- Realmente, nossa noite foi inesquecível – Sirius riu, e eu, chapada, o acompanhei.

Depois de passar a noite lavando pratos e surrupiando algumas garrafas de rum e coisas do tipo da reserva do restaurante, optei por deixar o carro de Lily no estacionamento do local, não confiando em mim o suficiente para ir embora dirigindo e, ainda por cima, um fusca que não é meu. Sirius resolveu me acompanhar até em casa, deixando com muito custo sua moto (nada lesma, devo dizer) no estacionamento, como eu.  Havíamos acabado de entrar na rua de casa, quando me lembrei que a casa de James ficava muito distante da minha, e Sirius não tinha como ir embora.

- Não se preocupe – ele disse, depois de decifrar o que minha língua enrolada havia dito- o Jay deve estar aí com a Lils, então eu aproveito e faço aquele  viado nos reembolçar.

Seguimos para casa cambaleando e relembrando acontecimentos de  nossa juventude  a. E (antes de Erick), o álcool fervendo em nosso sangue.

- E então, você a agarrou e ... – desatei a rir.

- ...E você nos empurrou naquele lago nojento – completou ele, engasgando com a risada rouca – Sério, até hoje não sei porque você fez aquilo.

- É, nem eu.

Mas eu sabia.

De repente, minhas pernas  vacilaram e meu peso despencou sobre meus pés. Sirius me amparou, impedindo por pouco que eu me arrebentasse no asfalto.

- Lene, você está bem?

- Sim, hãn, estou.

Sirius tentou me por em pé novamente, mas minhas pernas  estavam semelhantes a daquelas bonecas de pano que minha avó fazia para vender. Ah, e para fechar com chave de ouro, meu salto havia quebrado.

- Será que é menopausa? Já?

- Lene, menopausa não é provocada por excesso de vodka. Não devia ter deixado você beber.

Estava prestes a retrucar, quando Sirius resolveu bancar o príncipe e me pegou no colo.

-EEEEI!!!ME COLOCA NO CHÃO!! Caso você não tenha percebido, eu posso and...

- Caso você  não teha percebido McKinnon, você está fraca. Aliás, o que anda fazendo pra gastar tanta energia? – Sirius perguntou, com um sorriso malicioso nos lábios.

- Nem te conto garanhão.

E não contaria mesmo, a não ser que conte  como esforço passar a tarde toda comendo e jogando vídeo - game.

Enquanto estávamos no elevador, fechei os olhos  e me deixei levar pela sensação de estar aprisionada naqueles braços. Seu cabelo cheirava bom, um aroma que não sei ao certo como definir. Ele subiu a mão por minhas costas até a nuca, onde apertou levemente, e senti um arrepio percorrer a espinha.

-Me coloca no chão - pedi, já em frente ao apartamento.

- Pirou? Vai que você banque a maria-mole e despenque de novo.

- Sirius, não pretendo entrar em casa como uma inválida depois debeber um pouquinho, e ainda mais com aquele casal babão ai dentro. E francamente, tenho noção do meu peso –completei, me debatendo toda.

- Tudo bem – disse colocando-me no chão-  E você não pesa quase nada. Tudo bem, talvez uns 80, 90 quilos, mas eu assistia Popeye. Ai, Lene, isso dói....

Destranquei a porta e, prontos para amaldiçoar todas as gerações de nossos “amigos”, entramos.

-Seus CRETINOS! – gritamos, mas na verdade não dissemos cretinos. Para nossa surpresa, o único som que ouvimos foi o eco de nossa voz. Ao que parecia, não tinha ninguém ali. Depois de uma boa  expessão, constatamos que estávamos sozinhos.

- Aquele viado vai ver só - retrucou Sirius – Bom pequena, vou buscar minha moto, acha que fica inteira até amanhã?

- Estou ótima! Mas você não vai a lugar algum. Olha só a hora. Pra não falar do fato de você estar bebado.

- Você está querendo dizer deizer o que devo fazer, McKinnon?- disse Sirius, chagando mais perto.

- Estou, algum problema? – Retruco, incomodada com a aproximidade, mas não de uma maneira ruim, para ser franca.

Um clarão atravessou a sala e logo depois um estrondo. Raios. Raios e trovões.

- Escute, só vou ficar porque,como você diria “não quero estragar meus sapatos”- disse, fazendo uma péssima imitação de minha voz e se jogando no sofá.

- Eu não falo assim – retruquei, injuriada, imitando-o  e me largando no espaço vazio ao seu lado.

- Mas me conta, o que aconteceu com você?- indaguei, curiosa por detalhes de sua vida.

- Hein?

- Na sua vida Sirius! Os lugares que frequentou, as pessoas com quem se envolveu, o que andou fazendo, com o que trabalhou...

- Eu estava cursando arquitetura, como você sabe bem. Quando não estava estudando, me dediquei a fotográfia. Pronto.

- E você morou todo esse tempo com seu tio... como ele chama mesmo?

-Alfardo. Eu  morei com ele durante uns dois anos, ai o doido resolveu aproveitar o tempo e o dinheiro que tinha e se mandou mundo afora, com a condição de eu cuidar da casa.

- Tá explicado a quem você puxou, já que concerteza não foi a sua mãe – comentei.

- Sorte a minha - rimos.

- E o que mais?

- O que mais o que?

- Six, você passou anos morando em Londres e não tem nada para me falar?

- Lá tem as melhores festas, os melhores lugares, a melhor bebida, mulheres gatas...

- Sirius!

- Eu tenho umas fotos que fiz em casa, depois eu te mostro.

- E porque você voltou?

Ele coçou o queixo, fazendo uma cara de pensativo. Os poucos fios de barba o deixavam muito charmoso (odeio pensar assim, sinto-me uma tarada).

- Por causa da comida - disse.

- Ai, não tem como falar sério com você- reclamei.

- Sentia falta daqui, de vocês – disse, puxando-me para perto. Tão perto a ponto de  permitir que ele sussurra-se em meu ouvido – muita falta.

- E as inglesas? – perguntei, surpresa por minha voz sair esganiçada.

- Acredite, trocaria todas que conheci  facilmente por uma daqui.

Olhei  por alguns segundos firmemente em seus olhos antes de me levantar.

- Onde você vai?

- Tomar um banho, estou cheirando vodka.

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