Where Is The Edge escrita por Mari Trevisan


Capítulo 2
Dance With The Devil


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora! Espero que gostem!
Trilha Sonora: Dance With The Devil - Breaking Benjamin



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Abri os olhos. Eu devia ter adormecido depois de olhar para a escuridão por um bom tempo. Então eu ainda era capaz de dormir. Suspirei e me mexi um pouco, não era possível espreguiçar por causa das correntes.


Uma sensação gelada me avisou que havia uma presença- que não era a de William - atrás de mim. Ao me virar, curiosa, as correntes me puxaram e caí sentada. Pude apenas virar a cabeça naquela direção, com dificuldade. Agora eu entendia como as corujas se sentiam.


Não era nada. Quando estava prestes a desistir, porém, houve um brilho. E desse brilho surgiu uma luz transparente, que formou um rosto desfigurado – de uma pessoa que parecia estar sofrendo.


‘’Me ajude!’’ ouvi sua voz esganiçada e fiquei arrepiada. O que era aquilo? Será que eu devia responder? ‘’O que aconteceu?’’ respondi hesitante, eu não sabia o que fazer. ‘’Me mate!’’ gritou como se fosse óbvio, como somar dois mais dois. Caí para trás com o susto. Então a imagem mudou, mostrando um rosto de criança chamando por sua irmã.


Senti um aperto e não evitei as lágrimas, aquilo me fazia lembrar de Ashley. Eu a abandonara, deixara tudo para ir embora com um demônio que tinha poder sobre meu passado, presente e futuro. A cada minuto – ou assim me pareceu – a imagem mudava, contei seis rostos diferentes. Então uma mão gelada tocou meu braço; gritei e me debati desesperada, e para minha sorte, ela despareceu como fumaça no ar. Comecei a chorar mais, abraçando os joelhos em minha solidão.


Ouvi William. ‘’Senti uma comoção dentro de mim, o que houve?’’ ouvi-lo me fez soluçar, e de algum modo consegui responder. ‘’Apareceram pessoas que me pediram para matá-las, acabar com sua dor. Eu não aguento, o que é isso?’’ ele suspirou. Quando falou, sua voz estava cansada. ‘’São as almas que devorei antes de você. Não pensei que fariam contato’’. Era impossível não fazer a pergunta óbvia. ‘’Eu ia ficar assim?’’ ‘’Sim, se eu tivesse te despedaçado. Eles tiveram suas memórias e mente destruídas, estão em dor eterna. Não há nada que você possa fazer para ajudá-los – são criaturas sem salvação’’, disse ele. A repulsa foi tomando conta do medo enquanto as peças se encaixavam e tudo fazia sentido. Se eu tivesse um corpo, teria vomitado – aquilo me dava nojo.


‘’Como você pôde fazer uma coisa dessas? Nunca passou pela sua cabeça que eles poderiam ter um lugar para voltar, uma família ou uma pessoa amada?’’. ‘’Não é assim que funciona, Lyric. Eles fizeram uma escolha ao estabelecerem um contrato comigo, eu não obriguei ninguém. Esta é a consequência. Sua espécie é imprudente e hipócrita, vocês não pensam nas consequências dos seus atos. É por isso que é tão fácil para seres como nós tirar vantagem de vocês. Uma simples oferta de dinheiro faz com que alguns deixem tudo para trás. E eu não sinto, Lyric Angel. Não sei o que é isso que vocês chamam de família’’. Eu sabia que algumas coisas que ele dissera eram verdade, mas não parecia real para mim.


‘’Você diz que não nos obriga a fazer contratos, mas eu não escolhi isso. Por mim, estaria vivendo como uma garota normal, que só precisa se preocupar com amizades e tirar boas notas na escola’’, liberei toda minha frustração pelo que havia acontecido. Eu não queria nada daquilo. Estava sofrendo à mercê da decisão de outros. ‘’É verdade, por mais que eu odeie admitir. Você está aqui indiretamente, mas eu não podia recusar uma alma como a sua’’. É claro que ele não teria recusado, e era por culpa dele que tudo aquilo acontecera comigo. Era contraditório, pois ele me dera a vida e a tirara, tudo com seu poder. Estava brincando de Deus.


‘’De fato, devo minha existência a você’’, admiti, sem mais forças. Se eu tivesse percebido antes, talvez as coisas tivessem sido diferentes. ‘’Você já estava destinada a mim, mas isso não é tão simples’’, falou. Seria uma indireta.


‘’Will, me mostre o lugar de onde você veio. Leve-me para onde tudo começou’’, pedi sem hesitar, pois sentia que havia algo mais sobre minha origem. ‘’Vou lhe mostrar, se é isso mesmo que você quer. No entanto, haverá um preço e você vai ver outros da minha espécie, e vão querer você.’’ Sua franqueza me surpreendeu. Além disso, ele estava realizando um pedido meu, me dando opções. Qual era sua verdadeira face? O que se escondia por trás de Will? No momento, aquelas eram perguntas sem resposta.


‘’Não tenho mais nada a perder, então, por favor, faça o que estou pedindo’’. Essa era a triste verdade. Tudo o que eu amava fora brutalmente tirado de mim, e agora eu podia me submeter a qualquer risco. Certo? Ainda havia uma dúvida que eu me esforçava para omitir. Estava me enganando ao achar que tudo estava bem.


Estávamos em um lugar com pouca luz – não uma escuridão comum, mas sim trevas. Uma árvore frondosa estava perto. Olhei para Will e notei que eu estava fora dele! Um pouco etérea, é verdade, já que agora era só uma alma, mas isso eram muito melhor do que ficar confinada, pensando que nunca iria sair.

– Bem vinda ao meu mundo – ele disse, e eu assenti. Não sabia onde estávamos. Era outro mundo, pois não havia sol nem lua. Começamos a andar em frente, a’te chegarmos a uma espécie de vila ou aldeia, em sua entrada havia um portal enorme, em forma de quadrado. Em suas colunas grossas havia cobras de metal entrelaçadas, que tinham esmeraldas no lugar dos olhos. Cinquenta cobras prateadas nos encaravam enquanto passávamos pelo portal.


– Se você viesse aqui sozinha, não poderia sair – Will me alertou e fiquei receosa, olhando para trás a toda hora, mas não havia ninguém nos seguindo. Perguntei-me como eu poderia chegar àquele lugar sozinha, mas o que ele falara provava que havia um jeito. Achei melhor me concentrar no caminho.


Levantei os olhos para a vila, tinha uma aura completamente sombria, com casas antigas, algumas bonitas e outras caindo aos pedaços, todas de cor escura. Era difícil ver um resquício de luz ali. O lugar parecia vazio, mas isso foi mudando à medida que entravamos mais fundo na aldeia. Nós a atravessamos até chegar a um carvalho, o que era extremamente irônico. Will parou na frente dele e eu fiz o mesmo.


– Ninguém via vir atrás de você se ficar perto de mim – avisou, e então notei vários olhos de diferentes cores me encarando das sombras. – E já volto – acrescentou, dizendo também para que eu tomasse cuidado. Eu não tinha a menor ideia do que aquele garoto pretendia me largando sozinha no meio do submundo, mas tudo bem. Cheguei mais perto do carvalho sem tocá-lo; agora eu não duvidava de mais nada. Engoli em seco, enquanto um par de olhos me encarava mais do que os outros.


Tentei ignorar a princípio, mas aqueles olhos me investigavam, analisavam completamente, pareciam estar me chamando; e acabei por olhar de volta. Assim que fiz isso, minha alma pulsou, e recuei alguns passos. Inspirei profundamente. ‘’Então você está finalmente sozinha’’, uma voz lenta e arrastada me fez pular de susto. Já sabia de onde vinha. Não respondi, apenas esperei que falasse mais. ‘’Você parece ser muito quieta. Que bom, gosto quando meu jantar é submisso’’. A última frase me assustou, e me virei para encará-lo.


– Já fui devorada pelo William, caso não tenha percebido.


‘’Ah, mas o seu William não está aqui agora. E neste exato momento há vários de nós querendo pôr as mãos em você, porém cheguei primeiro’’.


– Ele não é... – tapei a boca. William significava alguma coisa para mim, eu não podia dizer que não me importava. – De qualquer jeito, não tenho medo de uma coisa que nem aparece! Revele-se!


‘’Se você demanda isso... mas não se assuste, minha alma pura’’. Sua voz ia se animando à medida que conversava comigo. Um vulto se moveu na escuridão, e por um momento olhei em volta; mas na minha frente uma figura alta, um garoto loiro de olhos negros. Suas asas eram vermelhas como o sangue que outrora correra em minhas veias. Usava roupas imaculadamente brancas, como se estivesse indo para um casamento. Não havia brilho algum em seus olhos – como eram os de Will, que pulsavam com a vida - eram um terrível poço sem fundo, e por um momento tive a sensação de que poderia afundar-me neles, cair para sempre nas trevas sem fim. Ele sorriu com satisfação.


– Pode me chamar de Athanasios – disse antes que eu fizesse a pergunta óbvia. Havia outra também. Ele abriu os braços e as asas e filetes de sombra saíram de trás dele, se expandindo por todos os lados, tinham a forma de setas na ponta. Como flechas mortais.


Aquelas sombras vieram em minha direção, tão rápido que quando dei por mim já estava completamente envolvida. Elas me seguravam e não me deixavam fazer nada, quando tentei me libertar uma delas chegou perigosamente perto do meu rosto.


– Tão pura e completa... – Athanasios murmurou, e lhe perguntei que diabo eram aquelas coisas e o que ele pretendia.


– É uma habilidade muito especial que só eu possuo. Com elas posso envolver minhas presas, assim – estalou os dedos e as sombras me apertaram um pouco.


– Você não pode me machucar, já fui devorada!


– É aí que você se engana, Lyric. William te deixou viva, de modo que ainda está inteira, como se tivesse um corpo. Eu não vivo de fazer contratos, sou um caçador. A menção da última palavra fez com o que o medo se instalasse em mim, e desesperada, comecei a bater nas sombras.


– Eu vou despedaçá-la, prepare-se, pois vai ser doloroso – as sombras me envolveram mais, cortando minha bochecha. Fiquei completamente parada enquanto desejava nunca ter ido àquele lugar. As sombras começaram a me puxar para mais perto dele, eu me desfazia em agonia.


Athanasios lambeu os lábios e tudo parecia acabado quando algo afiado cortou as sombras ao meio, me soltando, e uma mão firme me segurou pelo meu pescoço, me puxando para trás.


Era Will. Suas asas estavam abertas, tensas, as veias e os ossos apareciam. Havia uma expressão insana em seu rosto, ele empunhava uma foice quase da minha altura. Ele me colocou atrás de si. Athanasios sorriu cinicamente e recolheu suas sombras cortadas e se aproximou; logo elas apareceram de novo atrás dele, inteiras.


– Não ouse! – gritou William, com um olhar assassino que eu nunca vira nele. – Ela me pertence! – Quase caí para trás ao ouvir essa frase. Não soou possessivo, e sim protetor. Os dois começaram a lutar e imediatamente a supremacia de Will era revelada; em menos de cinco minutos ele cortou o outro ao meio, então guardou a foice que agora estava na forma de uma adaga. Após guardá-la, Will me tomou nos braços sem dizer nada, e num voo apressado saímos dali, rumo ao mundo real.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? =D