Era a terceira vez que Sra Vitoria levava uma bronca por causa de seus alunos, o tumultuado saguão de embarque abrigava milhares de passageiros e entre eles estavam os estudantes e responsáveis da escola publica de South Park. A oportunidade de viajar para fora do país era imperdível e nunca antes cogitado. Tudo começou quando o presidente do grammy estudantil James Kirk juntamente com os alunos que estavam prestes a se formar realizaram uma campanha para que os fundos arrecadados nos próximos meses fossem investidos numa viagem de formatura, acontecesse que com sucesso da proposta o resto do corpo docente viu-se tentado em contribuir também ,logo a viagem que era apenas para os formandos acabou abrangendo todos os alunos do ensino superior e médio de South Park

Mal tinham chegado ao aeroporto e já estava saindo pior do que esperava a diretora da escola. Para começo de conversa os alunos deveriam estar organizados em grupos que correspondessem a sua sala e ano, mas muitos desacatavam a ordem e se misturavam com turmas diferentes tornando o despache das malas uma tarefa quase impossível.

Cada professor era responsável pela sua turma e Sr.Garrison era responsável pela turma do quarto ano. Infelizmente Garrison estava mais preocupado em conhecer os comissários de bordo do que cuidar de seus alunos, outro problema eram a facilidade com que se dispersavam. Wendy e Bebe estavam na loja de suvenir e faziam as contas das lembrancinhas que levariam para suas colegas francesas. Craig, Tweek e Clyde tumultuavam o banheiro com sua guerra de papel, Jimmy e Timmy reclamavam dos passageiros que ocupavam os acentos dos deficientes, Tokens persistia para os pais que não mandassem um jatinho particular para levar suas malas enquanto Pip tentava convencer Butters de que ele não era francês e que nada sabia sobre o pais.

Perto da praça de alimentação Kenny e Eric não pareciam aprontar qualquer confusão, tirando o fato que ambos não estavam no local estabelecido, o menino de gorro azul havia devorado seu primeiro X-burguer e estava já escolhendo seu segundo, o menino do capuz laranja esgueirava sua mão em busca das batatas fritas do outro, afinal seu único sustento,um sanduiche de pasta de amendoim , não era capaz de tapar sequer o buraco do dente

–Kenny, eu já falei para tirar as suas mãos pobres das minhas fritas!

O som de suas palavras saiu abafado, mas o outro as entendeu perfeitamente

–Eu sei que você esta com fome, mas ninguém mandou nascer pobre

Kenny revirou os olhos, sabia que era quase impossível o outro ceder alguma coisa, ainda mais quando se tratava de comida. Apesar das desavenças ambos estavam mais próximos do que qualquer um poderia ter imaginado, ou melhor, qualquer um que poderia ter imaginado ele com nada menos do que Eric Theodoro Cartman.

Um motivo para essa aproximação seria a possibilidade de Cartman, inconscientemente, intuir as ocasiões em que o amigo loiro morrera. Esse anseio o fez mais achegado sempre que as sensações de incerteza vinham à tona, e Kenny sentia-se bem com o fato. Outro motivo e mais importante, pessoalmente para o loiro, eram as freqüente visitas de madrugada a casa do amigo quando seus pais estavam alterados pela bebida e pelas drogas, apesar de sempre mal recebido com o péssimo temperamento do outro ele nunca o recusou. Em uma dessas ocasiões Cartman entregou uma copia de suas chaves e disse que assim não precisava atormentá-lo em avisar toda vez que estava a caminho, a desculpa foi bem convincente, mas analisando seu comportamento durante anos, cada atitude, cada palavra, cada gesto, era puro e simplesmente calculista, a verdade era que Cartman enfrentava uma batalha conflitando com relação aos seus sentimentos reprimindo assim a mais casta ternura

–Certo Kenny, quando chegarmos a Paris você e eu subimos na torre Eiffel e mijamos lá de cima

–Mumph mphm mph

–Eu to falando vai ser ‘’vaginal’’, aquelas bichas não podem fazer nada contra nos americano

Cartman não poderia saber mais sobre um povo quando se tratava de saber suas falhas, ele estudou religiosamente sobre a França para que essa viagem não fosse um total desperdício de tempo. Enquanto seu outro lanche não chegava puxou de dentro da mochila um pequeno caderno e uma caneta e começou a revisar algumas paginas que estavam documentadas. Com a visão ocupada a sensação era de que as pessoas estavam falando mais alto e Kenny mais baixo, o loiro ao perceber que não obtinha nenhuma resposta decidiu retirar o capuz

–O que você esta fazendo?

As palavras saíram com uma sonoridade perfeita, uma melodia que poderia se encaixar muito bem em uma musica caso McCormick decidisse virar cantor, mas isso não fez com que Eric parasse totalmente o que estava fazendo, enquanto seus olhos permaneceram no papel, seus ouvidos foram seduzidos pela voz, um timbre que o fazia relaxar ou, muitas vezes, arrepiar em calafrios

–Estou revendo alguns pontos importantes sobre a nossa viagem

–E você realmente acha que eu acredite nisso. Qual o plano desta vez?

–Em não me resumo a apenas um plano, são um conjunto de fatores

–Uhm... Será que eu ouvi direito? Eric Theodoro Cartman revelando suas intenções precipitadamente sem desconversar o assunto

Cartman estreitou os olhos e exibiu seu famoso sorriso zombador, ele sabia que dentre os três amigos Kenny era o mais ardiloso todos o viam apenas como um menino pobre e pervertido, o que não deixava de ser verdade, contudo havia muito mais segredos por baixo daquele moletom alaranjado

–E você Kenneth, acha que sou idiota o suficiente para não perceber o seu joguinho, esta na cara que vem me analisando muito ultimamente

–Esta paranóico bunda gorda, eu não dou a mínima para você

Apesar de todos os argumentos capazes de levar aquela discussão à diante, Cartman a encerrou sem dar a ultima palavra. Algo instigou a sua atenção como um cão por um pedaço de carne, Kenny percebeu a atitude e o acompanhou, percorreu seu olhar minuciosamente pela multidão para qualquer coisa que ele consideraria do interesse do amigo rechonchudo, porém não conseguiu descobrir de imediato.

Ao desistir de entender o que estava acontecendo, seus olhos pousaram para a caderneta que estava agora repousava a mesa, exigiu pequeno esforço para ler a letra miúda e invertida, mas ao conseguir enxergar um termo chave qual não foi sua surpresa em descobrir do que se tratava, olhou novamente em direção as pessoas e encontrou sem mais dificuldades uma criança com gorro verde com abas acompanhado de outro de gorro azul marinho com uma bola vermelha

–Agora é sério, o que esta tramando contra Kyle?

–O que?

–Não banque o desentendido comigo, eu vi que você sublinhou ‘’judeu’’ no seu caderno

–Eu não estou tramando nada contra ele

–Pehhh! Resposta errada, eu te conheço muito bem

–Pra quem não da à mínima para minha vida, esta se saindo muito bem

–Olha gordinho,eu não quero ver ninguém nessa viagem prejudicado só porque você e Kyle tem uma rivalidade que beira a paixão reprimida

–Cacete Kenneth, qual o seu problema? nunca deu a mínima para as minhas brigas com o Kyle agora quer se intrometer, e que merda e essa de paixão reprimida

–Não interessa se dou à mínima ou não, se as coisas piorarem eu vou ter uma conversa séria com Stan

–O hippie! O que ele tem nessa historia?

–Ele vai ajudar para que vocês dois fiquem o mais longe possível, já estávamos prevendo isso

–Eu entendi, agora ficam de ti-ti-ti enquanto eu não estou perto, o que mais vocês fazem? Beijam-se atrás do pátio depois da escola

–Cala a boca, a questão é se brigarem eu e ele vamos apartar e se não adiantar vamos falar com a Sra.Vitoria

–Mas o que e isso!? Agora eu tenho babá que porra e essa?

–Não Cartman, você tem aquilo que nos chamamos de amigos, apesar de não o tolerarmos, não queremos o ver machucado

–Tudo bem, tudo bem, eu não vou fazer nada com o judeu enquanto nos quatro estivermos juntos

–Isso e uma promessa bunda gorda

''Atenção, senhores passageiros, vôo 1997 com destino a Paris, embarque imediato pela sala 13''

Kenny confiou naquelas palavras, afinal Cartman nunca quebrava uma promessa, mas nunca se sabe quando a primeira vez pode acontecer