Meu coração se repremeria,se eu ainda tivesse um. Foquei meu olhar no palco,assim que vi dois vultos entrando,seguido por mais dois.Canto direito,lá estava o meu alvo. Assim que as luzes se acendessem,eu iria poder ver aquele rosto novamente.Ouvi dizer que ele cresceu bastante. É bom ele ter aproveitado bem seus 23 anos. um som notável de pratos sendo tocados causou mais gritos,e em um piscar de olhos as luzes se acenderam,um coro de vozes fora ouvido,e as guitarras já cantavam. Não teve como não sentir certa melancolia. Enquanto os adolescentes ao meu redor cantavam e se balançavam,eu me mantia imóvel,encarando impassível os três garotos que fizeram parte da minha história,que um dia foram tão importantes pra mim. Eles estavam tão grandes,tão bonitos. Queria poder ter estado presente estes anos todos,meu lugar sempre foi ali,em cima do palco,tocando com eles. Hesitei em olhar para a direita,mas foi impossível não olhar.

– Olha,é ele! - uma garota,de uns 15 anos,gritou para a amiga,apontando o lado do palco que eu preferia evitar,com visivel emoção. - Céus,ele está tão lindo. - juro que quis vomitar. Valha-me Deus.Quem poderia achar um monstro daquele lindo? Certo,eu já cometi esse erro antes. Minha curiosidade falou mais alto e eu olhei.Olhei para o causador de toda desgraça na minha vida. No meu lado do palco. Com o meu instrumento. Tocando com a minha banda. Para os fãs que deveriam ser meus. Com os meus amigos. No lugar que sempre foi meu. Antes dele aparecer e acabar com a minha vida. Mas teria volta,eu iria recuperar o que era meu. Eu só precisava aguentar mais algumas horas,era só o que eu precisava.

E foi o que eu fiz. Aguentei a eternidade que foram aquelas 2 horas de show. Acompanhei cada movimento que ele fazia,sentindo toda a raiva que guardei só pra mim,voltar com força implacável. Eles se despediam,mandavam beijos,agradeciam e jogavam toalhas e palhetas,coisas que as garotas quase se matavam para pegar.Esperei que eles entrassem para o backstage,e só então me enfiei no meio daquela gente,indo de encontro ao palco,sorrateiramente. Tirei a credencial do bolso e passei pela minha cabeça,abrindo o casaco para que a camisa da equipe ficasse nítida. Consegui entrar nos bastidores sem problemas,e agora caminhava tranquilamente no corredor dos camarins. Vários rostos conhecidos passaram por mim e sorriram amigáveis,comprimentando-me casualmente. Sim,eles não faziam idéia mais de quem eu era. Tentava achar alguém em meio aquele bando de gente insignificante quando vi aquele rosto de novo,sorridente. Segui-o com o olhar,e assim que ele saiu por uma porta,eu apertei o passo,saindo pela mesma. O vento do lado de fora me pegou de surpresa,mas não me abalei,eu não podia perdê-lo de vista. E não perdi. Ele estava caminhando sem pressa até o ônibus da banda,á alguns metros na frente. Parecia despreocupado com um cigarro preso entre os dedos. Puxei o calibre de dentro do meu casaco e o carreguei com facilidade,posicionando meus dedos agilmente,pronta para apertar o gatilho. A garagem estava á poucos metros agora,e o lado de fora,deserto. Respirei fundo e detive meus passos,erguendo o revolver na altura de meu rosto. Sem nenhuma heistação destravei a arma e puxei o gatilho,ouvindo o estalido da bala saindo pelo cano. Em questão de segundos a bala o atingiu no ombro,o cigarro caiu no chão,se dissolvendo na poça de água.

No momento seguinte,Dougie Poynter estava caído no asfalto. Totalmente apagado.