, mas quando foi atirar, o garoto tropeçou.

O filho de Ares tinha caído bem na frente do Chalé de Apolo, e notou isso quando ergueu seu olhar para uma garota de vestido amarelo.

– Gael? Levanta do chão. – Disse Ray ajudando-o a se por de pé. Ele desviou-se com violência de suas mãos e levantou-se sozinho.

– Não preciso de você. – Disse ele em um resmungo.

– Você é muito grosso, sabia? – Reclamou ela.

– Sabia. – Confirmou ele – Mas aposto que gosta, já que vai sair com o meu pai.

O sorriso de Ray voltou ao rosto, ignorando a ofensa de Gael.

– Oooown, sim, sim, sim! Eu vou sair com ele! – Sorriu ela dando pulos de alegria. Rayssa soltou um suspiro apaixonado – Ele estava tão lindo com vergonha de me pedir em namoro. Seu pai é fofo, sabia? Mas...

Ela olhou em volta, curiosa.

– Onde ele foi? Fugiu para onde? Deve estar nervoso, coitadinho. – Disse Ray olhando para todos os cantos. Gael olhou para ela, e negou com a cabeça.

– Ah, pode apostar. Está muito nervoso. Não diga que contei, mas ele está trocando de roupa no Chalé 5. Corre para lá o mais rápido que puder, e vai achá-lo. – Disse Gael torcendo para que seu pai fosse mais atormentado.

Não acreditava que alguém podia ser tão egoísta quanto Ares fora. Nunca pensara que seu pai se importaria mais com o próprio sossego do que com seu filho, por isso estava muito ressentido e irritado.

Ray preparou-se para correr, mas antes deu um grande abraço em Gael.

– Obrigada! Vai ser um encontro perfeito! – Disse. Ray deu um beijo na bochecha do garoto e saiu correndo. O filho de Ares ficou imóvel por alguns minutos, ainda surpreso por ter ganhado um beijo.

Seus olhos voltaram-se para o pontinho amarelo que corria para o Chalé 5 e para o doce cheiro de morango que deixava pelo ar como um rastro. Ele balançou a cabeça acordando de um curto transe, e sentou-se nos degraus do Chalé 7.

– Uhm... Talvez não precise de uma flecha. – Murmurou Eros observando a cena. O Cupido tinha acabado de pensar em novos planos.