Ficamos na varanda da casa sendo picados por insetos e conversando animadamente durante horas seguidas. Já era tarde e estávamos quase dormindo na sala quando ouvimos um barulho alto do lado de fora. Que merda será que é essa?

Eu fiquei louca de vontade de ver o que era. Sammi, Sandra, Ash e Laura não quiseram sair de jeito nenhum.

Fomos lá fora de mãos vazias, que falta fazia o taco de beisebol rosa nem um pouco chamativo que o Jake me deu, se tivesse saído de casa com aquele trombolho eu ia virar a luz noturna da fazenda, porque né. Eu fui na frente, Jake me enchendo que eu tinha que ir no meio, atrás dele, Jinxx, seguido por Andy e CC por último.

Estávamos na varanda quando um vulto passou rápido sobre nós. Será que era o Chiquinho?

- Chiquinho? – Gritei.

Ninguém respondeu. Não, não era o Chiquinho. A casa era muito aberta, a varanda era muito grande e ficava no nivel normal da terra, a casa não tinha separação do pasto. Provavelmente era um mendigo, andarilho que predendia dormir ali. Eles sempre apareciam.

Virei para a direita e todos foram atrás de mim.

- Provavelmente é um andarilho. – Falei e percebi a cara de medo de CC. – Ou um assassino que foi preso aqui ano passado mas soltaram da cadeia dois dias antes de eu ir pra Los Angeles.

Andy parou.

- Eu não vou.

- Era só pra por medo no CC, otário. Não tem assassino nenhum aqui.

- Ah enten...

- Todo mundo tira sarro de mim. Que saco. – CC bufou.

- Só porque a gente te ama, seu lindo. – Falei como uma tia fofa.

Ele sorriu e ouvimos outro barulho.

Andamos mais um pouco e chegamos a um vaso quebrado. Então era esse o barulho. Minha mãe ia ficar puta da vida quando soubesse que quebraram dois de seus vasos. E ia por a culpa em mim, certeza.

As luzes estavam apagadas, então só se via vultos.

Andamos mais rápido e vimos um vulto vindo em nossa direção. Todos travamos ao mesmo tempo, mas logo percebi que eram barulhos de quatro passos de uma vez. Ou eram dois andarilhos (improvável), ou era a...

- FAÍSCAAAAAA. – Chamei minha égua.

Ela relinchou baixinho e veio em minha direção. A boba entrou na varanda, e estava tentando sair, tadinha.

Os meninos desparalizaram.

- Falisca? – Perguntou CC numa tentativa frustrada de falar português.

- É, faísca significa “spark”.

- Então eu tava quase me borrando aqui por causa de uma égua? Mesmo? – Andy, irritado.

- É, mais ou menos isso. Pra largar mão de ser bobo.

- Não sou bobo, prezo pela minha vida. E você devia prezar pela sua também.

- A faísca me protege.

- Affe ela é um égua.

- Shh, ela não gosta que falem que ela é só uma égua. Ela é a égua mais linda do mundo, não é não? – Virei para ela, que chegou mais perto e começou a procurar minha mão com o focinho, comecei a fazer carinho na sua cabeça e ela relinchou baixinho. Ela nasceu no mesmo dia que eu fz 10 anos, aí meu pai deu ela de presente pra mim.

Ela era inteira preta, somente com uma mancha branca na testa, que parecia uma estrela meio ditorcida.

Quem deu essa idéia de nome para ela foi meu avô, que morreu três anos depois. Lembro como se fosse ontem de ele falando:

- A arrancada dessa égua é tão rápida que parece uma faísca.

Então resolvi por esse nome nela, em homenagem a ele.

Voltando pra realidade.

- Tive uma ideia muito boa pra gente amanhã. Eu estava planejando a cachoeira, mas a gente deixa pra depois de amanhã. Vamos dormir que todo mundo vai cordar cedo. Amanhã nós vamos conhecer a fazenda toda. – Fiz uma pausa. – A cavalo. – Acrescentei para mim mesma sem que ninguém ouvisse. Mesmo assim, Jake me olhou com maldade no olhar. Ele sempre sabia o que eu estava pensando. Dei uma risada maquiavélica por dentro e voltei a realidade.

Todos entraram em casa, menos eu que tirei a faísca da varanda, fiquei sentada falando com ela por mais ou menos meia hora, mais uns dez minutos pra nossa despedida dramática e fui dormir.

Entrei em casa e ninguém continuava na sala. As postas dos quartos estavam fechadas. Ainda bem que eu fiquei com Jake em um quarto mais afastado, que era a suíte principal, o que quer dizer que eu não escutei nenhum ruído alheio.

Quando entrei no quarto, Jake já estava cochilando. Tomei um banho rápido, pus um pijama, arruemi o depertador e assim que deitei ele acordou. Começou um beijo calmo e foi acelerando.

- Ah Jake, deixa pra amanhã, vai. Eu to cansada.

- Fechou. Mas amanhã é duplo então.

- Isso a gente resolve depois. – Sorri má. Sou tão do mal. Dei a segunda risada maquiavélica em menos de duas horas, estou virando um genio do mal. Tá, parei.

Deixei um suspense no ar, deitei perto dele e logo adormeci.

Acordei no dia seguinte com o despertador tocando. No dia seguinte virgula, porque era praticamente de madrugada. Acordei todos as 5 horas da manhã para que vissem o sol nascer. Pus todos sentados na varanda, com chocolate quente, e assoviei. Logo em seguida apareceu Faísca galopando, que saudades dela...

Montei sem nem arreio, eu já estava acostumada a usar o freio que eu guardava na gaveta do grande móvel de madeira que ficava na varanda, então não precisava de mais nada. Fui até o celeiro e pedi para o Chiquinho pegar 8 cavalos, por selas neles, e deixá-los prontos pra sair em mais ou menos uma hora.

Voltei para casa, terminei de ver o por do sol, enquanto alguns conversavam, outros reclamavam por terem que acordar cedo nas férias. Adivinha quem reclamava mais que todos juntos? Ashley, claro. Nunca vi criatura tão fresca.

Quarenta minutos depois, pus todos para dentro de casa e obriguei a trocar de roupa. Eles estavam morrendo de sono, mas eu não ia adiar o passeio por causa disso.