Cartas escrita por Litera tua


Capítulo 3
Chove sonhos dentro dela.


Notas iniciais do capítulo

Quando ela pensa em alguém é nele que ela pensa. Ai então, fica tudo bem.



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Em dias que ela não gosta de relembrar, ela quase lembra totalmente das palavras.

— Depois que você me deixou, eu não consegui mais sonhar, eu não sonhei mais - ela sabe que provavelmente ele não lembre do que disse no primeiro dia do ano.

Depois de "eu te amo", essa foi a coisa mais linda que ele disse pra ela até hoje. Ela sentiu como se fosse o motivo pelo qual alguém sonha.

Sonhar, ah é costume na rotina dela. Sonhar, sonhar e sonhar, acordada. Quando ela para pra descansar, ou antes de dormir, ela sempre fecha os olhos e entra em pensamentos intermináveis.

Ela sonha com o cheiro dele na roupa dela, mesmo ele não estando ali. Ela sonha em olhar ele dormindo. Ela sonha em estar indo ao encontro dele, mesmo sempre estando à sua espera. Não precisa colar nela, só segurar a mão e dizer "aonde você for eu vou". Ela pede que um dia possa olhar ele sorrindo e imaginar seus filhos com o sorriso dele. Ela quer fazer planos, e colocá-lo em todos eles, porque quando ela se imagina feliz, é com ele.

Ela pede ao céus ele ali e quando sente o vento passar as vezes tem vontade de implorar: — Ei! Traz ele pra mim?!

Ela pede pra que um dia seja eleeela, assim mesmo, juntos, juntinhos, sem espaços entre os dois.

No momento ela só pode, infelizmente, querer e pedir. E ela queria tanto pegar o telefone e ligar pra ele pra dizer que ela ta chegando. Ficar preocupada em se arrumar bem antes da hora, porque sabe que vai se atrasar uns 15 minutos, porque vai arrumar o cabelo que nunca está do jeito que ela acha bom. Ir pra rodoviária, entrar, sentar, fazer uma oração e ficar olhando pela janela, a cidade ficando pra trás e seu amor cada quilômetro mais perto.

Antes, tudo era bom ou natural. Tudo era normal. Depois dele tudo ficou absurdamente lindo, ótimo. E nada é legal quando ele não está.

Ela não se importaria de forma alguma em ir olhando o tempo todo pra mesma paisagem, como já fez uma vez. Ir olhando os morros, e as rodovías a perder de vista. Sem se importar se do lado dela, estaria uma daquelas senhoras que costumam puxar assunto e perguntam seu destino, e os motivos. E se perguntassem? Qual seria a resposta? Simples e explicativa.

— Ah moça, eu to indo atrás da pessoa que faz meu coração continuar batendo.

Ela não se lembra de ter dito alguma vez de verdade, que não o queria. Se disse, não lembra, porque certamente foi a coisa mais mentirosa que ele deve ter dito a alguém.

Ficaria feliz, se quando estivesse quase cochilando, o telefone tocasse, e ela ouvisse a voz dele, mesmo se só pra dizer que vai estar lá quando ela chegasse.

Estar indo, significaria pra ela estar cada vez mais perto da respiração dele, estar mais perto da sensação de olharem um pro outro dar um suspiro e dizer em tom de brincadeira e incerteza "e agora?"

E agora? E agora ela não estaria mais vazia. Agora ela iria mostrar pra ele o tanto que ela o merece, o tanto que ela pode fazer ele sorrir e mostrar que ninguém, ninguém o ama como ela ama.

É até um pouco egoísta da parte dela, pensar que ela o ama mais do que outra pessoa. Mas não é egoísmo, é querer mostrar que felicidade não tem preço, não tem endereço fixo. Felicidade também é sentimento, mesmo sem querer, mesmo quando não se tem.

E ela mesmo cheia de sonhos, sabe que sua felicidade esta guardada em uma palavra dentro dela.

Quando ela chegasse, dentro do abraço apertado, emocionado, esquecendo que tudo em volta existe, a felicidade que ela guarda todo esse tempo, saíria ali, misturada e escondidinha, quando ela dissesse:

— Finalmente!





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