Cap. 21: Protetor

   “ (...) Saímos na avenida principal e Joshua jogou o carro para uma rua que levava à uma parte mais isolada da cidade. Logo estávamos em uma rua de terra, e só o que havia ao nosso redor eram algumas árvores. Joshua desligou as luzes do farol e devido à escuridão se tornava difícil para enxergarmos seu carro. Senti uma dor incômoda no peito e a raiva se apossando de mim.

   Eu o mataria. Se ele fizesse algo à Summer, eu juro que o mataria.

   E logo não sabíamos mais para que direção Joshua a havia levado. Seu carro havia sumido, e John parou a viatura. Todos tentavam encontrar o carro prateado em meio às árvores, mas nada.

   Joshua havia desaparecido com Summer. ”

   Senti o sangue correr mais rápido em minhas veias. Christofer deu um soco no banco, bufando.

- Eu vou matar esse desgraçado! Eu juro que vou!- Christofer disse entredentes.- Se ele tocar novamente em Summer, eu...

- Christofer, fique calmo, ok? Vamos chamar mais ajuda, fique tranquilo.- Claire disse, com seu tom de voz apaziguador.

   Claire e John saíram da viatura. Claire falava ao celular, talvez contatando outros policiais, e John olhava o território ao nosso redor.

   Tudo o que eu via era escuridão. Árvores e escuridão. Respirei fundo, apoiando a cabeça em minhas mãos. Christofer parecia quase ter uma síncope ao meu lado e eu o entendia.

   Por dentro eu sentia que iria explodir. Em minha mente se passava tudo o que aquele animal poderia fazer com Summer, tudo o que poderia estar fazendo agora. Senti uma dor incômoda no peito e suspirei.

   Precisávamos encontra-la. Rápido. Agora.

   Mais uma viatura havia chegado, com ela mais dois policias, cujos nomes eram Henrie e Sean. Ainda estávamos no mesmo lugar de antes, e com o auxílio de uma lanterna no capô do carro olhávamos um mapa da região que Sean havia trago.

   No raio de alguns quilômetros haviam algumas fábricas, lojas e prédios. Consideramos todas as possibilidades, mas nenhuma fazia certo sentido. Para quê Joshua levaria Summer para um prédio? Seria meio óbvio demais.

- Algum lugar escondido.- Christofer murmurou, observando um ponto fixo no mapa.

   Olhei meu relógio de pulso. 20:13 da noite.

   O tempo passava, e ainda estávamos aqui pensando para onde Joshua poderia ter levado Summer.

- Alguma cabana ou algum barraco no meio da floresta! Por que não entramos nesse carro e vamos rodando por aí à procura? Já se passou quase quarenta minutos!- falei no auge da minha irritação e ansiedade.

   Os 5 pares de olhos viraram para mim. Todos assentiram e entramos na viatura. Henrie e Sean foram à nossa frente já que os dois conheciam a área melhor do que Claire e John, que ficavam mais encarregados dos casos dentro do departamento e do lado mais comercial da cidade.

   Passamos uns 10 minutos rodando pelo local, talvez. Tudo o que eu via era mato, árvores, lama e... vagalumes.

   Sorri levemente com a lembrança daquela noite. Summer pulando feito uma criança, com aqueles cachos ao seu redor, no meio dos vagalumes. E o nosso beijo...

   Quero dizer, o beijo que ela havia me dado. Porque eu fiquei igual a um idiota em estado catatônico. Suspirei, passando a mão pelo rosto.

   Eu precisava encontra-la. Ter certeza de que ela estava bem e...

- Achamos algo.- John disse de repente.

   Eu e Christofer nos esprememos um no outro, tentando ver o que se passava do lado de fora. Mas aquela “divisória” que havia entre a parte da frente e a parte de trás do carro não colaborava nem um pouco.

   Tudo continuava na escuridão, mas através de algumas árvores podíamos ver um pequeno ponto de luz amarela. Uma lâmpada. Sobre uma porta. Uma cabana.

- Não vai me dizer que Joshua enfiou minha irmã nesse barraco?- Christofer perguntou, exalando raiva pelos poros.

   Claire suspirou, abrindo a porta do carro.

- É o que veremos.- ela murmurou.

   Claire e John foram até Henrie e Sean, que estavam observando o casebre entre algumas árvores. Eu e Christofer saímos do carro, e eu percebi que por ele, chegaríamos lá derrubando o barraco e atirando na cabeça de Joshua.

- Fica calmo, cara.- falei, dando um tapinha em seu ombro.

   A verdade era que eu estava num estado de nervos por dentro.

- Você está calmo?- ele perguntou, parando de repente.

- Pareço estar calmo?

- Você consegue fingir bem. Eu quero chegar lá e arrancar sangue daquele desgraçado. Quero manda-lo ao inferno.- Chris murmurou, voltando a andar em direção aos policias e me largando sozinho no meio do caminho.

   “Quero manda-lo ao inferno.” – quanto amor.

- O carro que Joshua usou está estacionado bem ali, um pouco escondido ao lado do casebre.- Sean disse, assim que cheguei até eles.- Eu, John e Henrie entraremos primeiro para pegar Joshua e vocês dois, com Claire, entrarão em seguida para buscar Summer. Entenderam?- ele disse, olhando para mim e Christofer.

   Apenas assentimos, e logo estávamos indo em direção ao casebre. Me senti num daqueles filmes de espionagem, em que você tem que dar umas cambalhotas no chão, rastejar, se esconder entre árvores e nas sombras para no fim pegar o vilão.

   Suspirei, repreendendo-me mentalmente. Sou um idiota mesmo. Respirei fundo, me perguntando como Summer estaria. Bem? Mal? Desmaiada? Ou... violentada novamente?

   Eu não aguentaria. Se ele tivesse abusado dela novamente, eu não sei o que seria capaz de fazer.

   Sean e Henrie murmuraram algo um para o outro e, em seguida, ambos arrombaram a porta de madeira e entraram gritando feito loucos e apontando suas armas para todo lado, assim como John. Claire fez um sinal, segundos depois, para que a seguíssemos e assim fizemos.

   Sean e Henrie gritavam com Joshua, que estava ajoelhado no chão com as mãos para trás, e John atrás dele algemando-o. Vaguei com meus olhos pelo local até que a achei.

   Deitada numa cama imunda, nua da cintura para cima. Seus olhos estavam vermelhos, e ela chorava e soluçava. Seus cabelos caíam sobre seus olhos e alguns fios grudavam em seu rosto devido às lágrimas.

   Christofer estava paralisado ao meu lado, os olhos arregalados enquanto observava a irmã. Fui até ela rapidamente, tocando em seus ombros. Summer se afastou de mim como um animal acuado.

- TIRE AS MÃOS DE MIM! – ela gritou.

   Arfei, sentindo uma dor incômoda no peito. Vi manchas vermelhas em sua pele clara, marcas daquele animal do Joshua. Engoli em seco.

- Summer, sou eu! Olhe para mim! – pedi agoniado.

   Toquei seus ombros novamente, levemente. Summer se encolheu, abraçando seus joelhos.

- Summer, olhe para mim! – pedi novamente

   Toquei seus cabelos, levantando seu rosto. Alguns fios dos seus cabelos colaram em seu rosto nas lágrimas. Os afastei de seus olhos, acariciando levemente seu rosto. Summer tentou se afastar novamente, mas eu a segurei.

- Não precisa se assustar. Fique calma, ok? Sou eu... Sou eu, o Mark.

      Summer levantou o rosto lentamente, me olhando. Meus dedos percorreram seu rosto, passando pelo local machucado na testa até seu pescoço. Sua pele manchada por aquele imundo.

   Eu respirava pesadamente, ouvindo ao fundo os policiais gritando com Joshua, que ria e falava coisas desconexas. Christofer ainda estava parado no mesmo lugar, parecendo não crer que era Summer, sua irmã, ali.

- Eu vou matá-lo - murmurei - Vou matar esse desgraçado.

   Summer permanecia me observando em silêncio, seus olhos de repente sem vida alguma. Engoli em seco.

- Você vai ficar bem. - eu disse, acariciando seu rosto.

- Mark... – murmurou, ainda me olhando.

   Sorri levemente.

- Sim, sou eu. Vim te tirar daqui. – murmurei.

   Summer rastejou até mim e rodeou meu pescoço com seus braços. Deitou seu rosto em meu ombro, e senti seu corpo amolecer. A segurei e a peguei no colo.

- Você veio. – ela murmurou, quase caindo na inconsciência.

   A embalei em meus braços, dando um beijo em seus cabelos. Summer suspirou, fechando os olhos.

- Minha garota... – murmurei, a apertando contra meu peito.

   Senti minha garganta arder, enquanto tentava prender o choro. Patético. Mas vê-la daquela maneira... Não quero nunca mais vê-la dessa maneira.

   Virei-me para Christofer, e ele pareceu sair de seu transe. Apenas nos observava, parecendo não saber o que fazer. Os policias já haviam retirado Joshua e eu podia ouvir uma das viaturas indo embora, provavelmente levando-o. Christofer veio até nós, olhando para Summer. Deu um beijo na testa na irmã, murmurando algo que não consegui ouvir, e logo pegou as roupas dela que estavam no chão. Jogou a blusa feminina sobre o busto de Summer, que estava nua. Seria uma situação constrangedora se eu não estivesse tão preocupado com ela.

   Claire apareceu do nosso lado de repente, nos mandando levar Summer até a viatura. Fizemos o que ela mandou e logo estávamos à caminho do hospital.

   Pelo o que o médico disse Summer não chegou a ser abusada. Conseguimos chegar a tempo de resgatá-la. Christofer ligara para seus pais e eles conseguiram chegar mais cedo. Annabeth e Joseph, pais de Summer e Chistofer, eram pessoas calorosas. Chris explicou o que havia acontecido, e ambos me deram um abraço apertado em meio a agradecimentos. Eles pareciam aflitos, preocupados com Summer, e não sossegaram até uma das enfermeiras dizer que o médico responsável por Summer logo viria falar conosco. Minha mãe havia me ligado desesperada, querendo saber onde eu estava, e eu expliquei tudo o que havia acontecido. 10 minutos depois todo o batalhão estava na sala de espera.

   Minha mãe, tio Rick, Nina e Emma apareceram afoitos. Todos se cumprimentaram, e minha mãe e Annabeth pareceram se gostar, assim como tio Rick e Joseph.

   Nina e Chistofer se olharam por alguns instantes antes de virarem o rosto um para o outro. Revirei os olhos. Eu teria que dar um jeito naqueles dois... Depois de saber que Summer está bem.

   Nina veio até mim e se pendurou no meu pescoço, murmurando coisas desconexas.

- O que foi, menina? – perguntei.

   Nina se separou de mim e me olhou fazendo bico.

- Tira aquela coisa daqui. – ela pediu.

- Que coisa?

- Você sabe quem. – ela disse, revirando os olhos.

   Ri, apertando sua bochecha.

- Sinto que já te vi em algum lugar... – Annabeth disse para Nina.

   Minha prima sorriu levemente, as bochechas coradas.

- Eu era... Amiga de Christofer. Vocês foram passar alguns dias em Nova York e eu os conheci. – Nina disse.

   Annabeth sorriu abertamente, abraçando Nina.

- Sim, me lembro! Você está tão linda! Nina, não é? Não sabia que morava em Santa Monica!

- Nos mudamos para Santa Monica faz alguns dias, apenas. – tio Rick disse.

   Logo Annabeth também abraçou Emma, que pareceu ficar envergonhada, e todos engataram numa conversa. Emma olhava para Christofer seriamente, enquanto o mesmo olhava para Nina, que conversava com minha mãe e Annabeth.

   Suspirei, indo até Emma e me sentando ao seu lado. Ela me olhou e sorriu levemente.

- Você lembra de Christofer? – perguntei.

   Emma revirou os olhos, desviando seu olhar para uma revista que havia pego em uma prateleira.

- É claro que me lembro dele. Impossível esquecer o idiota que fez minha irmã chorar por meses. – ela respondeu calmamente.

   Nossa senhora, Emma mudou só no estilo de se vestir mesmo. O humor continua o mesmo. Mas pelo menos ela sorri agora... Um pouco, mas sorri.

- Você está tão diferente. – falei, rindo comigo mesmo.

   Emma deu um risada, balançando a cabeça.

- E você já não parece um drogado. – ela disse. Logo me olhou, com um pequeno sorriso. – Isso é bom. Continue assim, Mark.

   Sorri com suas palavras. Notei que havia uma aliança em seu dedo, e me perguntei do que seria. Emma não estava casada, disso eu tenho certeza...

- Estou noiva. – ela disse.

   Ela disse, percebendo o modo como eu olhava para sua mão. Olhei para ela curioso, e Emma revirou os olhos.

- Um dia você irá conhecê-lo. Eu irei para Stanford, e ele irá comigo. – ela disse.

   Assenti, ainda mudo. Eu sempre fiquei em silêncio na companhia de Emma. Em nossas conversas apenas ela falava, e era uma coisa boa. Sabe, ouvir sua voz. Logo o médico responsável por Summer veio até a sala de espera conversar conosco. Ele explicou que Summer estava bem, e no dia seguinte já teria alta. Apenas passaria a noite devido ao ferimento em sua testa que estava sendo tratado. Todos respiraram aliviados. Joseph e Annabeth resolveram passar a noite no hospital, e Christofer resolveu ir para a minha casa para dormir lá.

   Foi um pouco tenso ter Nina e Chistofer assim, lado a lado. Emma parecia não se importar tanto, mas as vezes lançava uns olhares cortantes para Chris, que se encolhia e vinha para o meu lado. Eu apenas ria dele, mas convenhamos, ele é um idiota.

- Mark, amanhã cedo viremos ver Summer. Ok? – minha mãe disse.

   Apenas assenti e todos entramos no carro. Nina teve que ir no colo de Emma ao lado da janela, já que apenas eu e Christofer tomamos quase todo o espaço do banco de trás. Fiquei entre as meninas e Christofer, e apenas minha mãe e tio Rick conversavam na frente.

   Logo chegamos em casa e, como tio Rick e as meninas estavam passando alguns dias lá antes que irem para a casa nova deles que estava sendo reformada, cada um foi para um quarto de hóspedes.

   Eu e Christofer fomos para o meu quarto, após termos dado boa noite para minha mãe e meu tio. Fiquei até surpreso por Christofer não ter dado em cima da minha mãe até agora. Milagre divino.

   Emprestei um pijama meu para Christofer, arrumei o colchão no chão para ele dormir e logo estava largado em minha cama, tentando pegar no sono.

- Hoje foi um dia longo. – ouvi Chris dizer.

- Com certeza.

- No fim Joshua foi pego. Achamos Summer. E... Nina parece não ter mudado nada. – ele murmurou ao fim.

   Suspirei. Não podia estar acontecendo o que eu acho que está acontecendo... Não mesmo...

- Será que ela me daria outra chance? – ele perguntou.

   Merda.

- Sério mesmo que você quer outra chance, Christofer? Onde a vergonha na cara entra nessa história? – perguntei sério.

   Ele ficou em silêncio por algum tempo, até dizer:

- Tsc, esquece. Boa noite, Mark.

   Resolvi ficar na minha também, e logo me entreguei ao sono.

    No dia seguinte, todos acordaram cedo para visitar Summer. Apenas Emma e Nina ficaram em casa porque tinham que resolver seus assuntos pessoais. Ao chegarmos no hospital, Annabeth e Joseph ainda estavam lá, com as mesmas roupas do dia anterior. Eles sorriram abertamente ao nos ver, e nos abraçaram.

- E Summer? Como está? – perguntei.

- Ela está bem! Já a vimos e estamos apenas esperando ela terminar de se arrumar para a levarmos para casa. – Annabeth disse, sorrindo para o marido.

   Logo a enfermeira veio nos dizer que poderíamos entrar para ver Summer e levá-la. Joseph ficou para trás para assinar alguns papéis, enquanto Annabeth nos acompanhava, radiante.

   Ao chegarmos ao quarto, vi Summer sentada na cama enquanto conversava timidamente com uma enfermeira. Ela parecia melhor, mesmo com aquele curativo enorme em sua testa. Ela sorriu quando nos viu e Christofer foi até ela, a abraçando fortemente. Logo minha mãe fez o mesmo e, na minha vez, Summer estendeu os braços para mim. Ri a abraçando em seguida.

- Obrigada. – ela disse em meu ouvido.

   Apenas assenti e dei um beijo em sua bochecha. Ouvimos a porta ser aberta e por ela passou o médico responsável por Summer. Ela sorriu ao nos ver.

- Está tudo bem com ela, doutor? – Chris perguntou.

- Ela está ótima. Apenas não pode fazer esforços físicos, como correr. Terá que ser suspensa dar aulas de educação física da escola. Mas fora isso, ela está bem.

- E o bebê? – Annabeth perguntou.

   Minha mãe olhou para mim com os olhos arregalados. Suspirei, lembrando-me de que não havia contado isso para ela... A levei até um canto do quarto, enquanto o médico falava com Annabeth.

- Como assim? Summer está grávida? – minha mãe perguntou, surpresa.

- Sim.

- Do... Do...

- É, mãe. Ela tá grávida do Joshua.

   Mamãe respirou fundo, olhando para o teto. Logo desviou o olhar para Summer e franziu a testa.

- Quantas coisas mais essa menina terá de carregar nas costas? – ela perguntou mais para si mesma.

   Logo me deu as costas e voltou para onde Summer e Annabeth estava. Apenas pude ouvir o doutor dizer que, apesar de tudo o que Summer passou, seu bebê estava bem.

   Isso era bom, certo? Joshua fora preso, Summer estava em completa segurança agora e seu bebê estava bem. Seus pais estavam aqui para cuidar dela, e não poderíamos estar melhor um com o outro. Tudo estava caminhando bem... Eu acho.