Sempre Existe Um Anjo ! escrita por ItsAllAboutReadingAndWriting


Capítulo 1
Capítulo 1 - Todo Mundo Cresce !


Notas iniciais do capítulo

Bem, primeiro cap. e tal .... Espero que gostem ^^
(Quero agradecer á Manu Dantas pelo apoio e ajuda incondicional que me tem dado. E claro inspiração também)



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Aqueles olhos de um tom azul, carregados de um tom curioso e de certo modo protectores, eram a única coisa que me lembrava sonhar. Até podia sonhar com mais assuntos, mas eram , aqueles olhos que me perseguiam. Todas as noites ...>


–Érica, tens que te levantar ! - o meu irmão era bem aborrecido quando queria.

–Tá calado meu - arrastava-me a falar, nada a que ele não estivesse habituado - Deixa-me dormir descansada.

Como eu o odiava quando ele me acordava, ainda que fosse algo passageiro, pois após o banho matinal a situação era já, usualmente, parte do passado.

O Daniel é a única família que tenho. Desde pequena que vivo com ele. Após a morte prematura dos nossos pais, eu com 9 anos ele com 16, fomos para casa de uns tios. Por uma questão de não lhes dar trabalho, o meu irmão sempre quis ter a responsabilidade de cuidar de mim (algo que os meus adorados tios sempre agradeçeram.) Mesmo hoje, 9 anos revirados, é com ele que vivo, agora num apartamento pago pelo seu salário de empresário.

–Meu nada, Érica. Temos que ir ao banco - ao ver os meus olhos se revirarem com o que tinha dito, acrescentou - Desta vez quando digo "temos" falo de nós os dois e não só de mim.

(Eu bem que disse que ele era chato)

–Daniel ...- a minha voz suava como um pedido lastimoso.

–Vou contar até 10 menina. Se não te levantares ...

Porquê que os irmãos mais velhos sempre nos tratam como crianças? "Se não fizeres isto", "Se não fizeres aquilo"! Tudo bem que eu sou preguiçosa (Facto!) mas essa coisa de ameaça de criança a certa altura da vida começa a enjoar, principalmente quando se tem nada mais nada menos do que 18 anos.

–Nem precisas de fazer essas ameaças de criança! - já me levantava, ainda que meia sonâmbula.

Pela janela pude ver a claridade do dia de Verão que aparentava chegar. Por ela via também a cidade do Porto. Esta estendia-se pelo meu raio de visão, o que de certo modo me reconfortava e alegrava. Não havia cidade que me deixasse mais alegre sem ser a minha. Este era o meu Porto, que me vira crescer e que em parte era o meu espelho. Esta cidade contava a minha história por mais desinteressante que fosse.

Após o banho matinal, no qual eu fazia a gentileza de demorar bastante tempo na água quentinha, só mesmo o pequeno-almoço, deveras delicioso, que o Daniel sempre preparava, para me deixar em êxtase e esquecer o trabalho de ter saído da cama.

–Tenho mesmo que ir ? - falar com a boca cheia não era o meu forte, o que sempre acabava em desastre, algo que pela primeira vez não aconteceu.

–Tens Érica! Precisas de assinar tudo para que a conta se torne tua também. Já adiámos tempo de mais, e para além disso tens que começar a ter responsabilidades não podes ser sempre criança. - piscou-me o olho com o intuíto de me irritar com o que dizia, mas o certo é que a sua tentativa de parecer sério sempre me arrancava sinceros sorrisos o que se estendia a ele, depois.

–Éh Daniel, tens que treinar esse tom sério porque comigo não cola.

No meio de tanto riso, lá se conseguiu defender.

–Pára de gozar comigo sua barata - algo lhe passava na cabeça, pois após pousar a louça da sua refeição começou a vir na minha direção com o seu tom cómico, ainda que tentasse ser sério.

–Nem te atrevas a fazer nada - nada o demovia e ele já estava praticamente do meu lado - Daniel o que é que vais fazer?- só não fugi porque ainda estava a degustar o sumo de laranja.

Só parou quando estava mesmo lado a lado comigo, e do nada, começou a deferir-me um conjunto de cócegas. Estava praticamente sem ar de tanto me rir, mas ainda consegui falar.

– Daniel Filipe....PÁRA COM ISSO AGORA - a enorme vontade de rir sobrepunha-se a tudo, o que me dificultava dizer-lhe o que quer que fosse - ASSIM...NÃO VOU !

–Ai isso, é que vais Érica - vitória para mim, porque tinha parado o seu ataque fortuito. - Eu vou descer, e espero que não demores muito, porque tenho muito que fazer hoje "catraia". - acabou por sair, não antes de me desfazer o cabelo com a mão.

Não demorei muito a descer. Está bem, se calhar demorei um bocado de mais.

Nunca me preocupei com a imagem que os outros tinham de mim enquanto pequena. Na escola todas as meninas andavam maquilhadas e de unhas pintadas, enquanto eu simplesmente aproveitava o que a vida ainda me proporcionava. Era uma roedora de unhas até há bem pouco tempo, e foi nessa altura, quando começei a deixar de as roer, que começei a tratar de mim também. Não me tinha tornado vaidosa nem superficial, mas um pouco de rímel e blush não me faziam mal nenhum.

–Meia hora para desceres? Vais ao banco não propriamente a um encontro. Quero só imaginar o que vai ser quando te casares. - disse-me enquanto entrava no carro.

–Se for para continuares assim eu saio e não vou a lado nenhum.

Antes sequer de eu ter tempo para fazer o que quer que fosse, ele arrancou logo com o carro. Só assim ele ganhava os nossos "duelos".

–Diz-me isso agora com o carro em movimento.- para não deixar a sua reputação de parvo fez-me uma careta, pondo a lingua de fora.

–A criança não deveria ser eu? -antes sequer de lhe dar tempo de responder, continuei - É que com essas figuras, começo a pensar que andei estes anos todos a ser enganada, e tu é que és a criança no meio disto tudo.

Ele limitou-se a revirar os olhos e ligar o rádio.


(http://www.youtube.com/watch?v=AlTfYj7q5gQ&ob=av2n)


A certo momento um ritmo já conhecido, começou a entoar no carro. Eu sabia o que viria, e por isso mesmo, aumentei o som sob um olhar matreiro do meu irmão. Podiamos ter várias discussões durante o dia, mas éramos cúmplices, e acima de tudo, unidos. Nenhuma discussão seria capaz o suficiente para nos deixar chateados por muito tempo.

– E lá vamos nós outra vez !

Ele gostava de me ouvir cantar, mas sempre fazia cara feia, dizia que era para eu aprender a seguir em frente mesmo quando toda a gente estava contra.


–Ai é? Esta é para ti óh traste!

"I'm only up when you're not down.

Don't wanna fly if you're still on the ground.

It's like no matter what I do.

Well you drive me crazy half the time;

The other half I'm only trying to let you know that what I feel is true.

And I'm only me when I'm with you."


Fiz uma pausa para recuperar o folego, enquanto ele se deliciava a ouvir-me, e as pessoas por quem passavamos olhavam estupefactas como se fosse louca.

–"Just a small town boy and girl

Livin' in a crazy world.

Tryin' to figure out what is and isn't true.

And I don't try to hide my tears.

The secrets or my deepest fears.

Through it all nobody gets me like you do.

And you know everything about me.

You say you can't live without me."

–Eu não digo nada disso.- eu disse que a música já era conhecida da casa, e como tinha muito a ver connosco, tinha por hábito de cantar para o meu irmão, daí ele perceber a tradução também. - Eu sei viver sem ti, já tu não podes dizer o mesmo, não é dorminhoca ?!

–Vai sonhando ... - tive mesmo que lhe mostrar o dedo do meio, o que me valeu um tapa no braço.- Eih, caso não repares eu não quero morrer num acidente de carro, portanto faz o favor de te concentrares.

Ele acabava sempre rindo de tudo o que eu dizia, o que me levava a crer que deveria ter alguma caracteristica de palhaça ou algo do genero. No meio da brincadeira acabei por perder a música mas nem dei por ela pois estava perdida a observar a paisagem. Sim, eu tenho a qualidade de me perder nos meus pensamentos enquanto observo as coisas, e a minha cidade não era excepção.

Estava tão aturdida nos meus sonhos que quase nem dei conta que estava a chegar ao banco. Depois de entrar e esperar para ser atendida, vi-me rodeada de um monte de papeis e documentos para assinar, e também de um olhar provocador que o funcionário me fazia. Este teve que se ausentar de modo a ir buscar mais coisas que precisávamos de tratar pelo que logo agradeci mentalmente.

–Estou a sentir-me como um pedaço de carne! - estava mesmo irritada com o homem.

–Éh maninha, estás a crescer ...- ele parecia encantado com a situação, o que me deixava ainda mais chateada.

Sem dar muita bandeira acabei por lhe bater no braço.

–Este é o pagamento pelo que me deste no carro, seu ignorante.

(Somos duas personagens muito cómicas, nem num banco nos controlámos, eu sei, mas que posso fazer, o Daniel estava mesmo a pedi-las)

O empregado voltou, com o seu ar de engatatão de meia tigela.

–Bem só falta mesmo assinar mais essas duas folhas, para que a conta seja declarada como sendo da senhorita. - por esta altura o funcionário já não me olhava nos olhos, mas sim no meu decote, que não era muito grande mas deixava transparecer um bocado do que se escondia por trás.

Eu não me consegui aguentar, e mesmo com o meu irmão tentando controlar o riso, tive que me dirigir ao homem de modo a que aquele assédio parásse, pois a minha paciência estava mesmo a esgotar.


–Desculpe, mas a minha cara encontra-se ligeiramente mais acima senhor.

Esperava que ele se sentisse mal com o meu comentário, mas o sem vergonha limitou-se a olhar-me nos olhos e sorrir como se o que eu tinha dito não fosse nada de importante. Não entendia como pessoas deste nível podiam trabalhar em atendimento ao público e continuar a ter estes comportamentos inapropriados.

Neste momento começamos a ouvir uma algazarra enorme. Alguém dizia algo do genero : "Se alguém fizer alguma coisa nós disparamos". Num ápice, um homem de máscara entrou no cubiculo onde estávamos e sem termos tempo de perceber a situação, falou-nos de modo arrogante.

– Tudo para o átrio. JÁ!

Estava petreficada de medo, e só andei porque o meu irmão me agarrou e me levou para o local indicado. Não consegui prestar atenção a todos os pormenores, por momentos nem sabia onde estava sequer. A adrenalina, de sentir uma arma praticamente apontada á cabeça, corria-me nas veias, e eu não estava de todo a conseguir acalmar-me. O homem fez sinal para nos sentarmos perto das outras pessoas, ou neste caso, reféns. Aconcheguei-me o máximo que pude ao meu irmão. Os seus braços protectores queriam me trazer á realidade, mas um ataque de pânico ameaçava chegar a qualquer momento.

–Estou bem aqui do teu lado Érica. Temos que manter a calma.- o sussurrar dele, calmo e ternurento, parecia conseguir trazer-me á Terra



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Notas finais do capítulo

Não digo que a história vai ser movida a reviews, mas se quiserem deixar eu fico agradecida (e com imensa vontade de escrever mais)
Beijo