Cap. 03: Quase-beijo

Começamos os ensaios da peça na semana seguinte. E eu admito que fiquei um pouco surpreso, porque Summer até que atuava muito bem.

Observei que Josh se aproveitava um pouco em algumas cenas, e Summer tentava sempre ignorá-lo. Aquele cara era muito estranho, e eu sentia que Summer tinha medo dele.

Estávamos no intervalo. Summer, Laura e Christofer discutiam sobre algo que eu não prestava muita atenção.

Eu observava Josh, que estava em uma mesa do refeitório um pouco afastada da nossa. Ele ficava encarando Summer continuamente, mas não havia percebido que eu estava vendo tudo. Na verdade, parecia que ele não percebia nada ao seu redor, apenas Summer.

Me perguntei se ele gostava dela. Ele sempre procurava puxar assunto, sempre queria uma desculpa para tocá-la. Mas ele não tinha cara de apaixonado. Definitivamente, não.

Ficávamos até depois das aulas no colégio, para ensaiar a peça. Os ensaios geralmente acabavam às 19:00, por isso íamos para casa quando já havia anoitecido. Hoje era um desses dias.

O ensaio havia terminado. Era 19:30 e eu sai do teatro do colégio, atravessando o pátio em direção a saída respirando o ar fresco que passava. Logo lembrei-me da praia. Eu já morava em Santa Monica faziam 2 semanas, minha casa era bem de frente para a praia e ainda assim eu nem pisei naquela areia.

Instantaneamente fiquei frustrado. Eu estava tão ligado à escola que nem me diverti um pouco. Se bem que isso é bom... eu quero recomeçar, não quero?

Parada no portão estava Summer, com a mochila presa às costas e segurando o caderno contra o peito. Ela parecia sentir frio.

Me aproximei dela, chamando sua atenção.

– O que ainda faz aqui?- perguntei.

– Estava te esperando. Você mora no condomínio Sunset Ville, não mora?- assenti.- Eu poderia ir com você?

– Por que? Está com medo do escuro?- perguntei risonho, mas Summer não achou graça, permanecendo com o semblante sério.

– Mais ou menos.- parei de sorrir. Ela estava me deixando intrigado. Desde que a conheci, ela sempre sorria, sempre ficava feliz, e agora ficava séria e preocupada com algo do nada.

Eu disse que a levaria em casa, já que sua casa ficava naquela direção, um pouco antes do meu condomínio.

Fomos andando em silêncio. Eram 5 quadras até a casa dela e 6 até a minha. Percebi que ela passava bem longe da entrada de um beco ou outro, andava observando à tudo com atenção e olhos atentos e quase enfartou quando um carro preto parou ao nosso lado, pedindo informações.

Eu apenas ria do jeito que ela agia. Mas ela não achava graça, apenas me olhava pelo canto dos olhos e abaixava a cabeça, dando um inaudível suspiro.

Até que eu comecei a parar de achar graça e passei a achar estranho.

– Me diz o que você tem.- pedi, sério. Ela ficou em silêncio.- Poderia me dizer o que você tem, por favor?

Mais silêncio. Eu não aguentava aquilo por muito mais tempo. Interrompi a passagem de Summer, parando na sua frente e segurando-a pelos ombros. Ela arregalou um pouco os olhos, já que estávamos bem próximos.

– Summer, me diga o que está acontecendo.- falei, firme. Segundos depois seus olhos azuis encheram-se de lágrimas e eu senti uma pontada no peito ao ver aquela cena.

– Não adianta, você não pode me ajudar.

Sua voz saíra vacilante , fraca. Summer passou seus dedos finos na bochecha, retirando as lágrimas que caíam.

E então, aconteceu. Bateu em mim uma força, era maior que eu. De repente eu senti uma vontade louca de beijar Summer. Beijar aquela garota maluca, mas linda, e tentar arrancar toda a frustração, toda a tristeza, toda a dor que a atormentava e era visível em seu rosto.

Quando percebi, meus lábios já estavam à centímetros dos dela. Summer me olhava, os olhos arregalados e brilhantes devido às lágrimas – ou a surpresa -, os lábios entreabertos e as bochechas coradas. Fechei meus olhos, me sentindo anestesiado, pronto para lhe beijar quando...

– Opa! Opa! Opa! Na porta da minha casa não, Mark Campbell!- petrifiquei onde estava. Abri meus olhos rapidamente e vi Summer, vermelha como uma pimenta com Christofer ao seu lado, com os lábios repuxados num sorriso em um dos cantos.- Que coisa, hein, moça!- ele disse para Summer.- Mamãe precisa da sua ajuda para o jantar, entre logo.- Summer se apressou e entrou em casa, sem nem olhar para trás. Permaneci parado no meio da calçada. Eu não fazia ideia de que já havíamos chegado na casa de Summer.

Quando ela entrou em casa, Christofer suspirou, olhando para mim com a expressão preocupada.

– Joshua Sparks se aproximou muito dela?- estranhei a pergunta, mas fui sincero.

– Bom... ele sempre se aproxima.- o rosto de Christofer ficou mais branco do que de costume. Estranhei ainda mais.

– M-mas... ele... ele... o que ele faz?- Christofer gaguejou, nervoso.

– Nas cenas entre Romeu e Julieta ele meio que tira um aproveito, a acaricia no rosto, essas cenas assim.- Chris suspirou, respirando pesadamente em seguida e passando as mãos pelo rosto.- Por quê?- eu comecei a me perguntar se todos da família McLean eram ansiosos, preocupados e meio malucos como Summer e Christofer.

– Nada. Não é nada.- ele respondeu, a voz meio vacilante. Chris andou até o pequeno portão branco e virou-se pra mim, como quem acabou de lembrar de algo.- Ah, Mark! Você poderia me fazer um favor?

– Claro.

– Não crie esperanças falsas à Summer.- Christofer agora estava sério, e sua voz saiu meio... ameaçadora.

– Como assim?- arrisquei perguntar.

– Você sabe do que estou falando.- e se foi. Trancou o pequeno portão da enorme casa amarela e se foi. Me deixou ali, parado sozinho no meio calçada esperando por respostas.

Eu esperava por respostas para as minhas perguntas, mas quais eram as minhas perguntas, afinal?

Eram muito estranhos. Summer, Christofer e Joshua eram estranhos demais.