–Fiquei impressionado com seu desempenho em poções, estive observando durante o exame.- Comentou David enquanto empacotava as próprias coisas. Para a grande surpresa do grupo estudantil de Hogwarts David, ao contrário do que muitos esperavam, assumiu as aulas de poções apenas como um emprego temporário. A ala feminina de Hogwarts lamentou profundamente seu anuncio de retirada no café da manhã. Pelo visto eu não era a única que achava as suas aulas mais interessantes por sua simples presença.

–Quer dizer que ficou surpreso ao ver que não explodi nada?- Retruquei rindo, em resposta ele apenas balançou a cabeça negativamente e veio em minha direção.

–Quando é que você verá a si mesma com clareza? Você é incrível Lílian e pode fazer qualquer coisa. - Ele falava com sinceridade, como se realmente não compreendesse a visão que eu tinha sobre mim mesma. Como se a simples ideia de me considerar imperfeita fosse um grande absurdo. Soube imediatamente que estava corada, sempre sabia pelo calor em meu rosto, além disso, foi tão estranho ouvir um elogio dele.

– Você só me conhece faz uns 5 meses. - Falei colocando uma mecha de meu cabelo atrás da orelha. Desviei o olhar, era tremendamente difícil encará-lo quando ele tinha um olhar tão intenso, seus olhos azuis pareciam me aquecer de um modo quase incômodo.

–Acredite em mim, foi mais que o suficiente para me impressionar.- Disse David me encarando com firmeza, droga nós estávamos tão, tão próximos que chegava doer, rapidamente venci os centímetros que nos separavam colando nossas bocas. Não senti aquelas bobagens românticas de choques percorrendo todo o meu corpo. A única coisa que eu era capaz de sentir no momento era David, tudo o que importava era ele, seu toque, sua boca e seu cheiro. Era como se tivesse uma força maior me empurrando em sua direção, me fazendo querer extinguir todo o espaço possível entre nós. Ou talvez fosse apenas a presença de mais paredes do que o necessário em uma sala de aula.

Está certo que estávamos quase no auge do verão, mas ainda assim, estava tão quente, a proximidade de nossos corpos estava me deixando insana, nos separamos brevemente apenas para nos encararmos. Dei um sorriso travesso e me afastei um passo dele.

– Cuidado, o semestre só acaba oficialmente amanhã. - Comentei alisando minha camisa branca do uniforme. Dando risada David voltou para a mesa onde recolhia seus objetos, me sentindo levemente rejeitada fiz algo por impulso. Sentei sobre a sua mesa e cruzei os braços fazendo um bico infantil, obviamente a atenção dele era só minha novamente.

– O semestre só acaba amanhã! - Debochou o homem afinando a voz e imitando meu jeito de falar, acabei rindo, realmente a situação era toda complicada.

– Então vai mesmo trabalhar pro meu pai? Perguntei curiosa. - O motivo de estar em sua sala era a minha imensa curiosidade, mal ele fez seu anuncio no café da manhã eu corri para os seus aposentos. Afinal, estava curiosa, se ele não queria continuar trabalhando em Hogwarts então para onde iria? Mas a resposta era bem simples, David, como muitos estudantes anteriores tinha o sonho de trabalhar para o Ministério da Magia. O fato de meu pai ser seu possível futuro chefe era só mais um bônus para a minha já nada complicada vida.

– Bom, ainda não tem como saber, preciso fazer uma entrevista, preparar a poção na frente dos examinadores do ministério esperar até que eles façam todos os testes com ela e só então terei a resposta. - Explicou ele enquanto alisava uma mecha mais comprida de meu cabelo liso.

– Estava pensando que a situação não vai exatamente melhorar, quero dizer você ainda foi meu professor, não tenho certeza como as pessoas vão reagir. - Falei encarando aqueles olhos azuis tão lindos e quase esquecendo o que queria dizer. Para olhos tão angelicais eles certamente inspiravam pensamentos mais impróprios do que se espera, aquilo ainda me levaria ao inferno. E o pior eu corria o risco de gostar muito de lá.

– Eu sei Lily, mas acredite qualquer situação é melhor do que a que nos encontramos agora. - Respondeu me puxando mais de encontro ao seu corpo, arfei surpresa ao sentir seus lábios em meu pescoço, particularmente havia uma área muito delicada ali, entre o pescoço e meu ombro.

DROGA!

É ele tinha encontrado o local exato, mordi meus lábios para não emitir qualquer som constrangedor, mas obviamente ele percebeu minha reação. O riso baixo de David me deixou levemente vingativa, comecei a passar minhas unhas por sua nuca e percebendo o que cada toque meu causava nele. Porém somente quando alcancei o lóbulo de sua orelha percebi uma reação expansiva de sua parte.

– Nunca te ensinaram a não brincar com fogo? - Seu olhar tinha o que ele prometia, fogo líquido parecia queimar em suas íris claras.

– Nunca tive medo de me queimar. - Respondi desafiante. Ele imediatamente me puxou para mais um beijo, sem conter meus atos desabotoei o primeiro botão de sua camisa, sempre tão arrumadinho, despenteei seus cabelos e então desfiz a gola engomada de sua camisa. Há quanto tempo eu tinha me pego pensando o quanto desejava desarrumá-lo nem que fosse só um pouquinho?

Não importava, não quando ele me beijava daquela forma, fazia com que eu me sentisse desejada, minha autoestima agradecia imensamente.

– ME DIGA QUE VOCÊ NÃO FEZ ISSO?- Lana Prescott irrompeu pela porta segurando um jornal, fazia um bom tempo que eu não via sonserina tão transtornada. Porém mais do que analisar a expressão dela eu precisava me separar do irmão da mesma, em um empurrão meu, David se afastou. Saí da mesa ao mesmo tempo em que tentava ajeitar minhas roupas que naquele momento pareciam ter acabado de sair de dentro de uma garrafa de cerveja amanteigada.

E eles ainda tem coragem de falar que os Griffinórios são escandalosos, pensei ao ver o escândalo da oxigenada. Mas eu não deveria me surpreender, é claro que Lana Prescott não poderia me deixar resolver minha recente fixação por desarrumar roupas engomadinhas em paz.

– Lana você enlouqueceu, posso ser seu irmão, mas ainda sou seu professor, não pode ir entrando assim. - Brigou David com a irmã mais nova em uma fraca tentativa de normalizar a situação constrangedora. Pena que seu sermão perdeu completamente todo o efeito já que ele tentava arrumar as suas roupas e fechar os botões de sua camisa ao mesmo tempo. É para quem estava com problemas de coordenação motora eu certamente ainda a tinha quando ela era extremamente necessária; como para desabotoar camisas masculinas. Chacoalhei minha cabeça tentando me concentrar e pensando que só mesmo o David para me deixar tão avoada depois de um amasso.

– Exatamente, até onde eu sei David você ainda é nosso professor. Alfinetou ela me encarando desconfiada, sem saber como agir apelei.

–Bom então era essa minha dúvida, obrigada professor. - E sem pensar duas vezes quase corri até a porta, eu falei que tinha apelado, situações desesperadas pedem medidas desesperadas, mas eu devia ter imaginado que não escaparia tão facilmente. Acho que seria muito esperar que eu e a minha cara de pau passássemos pela porta, ainda mais se considerarmos que a loira parecia uma imponente carcereira guardando a saída.

– Não tão cedo Potter. Falou a oxigenada segurando meu braço e me impedindo de sair da sala. - Eu acho que você tem uma coisa ou duas pra explicar. - Continuou ela agora me encarando.

Seria uma boa hora para lembrá-la que ela tinha uma dívida comigo?

–Lana você está me machucando, de novo. - Falei sugestivamente olhando para o local onde me apertava, mais que depressa ela me soltou, porém decidi não fugir, afinal, uma hora outra ela teria que ficar sabendo.

–Vocês estão juntos? - Perguntou ela na lata.

–Sim.

–Não.

Olhei pra David com as mãos na cintura ao passo que ele me perguntou parecendo chateado.

–Como assim não estamos juntos? - Dei ombros e expliquei meu ponto de vista.

– Ainda não estamos juntos, precisamos resolver a situação. - Lana apenas ficava nos encarando em um misto de raiva, confusão e divertimento, eu até entendia aquele misto de expressões dela.

– Então? - Perguntou de modo incisivo. Infelizmente Lana Prescott nunca foi conhecida pela sua paciência. Me perguntei como uma pessoa podia parecer tão assustadora segurando apenas um jornal em suas mãos.

– Então o que? - Pedi começando a ficar nervosa. A expressão dela era uma que não deixava espaços para mentiras ou desvios estratégicos de assunto.

– Como diabos isso aconteceu? - Exigiu ela parecendo ainda mais nervosa que eu, ela apertava o profeta na mão, e me perguntei o motivo dela ter invadido a sala de David daquele modo.

– Foi antes das aulas começarem. Nos encontramos na festa de um amigo meu em Hogsmeade. - Explicou ele, Lana obviamente sacou na hora de que festa ele falava, obviamente aquela para qual ela me arrastara meses atrás.

– Você estava na festa dele? Na festa do Dougie? - Perguntou ela parecendo agora ainda mais brava.

David por outro lado parecia perdido, ele olhava para a irmã mais nova cerrando os olhos e então depois me olhava como se estivesse tentando juntar as peças.

– A amiga que você tinha que avisar naquela noite, era minha irmã? - Indagou ele, em resposta apenas fiz um aceno positivo aguardando aonde aquela discussão iria nos levar.

– O cara que você estava beijando naquele dia era meu irmão mais velho. - Acusou ela, para então depois olhar para o irmão. - Mas eu perguntei pro Dougie, ele me disse que não sabia onde você estava David, como podia estar na festa?

– Eu já estava em Hogwarts naquela noite Lana, Katherinne Sullivan comentou comigo sobre a festa e foi assim que eu fui parar lá e assim que eu e Lily nos conhecemos. - Explicou David.

– Esse era o motivo de você querer ir até lá! Queria informações sobre seu irmão. - Conclui olhando para a loira a minha frente.

– Exato, e foi por isso que você a encarou no café da manhã. Não porque ela é uma Potter, mas porque vocês tinham se conhecido na noite anterior. - Terminou a sonserina como se finalmente tivesse conseguindo juntar as peças, porém ao terminar de falar ela começou a rir. Sério mesmo, ela gargalhava de um modo doentio e quase nervoso.

– Lana? Qual o problema? - Pedi sem entender aquela cena.

– Você é ainda mais azarada que eu, e honestamente acho que você merece coisa melhor Lílian. - Disse me encarando com intensidade.

– É eu sou azarada e ele é seu irmão, como pode dizer isso? - Questionei achando estranho ela depreciar o irmão por quem procurara tanto.

– Fala sério, você é a princesinha do mundo bruxo e ele, bom é apenas um covarde. - Comentou a sonserina sem se importar em corar por ofender o irmão mais velho de modo tão direto. Olhei para David esperando que ele se defendesse ou brigasse com a mais nova, mas ele apenas ficou quieto e quando nossos olhos se encontraram ele apenas desviou o olhar.

Como se achasse mesmo que fosse um covarde e que não deveria ficar comigo, como se uma culpa tão grande o consumisse que fosse indigno de me olhar nos olhos.

– O que quer dizer com isso Lana? - Perguntei olhando diretamente para ela.

– Então ele não te contou? Não te contou por que fugiu? - Começou ela com um pingo de maldade em sua voz. Naquele momento ficava claro o porquê dela ter sido selecionada para a Sonserina.

– Lana por favor. - Pediu David, e o tom de voz que ele usou realmente me assustou.

– O que foi? Ela tem o direito de saber você não acha? - A sonserina agora erguia novamente o profeta diário e o modo como olhava para o mais velho me assustava.

– Isso é um assunto de família. - Tentou ele novamente.

– Família? Ah então você se lembra que faz parte de uma? Além do que, Lílian merece saber. - Insistiu ela e a cada nova palavra eu temia o que podia ser tão chocante para fazê-los se encararem com tamanha ferocidade.

– Não acho que seja necessário. - Disse David com firmeza.

– Mas agora eu acho que faço questão de saber. - Comentei preocupada com o tipo de segredo que os irmãos Prescott escondiam. Eu tinha sofrido tanto por causa de algo que Lana tinha feito que a ideia de passar por algo tão ruim com David rondava minha mente. Por mais que fosse insano pensar assim a ideia me tomava, como uma sombra negra que aos poucos ganhava forma.

Os irmãos se encaravam ainda como se estivessem um uma batalha medindo forças, não tive coragem de interromper aquele momento, apenas aguardei até que um deles começasse a revelar o tal mistério.

– Niall Anderson, nosso primo, casado com a filha do ministro está desaparecido. - Disse Lana sem emoção alguma em sua voz, jogou o jornal em minha direção e pelo visto meus reflexos de apanhadora ainda funcionavam. Olhei a reportagem no jornal, já tinha lido, sabia do que ela falava.

– Eu sei, conheço ele e a esposa, além disso meu tio está no caso. - Comentei sem entender onde ela queria chegar.

– Niall me fez muito mal Lily. - Foi tudo que ela disse baixando os olhos e eu quase pude notar dor em sua expressão.

– O que quer dizer com isso? - Pedi sem conter minha curiosidade.

– Ele desenvolveu uma certa fixação por ela. - Respondeu David em seu lugar.

– No começo ele apenas me mimava, me dava presentes e brincava comigo. Um dia as coisas passaram do controle, eu tinha 11 anos. - Explicou a sonserina já não mais escondendo uma dor que aos poucos se tornava palpável.

– O que ele fez? - Perguntei temendo a resposta.

– Se aproveitou de mim.

– Mas você só tinha 11 anos, ele não pode ter... - Interrompi a pergunta me sentindo incapaz de pronunciar aquilo, Lana me entenderia.

– David viu Lílian. - Foi tudo que ela disse, tentei processar aquilo, seu irmão mais velho tinha visto, e o que isso queria dizer exatamente? - David viu e não fez nada, no dia seguinte ele foi embora de casa como o grande covarde que é! - Continuou Lana com rancor em um tom acusatório.

Minha mente montava a cena, uma Lana de 11 anos com os cabelos castanhos como eu me lembrava, o homem bonito e loiro que eu conhecera na festa do ministério. David assistindo a cena sem interferir. Então uma cena da minha própria vida me veio em mente, estava em uma festa de um amigo de James, tinha apenas 14 anos e um garoto mais velho tentou me agarrar.

James e Alvo, meus irmãos mais velhos bateram tanto nele que até hoje o cara deve estar se alimentando com a ajuda de um canudinho. Apesar de ter odiado toda a violência me lembro de ter me sentido protegida e amada por eles, como se nada no mundo pudesse me atingir enquanto eu os tivesse.

Me lembro de ter perguntado se era mesmo necessário bater tanto nele e James prontamente responder.

"Claro que sim, são isso que irmãos mais velhos fazem, eles protegem suas irmãzinhas."

"Mesmo quando elas não querem ser protegidas." Completaria Alvo logo depois bagunçando meu cabelo o que me irritara profundamente.

De qualquer modo essa lembrança de ambos me defendendo ficara ali guardada, e saber que David vira algo tão ruim acontecer com a irmã mais nova e não fizera nada me machucava mais que qualquer coisa.

– Lana eu mal tinha completado 17 anos, ele era meu primo mais velho não sabia o que fazer. Além disso ninguém nunca me levava a sério. - Argumentou David em um tom de quem implorava por algo. Eu apostava em perdão, era isso que ele queria.

– Claro que ninguém te levava a sério, vivia se metendo em encrenca, mas se você não sabia o que fazer, imagine eu? Não passava de uma criança. - Respondeu Lana e mais uma vez resolvi interferir naquela discussão que pouco a pouco se tornava mais e mais acalorada.

– Não entendo Lana, por que não contou para alguém? Na pior das hipóteses podem ler sua mente, usar veristaresum ou então resgatar suas lembranças em uma penseira. O mesmo vale pra você David, não seria apenas sua palavra contra a de alguém mais velho e mais respeitado.

– Quanto ao meu irmão não sei dizer, mas eu fui ameaçada Lílian, obrigada a ficar quieta, além disso, você não faz ideia como é. Niall quase me convenceu que eu era a culpada por aquilo estar acontecendo. - Explicou ela e então notei que ela chorava, senti pena, como nunca antes havia sentindo, mas mesmo depois de passar pelo que passou Lana continuava ali, em pé fria e arrogante.

– Mas ele não fez não é Lana? Ele não chegou a... - A pergunta de David foi interrompida pela resposta raivosa da irmã.

– Só por que não aconteceu quando eu tinha 11 anos não quer dizer que ele não voltou quando eu tinha 14! Droga David ele vem me atormentando há anos, sempre que nos vemos Niall encontrava um modo de acabar sozinho comigo! - A cena em minha cabeça se formava aos poucos e eu não queria acreditar naquilo, Lana Prescott tinha mesmo passado por tal humilhação? Como ela podia viver normalmente com uma lembrança assim?

"Talvez ela não viva normalmente."

Queria dizer pra ela que sentia muito, que eu a admirava por carregar tal fardo, mas estava sem voz, não conseguia pronunciar palavra alguma.

–Será que agora você pode me responder se é o responsável pelo desaparecimento de Niall? - Perguntou Lana agora mais calma, mas ela tremia enquanto esperava uma resposta do irmão, achei aquela pergunta uma loucura, quer dizer o que David poderia fazer? Não, não podia ter sido ele.

– Niall merece isso, ele não merece sua misericórdia ainda mais depois disso que você acabou de me contar. - Quase não reconheci o homem ao meu lado, sua voz estava tão gélida de um modo que eu nunca ouvira antes, porém o pior era a confirmação daquilo que eu mais temia, ele tinha feito algo com o primo.

Mesmo que uma parte minha protestasse concordando com David falando Niall merecia ser punido da pior maneira possível pelo que fez com Lana; havia outra parte minha. Era a mesma parte que tinha perdoado a sonserina a minha frente por ter causado meu acidente, e esse lado de minha personalidade era mais forte e discordava do que David tinha feito.

– A questão não é se ele merece misericórdia. Você me abandonou quando eu precisava e voltou agora que eu já sou maior de idade! Já posso lidar com ele, foi um covarde me deixou nas mãos daquele monstro por anos. Eu realmente espero que você não tenha cometido um assassinato David, pois isso te faria tão ruim quanto Niall. - Avisou Lana encarando o irmão.

– Eu não matei ele, sabe que eu não seria capaz, eu o ameacei e por isso ele vai ficar fora do país por um longo tempo. Fiz isso por você Lana!

– Agora David eu não preciso mais ser defendida, aprendi a me cuidar sem você. - Foi a última coisa que a sonserina disse para o irmão, infelizmente não a última coisa que disse antes de deixar a sala. - Agora você sabe Potter, agora você sabe quem ele é, acredite em mim David não é algo que você queira em seu conto de fadas princesinha.

Assim ela saiu da sala, bateu a porta e percebi que queria ir atrás dela, eu precisava de mais explicações, precisava ver se podia de ajudar em algo. Mais que tudo tinha que sair de perto de David.

– Lily, por favor me entenda. - Pediu o homem, me virei para encará-lo mas logo preferi que não o tivesse feito, era muito difícil me concentrar olhando para aqueles olhos que tinham me hipnotizado desde a primeira vez.

– Não David, uma das coisas que aprendi com o meu pai é que por mais que demore a justiça prevalece. Além disso, sou uma Potter, uma Weasley e uma grifinória de corpo e alma, não há nada que eu admire mais do que coragem. - Minha voz tremia e eu usava uma força de vontade sobrenatural para dar as costas pra ele, mas de certo modo era o que devia ser feito. Tudo que eu ouvira que David tinha feito ia contra meus princípios mais básicos e eu não me esqueceria deles por ninguém, nem mesmo pelo cara por quem estava perdidamente apaixonada.

– Lílian! Pediu ele mais uma vez.

– Sinto muito. - Murmurei entre os soluços, sai daquela sala e ignorando a dor em minhas costas corri até o meu dormitório. Não poderia encontrar Lana, não quando meu estado emocional estava quase pior que o dela.

Corri como nunca antes, como se minha vida dependesse daquilo, como se a dor em meu corpo pudesse me fazer esquecer da dor em minha alma.

(...)

Acordei bem cedo na manhã seguinte a conversa com David e Lana me atormentara mais do que gostava de admitir, coloquei minha muda de roupa já separada e fechei definitivamente meu malão de Hogwarts. Esta seria minha última manhã ali, e pensar nisso não melhorava nem um pouco a dor que eu sentia por vários motivos. Após dormir pensando em como nada na minha vida parecia dar certo o meu acordar não pareceu trazer um tom mais brilhante para os fatos recém descobertos.

Tentava me enganar pensando que assim era melhor, eu deveria esquecer David e não teríamos problemas, me pouparia o trabalho de ter um relacionamento com um ex-professor. Não estava dando certo, meu cérebro implorava por ele, cada célula gritava que lutaria por David não importando as consequências. Queria nunca ter descoberto o que ele fez.

"Como confiar nele sabendo que abandonou a irmã mais nova?"

- Lílian. - A voz de Sara se fez presente, ela estava deitada em sua cama de olhos abertos. - Está tudo bem? Não foi jantar ontem e quando eu e a Lise chegamos você já estava dormindo.

- Estou bem, foi só cansaço pode voltar a dormir, ainda é cedo. - Falei sorrindo e tentando tranquiliza-la.

Sai do dormitório e dominada por aquele sentimento único de alegria, remorso, nostalgia e tristeza caminhei pelos corredores de pedras, sabendo que aquela seria a última vez que caminharia até o salão principal para um café da manhã. Alguns alunos já estavam acordados e conversavam animadamente todos sabendo que no próximo ano estariam de volta, meus pés me levaram até a sala de transfiguração.

Bati na porta esperando que meu professor preferido já tivesse acordado, queria me despedir de Jack Mallory o animago mestre de transfigurações, enquanto a porta não era aberta senti algo roçar minhas canelas.

Berlioz obviamente, meu gato cinzento parecia relutante em deixar seu território, amava Hogwarts tanto quanto eu.

- Lílian. - Os mesmo olhos verde mar que me encantaram quando eu tinha apenas 11 anos me encaravam agora, professor Jack parecia feliz e surpreso por me ver ali.

- Espero não tê-lo acordado professor. - Falei em um tom de desculpas.

- Claro que não, eu precisava mesmo falar com você Lílian, entre. - A sala de Jack era a sala que eu melhor conhecia de toda escola, a que eu mais gostava também, me perguntei o que ele queria comigo. Fiquei parada próxima à mesa dele sem saber o que fazer, a verdade é que eu não tinha planejado algo só me dera vontade de vê-lo uma última vez, meus professores tinham papel importante em minha vida. Sabia que devia muito a todos eles, até mesmo a uma certa loira rancorosa que tentara me ensinar feitiços.

- Eu me lembro da sua primeira aula, me sinto um velho por isso. - Comentou ele sorrindo, isso me fez rir. Apesar de todo o tempo que passou Jack não perdera nem um pouco do seu charme. Ele era uma pessoa que te conquistava tanto por dentro como por fora. Para saber maiores informações bastava perguntar a Lise que o conhecia há apenas um ano e o adorava. Mas não pergunte a Sara, ela pode muito bem ir pra saralândia e não dar nenhuma resposta. A verdade é que independente de que idade, casa ou gênero todos pareciam gostar do professor de transfiguração.

- Você está ótimo senhor. - Falei ficando levemente corada pela ousadia, meu comentário fez com que ele desse uma gargalhada suave. Sorri ao pensar que independente das ideias que passavam pela cabeça do meu professor preferido nenhuma das integrantes da ala feminina de Hogwarts iria me contradizer nessa questão.

- Era só uma garotinha, ruiva de olhos grandes e um sorriso ainda maior. Não esperava muito de você em transfiguração, seus irmãos mais velhos não demonstravam talento algum para tal matéria.

- Meus irmão são geniais. - Comentei sem me conter, o que era verdade tanto James como Alvo eram bem sucedidos naquilo que faziam.

- E aí está o instinto de proteção Potter somado ao complexo de inferioridade Lílian. - Zombou o homem me fazendo corar novamente.

- O que quer dizer com isso?

- Quero dizer que em todos os meus anos como professor e estudante nunca tinha visto uma garotinha de 11 anos transformar uma xícara em taça na primeira tentativa. Transfiguração é uma arte que exige um pensamento claro, um segundo de hesitação e seu rato continua tendo rabo de coelho.

- Obrigada? - Falei meio incerta se ele estava me elogiando ou me zombando.

- Não me agradeça Lílian Luna Potter- respondeu ele repentinamente sério - Foi uma honra ser seu professor durante todos esses anos.

Ele se aproximou e segurou meus ombros me olhando seriamente nos olhos.

- Lily eu quero que você me escute bem. Você é uma das pessoas mais fortes que eu conheço. Não são todos que enfrentam tudo pelo que você passou e continuam indo em frente de cabeça erguida. Perder um sonho quando a realização do mesmo parece tão próxima é difícil, e é preciso muita coragem para continuar. Você termina Hogwarts esse ano como uma das melhores Griffinórias que eu já vi passar por esses corredores, não pelas suas notas, mas pela sua coragem e perseverança. E é por isso que eu sei que independente do local e das condições em que você venha a se encontrar você vai se dar bem. Afinal, como você mesma disse, os Potters são talentosos.

Ele terminou de falar e me encarou por mais alguns minutos e em seguida acenou como se confirmasse algo que já soubesse. Ele me embrulhou em um forte abraço de urso e sussurrou o que eu precisava ouvir.

- Vai ficar tudo bem Lily.

E é por isso que eu sabia o porquê de ter ido parar em seu corredor quando supostamente era para estar zanzando sem destino. Porque Jack Mallory era um bom professor, mas também um excelente amigo.