Pride escrita por Usagi


Capítulo 2
Capítulo 2 - Segundo Tempo.


Notas iniciais do capítulo

Obrigada pelos reviews ;u;
E aqui vai a segunda parte. ~



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Eu respirei fundo antes de voltar a falar, ainda sem olhar na cara de ninguém naquela sala. Embora eu estivesse me sentindo a vontade,  ainda era dificil pra mim falar em público. Então eu estava decidido a falar pro céu, não para eles.

- Acho que coisas realmente grandes sempre acontecem em silêncio. O que é forte e intenso não precisa de explicação, mas aqui eu preciso explicar, só que como? Não existem palavras pra descrever o que eu sentia toda vez que o Yuu aparecia lá em casa. Depois daquele dia, ele deu um jeitinho de passar em casa mais vezes. Era o ponto alto do meu dia, da minha semana, do diabo que fosse.  O sorriso dele, o rosto dele, a voz dele, tudo no Yuu era maravilhoso. O jeito como ele entrava no meu quarto pra me cumprimentar. Depois de um tempo, eu conseguia até mesmo reconhecer os passos dele na escada. Por isso o tempo que eu não passava pensando no Yuu, eu passava pensando em alguma coisa legal pra mostrar pra ele, em alguma coisa legal pra dizer. Pode soar babaca, mas pro garoto depressivo, drogado, rejeitado pelos pais, sozinho, carente e cinza, cumprimentar o estagiário do pai dele e receber um sorriso do mesmo podia ser o ponto alto da vida de merda dele.

Senti meus olhos embaçarem de lágrimas. Eu sentia sua falta.

- Quando o Yuu vinha aqui em casa, ele não me deixava ficar rodeando ele enquanto ele trabalhava no que quer que fosse. Ele vinha, me cumprimentava, e eu só podia falar com ele depois que estivesse tudo pronto e ele não tivesse tanta urgência de voltar pra empresa. Às vezes ele vinha no final da tarde, então depois que ele terminava o que tinha que fazer lá em casa ele podia voltar pra dele, e aí sim ele ficava mais tempo comigo. Aí sim a gente conversava, principalmente quando ele voltava pra casa de trem e eu o acompanhava até a estação. E então o Yuu me contava sobre a vida dele, sobre como ele, a mãe e a irmã tinham deixado tudo que tinham em Mie pra tentar a vida em Tokyo, e sobre como ele tinha que trabalhar pra ajudar em casa porque o aluguel era caro, sobre como a irmã dele tinha uma saúde debilitada, então ficava facilmente doente. Ele me contava sobre como ele sonhava em um dia se formar na faculdade, mas por enquanto não dava. A vida do Yuu não era fácil, mas ele nunca, nunca, nunca reclamava, ele sempre sorria. E aí eu via como eu era sim um menininho tolo perto dele. E olha que a diferença de idade entre nós era só de dois anos. Perdi a conta de quantas vezes eu prometia a mim mesmo que ia mudar as coisas, largar os vícios, parar de ganhar novas cicatrizes. Todas aquelas conversas com o Yuu, todos aqueles sorrisos que ele me dava, tudo fazia com que eu quisesse ser uma pessoa melhor. Por ele.

Parei pra respirar outra vez, me esticando na cadeira.

- Aí apareceu o vestibular. Com muito custo e ajuda do Yuu, eu tinha conseguido terminar a escola, mas eu nem pensava em fazer vestibular, até que encontrei um folheto que falava sobre uma faculdade de Artes. Eu contei pro Yuu e ele surtou. Falou de como ia ser importante eu tentar, de como ele achava que eu tinha chances de conseguir entrar, que era uma oportunidade que eu não podia jogar fora, e mais um monte. Eu estava praticamente convencido, mas não pude resistir a perguntar se ele sentiria orgulho de mim se eu passasse. Ele se fez de bravo, mas então sorriu.

- Só de você tentar.  – disse. - Não sabe como me faria feliz.

Então eu topei. Pedi pro meu pai me bancar um cursinho, ele só pra variar um pouco nem prestou atenção, só perguntou quanto ia custar. Acho que ele não estava botando muita fé em mim, afinal, era eu. No começo, eu me desesperei. Eu não era exatamente o melhor aluno do mundo, e aquilo era ainda mais difícil do que a escola. Mas o Yuu insistiu que eu precisava me esforçar e começou a vir me ajudar a estudar no tempo livre dele.  Foi assim por uns quatro, ou cinco meses. Eu estava bem mais confiante de mim mesmo, e saber que eu tinha o Yuu do meu lado me dava forças pra seguir em frente. Eu tinha conseguido maneirar bastante na bebida, no cigarro, na droga. Eu estava começando a me sentir bem comigo mesmo, dormir a noite estava se tornando mais fácil, eu não precisava mais tanto dos remédios. As lâminas estavam perdendo seu uso. Estava tudo indo muito bem… Até o dia do vestibular.

Comecei a rir, lembrando do dia. Suspirei outra vez.

- No dia do vestibular, eu surtei. Eu me tranquei no quarto e disse que não ia. Que aquilo tudo era besteira, que eu não ia conseguir. Que era tudo perda de tempo. A verdade, é que eu estava morrendo de medo. Eu estava morrendo de medo de não conseguir e desapontar o Yuu. E a última coisa que eu queria no mundo era desapontar a única pessoa que gostava de mim. Ele bateu na porta por uma hora inteira, ameaçou colocar ela à baixo na base do chute e de repente parou. Achei que ele tinha desistido. – ri outra vez, a cena viva na minha mente. – Que nada! Ele escalou por fora e entrou pela janela. Abriu meu armário, jogou umas roupas em mim e disse que se eu não entrasse no chuveiro e não me aprontasse em 20 minutos, ele ia embora e nunca mais falava comigo. Disse que eu estava sendo um covarde, ligou pra empresa e pediu o resto do dia de folga pro meu pai. E foi comigo até o outro lado da cidade, só pra ter certeza de que eu ia mesmo entrar. Quando nós chegamos  na entrada ele sorriu e disse que confiava em mim. Que sabia que eu ia me sair bem. Que ia dar tudo certo.

Pisquei, olhando pro teto e tentando não deixar as lágrimas caírem.

- E não é que deu? Eu saí lá de dentro achando que não tinha dado pra passar, mas sabia que tinha feito o meu melhor. O Yuu estava me esperando lá, com um daqueles sorrisos lindos dele. Na volta, no trem mesmo, eu resolvi aproveitar aquela confiança que ainda tinha sobrado e criei coragem. Porque era fato que eu gostava do Yuu. Gostava muito. Pra falar a verdade, eu amava ele mais do que qualquer outra coisa na minha vida. Então, já que estava completamente fora da casinha mesmo, eu beijei ele. Joguei tudo pro alto e beijei ele. E contei que gostava dele. Foi desesperador, porque o Yuu não disse nada. Eu estava quase tendo um troço, com medo de ter estragado tudo. Eu estava morrendo de medo daquele silêncio.

- Diz alguma coisa, Yuu! Por favor, não fica quieto desse jeito! – praticamente gritei. – Você sei lá... Gosta pelo menos um pouquinho, um pouquinho só que seja... De mim?

Então ele baixou a cabeça, e naquele segundo meu coração parou de bater por um segundo. Eu tinha estragado tudo, por causa daquele beijo, eu devia ter estragado tudo. Aí o Yuu sorriu e me puxou pelo queixo.

- Kouyou... Garotinho bobo.- disse - Isso não devia ter acontecido. O que você vai ser na minha vida? Você é encrenca, mas é muito mais alegria. Fazer o que, a gente não tem controle da vida, não é? A gente não pode controlar, a gente não escolhe se o sentimento vai nascer ou não.

O Yuu falou um monte de coisa estranha, mas ao mesmo tempo bonita. E à cada palavra eu só ficava mais confuso e só pensava se ele gostava de mim ou não. Se aquilo era um jeito educado de me dar um fora, ou o quê. E então eu entendi, com um aperto no peito, quando ele continuou.

- Você sabe que agora eu vou ter que ir embora, não sabe, Kouyou? Que eu vou ter que parar de ir na sua casa, que eu vou ter que me afastar. – emendou. – Que eu vou ter que até largar o emprego, quem sabe.

Isso me gelou, isso quebrou o meu coração cinco mil vezes. Eu tinha perdido o Yuu. Eu estava me controlando pra não chorar, então só consegui murmurar com um gemido:

- Você... Você vai embora? Por causa do que eu disse? Então eu não devia ter dito nada. – solucei. – Eu sou um idiota! Por que eu fiz isso, por que eu fui inventar de falar o que eu sentia? Pra perder a sua amizade? Eu não quero te perder, Yuu. Esquece isso, esquece tudo o que eu disse. Esquece, mas por favor, não me deixa. Esquece que eu disse isso, esquece toda a minha estupidez, Yuu. Por favor.

Ele começou a rir.

- Você não entendeu nada do que eu disse, menininho tolo? – perguntou, ainda segurando meu queixo. – Se liga. – e então ele sorriu e me beijou. E aí eu descobri a resposta.

O Yuu também gostava de mim.

Coloquei os braços atrás da cabeça, suspirando.

- Aquele sim foi um dia bom. Naquele dia, o Yuu me levou até o lugar preferido dele no mundo inteiro. Ele me levou pra ver o pôr-do-sol em uma colina perto da casa dele. Sabem, naquele dia, eu realmente notei como as coisas podiam ser bonitas. E eu não cansava de sentir os lábios dele nos meus, eu não cansava do cheiro dele, eu não me cansava de ter ele ali, do meu lado. A nossa primeira vez foi lá, mesmo. Foi perfeito, porque com o Yuu por perto, até o inferno parecia ser um campo de margaridas.  E foi a primeira vez que ele viu as minhas cicatrizes. Ele passeou a ponta dos dedos por cada uma delas. Ele beijou cada uma delas. E ele disse que eu não precisava mais fazer aquilo comigo mesmo, porque a partir daquele dia, ele ia cuidar de mim. Ele disse que ia curar todas as minhas feridas. Aquilo sim era o paraíso! É, foi o paraíso, sim.

Ri seco.

- Por uns tempos.


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Notas finais do capítulo

Eu não tinha percebido o quão pequena a segunda parte é.
Enfim, agora só falta a terceira.
Reviews são aceitos, é de graça e o dedo não vai cair por isso. Se cair é só mandar que a gente costura de volta. :3
Ja nee ~