Wishing Star escrita por Camila Lacerda


Capítulo 10
Lembranças




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Quando acordei a chuva havia passado, o céu estava nublado como sempre e por incrível que pareça eu não sonhei com nada. Jake agora estava deitado - caído entre a cama e o tapete -. Não pude me conter e ri, um pouco alto demais.

Ele acordou sonolento e eu ri novamente. Jake me empurrou de brincadeira e eu tombei para trás, mas ele me pegou antes que eu caísse na outra extremidade da cama. Super protetor.

- Vamos, levante. – me levantei e fui até o banheiro lavar o rosto.

Foi então que eu me olhei no espelho e vi meus olhos cor de chocolate. A imagem do bebê foi a primeira coisa a vir na minha mente.

Então Jake apareceu atrás de mim e me abraçou por trás. Mesmo a
pessoa que eu mais amava me abraçando eu não conseguiu sorrir, nem fingir um sorriso. Eu me senti estranha, aquela criança. Quem era ela?

- Está tudo bem. – ele sussurrou no meu ouvido.

Olhei para o espelho e o vi sorrindo e eu consegui sorrir.

- Posso ter dez minutos de meio-humana? – perguntei rindo baixo.

- Claro. – ele me soltou e saiu do banheiro.

Tomei um banho rápido e tentei pensar em tudo menos no bebê.

Assim que sai do chuveiro, me troquei pegando a roupa que Alice
havia escolhido para mim. Parecia até que eu era um bebê que não sabia nem ao menos escolher minhas roupas, mas Alice escolhia melhor. Então deixei.

Desci as escadas correndo, eu não sei como mais eu pude sentir que meu pai havia voltado e eu não estava enganada.

Faltavam três degraus para acabar a escada. Eu pulei direto para os braços frios do meu pai gritando:

- Pai! – e ele me abraçou inalando o meu cheiro e eu o dele. Eu havia sentido muito a falta dele.

- Minha filha. Eu também senti sua falta. – ele apoiou o queixo na minha cabeça e eu continuei agarrada a ele.

“Por favor, não faça mais isso. Três anos já foram mais do que suficiente pra mim...”  respondi mentalmente.

Pois eu havia passado três anos da minha vida em 'colégio de vampiros' Droumonth School, na Itália. Um colégio de auto padrão, que ficava muito bem escondido dos humanos.

Foram os piores anos da minha vida. Eu me separei das pessoas que mais amava, mas eu tinha que pensar que isso era para meu bem, e
para o bem de toda a minha volta, tantos humanos como as criaturas místicas.

Meus pais haviam me colocado lá depois de dois anos convivendo
somente em casa, eles pensavam que eu era um pouco perigosa demais por eu ser “mestiça”, na verdade eles nunca disseram isso, porém eu sabia que era por isso.

E não sabiam o que podia se esperar de mim. Honestamente eu era uma aberração e ainda sou.

Eu nunca me encaixei na minha família, pois todos eram lindos e já eu nem tanto assim, agora, imagina eu em um colégio cheio de pessoas lindas. Eu com certeza também não iria me encaixar.

Não posso dizer que era uma escola como as dos humanos, mas também por que seria? Nós não éramos humanos mesmo.

Naquela escola eu aprendi a controlar minha força, minhas habilidades e minhas emoções para que eu pudesse conviver entre os humanos como uma pessoal “normal” e até um pouco sobre a História da Evolução dos Vampiros.

Na minha classe havia somente eu e mais quatro alunos, duas
meninas e dois meninos. Eles tinham habilidades, mas nem todos tinham dons como o meu, ou o de mamãe, ou de papai, muito menos de Alice, nem o de Jasper.

Eu me lembro de John Boblet, uma vez ele conseguiu destruir a sala de tecnologia – onde nós podíamos ver televisão, mexer no computador, e muitas outras coisas, tudo com a tecnologia – pois ele ficou com raiva porque havia perdido um jogo no vídeo-game e apenas com a força do pensamento destruiu tudo. Foi bem horrível.

Esforcei-me o máximo que pude, eu não gostava das pessoas daquela escola. Eles poderiam ser lindos como anjos, só não gostavam de
mim; eles diziam que eu era um monstro. Eles tinham medo, alguns tinham nojo, outros até ódio de mim.

Os meus colegas de turma sempre tentavam me meter em alguma bagunça para que eu levasse bronca da nossa professora... Mas meu intelecto era superior. De verdade, eu pensava que quando você é um vampiro, você é mais inteligente. Sei lá mais rápido, mais intuitivo, mais observador, mais detalhista, mas me enganei em relação a eles.

Eu não gostava deles, nem eles de mim, era simples assim.

Todos tinham o sonho de acabar a escola e irem trabalhar com os Volturi. Eu queria ir para casa. Pouco me importava sobre os Volturi. Eu entia falta de meu Jake, da minha família, muita falta de cada um deles.

Jake nunca pode ir ao colégio me ver... A não ser que ele quisesse morrer, um destino que eu não suportava nem pensar pra ele.

Ninguém daquele colégio era “vegetariano” como a minha família e eu. Isso fez com que eu testasse meus limites e me saí muito bem. Nunca bebei nenhuma gota de sangue sequer.

Aquela escola era como uma prisão. E eu fiquei tão feliz quando tudo acabou.

Na noite anterior a minha saída de escola, recebi uma carta, um pedido do próprio Aro Volturi para me juntar a eles. Eu simplesmente queimei-a sem ninguém saber. E mesmo depois que eu voltei para a minha família eu nunca havia comentado nada, nunca, com ninguém.

Todos da minha família haviam me contado tudo sobre os Volturi antes da minha ida à escola. E eu percebi na hora o tipo manipulador que eles eram.

Felizmente esse pesadelo acabou e eu voltei para casa e comecei a viver como uma pessoa “normal”.

- Não precisa mais se preocupar. Está tudo bem... E falando nisso um ótimo dia pra você. – papai sorriu parecendo vitorioso e me soltou e eu fiz o mesmo.

Revirei os olhos, sabia que não adiantava eu persistir na promessa, pois ele sempre achava uma saída. Mamãe dizia que eu havia puxado isso dele.

- Bom dia, querida. – Esme parou na minha frente.

- Bom dia. – a abracei.

- Nós vamos chegar atrasados se a atrasadinha não for toma café da manhã logo. – Emmett zombou de mim.

- To indo. – respondi me virando em direção à cozinha – E bom dia pra todos.

- Bom dia – eu pude ouvir o coral.

Corri até a cozinha e vi a caixa de cereal. Meus favoritos. Quando eu ia me sentar na bancada depois de ter pegado tudo para o meu delicioso café da manhã, Jake apareceu como um borrão passando atrás de mim.

Não dei importância, então quando eu ia me sentar pressenti que o banco não estava mais lá. E estiquei a mão para trás, e percebi que eu estava certa.

- Jake. – eu o chamei zangada. E senti a rigidez do meu pai na sala. Ele não devia ter gostado dessa brincadeira assim como eu.

- Eu queria ver se você tivesse caído. – ele respondeu me devolvendo o banco.

- Só por causa disso vai ficar sem café da manhã. – respondi.

- Nessie, foi brincadeira. Não fica zangada. – ele disse todo
meloso.

Respirei fundo e revirei os olhos. Eu cedia tão fácil...

- Se eu tivesse caído... Eu te mataria. – tentei dizer em um tom de ameaça, mas eu não teria nunca coragem de machucar Jake.

Por que eu sempre cedia as coisas pra ele? Eu tinha que ser mais dura com ele, mas não conseguia. Era impossível.

- Prometo. – ele beijou meu cabelo. Papai vez uma barulho estranho entre os dentes.

Sentei-me e comi tranquilamente. Jake se sentou na minha frente e ficou fazendo caretas ao comer o cereal. Ele queria que eu não ficasse brava com ele, o que era possível só por alguns segundos.

- Que nojo, Jake. – eu o censurei com uma risadinha.

- O que você disse? – ele perguntou mastigando o cereal e fazendo com que eles voassem para todo o lado.

Tampei meus olhos com uma das mãos, virei pro lado para não ser atingida e comecei a rir.

- Hã? O que foi? Não ouvi. – ele fazia os mesmos movimentos.

- Jake pare com isso... – tentei dizer enquanto ria.

- Jacob. Esme não gosta de sujeira na cozinha dela. – papai reclamou da sala.

Eu e Jake engolimos seco.

- Tudo bem queridos. Só depois arrumem a bagunça. – Esme respondeu carinhosamente. E vi papai cerrar os dentes.

Acabei de tomar o meu café e fui lavar a lousa.

- Não. Hoje é minha vez. – Jake disse me empurrando para o lado.

Levantei minhas mãos para o alto me virei e fui arrumar a mesa.

Será que meu pai não iria brigar comigo pelas minhas ações na escola? Mamãe não havia dito nada pra mim, mas ele com certeza diria.

- Nessie. – ele me chamou. Por que eu não bloqueie meu pensamento? Droga. Eu tinha esquecido!

“To indo” - respondi mentalmente. Olhei pra Jake em busca de um refugio e ele sorriu só que eu fiz uma careta assustada e ele riu.

Caminhei até a sala e vi que ele estava na outra sala, onde tinha o nosso piano. Nosso, pois não era só papai quem tocava, eu sabia tocar.

Ele estava começando a tocar a canção de Esme, como ele costumava fazer... Sentei-me ao seu lado e o fiz mudar de canção. Para a nossa canção. Que nós havíamos composto há quatro anos.

A nossa canção não era calma como a que papai havia feito para Esme, nem tão apaixonada como ele tinha feito pra mamãe. A nossa era mais alegre, mais ousada e nem tão tranquila. Era quase dançante.

Sorri para ele e ele pra mim. Sim, estava tudo bem de novo.

- Não pense que só com uma canção você pode tentar fugir de mim... – meus planos havia ido por água a baixo.

- Mas eu nem tinha pensando nisso. – menti descaradamente.

- O leitor de mente que eu saiba dessa casa aqui sou eu. – ele me encarou.

Esperei um longo minuto antes de me justificar.

- Mas pai, ela quase se feriu e feio! – parei bruscamente a música.

- Mesmo assim... – ele tentou argumentar.

- O que você fez mesmo pela mamãe? – contra ataquei – Ah é! Você não a deixou ser esmagada... Então não venha me dizer que acidentes acontecem porque se você não tivesse a salvado eu estaria aqui hoje. – talvez eu estivesse sido um pouco dura, mas essa era a verdade e ele não podia negar.

- Isso é outra coisa, Nessie... – eu o interrompi novamente.

- Não pai. Ela é minha amiga. Tudo bem, eu não a conheço tão bem assim, mas eu impedi da Lisa virar uma assassina e de Lucy se ferir – eu voltei a respirar e continuei - Eu não ia deixar ela se ferir se eu poderia impedir. Eu nunca vou deixar ninguém se ferir se eu pude fazer algo. – suspirei.

- Nessie, você não é uma super heroína – ele fitou o chão – Mas não adianta discutir com você.

- Eu não estou tentando ser uma heroína, pai. Só quero agir certo. Você sabe que eu tenho razão. Só fui um pouco descuidada por fazer aquilo na frente de toda a sala, mas ninguém nem viu nada e eu nem usei minha força só pouquíssimo na minha agilidade.

- Por isso Nessie. Você poderia ter nos exposto. – ele avisou.

- Ninguém percebeu. – eu expliquei.

- Mas vão começar a desconfiar.

- Eles já desconfiam de algo! – exaltei um pouco a voz. E papai ficou sem entender, porém ele sabia que todos já desconfiavam de algo.

Eu deveria ter pensado nas minhas palavras mil vezes antes de dizer:

- Vocês são muito anti-sociais, ficam todos presos em uma bolha! Eles acham que vocês têm problemas! E você vem falar que eu posso expor a todos nós?! Por favor, pai. – cuspi as últimas palavras.

Sai batendo o pé de tanta indignação. Eles eram o problema e eu podia comprometer a todos? Sai bufando da sala, corri para o meu quarto e peguei minha mochila.

Puxei-a de uma vez de dentro do armário e meus patins caíram. Pronto, eu iria pra escola de patins, mas não iria com eles. Coloquei meu all star dentro da mochila, olhei meu despertador que mostrava que eu só tinha vinte minutos para chegar à escola.

Desci as escadas de meia e carregando meus patins em uma das mãos, passei sem olhar para os lados eu não queria ver suas expressões. Eles deveriam ter me ouvido, aliás, quem não tinha ouvido meus berros?

Sai de casa e Jake estava na varanda e perguntou:

- Não quer uma carona? – ele parecia preocupado.

- Não, obrigada. – respondi secamente enquanto me sentava na varanda para colocar meus patins, eu não queria correr até a escola.

“Não desconte sua raiva em Jake, ele não tem nada a ver com isso...”

- Tem certeza? – ele se sentou ao meu lado.

- Eu estou bem, só preciso ficar sozinha. – suspirei – Vá me buscar na saída e leve seus músculos com você, a professora vai precisar. – sorri.

Desci a rua correndo e o vi até a esquina. Ele acenou e eu também.

Nós vivíamos mais perto da mata do que da cidade, então corri pelas descidas que levavam até a cidade. A floresta toda ficava para trás enquanto eu mergulhava nos meus pensamentos.

Eu sei que tinha sido muito rude ao dizer aquelas palavras daquela maneira para o meu pai. Ele era uma das pessoas que eu mais amava nesse mundo, mas eu estava estressada. Ele também tinha que entender o meu lado.

O tempo parecia se fechar enquanto eu corria pelas ruas da cidade atrás da escola. Foi até fácil. Eu estava andando na calçada a procura da escola quando simplesmente vi um ônibus escolar e o segui até a escola e assim aprendi o caminho. A escola era perto. Ainda bem.

Chegando a escola e vi que nenhum dos meus familiares havia chegado, sentei-me na escada e tirei meu all star da bolsa e os calcei após tirar meus patins.

Guardei-os na mochila e entrei na escola, mas antes respirei profunda mente, fiz um pensamento positivo – não que adiantasse muito coisa, mas... - e fui. Passei pelo corredor principal – eu ainda não havia me acostumado com todos aqueles olhares – continuei caminhando tentando esquecer aquele burburinho.

Coloquei minha mochila na minha frente e a abri para pegar o meu horário. Estava um bagunça lá dentro, mas pelo menos encontrei minha caderneta. Primeira aula: Inglês.

- Oi Ree. – eu reconheci aquela voz. Brian.

Olhei para a direção que a voz vinha - que era do meu lado - e sorri dizendo:

- Oi Brian. – Joguei minha mochila para trás e comecei a andar com ele.

- Tudo bem? – ele mudou a posição dos livros em suas mãos.

- Tudo e com você? – ainda o fitava.

- Bem... Eu to bem. – ele parecia meio incerto de sua resposta.

- Tem certeza? – o encarei.

- Ta, eu não estou bem. – ele teve de admitir.

- Conversou com a sua namorada? – andamos até chegar ao meu armário.

- Na verdade eu não consigo. – ele encostou-se ao armário e suspirou

- Não consegue? – peguei meu livro e fechei o armário para encará-lo.

- É. Ela faz o charme dela... E você sabe. – ele me observou.

- Bem, você tem que se decidir. – opinei.

- Eu vou tentar. – ele prometeu em vão.

- Ou, ou. Eu não estou te cobrando nada. Faça o que você acha que é certo – avisei. Já pensou se alguém escuta e acha que eu estou fazendo a cabeça de Brian pra terminar com a Polly. Ela me mataria.

- Eu sei. – ele fitou o chão.

- Oi Ree – Lucy me cumprimentou – Oi, Brian?! – ela disse assustada.

- Oi. – ele respondeu tristonho.

- Brian – fui ate ele e coloquei minha mão em seu ombro – Você tem que pensar bem se você quer isso... Você parece gostar dela mesmo.

- Não, Ree. Eu não gosto dela... Só uma coisa... Carnal. – ele me fitou – Eu quero gostar de alguém pelo o que esta tem aqui dentro. – ele colocou a mão no coração.

Isso me pareceu bem estranho, Brian todo romântico? Ele não parecia ser o tipo de cara que se apaixona pra valer. Só quando estivesse tentando enganar alguma garotinha indefesa.

- Pensa bem. – dei meu último aviso.

Então a rainha da escola passou – me fuzilou com o olhar – e levou
Brian. Quando me virei para o meu armário vi Lucy me encarar meu
assustada, meio curiosa.

- Desde quando você é conselheira amorosa de Brian Nichols? – ela parecia bem surpresa e eu também, pois havia me esquecido que ela estava ali.

- Desde ontem. – fui sincera.

- Vai me contar tudo. – ela ordenou.

- Você não vai querer saber. – avisei.

- Eu preciso saber. Vamos. - ela saiu me puxando pelo corredor.


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