Harry Potter e o Prelúdio de Inverno escrita por Thierry Grima


Capítulo 11
Capítulo 9º: Uma abóboda negra sobre nós


Notas iniciais do capítulo

Informações antes do capítulo:
1º: As reviews estão respondidas no fim deste capítulo, abaixo das notas do autor como de costume; porém, divididos entre o capítulo 8 e o bônus.
2º: Música escolhida a dedo, pela agressividade da Floor Jansen ao cantar! Voz magnífica dela, agora talvez ainda mais do que no After Forever.



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CAPÍTULO NONO – UMA ABÓBODA NEGRA SOBRE NÓS

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Bem vindo à minha dor, minha fúria e meu desprezo

Onde os moram os demônios

Bem vindo ao meu escárnio, meu medo e ao meu desdém

Bem vindo ao meu inferno pessoal

Here’s My Hell - ReVamp

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O sol entrou furtivo por uma fresta da cortina, provocando-lhe os olhos e instigando o seu despertar. Hermione abriu os olhos por fim, ainda sentia a mão de Harry sobre o seu colo, envolvendo-a num abraço moroso e terno. Permitiu-se fechar mais uma vez os olhos, aconchegando a cabeça em seu ombro, sentindo o seu perfume agradável.  

Gracejou um beijo suave na pele dele, carinhosa. Podia sentir os batimentos rítmicos do coração dele às suas costas, tamanho o contato que detinham. A mão dele moveu-se, retirando um pouco dos cabelos dela de cima do ombro e logo em seguida ele o beijou. 

Por um segundo Hermione pensou em questionar sobre isso, mas antes que pretendesse virou o corpo para encará-lo, os cabelos estavam estranhamente arrumados e os olhos pareciam ainda cansados. Ela atentou-se para lhe bagunçar os cabelos e passear dos dedos, em seguida, por debaixo de suas pálpebras inferiores, descendo pelo nariz e desenhando algo abstrato em sua bochecha. 

- Me perguntei quando você voltaria... – Ele sorria, um sorriso tímido completado pela imensidão verde que seus olhos despojavam sobre ela. 

- Mas eu não saí daqui. – Sorriu ao dizer, continuando a passear com o dedo em seu rosto. – Foi um sonho, provavelmente. 

- Não me refiro a você ter saído dessa cama. – Fechou os olhos devagar, sentindo o toque suave da mão dele sobre eles. – Me refiro à “antiga” você, a minha Hermione. 

- Ela com certeza não volta mais! – Seus olhos tinham um tom castanho divertido e suas pupilas estavam fechadas retendo a fina mácula de luz que penetrava pela janela. Tocou a cicatriz dele, desenhando o seu contorno. – Pelo menos o corpo não, infelizmente! 

Ele riu, arqueando-se de leve sobre o torso dela. Hermione pôs-se de costas, observando a face dele se sobrepor sobre si. A mão de Harry deslizou perigosa pela lateral de seu corpo, desenhando suas formas e pressionando mais do que deveria ser. O toque dele sobre o seu abdômen fez com que se arrepiasse e suspirasse num ímpeto, aquela mão insistia em continuar subindo como uma serpente sobre seu corpo. Logo tocava a margem inferior de seus seios por sobre a camisola, deslizou pela lateral deles e percorreu sedutoramente seu pescoço, parando ao tocar os lábios dela com as pontas dos dedos e contorná-los. 

Os olhos de ambos se encontraram, os dele com enormes globos negros envolvidos por uma margem verde – muito fantasiosa por sinal – e os dela tremulantes de excitação. Harry levou o rosto próximo ao dela, dirigindo-se a orelha parcialmente descoberta pelas amplas ondulações de seus cabelos castanhos. Sussurrou, lhe mordendo o lóbulo. 

- Você é ainda mais perfeita do que já foi um dia, meu amor. – Beijou a bochecha dela com carinho, envolvendo-a num abraço sem seguida. 

- Isso foi tão... 

- Provocativo? – Ele disse sorrindo ao observar a face rubra da morena. 

- Não, esse beijo foi tão... Pouco... – Ela segurou a face dele, virando para ela. Enlaçou-o pelo pescoço, não deixando de manter uma distância segura entre os corpos, afinal o seu racional ainda tinha parcela de domínio sobre a situação, mesmo que ínfima. Permitiu aos lábios encontrarem os dele, desejando-o. Não aprofundou aquele contato, passou a língua levemente sobre os lábios dele, sugando-os lentamente e delicadamente. Ele se arqueou um pouco mais sobre ela, apoiando o torso com o cotovelo enquanto tentava diminuir a distância entre os corpos, Hermione não cedeu, posicionando a mão suavemente sobre o peito dele, o afastando lentamente. 

- Me desculpe. – Ele jogou-se sobre a cama, deixando a cabeça cair desleixada sobre o travesseiro, fitou por incontáveis minutos o teto branco opaco do quarto. Desta vez estava frustrado, não poderia negar isso, de forma alguma.  

- Não peça desculpas, eu só não quero apressar as coisas. – Sua única resposta foi um suspiro longo e pesaroso. 

- Precisamos levantar. O ônibus sai às oito horas da estação central e não podemos nos atrasar, são quase cinquenta quilômetros aqui de Bristol até Glastonbury. – Harry levantou-se e sem olhar para trás entrou no banheiro. 

Sobre a cama, Hermione mordia os lábios relembrando do toque aos lábios dele. A segunda vez - até o que se lembrava - havia sido tão especial quanto a primeira, pelo simples fato de manter a completa consciência do que fazia. Talvez ainda mais porque realmente queria fazer aquilo. Sorriu e sentou-se sobre a cama, abraçou o joelho em seguida. Naquele momento sentia-se a mais boba das adolescentes.  

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- Céus Harry! Eu realmente achei que ônibus fossem mais confortáveis! – Agnes se espremia entre um e outro passageiro. Sua cabeça doía e as olheiras homéricas eram as coisas mais visíveis em seu rosto de acordo com o reflexo da janela do ônibus. Tinha certeza que algum daqueles passageiros estava jocosamente afagando seu traseiro a cada movimento do transporte. – Mas que falta de pudores! Da próxima vez tenha certeza que não terá tanta sorte assim, dono da mão! 

- Agnes, comporte-se! – O moreno fitava a outra como era habitual, firme e sisudo. Só com aquela olhada Agnes pode compreender exatamente que ele não havia tido uma boa noite, ou pelo menos um bom começo de dia. 

- Não seja ranzinza Harry. – O ônibus deu um solavanco forte, quase fazendo com que ela caísse sobre uma senhora sentada em um banco à frente. A mulher olhou de canto, reprovativa e dirigiu a ela um profundo olhar de desdém. – Pode ser ranzinza Harry, acho que é um hábito por aqui. – Outro olhar de escárnio foi lançado a Agnes, que retorquiu com um sorriso falsamente meigo, completando com várias piscadas de olho. 

- Estamos chegando, seria bom se vocês parassem de ser tão juvenis e retomassem a compostura. – As palavras de Hermione partiram com impetuosa voz de comando, mas o sorriso que se estampava no rosto dela não permitia que isso se confundisse com a arrogância que lhe era própria por muitas vezes. Agnes percebeu isso desde o momento que a viu no hall do hotel. 

- Seria bom se vocês me deixassem curtir a ressaca em paz. – Ambas as morenas sorriram forçosas, Harry deixou os lábios esboçarem um sorriso em riste, quase imperceptível.  

Desceram na estação central ainda a tempo de comprarem as passagens e adentrarem no confortável transporte para viagens. De acordo com o turismólogo local, ao chegar deveriam buscar alguma das inúmeras carruagens caleche – uma espécie de carruagem com quatro rodas e que possui dois bancos para duas pessoas, um de frente para o outro - que eram oferecidas para o transporte de turistas. As ruínas da Abadia de Glastonbury não ficavam longe do local de desembarque e possuíam uma visitação intensa durante o inverno. 

O fato da presença de outras pessoas – e em grande número - fez com que o trio entrasse em estado de alerta máximo quanto a qualquer fato suspeito. Agnes frisou que “qualquer coisa que se mova em uma nuvem de fumaça negra e cheire a enxofre, não é normal!”

A viajem prosseguia num ritmo constante, o sol havia derretido boa parte da neve e  já vislumbravam-se suntuosas campinas de um verde quase cintilante e inúmeras cabeças de bovinos da raça Jersey ruminando tranquilamente debaixo da sombra das árvores. Campos de flores não eram raros, e não obstante, exalavam um perfume maravilhoso que lhes enchia os narizes.  

Hermione estava sentada ao lado de Agnes, enquanto a outra morena jazia estirada sobre o banco com os olhos fechados e resmungando palavras desconexas a cada momento, ela detinha-se absorta na leitura de um guia de visitação do povoado de Glastonbury, assimilou os caminhos e montou trajetos imaginários em sua cabeça, calculando inclusive o tempo que levariam para se locomover de um destino a outro. 

De alguma forma, sentia-se coagida. Não sabia nada sobre o paradeiro de Rony, só tinha certeza de que ele havia sido capturado por alguma daquelas “coisas” e suas massas de gás negro fétido. Sequer sabia o que estava fazendo ali, para onde iria? E por quê? Não tinha respostas para nenhuma dessas perguntas, só tinha um instinto – deveras sádico, diga-se de passagem – de que estava trilhando um caminho sem volta. 

Olhou furtiva para o banco do outro lado do corredor, um pouco mais a frente que o seu. Harry estava lá, sentado na poltrona da janela – bem como ela – observando a passagem rápida das paisagens dos campos inóspitos da Grã-Bretanha. 

Fechou o guia e o guardou na pequena bolsa enfeitiçada que trazia sempre consigo. Respirou fundo e levantou-se do banco, sofreu para chegar ao corredor, Agnes realmente havia ocupado todo o pequeno espaço que separava a poltrona à sua frente. Esgueirou-se, quase levitando sobre a mulher quase desmaiada para conseguir sair.  

Apoiou-se com uma das mãos na poltrona à frente e outra na poltrona de Harry, ficando de frente para ele. O moreno sequer percebeu sua presença, tinha um olhar nitidamente apreensivo para a paisagem, como se tivesse visto algo que não fosse outra Jersey. 

- Posso me sentar aqui? – Atreveu-se a perguntar já que o olhar dele não encontrava o dela, surpreendeu-se quando ele não se virou para olha-la, somente apontou para fora preocupado, esperando que ela seguisse seus olhos. 

Havia sobre um céu longínquo uma grande massa cinza arroxeada fazendo movimento centrípeto e descendendo ao solo numa fina linha de fumaça cinzenta. Era monumental e grandiosa, poderia até parecer um tornado se não estivesse imóvel e não formasse projeções de uma densa mácula negra para o céu ao redor, como uma raiz de árvore profundamente aderida. 

- O que é aquilo? – Era um tipo de magia que Hermione desconhecia, esse era o fato de maior desagrado para ela, não suportava a ignorância sobre esses fatos – que agora pareciam tão corriqueiros – e muito menos sobre tudo que estava acontecendo a si mesma. 

- Magia antiga Hermione. – Harry não havia sequer olhado para ela, os seus olhos ainda estavam voltados para o céu. – Feitiçaria céltica, vê como está fixada no céu? Como as raízes de uma árvore. É do mesmo modo na outra extremidade deve estar fixada ao solo, sugando a energia vital do lugar. 

- Está se alimentando de vida? – Ajoelhou-se sobre o banco ao lado de Harry, observando mais próxima da janela.  

Seu corpo foi jogado para frente, sentiu as costelas colidirem com o encosto do banco da frente pouco antes de ser jogada para trás novamente. Sentiu o gosto de sangue invadir seus lábios e sua boca. Ouviu gritos e quando olhou para fora novamente, não havia mais nada além de um breu profundo. 

Havia poucos passageiros, mas estes já se aglomeravam na porta da cabine do motorista com os rostos vívidos de pavor, alguns com filetes de sangue escorrendo pela testa. Um barulho estridente foi ouvido, junto dele Hermione pareceu ouvir o som de asas - grandes asas - agitando-se sobre o céu. Estrondos seguiram do som de metal amassando, o teto estava sendo esmagado e o som das ferragens arqueando era horrível. 

Agnes já estava em pé, assustada, ao lado de Hermione, que limpava com os dedos o sangue que insistia em escorrer do canto de seus lábios. Harry estava em pé no corredor, ao lado da outra morena, Hermione não tinha ideia de como ele havia chego até lá. Seus olhos corriam pelas janelas buscando algo que não fosse o breu, parecia ignorar completamente o grito das pessoas que batiam na porta da cabine ansiando por socorro e por uma saída, já que era a única que existia, afinal não havia maneira nenhuma de utilizar saídas de emergência com as janelas estilhaçadas e arqueadas como estavam. 

- Dragão. – Agnes sussurrou para os dois, após mais um farfalhar de asas, o som do vento sendo forçado para trás era contrastado pelo metálico e estridente som do gorjeio. 

- Não pode ser um dragão, já teríamos queimado. – A outra respondeu séria. Os três estavam próximos um do outro, Agnes segurou fortemente a mão de Hermione e a puxou para trás de Harry que tentava avançar cauteloso. 

Ele ia em direção aos outros passageiros lentamente, parecendo pressentir algo ruim. Seus olhos em nenhum momento deixaram de fitar as janelas em busca de alguma pista da criatura que os atacava. 

Por um momento houve silêncio, os passageiros se acalmaram e a gritaria se tornou branda. Hermione e Agnes se entreolharam com medo, o silêncio numa situação dessas nunca era um bom sinal. Harry parou, parecia ouvir algo que ninguém mais ouvia, girou a cabeça para observar as companheiras, ambas estavam atentas e ele pode ver que empunhavam as varinhas discretamente, os olhos também buscavam algo no breu que tomara conta do local. 

Ele ouviu, foi um “crack” quase inaudível, mas ainda sim, ele tinha ouvido. Um pedaço de vidro se desprendeu da primeira janela à esquerda, bem em frente ao aglomerado de pessoas, ele sentiu o chão vibrar gradativamente, ascendendo do início para o fim do corredor. 

- Abaixem! – Nem todos tiveram tempo de fazer isso. Uma imensa projeção reptiliana esverdeada entrou pela janela destroçando grandes partes de metal. A boca se abriu e fechou em milésimo de segundo, destroçando dois dos cinco passageiros que ainda insistiam em sair. Sangue jorrou por todos os lados antes mesmo da cabeça se retrair para fora do veículo. Novos gritos de horror foram ouvidos e as pessoas se esgueiravam por baixo dos bancos horrorizadas. A metade inferior do corpo de um deles estava no chão do corredor, vertendo sangue e inundando o carpete.  

Hermione correu para perto de Harry tomando-lhe o braço e puxando para trás. Olhou para as pessoas em desespero e fitou uma moça, seu rosto estava tomado de sangue e seus olhos esbugalhados. Estava em completo choque. A moça estuporou os três rapidamente, não seria problema demais para o ministério, o fato de ter que resolver a mutilação de dois trouxas em um ônibus de viagem parecia o suficiente. 

Abriu com magia a porta do ônibus, estava prestes a sair quando Harry segurou em seus ombros, colocando-a para trás. Ele avançou descendo os poucos degraus que separavam a acomodação dos passageiros da cabine do motorista. 

O homem moreno que conduzia o veículo tinha uma perfuração grotesca em seu peito de onde gotejava um conteúdo viscoso preto cintilante que parecia corroer os seus tecidos moles, essa perfuração possuía bons 15 centímetros de raio, dimensão igual a da perfuração que o para-brisa continha. O que quer que fosse aquilo, havia o atacado de fora para dentro com algo extremamente pontiagudo e resistente, além de – obviamente – grande. Ele olhou para as duas mulheres e sinalizou negativamente com a cabeça. 

- Está morto. – As duas então se dirigiram a ele, ainda havia silêncio, o som das asas estava distante, mas audível. Harry desceu do ônibus, atentando para o céu, havia uma enorme cápsula de fumaça negra envolvendo-os, no ápice uma reentrância centrífuga que espiralava com a escuridão. 

Ouviu-se mais uma vez o gorjear horripilante e metálico dissonar, o grupo se deslocou avançando mais para longe do ônibus, as varinhas em punho e os olhos sempre atentos a qualquer movimento. 

Um odor forte de bolor circundava o ar e uma insistente névoa recobria o solo, parecia ascender dele. Hermione sentiu o chão vibrar algumas vezes e logo em seguida algo passar em revoada sobre suas cabeças. 

Não demorou até que um borrão verde cinzento apontou no céu, asas longas como as de um dragão se abriram antes de dar uma elegante finta na direção do grupo, gorjeava e serpenteava o corpo no ar. Enterrou os membros no chão, destruindo parte do acabamento de asfalto. 

Agnes tinha o terror estampado nos olhos, sabia o que era aquela criatura, tinha quase certeza – inclusive de sua extinção – de que não era um bom sinal.  

Os olhos tinham o tamanho de uma bola de handball e eram amarelos com fendas grandes em forma de meia lua, como se fossem feitas a cortes de foice. Revestida de escamas verdes acinzentadas, mais grossas que a de uma cobra e mais finas que a de um dragão, pegajosas e musgosas, a cabeça se assemelhava a de um dragão. Os dentes eram negros, tão negros como a escuridão que os cercava e a língua bífida insistia em serpentear gotejando saliva para todos os lados. As fossas nasais era uma fenda tão angulosa com a que os seus olhos detinham, mas tão imóveis quanto uma rocha.  

Não havia braços e mãos, esses compunham as asas. Apoiava-se pelos membros inferiores como se fosse uma ave, a cauda era longa e desenhava insistentemente ondulações sobre o chão, no seu ponto mais extremo distal, uma longa protuberância em forma de ponta de lança, grotesca e extremamente negra. Um grandioso ferrão. 

Hermione ergueu a varinha num ímpeto, seguida de Harry elevando a mão. Agnes parecia imóvel, pensava em algo que a outra morena não soube distinguir. A língua serpenteava próxima a eles, tateando o ar, e como um réptil: sentindo o odor. 

- É um Serpe, ou Wyvern, como quiserem... – A voz de Agnes não era das melhores, seu olhar então, dispensava qualquer comentário. – Separem-se. – disse entre dentes antes de correr para longe sendo seguida por uma guinada do pescoço e da cabeça do Wyvern em sua direção. 

- O ferrão! Não se aproximem da cauda. – Desta vez foi Hermione quem falou, tinha a voz esganiçada e limitada, não conseguia respirar direito, o ar era fétido demais e desagradava seus pulmões. O monstro passou perto de Hermione, sequer parando para observá-la. 

Os outros dois correram para longe, em direções distintas, formando um triangulo imaginário em volta do monstro. Agnes parou de supetão, o monstro seguiu o seu ato. Ao virar para encará-lo ela vislumbrou, erguendo-se por detrás dele uma longa e esguia cauda que se arqueava amplamente e se tornava pendular sobre a cabeça dele. O ferrão abriu como uma flor, dividindo-se em 6 partes iguais serrilhadas, no centro uma abertura pulsante permitia o escorrer de um líquido preto e altamente viscoso. 

Hermione pegou um pedaço da ferragem do ônibus que estava perto de si e jogou o no chão, para longe, o monstro se virou rápido, caminhando trepidante sobre as duas pernas para o lugar onde jazia o metal. Lembrou-se que a vibração da terra era o que guiava os Wyverns sobre o solo, diferente de quando voavam, onde com a sensibilidade das asas sentiam o vento chocar-se e ser rebatido em sua direção caso alguma coisa estivesse à frente. 

Se entreolharam rápido, Agnes foi a primeira a agitar a varinha e fazer sua voz ecoar pela abóboda negra que os recobria.  

- Tenerepodos! – Uma vinha de cipó brotou do chão e chicoteou as pernas do monstro, envolvendo-as firmemente, ele gorjeou alto e tentou mover os membros inúmeras vezes, com o pedaço de metal ainda sendo destroçado em seus dentes negros. Porém, a força exercida pelas vinhas era insuficiente e ele elevou uma perna e logo partiu a estrutura vegetal em milhares de pedaços que evanesceram no chão. 

Harry correu para o lado oposto ao das duas moças, para mais longe do ônibus, pressionava os passos no chão com mais força a cada vez, vibrando brandamente o solo. O efeito surtiu resultados, o Wyvern girou a cabeça sobre o próprio eixo e largou o pedaço de metal da boca. Abriu as asas e veio em sua direção num galope suntuoso, a cauda eriçada por detrás dele abria e fechava seu ferrão insistentemente, produzindo um som tão estridente quanto o seu gorjeio. 

O moreno continuava a correr, estava a uma distância segura das mulheres. Desprendeu do cinto uma bolsa pequena de veludo negro, sua mão se agitava dentro dela buscando algo. Foi em um momento de distração que os seus pés o traíram e ele caiu no chão, dando uma cambalhota completa. Apressou-se em ficar de joelhos quando algo intensificou o breu a sua volta, o Wyvern tinha as asas abertas, tampando todo seu campo de visão. Seus olhos reluziam uma luz inexistente e a língua se aproximava perigosa de seu rosto.  

Um novo gorjear, alto e profundo. Hermione gritou e Agnes tapou o rosto com as mãos, as asas envolviam um grande espaço ao redor de Harry, por um segundo ambas pensaram que seria o fim. Foi quando Agnes estilhaçou o restante do para-brisas do ônibus que Hermione lhe direcionou o olhar. A moça arrancou um longilíneo pedaço de vidro e correu na direção dos outros dois. Seu olhar tinha uma excitação diferente, pelo simples fato de que sabia que precisava fazer algo, e obviamente, magia não funcionaria naqueles casos. Precisava chamar atenção dele, pisou fundo ao correr, vibrando o chão o máximo que podia. 

O monstro afastou a cabeça de Harry, voltando-se para trás. Um grito agonizante ecoou pela dimensão negra que havia se formado pelo horizonte. O monstro elevou a cabeça até o máximo que conseguia, seus gorjeares pareciam gemidos de dor, quando abaixou a cabeça novamente Harry teve a visão completa do que lhe acontecera. Um pedaço enorme de vidro estava enterrado em seu olho esquerdo, regurgitava um líquido arroxeado espesso e brilhante. 

A cauda dele fechou-se e bambeou pelo ar ante de chocar-se com força no abdômen de Agnes, jogando-a para trás com força extrema. As mãos dela vertiam sangue dos cortes que o vidro havia provocado ao transpassar o globo ocular do réptil. Ela fechou os olhos e esperou o choque do corpo com o chão, mas isso não aconteceu. Hermione levitava seu corpo a centímetros do chão, antes de correr até ela e ajudar com que se levantasse, apressadamente. 

Ouviu-se mais uma vez gritos de agonias do Wyvern e as duas mulheres voltaram os olhares assustadas para onde o outro estava. A espada de Gryffindor era ostentada com segurança por entre seus dedos e manejada com uma destreza desconhecida por Harry. Em uma das firmes estocadas da arma, ela prendeu-se na membrana que formava a asa e o espadachim a deslizou para baixo com força. Por fim, havia rompido a porção medial da asa, provocando um enorme rombo nela. Filetes de sangue escorriam dos vasos sanguíneos da asa, sangue de um azul quase negro que inundava o chão. As asas bateram com força, o vento mesclado ao sangue estilhaçou-se sobre Harry. 

O monstro voou, descoordenado e completamente aturdido, gotejava-se sangue por toda a direção quando ele arfava com a asa rompida pelos ares, impulsionando-se para cima. Harry correu para perto das duas mulheres, ajoelhando-se ao lado de Agnes, e observando suas mãos atentamente. O som do gorjeio e do farfalhar das asas se rarefez e a cápsula negra foi sugada pelo ponto centrífugo, juntamente com o réptil dragão. 

O céu ainda clareou rápido, a visão deles tornou-se difícil, mas logo se pode perceber que o ônibus ainda estava no mesmo lugar, bem como o pedaço de metal mastigado e os estilhaços de vidro do para-brisas. Apesar de tudo que havia ocorrido, pareceu não ter se passado nenhum segundo desde que o ônibus havia parado. 

- Agnes! – Hermione ajoelhou-se ao lado dela, junto de Harry. Conjurou um feitiço de ataduras e juntamente com o moreno a pôs em pé. Ela não falava, segurava com uma das mãos o abdômen e o ombro de Harry com a outra. Gemia de dor, uma dor latejante que irradiava por todo seu corpo. 

Hermione viu que outras sombras se formaram distantes, abaixo de seus pés, densas massas de bruma negra. As capas agitavam-se com o vento e revelavam outras emanações de fumaça, por qualquer orifício que elas possuíssem. O odor começou a se tornar fétido, o olhar dela se chocou com o de Harry, ambos sabiam que não havia condições de mais uma afronta. 

Agora mais do que nunca precisava de respostas, esses acontecimentos não eram só estranhos, mas diabolicamente arquitetados e sem precauções ou limites para atingir o objetivo. Objetivo esse que ela também não compreendia. 

- Precisamos sair daqui... Agora! – Ambas assentiram quando Harry falou, e após ter um aperto firme de mãos com Hermione, ele aparatou. 

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Estavam debaixo de uma árvore, havia um cheiro acético de esterco no ar e Hermione mantinha o olhar atento a algumas vacas Jersey que insistiam em se aproximar curiosas do trio.  

- Poderíamos ter aparatado em outro lugar Harry. – Ele retrucou com um olhar irritado e voltou-se para o mapa do guia turístico que Agnes havia comprado antes de sair de Bristol. Esta mesma morena estava no lado oposto da árvore. Continha ainda o braço envolto no abdômen e mordia com força os lábios, parando somente após sentir o gosto amargo e ferroso do próprio sangue. 

- Podemos ir de vassoura, é simples conjurar uma vassoura de transporte e chegaremos rápido. Pode ser arriscado, mas infelizmente é o que nos resta. – Harry disse ainda atento aos inúmeros trajetos do mapa, amplamente desenhando em uma folha desdobrável do guia. 

- Ótimo Harry! Sabe o quanto eu sou aficionada por vôos em vassouras! – Sarcástica, retorquiu Hermione. – Mas se é uma opção, não há muito que negar. 

A voz dos dois parecia distante demais para Agnes, sua cabeça recebia inúmeras agulhadas e seu colo doía intensamente. As pernas pareciam estar fracas demais para suportar o próprio peso, então se sentou, deslizando sobre o tronco monumental do grande salgueiro.  

Retirou a mão do abdômen e tateou o rasgo curto, mas profundo na sua blusa, ergueu a pela barra para observar o ferimento ardente com mais atenção. Seus olhos defrontaram uma cena nada agradável. O corte era profundo, não vertia mais sangue, era um corte pequeno apesar de tudo, somente uma fina linha se sangue deslizava sobre a pele branca. Com os dedos puxou um objeto incomodo de dentro do corte, neste momento sentiu um filete de viscoso líquido negro deslizar junto do sangue. Fechou os olhos e suspirou, enquanto jogava uma lasca escamosa do ferrão do Wyvern para longe do campo de visão. Ao menos a dor passaria, mas de que forma isso aconteceria... Ela realmente não sabia. 


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Notas finais do capítulo

Feitiço Original do capítulo: Tenerepodos: Do latim, Tenere (prender) Podos (pés).
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N/A¹: Olá leitores queridos! Que bom que ainda estão aqui e leram este capítulo, mesmo depois do meu atraso. Bem, acredito que esse capítulo ficou bom, não excelente, mas bom. Melhor que os outros que eu apaguei com certeza ele está. Estou muito apurado com a questão da faculdade, é meu último ano e minhas aulas estão realmente cessando minha criatividade. Esse foi outro motivo de atraso, a falta de criatividade. Aproveito para dizer que estou produzindo um site para a fic, onde ela poderá ser lida com a música introdutória, aviso assim que estiver tudo pronto.
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N/A²: Bem, quanto ao bônus do capítulo passado *risos* Eu deveria ter dito que foi fruto de uma insanidade minha. Como eu disse a EnigmaticPerfection é realmente um capítulo digno de leitura em manicômios, há quem não concorde?
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N/A³: Eu havia prometido ação e aí está. Como sempre digo, e torno a dizer, não é minha especialidade. Mas dessa vez eu tentei prolongar um pouco mais e utilizar meu bestiário de anos de RPG de mesa e leituras de mitologia céltica para evocar o Wyvern. Para quem não conseguiu imaginar exatamente como é esse ser fantástico, busque no Google images, conferi e existem boas imagens para ilustrá-lo.
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N/A4: Estou traduzindo uma fic francesa chamada Quand Le passe devient notre présent, ou seja, Quando o passado se torna nosso presente, da autora Sevmia lá do Fanfiction. Não está nada confirmado ainda, estou traduzindo na loucura, pois a autora ainda não respondeu se permite ou não a publicação. Assim que tiver a resposta eu aviso vocês, é uma fic fantástica!
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Enfim, é isso. Espero que tenham gostado do capítulo!
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Comentem, por favor. E se você chegou até aqui, não custa nada votar na fic, não é?
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Agradecimentos a minha querida beta PamyPotter (ou PamyMalfoy), que tem a paciência de ler as minhas loucuras!
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N/B: Nossa, esse capítulo foi, no mínimo, emocionante. Um ataque totalmente inesperado, não o ataque em si, mas quem o fez. A luta foi muito bem feita (e não falo isso como Beta, mas sim como leitora) e as atitudes durante ela também estavam ótimas. Realmente quem quer pega-los não está medindo esforços e algo me diz que não começara a se importar. Acho que o nono capítulo está merecedor da fic, além de estar antecipando as aventuras deles. Como de praxe:
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- Não, esse beijo foi tão... Pouco... Ela segurou a face dele, virando para ela.
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Aê Hermione! Isso aí, é assim que se faz, mas admito que fiquei com pena do Harry, ele deve ter ficado bem frustrado para ter ficado tão mal humorado, mesmo que momentaneamente. Confesso que estou preocupada com os efeitos do ataque bem sucedido na Agnes, tenho minhas ideias mirabolantes, mas não vou comentar; Então, acho que é isso, me contive na minha N/B hoje. Acho. Beijos.
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RESPOSTA AOS REVIEWS DO CAPÍTULO OITO
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***JôHxSabaku (Isa): Bem, eu não quero que você fique brigando comigo por que te coloquei lá no final novamente, então first dessa vez! Eu já respondi sua review, mas preciso dizer que não consigo parar de pensar em você e desta forma, tive que te por aqui. Beijos!
***Clara Gnuztmann: Que bom que continua gostando Clara! Espero que tenha gostado desse capítulo atrasadíssimo aqui! Eu gostei muito de algumas partes em especial, principalmente as com sangue! Hahaha! Não tenha dó do Harry, não ainda! ( =P ) Quanto ao seu nome nos agradecimentos, oras. Isso não é nada mais do que o merecido, por ter lido e comentado a fic! Obrigado por comentar, tenha uma boa semana! Beijos!
***Bea Bela Black: Oras, claro que não precisa pedir perdão por não ler! O importante é que esteja gostando! Espero que esse capítulo também te agrade, foi quase uma odisséia para escrevê-lo! Complicadíssimo encontrar inspiração essa semana! Tenho que confessar, o último capítulo foi o meu favorito também (depois de reler, pois quando escrevi achei que havia ficado mediano), além do mais, com Ghost Love Score do Nightwish (que é perfeita) ele merecia ser bom, não é? Espere mais músicas do NW na fic, é uma das minhas bandas favoritas! Quanto ao bônus, a intenção era bem essa mesmo, criar o suspense para o choque no final, sem que ele interrompesse o andamento da fic! Me mate agora, eu deixo! MuaHahA!!! Obrigado por ler e gostar da fic, desculpe a demora em atualizar. Só não vale mentir, ficar dizendo que eu escrevo bem e tal! Hahah! Beijo, obrigado por tudo! Boa semana!
***Jade Moreira: Obrigado pelos comentários Jade! Fico muito feliz que tenha gostado da fic e inclusive, tenha comentado! Espero que encontre outras fics que venha a gostar no Nyah! É um ótimo site de fics! Beijos, continue lendo ok? Boa semana!
***EnigmaticPerfection: Hahaha! Consegui amolecer o coração de pedra com o capítulo passado então? Quem vê pensa que você é muito durona senhorita! E como vocês são taradas pelo Harry! Deus vos livre! Eu sou muito mais a Hermione cantando Heavens A Lie com o vestido vermelho que o Harry deu pra ela na Maldita! *-* Bem, você tinha comentado que a Agnes tinha se dado bem, não é? Hahah! Pois bem, depois do bônus você entendeu que ela só queria encher a cara mesmo, acredito. Bem, a gente conversa mais pelo e-mail, então não vou ficar prolongando muito por aqui! Beijos companheira de fics! Boa semana!
***PamyPotter/Malfoy: Não entendi a parte do Não estou conseguindo fazer um comentário muito espetacular hoje, você até fez isso soar como se fosse verdade! *risos* Que bom que você gostou querida Pamy, afinal sua opinião como beta é uma das principais para mim, obviamente que todas são, mas a beta tem um papel imprescindível neste quesito! Quanto a Mione entrar em parafuso, bem, isso vai acontecer tantas vezes ainda... (ou não, como sempre, depende do meu humor!) Pra ser sincero, não sou bom escrevendo D/G, mas de alguma forma estranha, nessa fic está ficando simples de fazer isso, está fluindo. Me lembro do filme! Um barato esse filme, por sinal. Obrigado por tudo betinha querida, beijos e boa semana!
***Isis Brito: Ah! Como é bom ver que as pessoas estão gostando Isis! Seus comentários me alegram muito, principalmente quando você fica enchendo meu ego dizendo aqueles inúmeros adjetivos... *corando* Obrigado! Bem, vamos à resposta... Como você, eu também sou louco por romances, mas ainda mais por dramas, por isso esses romances são tão perturbados! Hahaha! As suas cenas favoritas foram as que eu tive mais facilidade pra escrever, elas estão meio que estampadas na minha cabeça quando eu começo o capítulo! Rsrsrs! Como essa cena do começo desse capítulo. O Draco realmente terá um papel importante, mas para frente, obviamente. Mas será importante! Bem, desculpe se o capítulo foi o inverso do que você imaginava! Hahaha! Foi um pouco de romance com mais ação desta vez! Beijos, boa semana leitora querida!
***MaPotter: Que bom que gostou do capítulo Ma! Eu fico muito feliz em saber que estão gostando, a intenção é realmente essa, por isso esse demorou tanto. Os que eu estava escrevendo estavam me decepcionando, então, preferi apagar e reescrever algumas vezes seguidas. Não se preocupe quanto ao fato de comentar sempre que amou o capítulo, eu adoro ler esses seus comentários! Porém estou com um problema com a publicação na Harryoteca, então a partir de agora só irei colocar os links para leitura do capítulo em outro site, infelizmente será a única solução... ç.ç Assim que resolverem o problema eu posto os capítulos no site novamente! Beijos, obrigado por ler e comentar. Boa semana!
***Eduarda: Prontinho! Aqui está o próximo capítulo! Não precisa ficar ansiosa! Eu expliquei pra Ma, aqui em cima, que estou com um problema para a postagem do capítulo na Harryoteca, não sei pq. Então, me desculpe não ter postado o bônus antes! Beijos, obrigado por ler e comentar. Boa semana!



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