German Hotel escrita por Halina, Abublé


Capítulo 2
Zumbis, me abanem!




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  “Acordei de bom humor.”

  Esta é uma frase que nunca vai sair do meu caderninho de ironias. Porque só o fato de acordar para o mundo já é algo para se lamentar. Exigir meu bom humor é tão idiota e inútil quanto pedir para Tom Kaulitz abdicar do sexo. Quer dizer, isso certamente não vai acontecer. 

  Além do mais, não havia nada que motivasse bom humor ao meu redor. Não havia nada que motivasse qualquer coisa boa. 

  Para começar, o quarto estava uma zona total. E mesmo que eu fosse responsável por parte da zona, já que eram as minhas malas que estavam abertas de qualquer jeito no chão, preferia colocar a culpa na minha tia Suzana porque ela tinha tropeçado nelas e feito voar roupa para todos os cantos. 

  Como se a certeza de que eu é que iria arrumar toda a bagaça não fosse o suficiente, havia um ser de outro planeta pulando em cima de mim, mais conhecido como Antonio, o insuportável. Como aquela versão miniatura de monstro do espaço tinha conseguido entrar no quarto eu não fazia ideia. Tínhamos até colocado uma placa na porta que dizia “Não abra se Antonio estiver por perto”. 

  Mas iria botar a culpa na minha tia Suzana também. 

  Chutei o garoto e me virei, louca para pegar no sono outra vez. Eu estava sonhando que zumbis haviam invadido a terra, eu tinha uma AK47 e matava todos eles. Fala sério, meu sonho fazia muito mais sentindo do que a vida real. E também era mais legal. 

— Acorda! Acorda! Acorda! — Antonio voltou a subir na minha cama e pular em cima de mim. 

  Mentalmente eu já tinha cavado o túmulo dele. 

— Acorda! Acorda! Acorda! 

  Mentalmente eu já tinha matado ele umas quinhentas vezes. 

  Quinhentas e uma. 

— Acorda! Acorda! Acorda! 

— JULIA, ME DÊ UMA ARMA! — gritei, levantando o rosto do travesseiro. 

— É pra já! — ouvi a voz da minha prima próxima de mim, mas não consegui vê-la porque Antonio estava pulando bem em frente ao meu rosto.  

  Uma escova de cabelo caiu no meu colo. 

  Poxa, que arma, hein! Se eu conseguisse matar o pestinha com aquilo a Julia seria a próxima. 

— Aaaaaaaah! Mamãe, a Isabela quer me bater com a escova de cabelo! — Antonio saiu do quarto gritando e fingindo um choro enquanto eu ia atrás o ameaçando com a minha super arma mortífera. 

— Volta aqui, moleque! Você pediu agora vai ter! — ri de um jeito muito maléfico. 

— Mamãe!  

  Nós corríamos pelo corredor do hotel sem olhar para os lados. Até que esbarrei em alguém e caí sentada no chão. 

— Me desculpe. Você está bem? — disse um homem estendendo a mão para mim. 

  Me levantei sozinha, sem fazer contato visual. Meu rosto estava em chamas. 

— To bem — falei, dando meia volta. — To bem. 

  QUINHENTAS E DUAS VEZES! ANTONIO JÁ TINHA MORRIDO QUINHENTAS E DUAS VEZES!

  Me dei conta naquele momento que eu ainda estava de pijamas. E digamos que os meus pijamas não são muito grandes. Também tinha certeza de que meu rosto estava todo amassado e de que o meu cabelo estava uma zona. 

  Próximo passo: arrumar um jeito de me matar usando uma escova de cabelo. 

  Entrei no meu quarto e fechei a porta atrás de mim, me encostando nela. Deslizei até o chão, ainda sentindo minha face quente.

— E aí, matou ele? — bia perguntou esperançosa. 

— Não — suspirei e coloquei a escova de cabelo de lado.

  Houve um lamento conjunto no quarto. 

  Resolvi ficar ali sentada no chão, porque estava confortável e geladinho. Tia Suzana ligou seu secador de cabelo, Julia colocou os fones de ouvido e Bia estava lendo uma revista teen em sua cama. Pelo jeito eu seria a única morgando ali, já que estava com preguiça de levantar para pegar meu celular e seguir o exemplo de Julia.

  Estava chovendo forte, mas eu estava longe demais da janela para ficar apostando corrida de gotas, então fiquei cantarolando canções aleatórias de Tokio Hotel com uma cara de completo tédio. 

  Bia olhou carrancuda para mim por detrás de sua revista e colocou fones de ouvido. O que ela quis dizer com aquilo? Que eu cantava mal? 

  Fala sério, se Bill Kaulitz me ouvisse cantar ele iria exigir que eu fizesse um dueto com ele para colocar no próximo álbum da banda. Não há dúvidas disso. 

  Comecei a cantar mais alto para provocar a minha irmã, mas antes que eu chegasse no refrão de Komm, a porta foi aberta com brutalidade, empurrou minhas costas e eu caí de cara no chão. 

— Opa, desculpa, querida. 

  Ainda me chama de querida. É pedir para morrer mesmo. 

  Ergui a cabeça, fazendo força para erguer a dignidade junto e fiz cara feia para a pessoa, que no caso era minha tia Amanda, a mãe do Antonio e da Antonia. 

— Você não devia ficar aí encostada na porta — ela me repreendeu. — Ainda bem que eu não empurrei com força. 

  NÃO EMPURROU COM FORÇA?! Pensei, irritada. Só faltou eu ir parar na China!

  Tia Amanda entrou e olhou com pena para a filha, que via as figuras de um livro infantil, deitada em sua cama e com cara de quem estava morrendo de tédio. Ah, como eu entendia aquele sentimento!

— Isa, por que você e a Antonia não vão tomar um banho de piscina? — ela sugeriu. 

— Hm... Agora não — foi o que eu disse, mas mentalmente eu estava apavorada com a minha imagem de biquíni na frente de um monte de gente. — Ta chovendo — lembrei a ela. 

— Eu pensei que você gostasse de banho de piscina na chuva. 

  Me recordei vagamente da viagem do ano passado, na qual eu só entrei na piscina do hotel quando estava chovendo, porque não havia mais ninguém lá para ficar me assistindo. 

— Er... É... Eu gosto — admiti, me amaldiçoando mentalmente. 

  Por que ela simplesmente não podia me deixar ali com o meu mau-humor? Aí eu teria mais do que reclamar da viagem, eu não queria me divertir. Poderia guardar aquele momento na memória como o dia que choveu e ficamos todos sem nada para fazer. 

— Ótimo — ela sorriu satisfeita. — Já estava me dando agonia ver você e Antonia com essas caras de bunda. 

  Antonia se virou para ela emburrada, dizendo:

— Eu não tenho cara de bunda. 

— É uma bunda bonita, filha. 

— Uh, então nós temos caras da bunda do Georg Listing? — falei, sorrindo maliciosamente e me esquecendo de que tia Amanda não conhecia a banda Tokio Hotel. 

— O que é isso, Isabela? — minha tia se assustou. — Quem é Georg Listing? 

— Ninguém não... — sorri amarelo. — Só o meu futuro marido e amor da minha vida — completei baixinho, sem que ela ouvisse. 

— Vão colocar os biquínis. Obrigada por concordar em cuidar da Antonia, Isa. 

— Mas... — comecei a protestar, porém tia Amanda já tinha saído e fechado a porta. 

  Poxa, quem disse que eu concordei com alguma coisa? 

~*~

— Se tiver alguém na área da piscina, nós voltamos correndo para o quarto — eu falei para Antonia, enquanto caminhávamos pelo corredor.

  Eu usava a minha toalha e a de Antonia para me cobrir. Se não fosse trágico, seria cômico uma adulta como eu (dezoito aninhos) com uma toalha da Barbie. 

— Ah, mas banho de piscina é tão legal — ela reclamou fazendo bico.

— É, quando não está cheio de gente ao seu redor te analisando. 

— E o que é que tem? — ela estranhou. — Nós somos gostosas. 

  Arregalei os olhos para ela, só que não consegui segurar a risada. 

— Bom, isso depende do ponto de vista — murmurei, pensando que um tubarão me acharia muito gostosa mesmo. — Mas você é muito nova para usar o adjetivo “gostosa”.

— Meu pai fala que a vizinha é gostosa — ela comentou. — O que é um adjetivo? 

  Expliquei o que era uma adjetivo, preferindo ignorar a informação relacionada à vizinha dela. Coitada da criança, já aprende a ser tarada desde pequena. 

  Se bem que, no meu caso, nada no mundo iria me impedir de ser tarada. Nem meu pai falando da vizinha. Triste realidade, deve ser um tipo de característica hereditária. 

  Parei de andar, com o queixo praticamente no chão, assim que vi o que me aguardava. 

  O pior havia acontecido. 

  A área da piscina era coberta.

  A impressão que tive foi de que o hotel inteiro estava ali. Havia uma placa ao meu lado que dizia que a água era aquecida. Com tanta gente ao meu redor, aquecido estava o meu rosto! Pelo jeito a maioria dos hóspedes não tinha o que fazer com aquela chuva, e resolveram acabar com a minha vida.

  Eu sentia todos os olhares em mim, mesmo que as pessoas estivessem concentradas em cuidar das suas vidas e não demonstrassem ter percebido minha presença. Na minha cabeça problemática eles estavam apenas disfarçando, para que eu não tivesse consciência de que estava sendo observada. 

  Girei os calcanhares e, apertando forte a mão de Antonia para que ela não escapasse, tratei de sair rapidinho dali. Ou melhor, tentei sair. Acontece que, assim que dei meia volta, meu corpo colidiu com outro, me fazendo ir ao chão. Minha prima se soltou de mim para não ir junto, provando que eu não tinha controle nenhum sobre ela e me fazendo ser a única a pagar mico. 

  Imediatamente, quase toda aquela gente na área da piscina parou de disfarçar e olhou diretamente para mim. 

  Certamente eu assassinaria o homem que havia esbarrado em mim. 

  Se ele não fosse quem era. 

  Acontece que eu conhecia muito bem as feições do cara à minha frente. O cabelo liso escorrido e longo, os olhos verdes, o queixo com uma quase covinha que o deixava tão absurdamente fofo que eu perdia o ar, e os músculos do braço definidos. Quantas vezes eu havia sonhado com ele? Quantas vezes eu havia grudado a cara na tela da televisão apenas para me sentir mais próxima dele? Quantas vezes rabisquei seu sobrenome depois do meu nome no caderno, durante uma aula entediante? 

  ZUMBIS, ME ABANEM! 

  Eu estava caída na frente de Georg Listing! 


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