Cap. 10: Eu sou apenas um drogado, afinal

Assim que a porta atrás de mim se fechou, eu e Christofer falamos ao mesmo tempo:

– Que história é essa, Summer?!

Ela desviou o olhar de nós dois, parecendo estar envergonhada. Continuamos imóveis onde estávamos.

Como assim não foi Joshua?

Como assim “deixar essa história para lá”?

Summer enlouqueceu?!

– Oi, Mark.- sua voz era um pouco fraca, e baixa. Summer forçou um sorriso para mim, me deixando com mais raiva ainda.

Tentei falar algo, mas não consegui. Christofer falou por mim.

– Você é retardada?! Bateu a cabeça na parede? Se drogou? O que você acha que está fazendo?!

Summer abaixou os olhos.

– Não precisa me tratar assim, Chris.- ela murmurou.

Christofer suspirou, passou as mãos no rosto e cabelos e foi até a irmã, parecendo arrependido.

– Ok, me desculpe.- ele disse. Summer assentiu, dando um pequeno sorriso. Chris se sentou na cama, ao lado dela, e pegou em sua mão.- Mark, venha aqui.- ele disse sobre o ombro.- Sente-se ali do outro lado.

Logo fiz o que ele pediu e me sentei no outro lado da cama, ao lado de Summer. Summer corou um pouco por me ver tão próximo a ela, mas não disse nada.

– Primeiramente, onde a mamãe está? Ela não veio te ver?- Christofer perguntou.

– Ela veio, mas teve que ir embora há alguns minutos. Houve alguns problemas na agência, algo deu errado nos preparativos do desfile de Verão.- ela respondeu, ainda com a voz fraca.

Nem de longe parecia com aquela garota escandalosa de outrora.

Christofer assentiu e me olhou pelo canto dos olhos, logo voltando a olhar Summer.

– Ok, agora me explique uma coisa...- sua frase ficou no ar e Summer suspirou.

– Antes que você comece a soltar os cachorros sobre mim... eu disse a verdade aos policiais.

Arqueei as sobrancelhas. Summer era mesmo uma PÉSSIMA mentirosa. Ela não conseguia mentir, era visível.

– Summer.- Chris falou.- Você pode tentar enganar os policiais, mas a mim não, entendeu?- ele estava bem calmo. Ou tentava transparecer isso.

E Summer surtou de repente.

– Christofer, dá para parar?! Você acha que é o dono da razão? Se eu estou dizendo que não foi Joshua que fez isso comigo, é porque não foi!- ela praticamente gritou, começando a ficar vermelha e a tremer um pouco.

Christofer arregalou um pouco os olhos.

– Que atitude é essa, Summer?!- ele esbravejou. E de repente, o clima ficou extremamente tenso.

– EU JÁ CANSEI DE VOCÊ!- ela gritou, fazendo Christofer se calar.- Você me trata como se eu fosse uma criança! Você acha que eu gosto de ter você agarrado em mim por todo canto que eu vou, como se fosse minha sombra?!

– Summer, fala direito com ele! Se ele faz isso é porque...- tentei falar, mas ela me interrompeu, raivosa. Eu nunca a vira daquela maneira...

– E quem é você para abrir a boca pra falar comigo?! Você não é nada meu!- o quê?

– Não sou nada seu? Qual é o seu problema, garota?!- vociferei, já irritado com toda aquela palhaçada dela. Christofer apenas nos observava, quieto.

– Cala a boca, Mark!- ela gritou.

– Cale a boca você, sua ignorante!

– Prefiro ser uma ignorante a uma drogada intrometida! Vai cuidar da sua vida, Mark!

Foi como se ele tivesse me dado um soco. Não... um soco teria sido menos doloroso, com certeza.

Olhei para Cristofer, sentindo o ar começar a ficar escasso para mim. Ele olhava Summer com os olhos arregalados.

– Summer, o que...- ele gaguejou um pouco, sem saber o dizer. Summer pareceu ficar um pouco perturbada com a situação, e me olhou com um olhar de arrependimento.

– Mark, eu não queria...- a interrompi, rindo sem humor algum.

– Não, Summer! Você queria sim!- falei, quase gritando. Ela abriu a boca para falar algo, mas a interrompi novamente.- Quer saber? Eu não sou nada seu mesmo! Sou apenas o drogado intrometido que ficou igual a um babaca preocupado com você!- falei, sentindo minha cabeça pulsar. Summer mordeu o lábio inferior, os olhos lacrimejantes.

– Mark, fica calmo!- Chris disse, de repente. Eu ri, passando a mão pelos cabelos, nervoso.

– E você é um grande amigo. Sabe muito bem como guardar os segredos dos outros, não?- falei para Christofer. Ele engoliu em seco, abrindo e fechando a boca diversas vezes, mas sem proferir som algum.- Vão para o inferno, todos vocês.

Saí do quarto a passos largos, sentindo a minha cabeça rodar. A enfermeira que cuidava de Summer me cumprimentou no corredor, mas eu passei reto por ela.

Não queria saber de mais nada relacionado à aquela garota.

Saí do hospital e vi o céu começando a ficar carregado com nuvens de chuva. Algumas pessoas na calçada apressavam o passo, querendo chegar ao seu destino o mais rápido possível, antes que a chuva caísse.

As nuvens cinza-escuras logo despejaram toda a sua água sobre mim. Peguei o caminho para casa sem nem ao menos olhar por onde andava, completamente transtornado.

“Prefiro ser uma ignorante a uma drogada intrometida!”

As palavras ecoavam em minha mente, e quando parei para perceber, as lágrimas corriam pelo meu rosto juntamente com as gotas de chuva. A cada segundo parecia chover ainda mais forte, e eu já estava completamente encharcado.

Como ela pôde ter dito aquilo? Eu fiquei a semana inteira completamente preocupado com ela!

Por que sempre acontecia isso? Por que toda vez que eu realmente me preocupava com alguém, eu quebrava a cara no final?

Eu não consegui dormir, eu quase arrumei briga com Joshua! Tudo por causa dela!

Meu peito doeu e eu comecei a arfar um pouco. Não sei se devido ao nervoso, ou ao esforço. Summer era mesmo uma idiota... Eu nunca, nunca deveria ter me preocupado tanto.

Humilhação. É isso que você ganha ao se preocupar e tentar cuidar tanto de alguém que não merece nada de você...

Cheguei em casa e vi tudo escuro. Já devia ser umas duas da tarde, mas como o tempo estava fechado, e as luzes de casa apagadas, tudo parecia noite.

Acendi as luzes da sala e da cozinha, e vi um bilhete na geladeira. Peguei-o e li:

Mark, querido, eu fui fazer umas compras no centro e vou demorar. Não me espere para o almoço, ok? Já deixei algumas coisas prontas para você, estão em cima do fogão. Beijos ♥

Amassei o papel e joguei-o no lixo. Logo fui para o meu quarto, cambaleante e sem me importar com o fato de estar molhando a casa inteira com minhas roupas encharcadas. Eu me sentia como um zumbi, alheio a tudo à minha volta.

Cheguei ao quarto, tranquei a porta e fui até o guarda-roupa . Peguei algumas camisetas velhas e as coloquei a frecha entre a porta e o chão. Fechei a janela e as cortinas e, meio trêmulo, fui até a cômoda do quarto...

Abri a última gaveta da cômoda e, com as mãos, tateei até o fundo dela e de lá retirei a pequena caixa de madeira que eu procurava. Hesitei ao tocá-la, mas as palavras de Summer vieram à minha mente novamente, como um incentivo àquilo tudo. Meu peito começou a doer. Uma dor insuportável, e eu só conhecia um meio de aplacar aquilo tudo.

Fui até o banheiro, me trancando lá dentro. Sentei no chão do box, encostando a cabeça na parede branca e fria.

Abri a pequena caixa que estava no meu colo e peguei o saquinho de plástico que estava dentro dela. Sorri meio murcho ao ver seu conteúdo.

Minha antiga companheira. A única que me acalmava. Minha perdição.

Encostei de leve a testa na parede gelada ao meu lado, suspirando. Logo uma lágrima caiu, e eu comecei a chorar pela segunda vez naquele dia. A dor incômoda no peito veio novamente, e sem esperar mais, abri o saco de plástico em minhas mãos e respirei fundo o pó que havia dentro dele; A calma se apossou do meu corpo, e eu me senti leve.

Minha cabeça rodou um pouco.

“Prefiro ser uma ignorante a uma drogada intrometida!” – Summer gritou em minha mente.

Eu sou apenas um drogado, afinal.