Um Pardal Que Tinha Medo De Voar... escrita por Sweet Mia


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Olá queridos leitores, se é que vocês existem. Visto que no último capítulo não tive nem um review... Vocês não merecem mas como eu escrevo para mim levam com o capítulo na mesma...



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"Lucas"

Fitei-a surpreendido. Estaria a sonhar? Ela falou? Disse mesmo o meu nome? Apesar de quase inaudível, o meu nome nunca me soara tão doce como pronunciado pela sua voz fraca...Parecia que ela nunca tinha falado. Seria verdade? Fitei-a. Os olhos dela que, ao contrário do que eu pensava não eram exactamente castanhos-esverdeados mas sim verdes salpicados de um castanho dourado quase mel, deram-me a resposta. Estavam fixos, chocados. Ela estava paralisada, como se não conseguisse acreditar que tinha falado. Sentia o coração dela a acelerar desorientado como um passarinho preso numa gaiola a tentar libertar-se e percebi que ela estava em pânico.

Aumentei ligeiramente a pressão no peito dela tentando controlar o voo daquele passarinho chamado coração que a estava a fazer sofrer. Ela continuava assustada e tentou libertar-se...Mas estava demasiado fraca, e consegui mantê-la imóvel sem a magoar. Eu próprio estava a ficar um pouco assustado com a sua falta de reação. Precisava de a tranquilizar...

Beijei-lhe o topo da cabeça.

–Sshhh...Não precisas de ter medo. Respira devagarinho. Está tudo bem. Não fiques a pensar nisso...

Não sei explicar o que aconteceu mas senti-a ceder. Como se finalmente largasse a última réstia de controlo que tinha sobre si mesma e me deixasse cuidar dela. Um suspiro suave e débil soltou-se dos seus lábios, o seu corpo relaxou e ela encostou a cabeça ao meu pescoço. Para quem nos visse ao longe pareceríamos provavelmente apenas um par de namorados abraçados debaixo do mesmo guarda-chuva. A realidade era bem diferente...A rapariga que eu segurava nos braços, estava a tremer, a cabeça dela estava tão quente que parecia queimar o meu pescoço, os cabelos ondulados estavam molhados e ocultavam um pouco a minha mão que ainda pressionava o seu peito. O coração começara a acalmar um pouco depois do acesso de pânico. Tínhamos de nos abrigar...Aparentemente nenhum de nós iria às aulas naquela manhã.

Suavemente, acariciei-lhe os cabelos molhados para lhe chamar à atenção. Senti-a retrair-se, o muro que erguia à sua volta estava ali de novo, quase uma barreira física.

–Calma...Não precisas de te assustar. Mas temos de sair daqui já está quase na hora de entrarmos e não convém ficarmos cá fora. Vamos para a biblioteca está bem?

Ela estava a tremer mas acenou levemente que sim. Segurei-a suavemente pela cintura, tendo cuidado para não a magoar. Recordava demasiado bem a sova a que assistira e calculei que ela ainda estivesse dorida. Ela continuava apoiada em mim, e reparei que apesar de estarmos a andar devagar a pequena distância que nos separava da biblioteca a deixou ofegante.

Empurrei a porta sem a largar. A minha irmã ficou a olhar para nós, e conseguia ver a imensidão de perguntas que lhe passavam pela cabeça espelhadas nos seus olhos. Mas depois desviou o olhar e voltou às suas tarefas normais. Agradeci-lhe silenciosamente por ter guardado o interrogatório para mais logo. Sentei-a no nosso cantinho do costume e sentei-me junto a ela.

Ela encostou-se a mim, tremia muito e calculei que estivesse cheia de frio. Cuidadosamente puxei-a para o meu colo para a aquecer melhor. Ela era leve como uma pena mas estava tensa como se fosse feita de pedra. Tirei o meu casaco e coloquei-o sobre os seus ombros. Suavemente comecei a acariciar-lhe os cabelos, uma tentativa de a acalmar. Ela ficou menos rígida no meu colo e ajustou melhor o seu corpo ao meu.

–Tens fome?

Foi a única pergunta que me lembrei de lhe fazer. Todo o seu corpo tremia e eu reparara como ela ficara cansada há pouco. A verdade é que não sabia o que se passava, não sabia nada estava simplesmente a basear-me em palpites para a tentar ajudar.

Ela olhou para mim, a confusão e o medo brilhavam-lhe no olhar. Uma dúvida que ela não precisava de palavras para expressar de tal modo estava escrita nos seus olhos. “Como é que ele adivinhou?”. Finalmente corou e acenou com a cabeça. Não parecia muito disposta a falar novamente. Abri a mochila ignorando todos os sinais de “Proibido comer” espalhados pela biblioteca e entreguei-lhe uma sandes de queijo. Ela agarrou-a cuidadosamente como se a sandes fosse pesada ou não tivesse a certeza se podia comê-la mas, depois, comeu com vontade. Quando acabou ergueu os olhos para mim.

Houve um instante de expectativa, percebi que ela queria dizer qualquer coisa mas era como se algo a bloqueasse. Como vi que ela estava a ficar nervosa, ofereci-lhe o meu caderno e um lápis. Ela olhou para mim surpreendida mas sorriu, e depois escreveu:

"Obrigada."

–De nada, Nora.

Fiz-lhe o meu melhor sorriso. -Como é que te sentes?

Ela ficou nervosa, e começou a tremer por isso tentei acalmá-la.

–Não precisas de ficar nervosa. Eu só te quero ajudar mas não me precisas de contar nada se não quiseres, nem de falar comigo se não te sentires à vontade. Já percebi que és tímida, e que estás assustada. Isso só te deixa pior, por isso vou tentar não te pressionar, ok?

Ela acenou afirmativamente e encostou-se um pouco melhor a mim. Mas escondeu-me os seus olhos. Era exactamente como aproximar-me de um passarinho ferido, parecia-me que caminhava sobre vidro de cada vez que interagia com Nora, tinha de o fazer cuidadosamente para não a assustar demasiado. Apesar de não perceber nada de medicina e ansiar por chamar Irene para me ajudar, sabia o suficiente para perceber que quanto mais enervada ela estivesse pior ficaria, e por nada deste mundo queria agravar o seu estado debilitado.

Ela ergueu os olhos para mim. Por um momento apenas esqueci -me de tudo…Estava preso àquele olhar. Como é que ela conseguia exprimir tantas emoções através dos olhos? Pareciam dois espelhos verdes, confusos, assustados, curiosos, surpreendidos, cheios de um medo que eu não sei exprimir por palavras, um medo imenso que lhe dava um ar extraordinariamente frágil, e de algo que eu não conseguia identificar. Esperança, talvez?

Então, hesitantemente ela tornou a pegar no caderno e escreveu.

"Não sei a resposta para a tua pergunta…O que queres saber?"

Reflecti por alguns segundos. Tinha tantas perguntas para lhe fazer… Se calhar era melhor começar pelos aspectos práticos.

– Eu sei que estás com febre…Andas a tomar alguma coisa para as dores de cabeça?

Ela pareceu surpreendida. Provavelmente não era a pergunta mais óbvia para se fazer mas eu precisava mesmo dessa informação.

"Não…"

–Devias...Estás muito quente, deves estar cheia de dores de cabeça. Toma. – Estendi-lhe uma garrafa de água pequena e uma caixinha de aspirinas. – Tens de cuidar de ti. - Disse-lhe enquanto lhe acariciava os cabelos.

Como é que ela aguentava? Estar assim, doente, nervosa, sozinha…Quem me dera poder ajudá-la mais. Ela tomou o medicamento. Lágrimas rolavam-lhe pelas faces, e uma delas caiu-me na mão. Ergui-lhe o queixo, obrigando-a a fitar-me. Estava preocupado, o que acontecera? O que fizera eu que a fizera chorar? Estava demasiado confuso… O mais delicadamente que consegui, limpei-lhe as lágrimas e abracei-a. Depois fiz a pergunta que resumia todas as que me queimavam a língua desde que a conheci. A única que fazia sentido.

–O que se passa, Nora? Sei que não estás bem…Sei que não me conheces bem mas podes confiar em mim. Conta-me, por favor...



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Notas finais do capítulo

Então gostaram? Será que a Nora vai desabafar com o Lucas? Mereço ao menos um reviewzinho?