P.O.V Faith

-Cadê a minha princesinha?

-Aqui, papai. - saio debaixo dos cobertores, ainda grogue de sono. Meus olhos se arregalam ao me lembrar que hoje é a colheita. Minha primeira colheita.

-Você não vai ser escolhida. - ouço meu irmão dizer abafadamente no batente da minha porta – Eu nunca fui escolhido.

-Se fosse, estaria morto. - diz minha irmã mais velha, com suas roupas pretas e seu típico mau humor.

-Nenhum de vocês vai para os Jogos, certo? - exclama meu pai, já raivoso pelas atitudes de Rosalie.

Grunho e volto para a cama ao perceber que ainda eram 6 horas da manhã. Papai gosta de nos acordar cedo para dar um beijo de tchau, já que ele trabalha de manhã nas Usinas Elétricas.

Pesadelos com a colheita invadem a minha mente. A mulher de roupas e maquiagem coloridas chamando meu nome, eu subindo para a morte certa.

-Faith Villay! - ela dizia com a sua voz estridente como a de um felino. Acordo num supetão, suada e tremendo. Desço para a cozinha, onde minha mãe preparava um cereal com calda de mel, algo quase impossível de se conseguir, contando o fato que os cereais vão direto do Distrito 9 para a Capital.

-Como vai, cabelo dourado? - ela dizia, sorridente, mas sei que por trás desse sorriso, ela estava marejada.

-Nervosa. Com medo. - suspiro, me sentando numa cadeira – Pode escolher a pior.

-Mas minha bebê, é sua primeira colheita! - ela insiste – Não tem chance de você ser escolhida.

-Acho que talvez você esteja certa.

Como minha tigela de cereais, faço minha higiene e visto uma roupa qualquer. Vou me vestir melhor quando voltar para casa, antes do almoço. As minhas botas cheias de pelo por dentro eram muito confortáveis, ainda mais no frio do Distrito 5. As pessoas trabalhando na rua e nas Usinas me acenam um oi, até tem alguns que me desejam boa sorte.

Entro numa campina onde meu melhor amigo, Share, está espetando uma árvore com uma faca. Desço a colina rolando e ficando cheia de grama e barro.

-Chegou a loira! - ele exclama, me abraçando

-Tudo bem? - digo

-Na medida do possível.

-Muito nervoso?

-Muito.

-Você não tem chance de ser escolhido! - exclamo, segurando suas mãos – E eu também não vou ser escolhida, certo?

-Certo. - ele suspira, em desistência – Você que manda.

Passamos a manhã correndo, conversando, nos movimentando para afastar o frio. De acordo com a parca luz do sol, agora já é meio dia, então tenho que me trocar. Vou direto para casa, onde minha mãe preparava macarrão com queijo. Lhe direciono um sorriso esperançoso e ela o retribui.

Quando subo, encontro meu gato, Sunshine, deitado preguiçoso na minha cama. Pego-o e deito seu corpo cheio de pelos nas minhas pernas. Ele solta um grunhido de choro e acaricia sua cabeça na minha mão.

-Você sabe que eu te amo, certo, gato estúpido?

-Puuurrr!

Coloco-o de volta na cama e abro meu guarda roupa. Ele estava cheio de roupas que adoro, mas por fim, escolho uma blusa rosa com um casaquinho branco e uma calça preta. Calço as botas e desço. Toda a família come e então vamos para a praça central. Vou para a área de crianças de 12 anos, Carlile – o meu irmão – vai para a área de crianças de 17 anos e Rosalie vai para a área de 15.

A mulher da Capital, que lembrei que se chama Jenn, aparece no palco e se apresenta.

-Bem vindos, bem vindos! Vamos escolher os corajosos tributos da 73ª Edição dos Jogos Vorazes nesse lindo dia! - somente ela bate palmas. Então, ela dá lugar ao prefeito, que lê o Tratado da Traição, que fala de como o Distrito 13 foi obliterado após a rebelião, e o surgimento dos Dias Escuros, trazendo-nos os Jogos Vorazes. Ah, e a propósito, Que a sorte esteja sempre ao seu favor!- Moradores do Distrito 5, vamos aos nossos tributos, certo? - ela vai dando pulinhos até a urna com os nomes femininos e eu começo a tremer. Olho de relance para a área dos meninos, onde vejo Share me desejando sorte. Lhe faço o mesmo e então é declarado o nome do tributo feminino – e o tributo é... Faith Villay!

Tudo aconteceu muito rápido. Meus irmãos começaram a gritar, minha mãe chorou em desespero, meu pai quase desmaiou. Share começou a correr entre a multidão enquanto eu andava em direção ao palco. Quando pisei no primeiro degrau, ele segurou meu braço e gritou que eu não podia ir. Meus irmãos também vieram.

-Eu me voluntario! - Rosalie cuspiu – Eu me voluntario!

-Não! - gritei, me soltando dos 6 braços que me puxavam para trás, correndo para cima do palco.

-Palmas para Faith Villay, cidadãos! - disse Jenn, animada. Meus cabelos louros caíam pelos meus ombros e meu olhos estavam caídos, encarando o chão. - E agora o tributo masculino! - ela puxa um papelzinho da urna com os nomes masculinos. - Share Ethan.