Cap. 16: Presa à ele

Eram 11:00am.

Christofer bebia seu Cappuccino calmamente, enquanto lia algo em uma revista que havia comprado minutos antes. Beberiquei meu café normal, observando a movimentação de pessoas na lanchonete. Vários rostos, várias pessoas. Mas nada dela aparecer.

– Está tão ansioso assim para ver minha irmã?- Chris perguntou, risonho.

O olhei com a expressão séria.

– Eu não queria nem estar aqui a essa hora, muito menos para ver sua irmã.- respondi.

Christofer revirou os olhos, um sorriso irônico brotando nos lábios. Não falou mais nada e voltou a ler sua revista. Bufei, impaciente, e olhei as horas no relógio novamente.

10 minutos de atraso. É tão difícil para essas pessoas chegar nos lugares na hora marcada?

– Chegamos!- alguém disse ao nosso lado. Laura.

Ambas estavam ofegantes, e se abanando com as mãos.

Summer: http://www.polyvore.com/summer_mclean_cap_16/set?id=55792637

Laura: http://www.polyvore.com/laura_sullivan_cap_16/set?id=55793220

– Nos desculpem pelo atraso, gente. Summer estava tentando me enrolar, querendo roubar o cachorro dos outros.

– Era um cãozinho de rua!- Summer disse em sua defesa, com a voz baixinha devido ao cansaço.

– É, um cão de rua limpo, bem cuidado, e com uma coleira no pescoço que, por acaso, estava sendo segurada por uma senhora.- Laura disse, revirando os olhos.

Christofer mandou as duas se sentarem para nos esperar terminar de tomar nosso café, já que saímos praticamente correndo de casa para chegar na hora marcada à lanchonete. Summer deu um passo em minha direção, provavelmente pensando em se sentar na cadeira ao meu lado. Mas pareceu mudar de ideia quando a encarei. Logo se sentou ao lado do irmão e Laura ao meu lado.

E só então notei que havia algo de muito diferente em Laura.

– Você pintou o cabelo? De loiro?- perguntei, surpreso.

Laura riu, corando levemente.

– É bom mudar às vezes.- ela disse, sorrindo levemente.

Sorri, voltando a bebericar meu café quase frio.

Logo pagamos nossa conta e saímos da lanchonete, caminhando em direção ao posto policial. Deviam ser, aproximadamente, uns 15 minutos de caminhada. Nossa sorte era que o dia estava bem fresco, apesar do Sol que fazia.

Laura e Summer iam caminhando à nossa frente, e conversavam animadamente. Me peguei observando o rosto de Summer, que sorria para Laura enquanto dizia algo.

Bufei, me sentindo um idiota. Senti uma mão em meu ombro e olhei para Christofer, que me observava sério.

– Se quiser ir para casa, pode ir.- ele disse.

Revirei os olhos.

– Você apareceu na minha casa à seis da manhã, me importunando para que eu viesse junto com vocês. Agora está me enxotando? Vai à merda, Christofer.- falei, irritado.

Christofer apenas riu, jogando aquele braço de troglodita que ele tinha sobre os meus ombros.

– Obrigada, cara.- ele sussurrou em meu ouvido, me assustando.

Duas meninas passaram por nós bem na hora e sorriram, como se ver Christofer me abraçando e sussurrando no meu ouvido fosse a coisa mais linda do mundo.

– Me solta. Devem estar pensando que somos gays, sai!- falei, empurrando-o para longe de mim.

Christofer arregalou os olhos, parando no meio da calçada movimentada.

– É ASSIM AGORA? TÁ COM VERGONHA DE MIM? TÁ COM VERGONHA DE MOSTRAR À TODOS O NOSSO AMOR, MARK?!

Quase tive um AVC quando o animal disse isso. Christofer permaneceu com a expressão chocada por alguns instantes, ate cair na gargalhada. Ao meu lado, Laura e Summer pareciam tão surpresas quanto eu, mas começaram a rir junto à Christofer.

Respirei fundo, tentando ignorar as pessoas ao nosso redor que olhavam e cochichavam. Continuei a andar na frente deles, enquanto os três vinham atrás de mim ainda rindo. Logo chegamos ao posto policial, e o sorriso abandonou todos.

Summer começara a tremer, e Laura tentava acalmá-la. Nos sentamos nos bancos de espera enquanto Christofer ia conversar com a mulher do balcão sobre o que havia acontecido. Surpresa, a mulher que devia não ter mais do que 25 anos levantou-se e veio até nós. Nos chamou com a mão e nos levantamos também, passando a segui-la por um longo corredor. Uma menina passou por nós, e ela pediu para que a substituísse na recepção enquanto nos ajudava.

Ficamos cerca de 3 horas lá dentro. Eu já me sentia sufocado. Tive que dar depoimento também, sobre o que havia acontecido na noite do estupro. Falei de como Joshua agia, do modo como olhara Summer. Disse tudo o que sabia, o que não era muito. Eu, Christofer e Laura esperávamos enquanto Summer passava pelos exames de corpo de delito. Havia uma TV na sala de espera, e estava passando um filme de comédia que, naquele momento, era a coisa mais ridícula do mundo.

– Chris Rock nunca me pareceu tão ridículo.- Laura murmurou, com os braços cruzados contra o peito.

– Nem me fale. Quando sairmos daqui, vamos direto comer algo. Preciso me animar com algo.- Christofer falou, bocejando em seguida.

Laura baixou os olhos, suspirando. O que eu estranhei.

– O que foi?- perguntei.- O que aconteceu?

Chris também a olhou, preocupado. Laura colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha, mordendo o lábio inferior. Parecia nervosa, mas forçou um pequeno sorriso.

– Nada, é só que... não vai dar para eu sair com vocês quando irmos embora daqui.- ela disse.

– Por que?- eu e Chris perguntamos juntos.

– Eu pego um avião para o Alasca hoje.- ela respondeu.

Ficamos em silêncio, apenas encarando Laura, que parecia agoniada com nossos olhares.

– E o que você pretende fazer no Alasca, criatura?- Chris perguntou, aprecendo sair de um transe.

Laura suspirou.

– Summer não contou à vocês?- ela perguntou. Negamos.- Minha mãe recebeu uma oferta de emprego em um hospital em Anchorage. Irei morar lá.

Eu já abria a boca para perguntar o que ela tinha na cabeça quando uma policial saiu da sala onde Summer estava. Sua expressão não era nada boa.

– Laura, poderia vir comigo um instante?- a mulher disse.

Laura engoliu em seco, levantando-se rapidamente e indo atrás da policial. Quando o click da porta se fechando soou, eu arfei.

– Laura vai se mudar para o Alasca, nossa! Que maravilhoso! E você viu a cara da policial? Deu merda, Mark. Algo deu errado, algo aconteceu à minha irmã.- Christofer disse de repente, rapidamente.

Seu rosto estava pálido, e suas mãos trêmulas. Passei a mão pelos cabelos e pelo rosto.

– Olha, vai dar tudo certo com Summer, ok? Mas o que Laura tinha na cabeça quando aceitou trocar a Califórnia pelo Alasca?!- perguntei, ainda surpreso.

– A mãe de Laura sempre criou Laura sozinha. Então sempre que aparece uma oferta boa de emprego em algum hospital, por mais distante que ele seja, ela aceita. Tudo para conseguir manter Laura bem.- Chris falou, parecendo meio melancólico de repente.

– É sempre assim?- perguntei.

Chris assentiu.

– Laura já morou em Vancouver, em Nashville, em Lisboa e Califórnia. A próxima parada é o Alasca. Isso tudo em apenas 16 anos.- Christofer riu sem humor, encarando o chão branco.

– Acha que será difícil para Summer?- perguntei.

Christofer apenas assentiu.

Ficamos mais alguns minutos sentados, esperando. Ambos quietos, olhando o que passava na TV, sem de fato prestar atenção na programação.

Crush – David Archuleta:

(http://www.youtube.com/watch?v=oUyvrQXPq8k)

O fato era que eu estava preocupado. E admito, muito. Summer me magoou, estou com raiva pelas coisas que ela me disse. Chateado por ter sido tratado daquela maneira, mas quando eu a olho... dá vontade de perdoar tudo de uma vez e cuidar dela. Cuidar para que não caia uma lágrima daqueles olhos azuis, cuidar para que aquele sorriso nunca saia de seu rosto, cuidar para que nada de ruim (vulgo Joshua Sparks) chegue ao menos perto dela. Summer foi minha primeira amiga. Me aceitou quando eu mesmo não me aceitava. Mesmo com minha cara fechada e meu mau-humor, ela vivia sorrindo e tentando me fazer sorrir também.

De certa forma, ela me ajudou. Então tenho que retribuir. Afinal, amigos... cuidam um do outro. Certo?

Certo. Ou isso ou eu continuo sem falar direito com ela até o fim do ano. E eu realmente não quero isso.

Saí dos meus devaneios quando o barulho de porta se abrindo soou. Levantei o rosto rapidamente e vi Laura saindo abraçada de lado com Summer, que mantinha uma mão sobre os lábios. Seus olhos estavam vermelhos, o que significa que ela chorou. A policial de antes deu um sorriso doce para Summer e acariciou seus cabelos carinhosamente, sussurrando algo que não pude ouvir. Summer assentiu para ela e se aproximou de nós junto com Laura, que mantinha uma expressão meio assustada.

– Já estamos nos encarregando do caso. Podem ficar tranquilos que Joshua Sparks nunca mais chegará perto de Summer. Senhor McLean, diga à seus pais que qualquer coisa venham falar conosco. Entendo que eles estão trabalhando e o mandaram no lugar deles, mas gostaríamos de esclarecer tudo à eles também. Ok?- a policial disse para Christofer.

Logo nos encaminhamos em direção à saída. Já eram duas da tarde, e o Sol parecia ainda mais quente. Uma brisa fresca passou pro nós quando colocamos os pés para fora daquele lugar. Havia mais movimentação na rua. Pessoas de biquínis e pranchas andavam para todos os lados, já que estávamos bem próximos à praia. Ninguém falou nada até Laura parar em um ponto de táxi e abraçar Summer.

Eu e Christofer olhamos a cena. Aquilo pareceu fazer Summer piorar. Ambas choravam abraçadas uma à outra. Laura murmurava algo para Summer, enquanto acariciava seus cachos.

Logo se separaram, e Laura virou-se para nós, sorrindo levemente. Abraçou primeiro Christofer, que se despediu dela quase chorando também. Summer viu um táxi se aproximando e fez sinal para que ele parasse. Assim que o carro parou à nossa frente, Laura e Chris se soltaram. Christofer deu um singelo beijo na testa de Laura, que logo virou-se para mim. Nos olhamos por alguns segundos, até que ela estendeu os braços para mim e eu a abracei apertado.

– Cuida deles por mim, por favor. Summer vai precisar de você mais do que nunca, assim como o idiota do Chris.- ela sussurrou em meu ouvido, fazendo-me rir levemente.- Me promete que não vai abandonar nenhum dos três.

– Prometo.- murmurei.

Laura se separou de mim e me deu um beijo no rosto. Retribuí o gesto e logo ela entrava no táxi, dando um aceno para nós. O sorriso em seu rosto ela forçado, triste. Assim que o carro começara a se afastar, Summer começou a chorar novamente. Chris suspirou, passando a mão pelos cabelos.

Fui até Summer e peguei em sua mão. Ela ainda chorava baixinho quando me olhou, surpresa.

– Vamos para casa, garota.- falei.

Como minha mãe adora uma bagunça tanto quanto eu, decidiu chamar Nina e Emma para passarem a noite com ela. Quando cheguei em casa à 4 horas atrás, me deparei com Nina, Emma e minha mãe largadas no sofá, chorando com algum filme de mulherzinha que elas assistiam. Passaram a tarde inteira assim.

Eu lia um livro que o professor de Literatura mandou ler quando ouço batidas baixas na porta. Gritei para quem quer que fosse que podia entrar, e levei um susto quando vi que era Summer.

Angels – Augustana:

(http://www.youtube.com/watch?v=u-_V-sy6VK4)

Summer: http://www.polyvore.com/summer_mclean_cap_16/set?id=56171281#stream_box

Joguei o livro no outro lado da cama e me sentei rapidamente, olhando-a. Seus olhos estavam úmidos, e seu rosto mais pálido do que o normal. De onde eu estava podia ver suas mãos trêmulas ao fechar a porta. Summer pôs sua bolsa sobre minha escrivaninha e pôs o cabelo atrás da orelha, enquanto andava pelo meu quarto observando tudo. Fiquei quieto, ainda sentado na cama, tentando entender o que ela tinha. Eu abri a boca para perguntar justamente isso, quando ela se virou para mim com os olhos cheios d’água. Summer suspirou, forçando um sorriso.

– O que aconteceu?- perguntei.

Seu sorriso forçado sumiu, e ela começou a soluçar, ainda parada onde estava. Agoniado com aquilo tudo me levantei da cama e fiquei de frente à ela. Pus as mãos em seu rosto, tentando levantá-lo para mim e perguntar novamente o que havia acontecido quando Summer envolveu meu corpo com seus braços e afundou o rosto em meu peito, chorando copiosamente. A abracei apertado acariciando seus cachos agora presos numa trança. Senti suas lágrimas em meu peito, e fiquei me perguntando o que havia acontecido.

Havíamos dado queixa de Joshua hoje mesmo, a policial nos garantiu que ele pagaria pelo o que fez. Deu tudo certo, não deu? Senti meu peito se contrair por ver Summer naquele estado. Era como se a dor que ela sentia fosse passada para mim, naquele simples abraço. Summer soluçava contra meu peito, e eu me perguntava como poderia fazer isso parar.

– Summer, o que...- eu já ia repetir a pergunta de antes, quando Summer me interrompeu.

Com a voz abafada contra o meu peito, e entre soluços, ela me disse o que havia de errado. E naquele momento eu sabia que, mais do que nunca, Summer não teria como escapar de Joshua...

– Eu estou grávida, Mark.