“Outra carruagem sem cavalos... parece que tudo realmente mudou...” a moça pensou olhando tudo pela janela. A paisagem ao redor daquela casa mudou. Várias casas antigas e conhecidas foram sendo derrubadas uma a uma e deram lugar a casas menores e mais modernas. E não foram somente as casas da vizinhança que mudaram. Também as pessoas, veículos e até a própria atmosfera do local mudou. Tudo exceto pela sua velha casa, o único local familiar que ela tinha.

Era um bom lugar, apesar de abandonado. Sossegado, tranqüilo... mas qual foi a última vez que ela recebeu visitas? Foi fácil lembrar, até que tinha sido uma noite agradável e divertida, tirando o final péssimo. No fim das contas, aquele não era o seu amado. Que frustração!

Depois disso, mais nenhuma alma viva ousou colocar os pés ali novamente. E sua espera estava ficando cada vez mais difícil e tediosa. Os dias e as noites se arrastavam como um rio lamacento, de forma lenta e morosa. E nada dele aparecer.

– Bianca.

Ela virou-se rapidamente e sua fisionomia se contraiu ao ver quem estava dentro da sua sala.

– Você! O que quer aqui?
– Vim te levar para um lugar melhor. Acho que você já passou tempo demais aqui na terra. Hora de seguir em frente.
– Me deixe em paz!
– Pára com isso, menina. Eu só quero ajudar!
– Ajudar? Por acaso você estava me ajudando ao tirar minha vida quando eu ainda estava na flor da idade?
– Não tive como evitar. Seu corpo estava muito debilitado, sua vontade de viver tinha acabado e eu não tive outra opção senão fazer meu trabalho.
– Não quero ouvir desculpas, quero que me deixe aqui! Ele ainda não voltou!
– E nem vai voltar. Eu já te falei centenas de vezes que ele...
– Cala a boca! Também não quero ouvir suas mentiras, vai embora e me deixe em paz!
– Bianca, por favor! Você não precisa continuar sofrendo dessa forma!
– SAIA DA MINHA CASA AGORA!

D. Morte não teve outra opção senão sair dali. Não que aquela moça pudesse lhe fazer algum mal ou coisa parecida, claro que não. Só lhe pareceu que aquela pobre alma ainda não tinha encontrado seu caminho. Que coisa mais triste!

Bianca voltou a olhar para a janela, ainda muito frustrada com aquela visita. Por que aquela mulher irritante não a deixava em paz? Se ele ao menos aparecesse, tudo ficaria melhor. Por que ele estava demorando tanto?

– Onde você está querido? Por que não voltou ainda? Se ao menos eu soubesse onde você está...

Algo lhe ocorreu. E se ele estivesse perdido, preso ou sem condições para lhe procurar? Ela nunca tinha pensado nessa possibilidade antes e aquilo começou a fazer sentido. Ele não ia procurá-la porque não podia. Sendo assim, cabia a ela ir atrás dele.

– Então é por isso que ele não vem até a mim... ah, meu querido! Você deve estar tão aflito! Pobrezinho!

Tudo parecia estar claro em sua mente perturbada. Seu amado estava preso em algum lugar, impossibilitado de encontrá-la. Mas onde? Ela não sabia e aquilo complicava tudo. O mundo era grande e Bianca não fazia a menor idéia de onde começar a procurar.

A única coisa que ela sabia era que ele precisou ir até a cidade vizinha para resolver alguns negócios pendentes. Qual cidade? Depois de tantos anos, era bem provável que outras cidades tivessem surgido e ela não tinha como saber em qual delas procurar.

– Droga... eu tenho que pensar em alguma coisa...

Algumas pessoas passando pela rua lhe chamaram a atenção. Era só um grupo de adolescentes. Tão jovens e despreocupados... aquilo lhe deu um pouco de inveja. Ela também fora assim um dia.