The Empress Of Wonderland escrita por Biah_Morgan


Capítulo 10
Vésperas


Notas iniciais do capítulo

Recomendo que, ao ler essa fic, procurem no Youtube as OST (Original SoundTrack ou coisa assim) do anime Pandora Hearts e do filme Alice no País das Maravilhas (as do novo combinam mais). Escrevi ouvindo algumas dessas músicas e descobri ao revisar esse cap que ler com a trilha sonora certa é muito legal *---*



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− O que você faz aqui? – O tom de voz rascante cortou o ar como uma navalha.

O Coelho estava largado dentro de uma sela escura; correntes prendiam seu pescoço, mas não suas mãos ou pés.

− Vim falar com você. – Disse Alice, cujos olhos verdes brilhavam na escuridão.

− E falar sobre o que?!

− Nada de importante. Já que você já vai morrer, pensei em ao menos trocar algumas palavras com você. Afinal, foi você quem me trouxe pra cá.

Ele chiou, desviando o olhar.

− Coelho, o que acontece quando alguém quebra uma regra?

− Nada em particular, no seu caso e da Princesa.

− Então porque elas existem, se não é para serem cumpridas?

− Elas existem para nós, que temos funções a cumprir. E, quando nós as cumprimos, isso deixa a tarefa de vocês duas muito mais fácil.

Sharon inclinou a cabeça para o lado, pensativa.

− Qual é a sua função, Coelho?

− A minha função? Reconhecer Alice e trazê-la para o País das Maravilhas. E também proteger a princesa, até que o Valete ascenda e me mate para tomar o meu lugar.

− Ela realmente pode forçar a ascensão dele dessa maneira?

− Não faço ideia. Não vou estar aqui pra ver, de qualquer maneira.

− Que estranho. Eu sempre pensei que a função do Coelho era outra.

− Qual?

− Incitar Alice País das Maravilhas adentro.

− Não brinque comigo. Eu sei o que você está tentando fazer. Está tentando me fazer passar pro seu lado.

− Não sou tão burra assim, sabe? – Ela riu baixinho, irônica. – Até porque você também não teria utilidade nenhuma pra mim. Cheshire e o Chapeleiro são tudo de que preciso, se é que preciso deles.

− Ah, mais Cheshire também morrerá pelas mãos do Chapeleiro. O gatinho não lhe disse?

Alice riu novamente, aquela mesma gargalhada lunática de antes.

− Ah, não vai. Meu modo de quebrar regras é diferente. Eu não vou deixar Cheshire morrer.

O Coelho fez uma careta intrigada.

− Eu vou lutar com os dois ao meu lado. Não é necessário, mas é útil. Se as regras não servem pra nada, então eu não tenho que segui-las.

− Mas... Isso é possível?

− É possível forçar a ascensão do Valete matando o Coelho?

Ele nada disse, pensativo.

− Coelho, você mesmo quem me disse. Eu estou no País das Maravilhas. Não existe essa de seguir regras bestas, se eu não forçar a estrutura daqui quebrando regras.

− “Forçar a estrutura”?

− Convocando um ser que ainda não está aqui.

Ele riu baixinho.

− E o que você pretende fazer não força nada?

− Ah, qual é. Você acha que, depois de conseguir enganar a Casa de Copas e escapar do seu Palácio bem debaixo no nariz da Princesa, eu não consigo apartar uma briga besta entre dois que são meus subordinados?

Ela riu mais uma vez.

− Enfim, acho que já está na hora. Vejo que o seu suposto senso de dever é estupidamente cego, por isso não tenho mais nada a fazer aqui. Adeus, Coelho.

Ela lhe deu as costas e já ia ir embora, antes de completar:

− Ah, sim. Morra em paz. Afinal, você escolheu a Alice certa.

E o deixou sozinho na escuridão da sua cela, pensativo.

− Espere! ALICE!

Não havia surpresa alguma no rosto dela ao ouvir esse chamado.

− Sim?

E ela ficou ainda mais satisfeita ao ver o olhar dele. Era o olhar do Coelho Branco, não do Coelho.

− Alice... Por que você veio aqui?

− Na real? Eu queria te convencer a vir comigo. Não queria te ver morto.

− Mas... Por quê? Por que você se preocupa comigo assim?

− Você me salvou daquele maldito fosso, quando eu estava quase me afogando.

Ele hesitou, mas quando abriu a boca para responder, ela continuou:

− E nós dois sabemos que você não fez isso “por dever”.

O Coelho nunca vira um par de olhos verdes brilhar como os dela.

~

− Está tudo pronto?

− Claro.

− Excelente. Você se saiu melhor do que eu esperava, Severo.

− Não poderia desapontar minha noiva.

− Claro. Não se esqueça de me mandar o convite para o seu casamento.

Ele fez uma careta, mas o momento era muito vital para gastá-lo à toa.

− E o Coelho? O que faremos?

− Confie em mim. Eu sei o que estou fazendo.

− Mas nada no seu plano...

− Eu disse pra confiar mim. Não me subestime, Severo. Não posso realizar milagres, mas nem todos sabem disso.

Ele obviamente não entendeu nada, mas também nada disse.

Com o olhar crítico, Sharon avaliou as muitas cordas e roldanas que se entrelaçavam pelo teto, quase como uma teia. Seus olhos verdes não perdiam um único detalhe.

− Parece que está tudo em ordem. Cheque tudo uma última vez. E também se certifique de que tudo está nos seus lugares no subsolo. Não quero ver um único erro.

− Claro. Um erro poderia custar sua vida.

− Não. Custaria muito mais caro. Custaria minha reputação. Agora, vou acertar os últimos detalhes com os subordinados de Cheshire, antes de me posicionar. E não se esqueça dos sinais. Eles são a parte mais importante.

− Não me subestime. – Disse ele, com um sorriso e uma reverência. – Claro que não vou me esquecer.

− Não, não vai. – Ela sorriu. – Uma última coisa, Severo. Se por acaso alguma coisa dar errado, e eu acabar morta, lhe peço que tente, ao menos, proteger o povo dessa louca.

− Mas... morta? Nós não...

− Você me ouviu. Há muito em jogo hoje, e um erro colocará tudo a perder de maneira irreparável. Não haverá um “depois” se eu falhar hoje.

− Mas, Alice...!

− Esse é a minha palavra final, Severo. – Disse ela, com uma autoridade surpreendente na voz.

E ela se foi, com sua capa negra se enfurnando aos seus pés, como uma sombra; Severo permitiu que seu olhar a acompanhasse até que ela se reunisse aos subordinados de Cheshire (todos com orelhas e rabos de gato), antes de lhe dar as costas e partir para cumprir sua função.

Ele iria se certificar de que não houvesse falha. Depois das sombrias palavras da sua noiva, mais do que nunca sentia o peso da responsabilidade.

Não. Severo não permitiria erro algum.

Muitos metros abaixo, o Coelho chorava silenciosamente na sua cela, com o peso da sua decisão final.


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Notas finais do capítulo

(Mais uma vez, desculpem pela demora. Odeio a escola simplesmente pelo imenso tempo livre que ela me toma) (Se desejarem, nos próximos eu especifico quais músicas combinam mais com o capítulo em questão)