A 73 Edição Dos Jogos Vorazes escrita por Sofi


Capítulo 14
Capítulo 14 - Ela se foi.


Notas iniciais do capítulo

Faith Faith Faith T-T



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Corro na direção do garoto no exato momento em que a faca se fincaria no coração de Faith e o derrubo. Ele rapidamente finca sua faca com força na minha cintura enquanto prendo seus braços no chão. A dor da facada era muito menor do que a raiva que eu sentia. Pego uma das facas que eu carregava e começo a fazer o contorno de sua garganta com a ponta da lâmina.

-Você não tem coragem de fazer isso. - ele implicou. Faço um buraquinho em seu pescoço com a faca e ele riu ironicamente. - Se consegue, faça. Nós dois sabemos que você não consegue. - E então rasgo sua garganta. Seu tiro de canhão ecoa em minha cabeça e engatinho na direção de Faith, com as mãos cheias de sangue. Começo a soluçar assim que vejo o vergão vermelho logo abaixo do seu olho esquerdo. Olho o resto do corpo e percebo que já não tem chance. Estou perdendo a garotinha que me ajudou com ferimentos, que foi tão simpática durante o treinamento.

Sangue escorria da sua boca enquanto ela soluçava. Lágrimas corriam no meu rosto enquanto eu olhava o corpo dela, procurando alguma coisa para fazer. Como um instinto, levanto e começo a chutar o corpo de Leonard.

Caio de joelhos no chão e aperto minha cabeça contra as mãos. Fecho os olhos com força. Aquilo não pode ser real. As lágrimas que estavam nos meus olhos escorreram e ouvi Faith dizer baixinho :

-Me conta... uma história?

Engatinho até ela e deito sua cabeça em minhas pernas, amarrando seu cabelo em um rabo-de-cavalo.

-Que história você quer que eu conte? - pergunto, tentando não olhar para o sangue em seu corpo.

-Eu não sei... - ela dá um pequeno grunhido de dor – Me conte de seu aniversário mais engraçado. Gosto de histórias engraçadas.

Engraçadas? Não tenho histórias engraçadas. Tenho algumas histórias bonitinhas, que envolvem a minha mãe e eu não gosto de falar sobre isso. Sinto saudades dela.

-Acho que... Talvez, na minha festa de 7 anos? - digo em dúvida – Foi uns 2 meses antes de minha irmã, Bea nascer. Estava muito Sol. Normalmente faz muito Sol no Distrito 7 - A iluminação artificial do Sol da arena batia levemente no rosto de Faith e refletia no meu cabelo – E a barriga da minha mãe já estava bem inchada, mesmo com somente 7 meses de gestação.

Aposto que a Becky vai gostar de bolo de chocolate.” Dizia Nadik

O nome dela não vai ser Becky, vai ser Kattie!” resmunguei enquanto dava bolo na boca de Porty que na época tinha 3 anos de idade.

Vai ser Bea!” disse minha mãe, se sentando no sofá.

Eu gosto de Bea.” comentou meu pai, se sentando ao lado dela.

Bea... Porty gosta de Bea!” Exclamou Porty, batendo palmas com a boca lambuzada de bolo.

Eu ainda prefiro Becky” resmungou Nadik.

Coloquei um prato com bolo no colo de minha mãe e sua barriga ficou suja de cobertura de bolo.

Acho que ela gosta de chocolate...” disse minha mãe, limpando a barriga com um pano “ugh!” grunhiu ela

Ah não!” Eu arregalei os olhos “Engole de novo esse bebê, hoje é meu aniversário, não dela!”

É meu também!” reclamou Nadik

Tudo bem. A Bea não vai nascer hoje.” respondeu minha mãe, calma.

Sinto muitas saudades dela.

Saio do transe da história e vejo que Faith me olhava fixamente. Ela estava pálida e seu peito se movia lentamente.

-Feche seus olhos. - olho para o horizonte – O Sol já vai se pôr. - ela os fecha e coloca as mãos sobre a barriga cheia de cortes – Você vai ficar bem. Ninguém pode te machucar agora. - Eu me referia que ela não estaria mais em Panem. Estaria num lugar melhor. Uma campina, talvez. - Ao chegar da luz da manhã, eu e você estaremos – minha voz falha e seu canhão soa – sãos e salvos.

Deito sua cabeça e olho minhas mãos coloridas de sangue. Meu lábio inferior tremia e as últimas lágrimas roçavam minhas bochechas.

Ando seu rumo por entre os pinheiros, arrastando meu machado com ombros caídos, sem ter ideia de para onde ir, o céu estava escuro e a arena estava fria.

Cansada de ficar andando sem rumo, caio no chão e fico por lá mesmo, encolhida como um filhote carente. O hino de Panem começa e os rostos dos mortos aparecem no céu. Leonard. Faith. O garoto do Distrito 8. Jackie. Insígnia de Panem.

O corte na minha cintura ardia e eu estava trêmula graças ao frio. Grande coisa. A dor de perder alguém é muito maior. Me senti assim quando perdi minha mãe. Achei que logo eu me recuperaria. Eu estava me recuperando, então a Faith apareceu, e agora eu perdi ela. Sou uma inútil! Eu tinha que protegê-la, mas nem isso eu consegui!

Meu lábio inferior continuava tremendo, pelos restos do choro e pelo frio. Mas quem liga? Eu não tenho ânimo para fazer mais nada. Ficar aqui, jogada num pinheiro é o que mais parece apropriado.

-Qualquer um te acertaria uma flecha ou uma lança agora. - diz Ery se aproximando de mim.

-E daí? - murmuro, ainda encolhida.

-E daí que eu não quero que isso aconteça. - ele me pegou no colo e começou a andar em direção ao acampamento – Seu amigo está péssimo.

-O que eu teria que fazer para você me dar uma machadada?

-Você sabe que eu nunca faria isso.

-Argh. - grunho – Mas devia. Eu sou uma pessoa péssima! Eu nem ao menos consegui proteger uma menininha de 12 anos! Ela confiava em mim! - começo a chorar de repente – Eu sou inútil! Inútil!

-Não, não é.

-Sim, eu sou! Eu não protegi ela!

Quando chegamos ao acampamento, não encontro o Spes sorridente de sempre e sim um garoto pálido, abraçado aos seus joelhos, rosto enterrado entre os braços e olhos úmidos. E por que eu não protegi a garotinha que era como irmã para ele. 


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Notas finais do capítulo

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