Estavam ali. Parados em uma estação de trem dirigida e organizada pelo maior traficante de São Paulo. May, com um vestido sujo; Matt, com uma cara brava; e Mu, apenas observando tudo. 

Muitas coisas estavam ruins e desconfortáveis no momento, e se você, leitor, já se perdeu dos seus pais em um lugar muito cheio algum dia, sabe o desespero que é para tentar encontrá-los. As crianças se encontravam nesse desespero: estavam perdidas em um lugar desconhecido - o mundo. E, o pior de tudo da situação, provavelmente, era o fato de nenhum dos três se lembrarem de como foram parar ali. 

- Mas então... -começou Matt, ao que sua irmã olhou pra ele, como quem o desafiava a falar alguma besteira. -O que vamos fazer? Ficar parados aqui? Aliás, o que é aqui? É uma estação de trem? Não parece igual, nem meramente semelhante, àquelas que frequentávamos com papai e mamãe. Onde estão papai e mam...

-Ali! -eles ouviram uma voz gritar, e ao se virarem pro lugar de onde a voz vinha, viram uma boa quantidade (e aqui com "boa quantidade", quero dizer "uns oito ou nove homens grandes de terno com revólvers nas mãos") de homens, que eles deduziram ser seguranças.

Agora, você já deve ter lido, ou visto em filmes, que em momentos de desespero, o personagem paralisa e não corre, não faz nada, devido ao choque. Isso é verdade. Mas não nessa história. Os irmãos ficaram em choque, por uns dois segundos e um quarto de milésimo. Logo em seguida toda a coragem e percepção do que poderia acontecer se continuassem parados, os invadiu, e instintivamente, May pegou Mu no colo, e Matt começou a correr em direção à saída daquele lugar.

Quando os três chegaram a porta, mais quatro seguranças de preto apareceram, barrando-os.

Eles se viraram e correram pra única direção possível no momento: o telhado. A parte mais difícil era May correr com Mu no colo, que, apesar de ser só um bebê, era consideravelmente pesado.

Ao chegaram a parede que dava ao telhado, Matt parou e pensou por três segundos. Pulando o telhado, eles chegariam ao quê? Ele não tinha como saber, era arriscado. Porém, se continuassem ali parados, ele sabia: iriam morrer. Em uma decisão rápida, impulsionou seu corpo para cima, alcançando o muro, e do muro pulando para o telhado. May choramingou um pouco, mas longe em seguida colocou Mu sentado no muro, pulou, pegou Mu e o colocou nos braços de Matt, e pulou para o telhado. 

Em matéria de altura, o telhado era até que baixo. Mas, por outro lado, era plano, e grande, eles teriam uma distância boa a correr. Sem mais demoras, começaram a correr em direção a outra extremidade do telhado, dessa vez com Matt segurando Mu.

Ouviam gritos dos seguranças de preto vindos lá debaixo, mas nem sequer olharam para trás. Chegando na extremidade oposto do telhado, May pulou primeiro, Matt soltou Mu no colo dela, e então pulou. Se encontravam agora em um amplo pátio, com um portão automático de ferro, que dava para rua. Não havia seguranças ali, o que os fez supor que todos do prédio haviam deixados seus postos para capturá-los. Isso apenas serviu para aumentar as perguntas em suas cabeças, mas não era tempo para isso.

Chegaram até o portão, e apertaram o botão que o abria. Infelizmente, ele fazia muito barulho, e, desesperados eles se jogaram pra fora, saindo em uma rua desconhecida, onde olhando pro horizonte, viam uma praia. Eles correram, correram, e correram por uns quatro quarteirões.

Por fim, exaustos, sob a luz da lua, pararam em uma esquina desconhecida de uma rua desconhecida de uma bairro -adivinha?- desconhecido. 

Se encararam por um minutos, e depois caíram no choro.