Harry Potter e o Prelúdio de Inverno escrita por Thierry Grima


Capítulo 2
Capítulo 1º: Principado de Liberdade


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem do primeiro capítulo, propriamente dito. Neste primeiro capítulo será abordado um pouco da história dos personagens, para que o decorrer da fic seja mais fácil. Perdoem os erros, terminei agora pouco e não revisei o capítulo.



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CAPÍTULO PRIMEIRO: PRINCIPADO DE LIBERDADE


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– Alô, Hermione? – Era a mesma voz, o mesmo timbre, e o seu corpo ainda respondia à mesma reação.

– ... - Silêncio.

Aquela voz inspirava em Hermione um respeito descomunal, lhe tornava o corpo rijo e a respiração ofegante o suficiente para perder a voz e a razão por alguns segundos – o que para ela era o suficiente para se embargar uma boa parcela de culpa – Hermione Granger é instintivamente superior a isso, ou era.

– Hermione é você?

A morena inspirou em profundidade, deixando os pulmões repletos de uma mistura grotesca de oxigênio, nitrogênio e mais alguns poluentes voláteis no sujo ar londrino. Fechou e abriu os olhos rapidamente, recompondo-se.

– Sim, ela mesma. Eu só precisava saber se ainda gostaria de meus serviços – A entonação de sua voz transgrediu a seriedade e tornou-se copiosa, para seu desgosto.

– Excelente! Excelente! Achei que nunca iria entender que há necessidade de você aqui! Estarei te esperando, hoje mesmo se possível, para acertarmos tudo! – Até mesmo toda aquela onipotência pareceu demonstrar contentamento.

– Perfeito, estarei buscando algumas posses no Gringotes e logo em seguida me dirijo até aí, foi um prazer muito grande lhe ouvir novamente – Hermione corou sozinha.

– Ótimo, lhe digo o mesmo! Nada melhor do que isso para mim Hermione, lhe agradeço e fico no seu aguardo.

Sem mais delongas Hermione desligou o telefone, talvez um pouco curiosa pelo fato do sistema telefônico implantado no mundo bruxo prover tanta eficiência quanto às corujas – Num devaneio insano imaginou como seria um "mundo bruxo" sem as pomposas e orgulhosas aves – Esbravejou com as mãos para parar um taxi.

Olhou uma vez para trás, ainda podia observar a silhueta do Hallgrace Hotel da distância onde estava. Aquela seria a última vez que deixaria tudo para trás. A partir de agora, um novo rumo deveria ser tomado, era uma decisão pungente, mas necessária.

– Bom dia senhor! Charing Cross, por favor. – O carro avançou e Hermione apertou a bolsa fortemente contra o peito... "Céus, o que diabos eu fiz com a minha vida!"


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Hogwarts, inverno de 2010. Sala de aula de feitiços, um professor e um grupo de alunos do terceiro ano em péssima situação na disciplina.


– Isto mesmo Gwen, empunhe mais alto a varinha e dê um solavanco com o braço, ambas as coisas serão úteis na hora de conjurar o feitiço – O homem sorria ao mesmo tempo em que demonstrava aprovação após a realização correta do feitiço pela delicada corvinal de longos cabelos loiros.

– Muito bom! E você, Purkie, não esqueça que eu posso vê-lo zombando até mesmo de costas – Falou reprovativo ao sonserino, o menino corpulento revirou os olhos e continuou mexendo ineficaz a varinha.

Dirigiu-se a um dos cantos da sala, observava os cinco alunos praticando aquilo que ele mesmo acreditava ser um conhecimento unicamente tácito. Nostálgico, remoeu-se em pensamentos, o quanto havia desperdiçado, o quanto havia deixado para trás pelos outros. Virou-se para um espelho que repousava sombriamente naquele mesmo canto. Olhou a própria imagem e sentiu-se bem, estava em plena forma e orgulhava-se disso – ou pelo menos lhe era conveniente crer nisto.

– Professor... Professor... Professor Potter! – Gwen, a menina loira e delicada, porém aparentemente irritada e sisuda o encarou, parcialmente o repreendendo por perder tempo demais com a própria imagem no espelho. Conjurou mais algumas almofadas e solicitou que continuassem a tentar elevar todas até o armário de objetos mágicos localizado na lateral mais extrema da sala, era adorável ver aqueles jovens tão cheios de vontade – ou simplesmente por falta de algo melhor para fazer – e energia. A sagacidade do olhar de seus alunos era talvez um alimento, por vezes se via vampirizando essa energia só para que conseguisse prosseguir a sua aula e os seus dias dentro daquelas paredes musgosas que lhe serviram de lar anos atrás.

Há no mundo mágico quem diga que o espelho nem sempre nos mostra a realidade, para Harry, era uma coisa totalmente infame, pois sempre que olhava para o espelho ele visualizava a mesma e repetida imagem – perturbadoramente repetitiva, por assim dizer -, um homem solitário e – supostamente – recluso de 30 anos com cabelos estritamente negros e indomáveis, olhos de um verde profundo e oceânico, físico pertinente aos bons jogos de quadribol que ainda lhe apeteciam junto de alguns de seus alunos. E era só isso, não havia mais alarde sobre Voldemort que o fizessem ser mais do que "Harry Potter, o professor de feitiços", isso lhe aborrecia, talvez pelo simples fato de que a atenção que lhe despendiam o fazia se sentir útil, além do quanto se sentia agora.

Iniciou a carreira de auror logo após sair de Hogwarts, não foi uma opção, seria antes de tudo ocorrer como ocorreu: mortes, destruição e opressão de todo um mundo mágico com o fim da era de Voldemort. Mas depois se sentia restrito a simples missões de acantonamento e emboscadas a pequenos arrombadores de lojas, ladrões de artefatos mágicos pouco importantes e a intensa transcrição de relatórios grandiosos e de falsa ostentação de poder sobre tudo e todos. Sentia-se vazio e derrotado, não suportou mais do que um ano a cargo que tanto almejava. Sua vida a esse ponto era mais do que uma desventura. Ser auror neste momento era sim - e com certeza - muito menos perigoso do que ser um aluno de Hogwarts perseguido por um ser volátil que matou seus pais, detentor de muita magia, sete subvidas e uma corja de seguidores fiéis, sádicos e cruéis. Hogwarts estava se restabelecendo e a professora McGonagall, nova diretora e fiel seguidora dos ensinamentos de Dumbledore, era uma das mais empenhadas para que isso acontecesse. O próprio Harry estranhou quando ela lhe convidou para ocupar o cargo que – até hoje – desempenha como professor de feitiços. Surpreendeu-se de igual forma quando percebeu que era bom naquilo e que agradava as crianças, principalmente quando olhavam vidrados para ele no que exemplificava as diversas vezes que os feitiços o haviam salvado da morte e das armadilhas do lorde das trevas.

Olhou mais uma vez furtivo para o espelho e percebeu a barba por fazer – achava que de alguma forma o deixava mais charmoso – e o semblante sério e centrado que lhe faziam tentadoramente perigoso a qualquer um que ousasse questionar a remissiva solidão. Era uma opção palpável e dolorosa, era sim uma escolha e não uma consequência.

– Ótimo! – Gwen parecia cansada e ostentava a varinha como se a mesma fosse muito pesada, e os ombros caíram logo que a almofada despencou sobre as outras tantas que habitavam o armário distante – Muito bem garotos! Por hoje chega, sigam para suas casas e aproveitem para reler o capítulo sobre feitiços de transição de tempo, que após o período de descanso de vocês serão trabalhados.

Harry esboçou um sorriso forçado quando os alunos passavam por ele no corredor sussurrando alegres sobre as suas famílias e como seria o Natal, por sinal, faltavam não mais do que quatro dias para o Natal, ele ficaria mais uma vez sozinho em Hogwarts aproveitando para praticar natação no lago de águas congelantes - o que parecia estranho, mas nada mais do que um novo hábito para ele –, sobrevoar os terrenos à vassoura, deleitar-se com cervejas amanteigadas e boa leitura.

McGonagall perguntara uma vez a ele se não havia amigos para visitar, ou algum lugar que desejasse conhecer, a resposta fatídica seguiu-se de uma observação curiosa: "Não Minerva, Rony e Hermione estão juntos agora... Quanto aos outros, não se sinto confortável ao visitá-los."

A sua sala (ou quarto, ou casa, ou abrigo provisório, como quiser chamar) era uma das mais altas torres do castelo, não tanto quanto o corujal ou a sala de astronomia, mas ainda sim estava neste mesmo patamar, houve mais do que bons motivos para escolher aquele lugar abandonado como habitat. Despojou alguns livros sobre uma larga estante, retirou o colete preto que usava e desabotoou os primeiros botões da camisa branca que usava, sentia-se muito mais leve agora, desprendido a imagem madura de professor. Às vezes ele só queria ser o velho Harry Potter que tinha muito mais o que se preocupar, riu por dentro.

Sentou-se sobre a cama e apoiou os cotovelos sobre os joelhos de forma que as mãos envolvessem seu rosto, havia sido um dia cansativo, reuniões e aulas de recuperação. Definitivamente gostaria desse Natal. Elevou a cabeça e esticou os braços, estendendo-os para cima num alongamento desajeitado, neste momento seus olhos frisaram aquela janela, esguia e relaxadamente aberta, a soleira ainda era do mesmo material bruto que era quatorze anos atrás. Diferente do restante do quarto, que possuía paredes semelhantes a uma casa de alvenaria, com tons suaves que transitavam do branco ao verde, a soleira da janela era como uma relíquia intocável, pedras polidas e recortadas artesanalmente. Aquela porção intocável do cômodo responsiva a lembranças que ele permitiu a si mesmo preservar no momento em que modificou o quarto. Aproximou-se e olhou para baixo, ainda podia sentir aquele cheiro delicioso que abrigaram as suas narinas há tempos, tornou-se ainda mais vívido no momento em que pássaros pousaram na soleira e cantarolavam melodias soturnas, porém, agora não havia o brotar do dia, mas o cair da noite.


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– Bendita seja Morgana... – Hermione pousou as mãos sobre as sobrancelhas no intento de intensificar a visão do horizonte, como parecia mais longe do que realmente era. Com passos dificultosos ela continuou caminhando, a neve insistia em entrar na sua bota e derreter sobre efeito da temperatura de seus pés, tornando-os gelados. Ela ria gostosamente disso, apesar de desagradável, sentia-se se aventurando como uma adolescente e por alguns segundos toda a tormenta pela qual estava passando pareceu se esvair dos seus pensamentos. Correu pela imensidão branca e rodou os braços no ar sentindo uma liberdade desigual, perfeito seria se tivesse feito essa escolha há oito anos.

Não havia mais nenhum empecilho para que seu maior desejo pudesse ser realizado, ela sempre quis isso, e sentiu-se copiosa consigo mesmo por não ter aproveitado os momentos certos que a vida lhe ofereceu. Mas agora, tinha uma nova oportunidade que ela mesmo auto-ofertava, faria deste lugar um principado de liberdade.

– Deveria ter feito isso há tanto tempo, nunca daria certo, nunca poderia ter sequer acontecido... Ir morar com Ronald na exaltação dos nossos sentimentos com certeza foi um erro. – Mentalmente agradeceu pelo machismo incongruente de Rony, quando o mesmo lhe afirmou que casamento não era uma boa opção nos dias de hoje, ultrajando toda a imagem que Hermione incansávelmente construía de um baile pomposo, com diversos, mas simples arranjos com lírios laranja e laços de cor salmão delicadamente moldados sobre todas as mesas. O buquê, quantas vezes ela imaginou quem o pegaria, como seria. Mas, diga-se de passagem, Rony fez o favor de incendiar os lírios e jogar as cinzas ao mar embrulhadas com o cetim dos laços com seus comentários inoportunos.

Ódio foi só o que ela conseguiu sentir quando toda sua alegria foi abafada por uma grossa chuva, a pequena bolsa – cujo espaço era virtualmente inimaginável – foi bem acolhida debaixo do seu sobretudo lilás de cashmere, há tempos essa vinha sendo sua cor favorita. Com a varinha conjurou um feitiço de escudo acima de sua cabeça, o mesmo rodeava aproximadamente um metro de raio, era o suficiente para que não se molhasse. Continuou a caminhada até perceber um pequeno vilarejo resplandecendo cores natalinas. Hogsmead era tão bela quanto qualquer outro lugar que ela imaginava, não sabia se pelas coisas maravilhosas que havia passado ali, ou se pela simplicidade interiorana do local. Cercas tortas e remoídas por cupins – inclusive abandonadas pelos mesmos – cercavam a entrada do local. Alunos andavam despreocupados pelo vilarejo, guarda-chuvas de todas as cores e com todos os mais diversos tipos de encantamentos eram visíveis – um deles até ousou assoviar para Hermione -, buscando incessantes por presentes ou somente uma boa cerveja amanteigada, sorriu ao observar um trio de amigos que lhe remetiam aos bons tempos da tríade Harry-Rony-Hermione, ao mesmo tempo, mais uma vez se entristeceu.

A palavra Harry poderia ser sinônima de mistério, hoje e sempre. Os segredos sempre o cercaram e ela oferecia grande risco para ele, sabia que Hermione Granger era uma das poucas pessoas que mergulhavam no mar sem fim dos seus olhos e capturava de lá os mais incríveis segredos de Harry Potter. Pestanejou, gostaria mesmo de saber onde ele estava agora, desde que havia saído do ministério e desaparecer sem lhe dar sequer um "adeus", nunca mais houve nenhuma notícia dele. Ou melhor, depois que Hermione havia discutido com ele sobre o seu despeito dela ir morar com Rony, foram poucas as palavras trocadas. Porém, algo de muito estranho estava acontecendo há aproximadamente dois anos.

Aquele sonho insistente de um sussurro deliciosamente sensual no ouvido. Era dotado de uma lucidez inconfundível. Ela realmente achava que era um sonho muito desrespeitoso, por isso nunca comentara com Rony sobre esse fato. Mas o fato de se tornar não só um sonho, mas um desejo intenso ouvir aquele sussurro, sentir aquela barba, aqueles braços enlaçando a cintura... "RECOMPONHA-SE"

Depois de ouvir sua consciência gritando desesperada, Hermione se viu atropelada por uma caravana de meninas desesperadas amontoadas sob um único guarda-chuva, a Dedos de Mel havia aberto, "Ótimo, as meninas ainda esperam homens românticos que lhes retribuam os presentes de natal... Tolice".


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– Vamos lá Rony! Ela vai voltar, sabe como são as mulheres. Elas só querem mesmo o seu dinheiro, quando lhe contar sobre a sua nova idéia para arranjar um emprego ela vai voltar correndo aos seus pés! – Ele não percebeu o quanto parecia preocupado exclamando para sua própria imagem no espelho.

Ronald Weasley era um sobrevivente da grande e última guerra, aparentemente não tinha uma aparência ruim, exceto pelo fato de que não tinha um nuque sequer no bolso. Ele trabalhava para conseguir galeões, nuques, sicles. Hermione, no entanto, preferia continuar com seu trabalho na revisão de um jornal – que ela mesma garantia ser a causa de uma parcela muito grande do seu estresse-, ganhando euros, seus apostadores não queriam euros e o Gringotes não admitia mais o câmbio entre moedas da federação trouxa e a bruxa, somente entre as diversas confederações bruxas, se ele estava onde estava e na situação que estava, parcela de culpa era com certeza de Hermione.

Um estrondo forte assolou toda estrutura do hotel, Rony segurou-se sobre a pia do banheiro com uma das mãos enquanto a outra protegia o rosto dos resquícios de espelho que voaram sobre ele depois do impactante tremor.

Gritos e mais estrondos foram ouvidos e logo percebeu passos chegando até próximo a sua porta, observava atento sangue escorrer por dentro de sua camisa após um pedaço do espelho lhe causar abrasão intensa. A porta do quarto estourou, dividindo-se em duas metades ínfimas, ambas pisoteadas por um homem de estatura alta e com uma capa longilínea, negra e brilhante como a pelagem de uma pantera, desprovida de mangas e ou qualquer outro adereço.

– Você é Ronald Weasley? – A voz rouca do homem era intimidadora, mas não fez Rony sentir-se amedrontado a ponto de correr – ou talvez tivesse feito, mas não houvesse tempo para que isso fosse feito – para longe daquele lugar.

– Sim, sou eu. – A confirmação fez com que o homem encapuzado agisse. Ele segurou em seus braços com força, Rony interveio tentando tirar a mão dele de seu braço. A simples menção de tocar na pele enegrecida no desconhecido fez com que sua pele fervesse como se brasa houvesse sido depositada sobre suas mãos, a retirou rápido e prosseguiu em frases desconexas – Eu vou pagar. Eu disse que demorava. Ia pagar logo que arranjasse um emprego. Foi John, não foi? Esse sacana.

– Seus joguinhos sujos poucos me importam. Cale-se, faça um favor a todos nós e cale-se!

– Todos nós quem, você é um só, imbecíl... – Seus olhos quase deixaram a órbita quando no mínimo dez outras personagens surgiram, todas trajando com longas capas negras aveludadas e sem mangas, simplesmente dissolveram em sua frente, como se surgido através do ar. Homens e mulheres, de todos os tamanhos e corpos possíveis.

– O que vocês querem? – O desespero dele era visível, e disse mentalmente que, por Merlin, Hermione havia saído antes de tudo isso acontecer, já que não poderia pensar com uma mulher gritando ao seu lado.

– Onde está Hermione Granger? – Uma voz feminina se adiantou ao grupo e perguntou asperamente, como quem estivesse com muita pressa.

– Ela não está aqui! Aquela... Aquela mal agradecida me deixou! – Ele disse com um sorriso esganiçado, beirando o desespero, sentia que o toque daquele homem em seu braço o fazia ter sensações sombrias e tão perversas. Os cacos de vidro no chão pareciam tão afins aos seus punhos, seu pescoço. Sem perceber desejos suicidas, maldosos e ludibriosos surgiam em sua mente, qual o intento daqueles seres, o que queriam?

– Ótimo, trabalho dobrado agora... Precisamos encontrar os outros dois, não podemos chegar ao mestre sem eles. Levem-no... – O homem que o segurava soltou seu braço sem pestanejar e prostrou-o a frente da mulher que havia feito o comentário, que a priori era quem comandava o grupo.

– Quem são vocês? – Rony perguntou sentindo a língua serpentear dentro da boca, sentia-se como um animal faminto, maldoso e cruel. Aos poucos, desvencilhado do toque do homem voltava a respirar normalmente, e sua mente aquietara-se.

– Nós somos a Legião – Falaram em coro único. Não ouve nada mais para se ver, estava envolto em trevas, sombras negras assopravam sobre seus ouvidos coisas estranhas, palavras perversas e cruéis, o que estava acontecendo.

Houve um baque seco e um filete de sangue escorrendo por sobre um chão de mármore polido, antes de perder os sentidos ele conseguiu visualizar dois pares de pés envoltos em cordões brancos de grossura considerável, depois, escuridão...


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Hermione olhava atentamente o grande portal de Hogwarts a sua frente, rememorando todo tempo que havia passado dentro daquelas paredes. Os portões se abriram e ela viu surgindo elegante uma esguia senhora com seus trajes de veludo saborosamente coloridos como vinho tinto. Hermione tinha muito dela em si, o modo de andar, queixo erguido e falso orgulho escondendo uma modéstia acima do normal dentro dos olhos. Uma arrogância tórrida e perpetuante, mesclada a uma sabedoria desigual, estonteante.

– Hermione! – A senhora a abraçou, de forma como nunca havia feito antes, Hermione até sentiu certa pontada de orgulho de si mesma por ter conseguido aquele feito. – Não sabe como é bom te ver aqui. Chegou bem? Nada estranho no percurso?

– Professora McGonagall, eu senti sua falta, faz tantos anos... – Ruborizou antes de prosseguir – Cheguei bem sim, obviamente. Afinal o que temos que temer nos dias de hoje, não é?

– Sim, sim, obviamente... A propósito, Minerva, me chame de Minerva agora, sim? – A senhora pareceu-lhe ligeiramente pesarosa ao afirmar segurança, "bobeira Hermione, sempre desconfiada...", pensou – Já escolheu uma sala para sua morada? Sei que conhece bem esse castelo.

– Sim, pensei, se possível na sala de Runas, na torre que permeia a ala leste do castelo, onde a vista para o lago é linda! – Ela disse pensativa.

– Sinto informar que é impossível. Já foi ocupada pelo professor de feitiços. Aliás, procure se inteirar do quadro docente, os professores são muito novos, alguns deve até conhecer!

– Sem problemas, não me importo de ficar com a antiga sala da professora Halspe, afinal, ela finalmente poderá lecionar a matéria que tanto desejava! – Hermione sorriu pueril. Lembrou-se de que quando fora convidada a lecionar em Hogwarts seria para substituir uma descontente professora de História da Magia. Ela tinha intensa vontade de trabalhar com as criaturas mágicas, mas não lecionavam a matéria por ser, talvez, menos importante que História da Magia.

– Está estonteante com essa notícia, garanto que agora será a sua melhor amiga.

Seguiram conversando sobre os últimos fatos do mundo bruxo, Hermione mais observava do que falava, McGonagall era como uma ideologia para ela. Assim o faria! Se tornaria tão, ou até mais, imponente que ela um dia. Sorriu para si, enquanto caminhava e ouvia com atenção a conversa informal de sua superiora.


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Hermione seguia pelos corredores quase vazios de Hogwarts, com uns poucos alunos lhe lançando olhares curiosos, outros, pouco mais velhos, olhares luxuriosos que tentou sensatamente rebater com o ar de "cobice-e-sinta-seus-testículos-serem-esmagados", seguidos de um sorriso áspero.

Havia deixado todo seu material e suas notas informativas sobre o desenvolvimento de sua função no quarto docemente agradável de Agnes Halspe. A princípio imaginara a mesma como uma velha senhora com roupas surradas e um coque bem arrumado sobre a cabeça, mas ao contrário, tinha o ar jovial que Ninfadora possuía, era desastrada e ao mesmo tempo curiosa. Uma personalidade no mínimo intrigante para a "suposta" personificação de seriedade, chamada Hermione Granger.

Vislumbrou o lago assim que passou pela abóbada que alçava a torre de entrada do salão principal, estava calmo, sua água cálida transformava o calor que a terra transmitia em vapor esbranquiçado. Os grilhos começavam um soneto estridente enquanto pergolotes (espécie de vaga-lumes gigantes do mundo bruxo) ofuscavam sua vista, dançando sobre o ar. Ela caminhou em passos lentos sobre a margem do lago. Seus olhos vagando a imensidão do local. Estava escuro, somente os insetos gigantes iluminavam o céu, travando uma briga imaginária com as estrelas lindas que, singulares, estampavam o céu antes chuvoso.


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– Péssima hora para perder a camisa Harry! Péssima hora! – O homem moreno procurava insistente a roupa que havia deixado próximo a um arbusto, na margem do lago. Era – como já dito antes – um novo hábito praticar natação no lago gelado, só por diversão. Obviamente alguma aluna obcecada havia pegado sua camisa, não seria a primeira vez que isso acontecia, mas ele não se precavia pura falta de sensibilidade.

Retirou com a mão o excedente de água que insistia em cair pelo seu dorso definido, passou as mãos pelos ombros nus e começou a notar que o frio se intensificava.


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Hermione olhou curiosa a imagem de um homem alto, de costas bem angulosas e ombros largos, ele tentava se limpar de algo, ou talvez se secar. Um par de sapatos repousava a beira do lago. "Como é que alguém sã consegue entrar nessa água extremamente gelada, ainda mais a noite!", pensou quase num murmúrio, a proximidade que encontrava do homem aumentava e a intensidade com que ele tentava retirar a água do corpo também.

– Hey, precisa de ajuda? – Ela disse preparando um sorriso amigável.

Harry sentiu seu corpo enrijecer, pouco importava o frio agora. Aquela voz inebriou seus ouvidos e o fez bambear vergonhosamente, quase tropeçando em seus próprios pés. Era impossível não reconhecer a voz dela. Aquela voz que permeava todos os dias sua mente.

– Está me ouvindo, eu posso fazer um feitiço e ajudar com que se seque. – Ela tocou seu ombro suavemente, pouco antes de defrontá-lo e sentir todo o corpo expressar reações muito semelhantes as que Harry, há pouco, havia sentido. O ar faltou e ela sentiu-se oprimida a imagem perfeitamente nítida dele em sua frente. Retirou a mão rápida e a acolheu em sua outra mão, como se tivesse tocado num objeto altamente venenoso.

– Olá Hermione... – Disse pouco antes de alinhar os óculos na linha exata dos olhos, engolindo em seco.



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Notas finais do capítulo

Preview do próximo capítulo
Ela percebeu, sobre uma mesa albergada no fundo do cômodo, distante de todos os outros móveis, uma espécie de vasilhame largo, riquíssimo em detalhes e frases escritas com runas em seu exterior. Uma penseira, amplamente preenchida por um líquido prateado, onde filetes de imagens ricocheteavam as bordas e solicitavam com clamor que alguém lhes bisbilhotasse - ao menos era isso que Hermione dizia a sí mesmo - intimamente.
Ela empunhou a varinha e tocou suavemente o interior da penseira, as memórias brigavam como numa corrida até o ápice da varinha, uma delas foi mais rápida. Hermione sentiu um solavanco e logo em seguida se viu ao lado de duas pessoas visivelmente tensas, era provavelmente um momento muito inoportuno.
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Notas do Autor:
OBS: Fic sem betagem! Não resisti e deixei uma preview. ^-^
N/A¹: UHUL! Achei que não conseguiria concluir esse capítulo. Esse capítulo é mesmo bem detalhado, preferi explorar assim a história. Espero que tenham gostado do verdadeiro primeiro capítulo, atrasei um dia, mas para compensar, escrevi um pouco a mais.
Quero agradecer aos primeiros reviews que eu tive, que me deram força e me fizeram realmente continuar a escrever com muita vontade! Então JôHxSabaku (do Nyah!) e Dbora P (FanFiction), inclusive o comentário da Dbora chegou bem quando eu estava sem inspiração, e deu um up muito bom na mesma, muito obrigado de coração às duas!
N/A²: Acredito que precisarei, talvez, de mais do que 8 ou 9 capítulos para concluir, apesar de buscar escrever uma fic do gênero drama/romance, terei que incluir um pouco de ação, nem que seja para ligar fatos no final da história.
N/A³: Ainda estou em busca de betagem e aceitando a propostas!



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