Wishing Star escrita por Camila Lacerda


Capítulo 9
De volta




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Deveria ser por volta das quatro horas da tarde, e o céu estava nublado, talvez começasse a chover mais tarde, porém agora o céu cinzento só ameaçava. Eu honestamente nunca gostei muito de chuva, só gostava do som da chuva. Tranquilizava-me de uma maneira que não havia palavras para o favor que aquelas gotículas faziam pra mim.

Desci da moto e dei um grande suspiro. Eles tinham voltado, eu deveria encarar tudo de frente e contar tudo logo.


– Vai ficar tudo bem, você está comigo. – ele sussurrou e me abraçou por trás.

Eu não gostava quando as pessoas usavam as minhas palavras
contra mim mesma, mas naquele momento Jake conseguiu me confortar com aquela frase. Ele estaria comigo sempre, pois o nosso laço era muito grande e muito forte, nós sempre teríamos um ao outro. E isso me acalmava.

Enquanto caminhávamos até a porta senti Jake pegar os meus cachos soltos e colocou os apenas de um lado do meu pescoço, então senti algo na minha orelha e perguntei:

– Você mordiscou a minha orelha? – Jake não fazia esse tipo
de brincadeira.


Mas ele não precisou responder, seu risinho baixo o entregou...

Abri porta com cuidado - um cuidado desnecessário – talvez eu quisesse simplesmente subir para o meu quarto e adormecer, mas não. Eu tinha muitas explicações a dar e eles também.

Então eu os encontrei sentados na sala. Rose, Emmett, Jasper, Alice, Esme e mamãe. Todos se viraram assim que eu pisei dentro de casa.

O meu medo agora se tornou felicidade. Eu estava feliz por vê-los bem e de novo. Sei que não havia se passado muito tempo, mas no fundo eu estava preocupada com eles, sentia que de alguma maneira era minha culpa eles terem saído assim de repente.

Rose correu até mim e me abraçou.


– Nessie, você não sabe como eu senti sua falta, meu anjo.

– Eu também senti a sua, tia. – tentei espalhar o meu calor pra ela.


Quando a soltei, todos já haviam feito uma fila para me cumprimentar. Emmett foi o seguinte.

– Minha preferida. – ele disse assim que me levantou em um forte abraço de urso. Instantaneamente lembrei de Jake, era ele quem me
dava aquele tipo de abraço.

– Minha querida. – Esme me abraçou e beijou minha testa.

Eu fiquei incapacitada a dizer algo, não havia palavras pra descrever como eles eram importantes pra mim e como eu ia sentir a falta
deles se eles demorassem mais. Eu simplesmente deixei que a minha imagem brincando com Esme quando eu era menor fosse transmitida até ela.

A minha lembrança era da nossa casa antiga. Onde Emmett, papai e Jasper haviam feito um balanço e um escorregador de madeira para mim. E era onde Esme sempre brincava comigo, naquele dia não tão cinzento Esme brilhava fazendo os meus olhos brilharem ao verem tamanha beleza.

– Também te amo querida. – assim ela me soltou e eu vi minha mãe.

Sei que naquela hora eu cederia, eu senti as borboletas no meu estômago quando olhei para ela e papai não estava ao seu lado como ele sempre fazia. Era tão estranho aquele imagem, ela sem ele. Parecia um quebra-cabeça incompleto.

Mamãe me abraçou e eu pude me aquecer em seus braços duros e gelados.

– Me prometa que não vai mais embora. – sussurrei tentando conter as lágrimas.

– Eu prometo meu amor. – ela também parecia querer chorar se pudesse.

– Onde está meu pai? – eu não pude conter a pergunta que estava na ponta da minha língua, mas quando perguntei mordi a língua. Talvez mamãe tivesse entendido que eu estava mais preocupada com meu pai do que com ela, mas não era nada disso. Eu só não queria me separar de
novo.

– Ele vai voltar quando você menos perceber. – ela parecia sorrir no
final da frase, porém havia uma ponta de dor ali.

– Vou ficar de castigo pelo resto da eternidade por ter ido pra sala do diretor?


Todos deram um risinho baixo e eu também dei. Havia coisas muito mais importantes do que ir para sala do diretor, e eu mal sabia que ir para sala do diretor não seria nada perto dos outros problemas.

– Não querida. – ela então me soltou – Você não quis causar mais burburinhos por isso aceitou a punição sem nenhum tipo de reclamação, estou certa?

Eu confirmei com a cabeça. Ela me conhecia suficiente pra não precisar ler a minha mente, só os meus olhos.

– Você não está cansada, Nessie? – ouvi os sinos da voz de Alice.

– Só um pouco. - admiti.

– Querida. – mamãe me chamou e me virei novamente pra ela – Nós precisamos conversar sobre algumas coisas... – eu já sabia o que era.

– Eu realmente preciso contar sobre o meu sonho? – todos pareciam ter se assustado com o meu raciocínio rápido.

– Vocês realmente estavam achando que ela não iria perceber? Ela já é praticamente adulta. – Alice foi a única a dizer algo.

Meus familiares trocaram olhares e rapidamente Emmett disse:

– Topa uma luta, Jaz? – Jasper confirmou com a cabeça e o segui para os fundos. Alice passou do lado de Rose e Esme e as levou para a cozinha. Então eu, mamãe e Jake ficamos na sala. Jake se sentou no sofá e eu estendi a mão para minha mãe pegá-la. Eles haviam saído de casa para tentaram obter respostas sobre o meu sonho? É. Eu acho que sim.

Eu hesitei ao entrar no meu quarto com mamãe, estava pensando no que eu diria a ela. Será que ela havia descoberto algo que me ajudaria a entender? Era muito ruim? Alguém iria sofrer por causa disso? Por que o meu pai não havia voltado com todos os outros? O que estava realmente acontecendo?

Mamãe se sentou na cama e eu ao seu lado. Será que aquele sonho realmente tinha alguma importância? Não deveria ter sido só um pesadelo? O olhar confuso de mamãe parecia que o meu sonho parecia o pior pesadelo dela. Ela estava muito frustrada, mas me frustrava ainda mais não poder fazer nada.


– Mãe, tem algo importante que eu deveria saber? – perguntei tocando sua mão e passado a imagem dela frustrada.

– É. Alice tem razão. Você já é adulta suficiente pra saber...

– Pra saber o que? - por que eu era sempre a última a saber das coisas?

Ela deu um largo suspiro e segurou as minhas mãos. Agora ela parecia derrotada. E doeu muito em mim saber que ela estava assim por minha causa.

– Nós achamos o seu sonho muito real, então fomos tentar achar respostas.

– E encontraram? – perguntei tentando poupá-la das palavras que pareciam cortá-la em pedaços.

Senti uma dor tão grande por saber que alguém estava sofrendo por mim, essa dor não deveria ser só minha? Eu queria que ela fosse, pois assim talvez eu pousasse muita gente de muita dor.

Mamãe negou com a cabeça e depois soltou as minhas mãos para
apoiar a cabeça colocando seus cotovelos em seus joelhos. Ela parecia precisar de apoio.


– Então isso significa que era só um sonho. – tentei tranquilizar não só ela, mas pra mim não parecia melhorar em nada, era só a desesperança em palavras, talvez pra ela parecesse o contrário do que eu
pensava.

– Eu espero muito isso. – ela murmurou. Parecia que faltava esperança em suas palavras.

– Alice viu algo? – Alice era a fonte mais confiável naquele momento.

– Não. Ela não vê nada diferente no seu destino. Mas todos temos nossos medos. – mamãe parecia mais sem chão do que eu. Eu a puxei pra mim e a fiz deitar em meu colo, como ela fazia comigo.

Então comecei a mexer em seus cabelos. Ela fechou os olhos e eu me senti tão inútil. Eu simplesmente não podia fazer nada, pois eu não tinha nenhuma pista.

Parecia um beco sem saída. Mamãe estava parecendo estar mais relaxada deitada ali no meu colo, eu fiquei um pouco melhor por isso porque eu não queria a fazer sofrer mais do que ela já havia sofrido... Eu me surpreendia como o quão forte minha mãe foi, como ela conseguiu aguentar e amar a mim, a "cutucadora" que quase a matou.

Resolvi analisar melhor o meu sonho-pesadelo. E quis dividir aquelas imagens com minha mãe, pois eu não conseguia esconder nada dela mesmo.

Enquanto eu transmitia as imagens para mamãe, vi sua expressão mudar de tranquila para curiosa quando toda a minha família apareceu; depois ela fez uma expressão confusa quando Jake e Seth apareceram e levaram o bebê. E no final ela ficou tão... Maravilhada, impressionada com o rosto do bebê - assim como eu fiquei no meu sonho.

- É lindo. – ela conseguiu sussurrar.

Quem era eu pra negar, aquela criança era tão indescritível.

Decidi analisar melhor a imagem. Por causa da fogueira sua pele dava a impressão de não ser muito escura, nem muito clara. O bebê tinha pouquíssimo cabelo e ele era negro, mas seus olhos eram impressionantemente belos. Eles aparentavam ser castanhos e estavam brilhando, um brilho tão intenso que era impossível não se apaixonar. E o bebê estava sorrindo, mostrando suas covinhas e suas duas fileiras de dentes, uma em cima e outra embaixo.

- É quase tão lindo como você quando nasceu.

As palavras de mamãe me atrapalharam e eu perdi a linha do pensamento. Refleti mais um pouco fitando a parede branca do meu quarto e percebi que mamãe tentava ler minhas expressões, mas eu estava serena.

- Mãe, estou com fome. Quero caçar. – olhei para o meu colo e disse aquelas palavras como se fosse uma coisa natural, o que era pra mim.

- Então vamos, eu também estou. – ela se levantou e foi caminhando em direção a porta. Eu não me mexi a imagem daquela criança ainda estava em mim, ela parecia muito real pra ser só um sonho.

- Vamos, filha. – ela me chamou parada na porta.

Levantei-me e caminhei rapidamente até seu lado. Descemos as escadas da casa de vidro e todos estavam lá em baixo.

- Nós vamos caçar. Alguém quer vir conosco? – mamãe perguntou animada.


Jake se levantou do tapete entre as almofadas e veio em nossa direção. E ele deu um sorriso sincero e singelo que tocou meu coração – cada detalhe dele me afetava de uma maneira que palavras não conseguiriam descrever.

- Eu vou com vocês. – ele se colocou ao meu lado e me abraçou de lado, eu tombei de leve para o lado que ele me abraçava e me senti protegida.

- Nós caçamos ontem. – Alice respondeu sorrindo.

E todos concordaram com a cabeça. Acho que talvez ele estivesse me evitando, mas esse pensamento se foi quando saímos de casa.

- Uma corrida? – Jake parecia um pouco melhor do que antes.

- Claro. – mamãe respondeu competitiva.

- Até mais perdedores. – murmurei enquanto sai correndo. E eles vinham atrás de mim, mas eu era mais rápida. Sempre fui mais rápida.

Então comecei a procurar o cheiro de algum tipo de animal, talvez um alce, algum cervo, não sei ao certo. Mas quem sabe se eu procurasse bem eu poderia até encontrar um leão da montanha. O meu favorito, igual ao meu pai.

A minha dieta era a base de alguns alimentos humanos e alguns animais.

Quando eu era mais nova jurei a mim mesma que nunca beberia nem uma gota de sangue humano se quer, nunca. Porque Jacob era humano! E beber sangue humano, seria beber seu sangue, o que eu menos queria na minha vida. Além do mais, dentro de mim havia uma parte humana e eu não faria isso com a minha própria raça, era mais fácil pra mim, eu nunca havia sentido vontade de experimentar sangue humano, nem por curiosidade. Meu pai havia me contado como ele sofreu por causa disso, porém talvez por causa do meu gênese humano eu conseguia me controlar melhor ou às vezes nem ter esse desejo louco por sangue humano.

De repente eu havia encontrado uma presa. Mais pra cima da colina, bem pro meio da floresta. Um cervo. Ele era enorme, então me deixei levar pelos meus sentidos e fui atrás dele.

Corri o mais rápido que pude e tentei ser o mais silenciosa possível, meu pai sempre me dizia que eu era uma excelente caçadora. Eu era silenciosa e ágil. Nada poderia me deter... Somente quando eu ataquei o cervo ele se deu conta de
que eu estava o caçando e não pude me conter. Fui direto em seu pescoço e o mordi. Acho que nunca me senti tão 'selvagem'.

O gosto daquilo era mil vezes melhor do que um almoço humano e me satisfazia bem mais. O cervo teve uma morte limpa e silenciosa.

Então comecei a procurar mamãe e Jake, eu estava tão focada em me alimentar que havia me esquecido dos dois.

- Silenciosa como sempre. – mamãe pulou do galho de uma árvore até mim e a carcaça do animal morto.

Eu dei de ombros e limpei o canto dos meus lábios com as mãos.

- Cadê o Jake? – perguntei procurando-o.

- Um cervo a 2 km à trás de você.. Arrumaram uma pequena briga. – ela respondeu enquanto caminhávamos de volta para casa.

- Mas e você? – ela sabia sobre o que eu estava perguntando.

- Ontem me alimentei antes da viagem. – ela deu um sorrisinho de lado.

Ficamos em silêncio enquanto íamos até Jake. Eu não gostava daquele silêncio, não com a minha mãe.

- Por que o papai não volta logo? Foi só um sonho. – murmurei.

- Ele vai vir logo, querida. – mamãe me abraçou carinhosamente.

Jake estava indo até atrás de uma árvore para se transformar e eu e mamãe tampamos nossos olhos com as mãos e rimos baixinho.

- Podemos olhar agora? – perguntei abrindo um espaço entre os dedos para ver onde ele estava.

- Engraçadinhas. – ele zombou. E depois veio correndo ficar no meio de nós duas passando seu braço quente nos nossos pescoços. E rindo a toa.

Mamãe havia me contado que ela e Jake eram melhores amigos desde muito tempo e que pra ela ele sempre foi um irmão além de seu melhor amigo.

Eu bocejei e minha visão começou a ficar mais embaçada.

- Minha pequena está morrendo de sono. – Jake comentou dando um beijo na minha testa. Eu estava mesmo cansada, isso eu não podia negar.


De repente Jake se abaixou um pouco na minha frente e disse:

- Pule. – e eu não tinha forças para negar, pulei e me agarrei em seu pescoço.

O calor dele agora passava para mim e eu me soltei em suas costas.

Chegamos em casa rápido e ele me levou até o quarto. Eu estava
acordada, só estava cansada. Jacob me deitou na cama e eu tirei meu tênis. Então ele disse tirando alguns fios do meu cabelo do meu rosto:

- Você está bem? – eu confirmei com a cabeça.

- Está com sono? – neguei.

- Eu estou te enchendo o saco? – neguei novamente.

- Posso me deitar aqui? – então sorri.

Jake se deitou ao meu lado um pouco mais embaixo de mim, sua cabeça pousa no meu peito e agarrei meus pés aos deles – uma brincadeira nossa – e beijei seus cabelos negros.

Fechei meus olhos e não consegui dormir, fiquei ali pensando em tudo.

Fiquei alisando o braço de Jake e mexendo em seu cabelo. Ele gostava daquilo, e eu me sentia melhor sabendo que ele estava perto de mim, que ele era real... Que o outro Jake, o que nos meus sonhos dizia que não me amava não existia. Só nos meus pesadelos cotidianos.

Pensei também em papai. Onde ele estava? Ele estava bem? Por que ele não voltava logo? Por que ele tinha ido? Aquilo tinha sido só um pesadelo. Um terrível pesadelo.

Comecei a me lembrar da quase-luta que tivemos logo depois do meu nascimento, com os Volturi. Então mudei de pensamento... Aquelas imagens deveriam ficar no passado, naquele momento eu não estava precisando delas.

Eu ouvi o barulho da chuva caindo lá fora e me virei em direção à janela. Então notei que na sala todos estavam conversando, não, estavam murmurando. Continuei deitada na cama para tentar ouvir o que eles diziam. Fechei os olhos, tentei me manter calma e fiz o maior esforço para não mover nenhum músculo.

-... Aquele bebê de alguma maneira me lembrava Jake. – pude adivinhar que era mamãe quem estava falando.

- Eu... Estou... Tão frustrada! Não consigo ver nada. – Alice lamentou.

- Calma Alice. Talvez isso tenha sido só um sonho mesmo... – Esme
comentou.

- Nessie, tem muitos pesadelos... – Emmett reforçou o comentário de Esme.

- Não gente. Eu vi como ela acordou apavorada. Tem algo ali. – Rose disse.

- A única maneira sensata de descobrir a verdade agora é esperar. E que estejamos preparados para isso, se acontecer. – era a voz de Carlisle.

Eu estava um pouco receosa agora. Senti a respiração de Jake mudar um pouco. Ele parecia estar acordado.

Talvez eu devesse me sentir mais segura, pois apesar de tudo Jake estaria aqui pra me proteger, mas mesmo assim... Como eu queria poder sumir.


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