Susana Pevensie escrita por Hannah Mila


Capítulo 3
Anel Amarelo e Carta de Charles




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/192364/chapter/3

Eu mirei os aneis por alguns minutos. Eram bonitos. Esqueci-me que Charles e Cath me miravam até Catherine dizer:

– Su, ainda quer o chá?

Eu voltei à realidade com um sobressalto e peguei uma xícara de chá na bandeja que Cath segurava. Bebi sem cerimônias e após deixar uma xícara vazia na bandeja, disse:

– A sala de visitas é ali - eu apontei para uma porta ao lado da que levava à cozinha - Vamos lá?

Os outros assentiram sorrindo e eu peguei a caixa. Apesar de tudo, ainda estava fraca e cambaleei um pouco.

– Por favor, Susana - disse Charles - Deixe-me levar a caixa.

Eu neguei.

– Não. Estou bem, e você é um visitante, não farei um visitante carregar caixas.

– Mas e se o visitante vissesse para carregar caixas? - insistiu Charles.

– Ele teria de dar um tempo nessa vida - respondi, e para minha surpresa, vi que estava sorrindo. Catherine e Charles também sorriram.

– É bom te ver sorrir - disse Cath.

– Você tem um lindo sorriso - elogiou Charles, e nós três fomos para a sala de visitas, sorrindo.


– Ah, Susana, sinto muito - disse Annie Moon.

Annie Moon Squalor era uma amiga minha, que também trabalhava na Agência Jornalística de Finchley. Dois dias depois da morte de minha família eu estava em condições de voltar ao trabalho. Catherine não havia voltado à trabalhar nesses dois dias, insistindo em ficar comigo em casa, me ajudando a cozinhar e consolando-me quando eu me via chorando a noite inteira. Charles havia nos visitado nesses dois dias, na hora do almoço e à noite, tornando-se um de meus amigos mais chegados em apenas quarenta e oito horas.

– Eu sinto muito mesmo... - repetiu Annie Moon, subindo as escadas conosco - Agora entendi por que você não foi à minha festa naquela noite...

– Não, tudo bem, Annie Moon - eu disse - Fiquei realmente triste por alguns dias, mas já estou melhor, graças à Cath.

Catherine sorriu. Agora que eu voltava ao trabalho, ela tinha de voltar também. Desde daquele dia ela praticamente morava em minha casa, saindo apenas para comprar mantimentos.

Nesse momento nós chegamos ao nosso andar, o décimo quinto. Eu e Cath nos despedimos de Annie Moon, que trabalhavo no décimo sétimo andar.

Foi um dia de trabalho muito calmo, bombardeado por perguntas embaraçosas que eu me recusava a responder. A que mais me deu ímpetos de responder foi a de um homem que trabalhava comigo: "Que aneis são esses?".

Eu estava usando os aneis que haviam encontrado entre os pertences dos Pevensie. Me sentia muito estranha usando os aneis, pois eles pareciam formigar e se ajustavam nos meus dedos toda vez que os colocava. Mas eu gostava de usá-los porque me lembravam de meus irmãos, me davam a falsa ideia de que eles ainda estavam vivos.

No fim da tarde, quando eu e Cath voltamos para a minha casa, protegidas do repentino temporal por um guarda-chuva, encontramos Charles esperando por nós na porta, encharcado, mas sorrindo.

– Ei, Charlie, quer morrer afogado? - perguntei gritando, uma vez que um trovão havia se aliado à chuva.

– Bela anfitriã, Su - respondeu Charles com uma risada.

Eu e Cath rimos e abrimos a porta, permitindo que todos nós, encharcados, entrássemos.

– Vou preparar um chá bem quente - eu disse - Alguém me ajuda?

– Quem mais senão eu? - falou Cath.

– Eu vou me secar - disse Charles subindo as escadas para ir ao banheiro, enquanto eu e Catherine íamos para a cozinha.

Eu realmente não esperava que minha vida fosse mudar assim de repente, pensei enquanto esquentava água para o chá.

A morte de meus pais, o reencontro com um conhecido, aqueles estranhos aneis, um verde e um amarelo. Enquanto a água fervia, eu estendi a mão e mirei o anel amarelo. Ele zumbia e tremia. Franzi a testa, mas deixei o anel de lado.

Charles entrou na cozinha na hora em que eu tirava a água do fogão. Ele sorriu para mim e disse:

– Veja só o que eu achei - ele estendeu a mão para mim e lá estava um papel, uma carta mais especificamente. Peguei a carta e a li.

– "Pedro, como está indo aí com o tal professor Kirke? Não pude escrever muito ultimamente, pois meus pais me mandaram para morar com uma velhinha louca no campo. Ela cria corvos e tem medo de gatos, isso é um resumo.

"Aposto como você já viveu uma grande aventura! Num bosque ou numa montanha, provavelmente. Mas não importa, você consegue transformar um almoço numa expedição de cavalheiros medievais por um banquete perfeito.

"Espero ver novamente e também aos seus irmãos, tirando, talvez, Sir Edmundo, o rabugento. Mas ficaria muito feliz em topar com Sir Pedro, o aventureiro, Lady Susana, a graciosa, e Lady Lúcia, a sorridente.

"Da mesa de uma velha maluca que cria corvos, Sir Charles, o verdadeiro."

Eu levantei os olhos da carta para Charles, que continuava a sorrir.

– Lembra-se dos títulos? - perguntou Charlie numa voz animada - Lembra-se que eu a chamava de Lady Susana, a graciosa? E Pedro e Lúcia também? Só Edmundo que não, mas Pedro me contou que ele começou a chamá-la de um certo título depois de alguma coisa na casa do professor Kirke, não me lembro como era...

– Era Rainha Susana, a Gentil - respondi - E Pedro era o Rei Pedro, o Magnífico, também chamado de Sir Pedro, o Terror dos Lobos - Charlie arregalou os olhos para mim, que continuei: - Edmundo era o Rei Edmundo, o Justo e Lúcia, a Rainha Lúcia, a Destemida.

Tanto Cath quanto Charlie me observaram curiosos e indagadores. Eu puxei a mão de Cath para longe da chaleira, porque minha amiga já ia metendo a mão sem querer na chaleira.

– Lindos títulos - comentou Charlie - Haviam outros?

Eu contei dos títulos de Pedro, dos títulos de Lúcia, dos títulos de Edmundo e de meus próprios títulos, mas sem falar diretamente de Nárnia. Achei que ainda não era a hora para contar a eles, apesar do anel amarelo zumbindo no meu indicador direito.




Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Susana Pevensie" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.