Em Busca da Felicidade escrita por Nammyee


Capítulo 4
Capítulo IV - Em Busca da Felicidade


Notas iniciais do capítulo





Todos os capítulos falavam dos outros! Chegou a hora de conhecer o passado da protagonista. É, o terrível e triste passado de Marina que realmente a levou á essa busca. Tava na hora neah?

O tema desse capítulo é: Rejeição, Perda, Morte, Desculpas e Adeus. Pesado? Imaginem...

Hoje eu vou viajar ligeiramente em Onegai Teacher, aguardem.



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OoOoOo


Talvez... Talvez eu deva contar. Talvez eu deva dizer ao Mark o que realmente se passou na minha infância.
Mas eu não deveria, minha infância, minhas lembranças não são algo que se possa trazer felicidade e conta-las á pessoas que buscam o mesmo que eu, pode acabar trazendo tristeza.

Quando era pequena, minha mãe sempre me dizia que homens eram perigosos, principalmente os desconhecidos. Jamais entendi isso, ou melhor, nunca peguei realmente a essência do que ela queria dizer. Eu era uma garotinha de 9 anos quando ela começou á me dizer sobre isso.

Hoje eu tento me recordar sobre o que ela queria dizer em relação á isso, mas ao olhar para o Mark... Sinto realmente que ele não oferece perigo, sinto como se ele fosse o causador dos perigos irem embora.

De fato, pouco me lembro das palavras que minha mãe costumava dizer e talvez isso seja um alívio, as palavras que ela dizia... Certamente se eu lembrar, poderei parar com tudo e começar á chorar.
Por isso me apoio em Mark, ele não me lembra em nada do passado, ele é o companheiro de viagem que eu gostaria de ter tido há muito tempo atrás.

Com um afago em minha cabeça, com o entrelaçar de mãos... Ele é muito bondoso.
Ainda hoje me pergunto por que ele fica tão vermelho quando sua mão encosta na minha.



Tudo isto parece estranho e irreal
E eu não quero perder um só momento sem você



-Huh? – Marina olhou surpresa. – Que...

-Ah, eu estava cantando. – Mark disse depressa – Escutei essa música uns dias atrás e sei lá, achei que ela combinava.

-Estranho e irreal? – Marina sorriu – Eu sou assim? Uma pessoa estranha e irreal?

-Na-Não! – Ele engasgou – Eu estava cantando a música, não tinha nada haver com você.

Marina que até então segurava o lindo chapéu claro nas mãos, o colocou na cabeça e o ajeitou. Com um sorriso meigo ela segurou a mão de Mark.

-Vamos? Se corrermos, poderemos chegar a algum lugar antes do anoitecer.

Mark ficou encabulado por um momento, mas sabia que desde que conhecera Marina, era uma das primeiras vezes que a via sorrir.

De fato, sorrir era algo não natural para alguém que buscava a felicidade. Mas ainda assim... Ela sorria, sorria porque sabia que um novo dia estava chegando e com ele, uma nova chance.

-De fato... – Mark riu sozinho.

-Pode continuar á cantar? – Marina perguntou enquanto andava depressa.

-Ahhh... Bem... – Mark corou de leve – Se não for incomo...

-Não seria incômodo. Música é algo feliz, certo?

-Bom, é.

E assim Mark começara á cantar de onde havia parado.

Meus ossos doem, minha pele está fria
E eu estou ficando tão cansado e tão velho
A raiva me corrói por dentro
E eu não vou sentir os pedaços e os cortes


Marina caminhava pela estrada, estavam chegando em uma cidade de porte médio, não era tão grande, mas havia centenas de carros e pessoas correndo apressadas. Pareciam cansadas, mas ainda assim, corriam alheias aos fatos que aconteciam á sua volta.

Marina que caminhava com um sorriso, parara de repente, estava diante da entrada da cidade, mas...

O guarda-chuva que segurava e o chapéu em sua cabeça haviam caído. Sem forças de dizer algo, ela apenas começou á derrubar lágrimas involuntariamente.
Mark havia parado de cantar, em algum momento – ele se perguntava – o que teria feito Marina chorar?

Ele abraçou a jovem viajante que chorava sem demonstrar um pingo de tristeza, ela estava apenas em estado de choque. Os olhos ainda arregalados e inchados, o que ela havia visto?

O ex-suicida olhara adiante e vira que bem na entrada da cidade, havia um cemitério e bem na entrada do cemitério... Uma lápide branca com uma foto e algo escrito. Mark podia ler bem, estavam tão próximos que agora já não culpava o susto de Marina.

-Não... – Marina levou sua mão ao rosto e lentamente começou á tombar – Mam... Mam...

Ela desmaiara e o resto de lágrima que havia, terminara de escorrer em seu rosto rosado que começara á empalidecer aos poucos.

-Marina! – Mark exclamou segurando-a nos braços. Ele se voltou para encarar o que fizera a amiga desmaiar.

Diana Hiendrich

1976 - 2001
Mãe amada, esposa dedicada
Encontrou a felicidade nos braços do marido e da filha.


-Eh? – Mark que segurava Marina nos braços, percebera um homem diante da lápide. – Q-Quem é o... ?

Eu quero tanto abrir seus olhos
Porque eu preciso que você olhe nos meus

No passado, eu acreditava que se escondesse o que mais me feriu, eu poderia finalmente me tornar feliz. Procurei ao máximo, tentei de tudo... Mas esconder a verdade é a coisa mais falível do mundo, não existe nada que consiga ser escondido dela.
Um dia ou outro, a verdade acaba reaparecendo e as feridas que estavam sendo cicatrizadas, reabrem e começam á sangrar.

Eu já tentei muito esconder o meu passado, tentei esquecer o fato de ser odiada pelo meu pai, ser comparada com uma defunta pelos parentes e uma bonequinha pela minha mãe... Talvez minha mãe tenha sido a única que foi realmente generosa com as comparações e sentimentos. Sim, ela foi a única que me amou nesse meio.

-Então o senhor é o tio dela? – Mark disse ao entrar na casa do homem.

O jovem homem que aparentava pouco mais de 40 anos concordou com a cabeça, nem parecia ser tão velho, tinha uma boa aparência e claro, um rosto que o fazia ter pelo menos uns 30 anos.

-Sim...

Ele tinha cabelos loiros e olhos azuis, uma pele tão pálida quanto a da moça viajante. Mark presumira que ele fosse descendente de algum europeu ou coisa parecida, afinal, o sobrenome da mãe de Marina era Hiendrich e se ela era irmã dele.

-Perdoe minha sobrinha pelos problemas – o homem se sentou no velho sofá que havia na sala fazendo o mesmo levantar a poeira.

Mark colocou Marina deitada no outro sofá que havia ali. Sentou-se perto do tio.

-Perdoe-me a intromissão, mas por que...

-Ela desmaiou? – o senhor riu.

-Fui tão óbvio assim? – perguntou Mark um pouco acanhado.

-Eu vejo em seus olhos a paixão e a preocupação de Henri tinha com Diana na sua adolescência – ele disse em tom nostálgico – Vocês se parecem.

-Acho que isso é um... Obrigado. – Mark disse sem graça – Poderia me dizer então?

-Perdão, mal me apresentei, que vergonha. Eu sou Schneider Hiendrich, filho dos Hiendrich da boa e velha Alemanha. – ele disse orgulhoso – Eu e Diana éramos irmãos que vieram da Alemanha para cá, para fugir dos conflitos que iria acabar gerando a queda do muro de Berlim.

-Mas isso não foi em 199... Eh?

-Somos filhos mestiços. – Schneider disse num sorriso – Diana e eu falamos bem várias línguas.

-Ah. – Mark disse surpreso.

-Quando chegamos aqui, minha irmã mais nova conheceu Henri que também havia escapado de lá. Então você pode imaginar.

-Se casaram e tiveram Marina?

-Certamente. – Schneider respondeu ainda nostálgico – Acho que nos anos 90, eu jamais havia visto minha irmã com a felicidade que ela estampava no rosto.

-Pode me contar com detalhes?

-Claro. – Schneider sorriu – O rapaz gostaria de saber exatamente tudo?

-Se não for incômodo. – Mark sorriu – Eu sempre quis saber como foi a história de vocês.

-Era plena primavera de 1990. Diana estava grávida de oito meses. Minha irmã mal podia segurar a vontade de ser mãe e se lambuzava com as pequenas coisas que fazia em relação á sua filha. – Dizia ele. - Comprava o berço, comprava as roupas, tudo lhe era motivo de felicidade. Mas Henri não gostava muito, ele sentia ciúmes de ver a esposa amar tanto um filho e lhe deixar de lado.

Mark tentou entender qual era realmente o motivo da tristeza da amiga, tentou entender para quem sabe... Quem sabe ele poder tentar curar e tirar a chuva que caía nela. Mas aonde estava o motivo de sua busca?

-Marina nasceu e logo após isso foi diagnosticado um tumor em Diana – Schneider disse tristemente – Fiquei arrasado quando soube que minha querida irmãzinha jamais poderia sair viva desse combate.

-Mas vocês tentaram certo?

-Tentar? Henri ficou maluco! Abandonou a própria filha recém nascida num orfanato dizendo á esposa que ela estava comigo! Ele tentava milhares de maneiras para tratar sua doença, em vão. Ele não havia dado conta que era a hora de Diana ir.

-Dizer adeus á quem se ama... – Mark se recordara de um certo poeta – Eu entendo como ele sofria, imagino que a mãe de Marina deve ter ficado triste.

-Pelo contrário. – Schneider riu – Minha querida irmã, saudosa... – ele começou á chorar – Ela sorria o tempo todo... Mesmo com aqueles malditos tratamentos... Mesmo com tudo! Ela sorria e dizia que era feliz!

Marina lentamente acordava, abrira os olhos e sem ninguém perceber, acompanhava a história do tio. Lembrava-se de tudo que ele dizia, principalmente das rejeições do pai.

-Diana amava a filha e queria que ela fosse feliz, mas tinha pouco tempo para ficar ao lado dela e então... Um dia... – Schneider engasgou no choro – Um dia... Henri a levou ao hospital para que ela visse a filha depois de semanas... E essa foi a última vez que vi minha irmã viva.

-Que? – Mark arregalara os olhos – A mãe da Marina morreu ao lado dela?

-Segurando sua mão. – Schneider completou.

-Mas eu... Eu... – Schneider balançou a cabeça – Os últimos anos que eu possuía com minha amada irmã... Foram tirados de mim por causa dos tratamentos insanos que Henri tentava usar!

Marina abaixou a cabeça e lágrimas começaram á escorrer. Os cabelos negros que teimavam em sugar as lágrimas pareciam sentir a dor da dona.
Era inevitável,todos seu passado estava sendo revelado e com isso, a sua busca pela felicidade parecia perder o motivo.


-Eu... O senhor deveria aprender á perdoar. – Dizia Mark – Perdoar a pessoa que fez tanto mal ao senhor é um grande passo não é?

-Perdoar? – Schneider enxugou as lágrimas – Talvez um dia eu acabe perdoando. Mas a minha dor ainda é muito grande, é uma dor tão forte que me faz lembrar todos os dias que Diana não esteve próxima de mim.

-Eu... Entendo... – Mark disse tristemente.

-A vida é cheia de altos e baixos, quando nos damos conta que é hora de perdoar... – Schneider riu – Percebemos que a pessoa á ser perdoada já desistiu.

-Henri morreu. – Mark concluiu.

-Morreu de tristeza. Não agüentou ficar longe da esposa...

-Mamãe... – Marina levou a mão ao rosto e chorou.


Mark se virou surpreso, lá estava a jovem que havia lhe salvado de um suicídio, completamente destruída e desarmada, estava totalmente... Mark sentira pena, queria estar ali ao lado da pessoa que lhe salvara e dizer palavras bonitas, mas infelizmente, ele não tinha tamanho dom.

-Minha sobrinha... – Schneider disse depressa.

-Sabe de uma coisa... – Marina disse se erguendo do sofá, as alças do vestido começavam á escorregar pelos seus ombros – No dia em que mamãe morreu, eu escutei o médico.

-O que? – O tio de Marina ficou atônito.

-Ele dizia:

-Infelizmente ela irá partir em breve...

-VOCÊ NÃO OUVIU!? – O pai de Marina gritava nervoso – Ela não pode me deixar! Não quero ficar com um incômodo no lugar de minha esposa!

-Sua filha não será um incômodo! Nunca deu! – o médico disse bravo.

-Porque ela ficava num orfanato! Aquela menina não é minha filha! – Henri gritou completamente fora de si – EU QUERO VER MINHA ESPOSA! QUERO VÊ-LA VIVA!

-Eu estava no quarto da mamãe, ela morreu ouvindo a conversa, segurando minha mãe e desejando que eu encontrasse minha felicidade. – Marina disse se recordando de cada palavra como se tivesse ouvido-as naquele momento – Mas eu... Eu achei que tinha esquecido disso. Mas o túmulo da mamãe hoje.

-Temos que aprender á dizer adeus á certas coisas, às vezes é bom esquecer disso. Deixar ir, certo? – Mark sorriu.

Marina olhou surpresa para o amigo. Não é que ele estava tentando animá-la?

-Tem razão meu jovem – Schneider sorriu – Até hoje, senti pena de minha sobrinha. Sempre presa á sombra da mãe que dizia que a felicidade era...

-Mas eu não sei o que é a felicidade! – Marina interveio ficando ligeiramente alterada – Eu busquei! Jurei que procurei em todos os lugares tio! Procurei até mesmo onde ninguém poderia ir e não encontrei nada!

-Mar... ! – Schneider se conteve.

-Procurei... Ajudei pessoas, tentei até mesmo descobrir o motivo da felicidade dos outros, mas... Eu não sei! Não faço idéia do que ser feliz!


Mark abaixou a cabeça, inconformado com a frase da amiga, não podia acreditar que depois de tudo... Depois do que aprendera, ela ainda não sabia o que era a felicidade.

-Mas Marina... – Schneider disse surpreso – Não é possível que esteja assim desde o dia em que sua mãe pediu que achasse a sua felicidade.

-É o último desejo dela e eu fiz de tudo. – Marina caiu de joelhos – Ajudei pessoas, aprendi sobre tentar, sobre dar valor á vida, sobre amar as pessoas... Mas não achei o que me faz feliz.

Mark deu as costas para os dois e se preparava para ir embora, estava frustrado.

-Talvez. – ele disse num murmúrio – Você não tenha olhada diante de você. Você não abriu os olhos.

-Que? – Marina se virou para Mark surpresa.

-Mãos dadas, palavras carinhosas, abraços e até mesmo um simples olhar. – Mark disse se virando para Marina, havia lágrimas em seus olhos – Não percebe? A felicidade estava diante de você e você a deixou ir! Ou melhor, simplesmente não a viu!

-Eh?

-Estava em busca da felicidade não é? Talvez nem tenha notado que sua busca acabou há tempos.

Marina ficou mais pálida que o normal. Mas de que diabos ele falava? Não havia aprendido todas essas coisas dos amigos que ajudara? Deveria saber o que Mark queria dizer á ela. Deveria estar feliz!

Mas por que... Por que não estava?

-Mark... Por que não me explica? Eu quero ser feliz... Eu quero... – Marina disse levando sua mão ao rosto – Não agüento mais me olhar e ver que tenho um buraco em meu peito, sinto ele sangrar todos os dias, sinto que ele precisa ficar completo de novo. Mas não sei como!

-Deveria abrir os olhos e ver a felicidade adiante...

-QUE FELICIDADE!? – Marina gritou completamente alterada. – ME DIGA!

-QUE EU TE AMO! – Retrucou Mark perdendo a paciência com as lágrimas saltando de seus olhos, ele acertara um soco na parede.


Nos perguntamos quando iremos achar nossa felicidade. Se é hoje, amanhã ou nunca.
Quando nos damos conta, ela está diante de nós e nada podemos fazer. Ignorando passado e até mesmo futuro, caminhamos para fazer a felicidade a mais duradoura possível. Tentamos de todas as maneiras caminhar até a felicidade e com muito esforço, determinação e conhecimento, conseguimos encontrar a nossa razão de viver.

É nessa hora que se percebe que o passado doloroso, já foi deixado para trás e o que existe a frente é a felicidade.

Continua...


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