As Rosas De Hogwarts escrita por everyrose


Capítulo 1
Escuridão




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Havia um cômodo escuro e decrépito, assolado de poeira. A madeira arruinada no chão descascava-se revelando o cimento e os cupins embaixo, provavelmente rumando para suas tocas ou procurando descascar ainda mais a madeira. O lugar era pequeno e úmido, inutilizado há anos. O mofo nos cantos das paredes contaminava o ar com um cheiro antiquado.

         Eu estava sentada em um canto do cômodo, abraçada nos meus joelhos. Não havia porta ou saída dentro daquelas quatro paredes. Uma angústia de aprisionamento perpassava por minha mente e via-se a silhueta de um vulto pela sombra da parede. Ele falava comigo.

Vulto: Você pode ter o que você quer, basta um olhar. Você pode ter o que não quer, basta temer.

         Não sabia o que aquela figura queria dizer com aquilo. Sua voz era amena, mas sombria. Ao olhar para a parede, vi sua silhueta ficando cada vez maior, até cobrir praticamente toda a parede, e como sempre eu estava sozinha e calada... Vislumbrei um brilho dourado a um canto. Um ruído agudo ensurdecedor me fez tapar os ouvidos naquela escuridão.

         Acordei em um sobressalto, com o barulho familiar do despertador tocando e enchendo meu quarto. Apertei o botão com força, desligando-o. Estava cansada, talvez meu próprio sonho tivesse me deixado assim. Esfreguei meus olhos e olhei ao redor. Tudo estava quieto e minha pequena coruja bege se encontrava empoleirada na gaiola.

         Levantei e vesti-me. Abri minha enorme mala bordô e enfiei todas as roupas que precisaria; minha varinha, penas e pergaminhos. Sem esquecer é claro, dos meus cadernos.

         Todos os meus livros que usava em Swortex tiveram que parar literalmente no lixo. Afinal, de acordo com a carta que recebi de Hogwarts, os livros e materiais necessários seriam comprados no tal do Beco Diagonal. Eu coloquei muitas roupas de inverno que quase nunca usava na minha antiga escola. Eu nasci na Austrália, Sydney, e freqüentava o Instituto Swortex de bruxaria, que se localizava muito perto de um deserto. Agora, tinha recém mudado para Londres, onde o clima era completamente diferente. Minha família inteira continuou morando na Austrália, com exceção de meus pais e eu. E para falar a verdade, não estava nem um pouco animada em ter de mudar de colégio.

         Desci as escadas com minhas coisas e depositei-as na sala. Fui até a cozinha tomar o café da manhã em silêncio. 

Tina: Não se preocupe, querida. Aposto que vai amar essa nova escola.

         Eu revirei os olhos, descrente. No fundo eu sabia que as coisas não iriam melhorar, talvez piorassem. Eu odiava escolas devido a diversas más experiências que tivera antes, era preferível; portanto, que fosse invisível.

         Depois de dar duas garfadas não consegui comer. Meu estômago estava começando a se embrulhar. Isso sempre acontecia quando as férias acabavam e eu tinha de voltar à escola. Eu passava mais da metade da minha vida lá naquele inferno, o que não me fazia uma pessoa muito feliz. Assim, eu sempre voltava para casa sempre que podia: Nos feriados.

Will: Não vai comer mais nada, filha?

Lola: Estou sem fome.

         Eles perceberam minha frieza e se entreolharam, preocupados. Partimos para o Beco Diagonal.

         Eu sabia que a entrada para o Beco Diagonal era por um pequeno bar chamado Caldeirão Furado, localizado na Rua Charing Cross de Londres. Meus pais olharam hesitantes para aquele bar e tive a singela impressão de que estavam vendo alguma coisa diferente. Provavelmente havia um feitiço antitrouxa o protegendo.

Tina: Tem certeza de que a entrada é por aqui? Esse bar parece estar em ruínas há anos. Está praticamente caindo aos pedaços.

Lola: Mãe... Não está não. Acho que... Acho melhor vocês esperarem aqui no carro.

         Eu entrei no bar e logo descobri que também servia de hospedaria. Perguntei ao gerente por onde poderia entrar no Beco Diagonal. Ele, um homem sem dentes e corcunda, mostrou-me com gentileza o caminho até uma grande parede feita de tijolos. Eu toquei a varinha levemente nos três tijolos que ele me indicou e uma passagem se abriu.

         O Beco Diagonal era um lugar incrível. Dentro dele comprei tudo de que precisava para estudar em Hogwarts. Olhava na minha lista de materiais que constava diversos livros para todas as matérias do 5º ano, caldeirões, frascos e ingredientes para Poções, um mapa astral e lunar, um telescópio, um exótico livro para Adivinhação chamado “Hipnose Hipnotizante”, uniformes, etc. E é claro um animal de estimação que eu já havia comprado na Aldeia Homera de Swortex, junto com minha varinha.

         Depois das compras nos dirigimos até a estação de trem de King’s Cross. Lá eu finalmente me despedi de minha família. Estava pronta para atravessar a plataforma 9 ¾.

Will: Escreveremos toda a semana, ok?

Tina: Nos conte as novidades!

         Eu assenti, aflita. Fechei os olhos e entrei pelo muro na plataforma aonde apenas havia bruxos estudantes e suas famílias bruxas se despedindo. Um enorme trem que soltava fumaça estava parado na estação, com letras gigantes em vermelho: “Expresso de Hogwarts”. Meu estômago se embrulhou novamente.

         Ao entrar no trem, tentei procurar algum vagão livre. A maioria dos estudantes já estavam lá, alguns trocavam suas roupas para o uniforme, outros estavam em pé conversando entusiasmados e trocando novidades. Percebi que a maioria dos queridos alunos parecia ser tão mesquinha e perturbadora como os de minha antiga escola. Populares idiotas e imbecis. Senti um alívio quando achei um vagão e me sentei, fechando as portas de vidro.

         O trem partiu, vagando pelos trilhos e passando pela paisagem verde infestada de animais. Pássaros voavam e piavam melancolicamente no céu azul. Eu me apoiei no parapeito da janela, observando a vista. O grande problema era eu mesma. Eu nunca conseguiria fazer amigos. Era muito tímida e passara todos os anos seguidos de minha vida sem ninguém. Eu sabia que eu pertencia ao mundo da magia, pois se fosse uma trouxa e vivesse no mundo deles, as coisas seriam muito piores e desastrosas. Em Swortex, eu nunca falava com ninguém. Sentava em meu canto e passava o resto do ano naquela escola sozinha. Não tinha ninguém para conversar. Quando voltava para casa, só tinha a minha família. No começo, foi duro. Lembro-me de ter muitos colegas que debochavam de mim, me desprezando. Por que em Hogwarts seria diferente? As pessoas não iriam se acostumar comigo e eu teria de lidar com as mesmas coisas de novo. Pelo menos em Swortex, todos já estavam acostumados com a minha solidão. Senti as lágrimas escorrendo.


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