Sentada na cama, segurava a carta que ele me escreveu. Simples e direta: “Vá ao baile comigo”. O que eu, Yuuki Cross, tinha de especial? E por que uma pessoa tão perfeita como Kaname-Sama havia me escolhido?Não imaginava os motivos, mas era fato que eu estava usando o belo vestido branco que ele me deu e havia lido a sua carta umas cinqüenta vezes. Era fato também que há tempos ele aparecia em meus sonhos, em meus desejos. Há tempos que eu o observava da sala de aula, esperando ser correspondida. Há tempos que eu devia tudo o que sou aquele vampiro, que há dez anos salvou meu corpo e roubou meu coração. E hoje ele iria ao baile de inverno comigo.

Estava nevando bastante naquela noite, o que era estranho, pois nessa região não costumava nevar. Fiquei agradecida pelo vestido ter mangas, mas ansiava pelos braços de Kaname-Sama a me aquecer. Ao mesmo tempo, me sentia tola por desejar isso. No máximo, estava tentando ser gentil. Me encaminhei até o Salão Principal, hoje iluminado pelos lustres e repleto de flores brancas a adorna-lo, que era o local que ocorreria o baile. Foi então que eu o vi.

Como tantos outros, usava um terno preto e uma rosa ao peito. Mas sou sincera ao dizer que nenhum rapaz do local se comparava a sua beleza: os cabelos negros caiam-lhe pelos ombros, seus olhos vinhos como um labirinto para a perdição e seus lábios, entreabertos. Irresistível. Descia as escadas, aproximando-se de mim demoradamente.

- Yuuki. – Chamou-me, sua fria e gentil mão acariciando-me a face. Abaixou sua cabeça com cuidado e depositou um suave beijo na minha testa. Estremeci.

- Ka-Kaname-Sempai! – Respondi um tempo depois, ainda assustada e admirada com o beijo recebido. Ele sorriu, jogando a cabeça pro lado e me olhando com a mesma expressão solitária e amável de sempre.

- Fico feliz que tenha aceitado ir ao baile comigo, Yuuki. E fico feliz por estar usando o vestido.

- O-Obrigada Kaname-Sempai! – Apressei-me em agradecer, e então o ouvi dizer:

- Você está linda.

Pronto. De cabeça baixa, senti minha face corar rapidamente. Por que ele estava sendo tão gentil? Não conseguia entende-lo. Mas estava feliz.

- Hum....Suponho que você queira dançar, não? – Perguntou ele enquanto retirava uma rosa vermelha do seu vaso e colocando em seu bolso em seguida.

- Na verdade eu... – Comecei, mas fui interrompida por ele:

- Os estudantes, compreendo. Pois pretendia te levar a um lugar especial, Yuuki. Creio que se lembrará dele.

Pegando-me pelo braço, Kaname-Sama guiou-me para fora da pista de dança e enfim, para fora do Salão Principal. Caminhamos pelos corredores e quando percebi, estávamos numa grande sala. O aposento era espaçoso, tinha antigas janelas a mostrar a neve e suas paredes eram cobertas por grandes espelhos, de molduras douradas. Havia um lustre no teto também, e vasos com rosas vermelhas nos cantos. Um monte de Kanames e Yuukis nos observavam daquelas superfícies geladas. Vagamente, comecei a reconhecer aquele lugar...

- Lembra-se dessa sala? – Ele perguntou sorrindo. – Era aqui que costumávamos dançar quando menores.

Recordei-me. Em minha cabeça, começaram a passar pequenas lembranças...Eu com seis anos, dançando em cima de seus pés...Tentando segurar seu ombro enquanto valsávamos...Coisas simples de uma época em que ainda se encontrava inocência em um sorriso. Um sorriso que na hora, apresentava-se na face de Kaname, não apresentando inocência, mas eloqüente paixão.

- E então Yuuki, concede-me o prazer desta dança?

Não precisei responder. Em poucos minutos, estávamos frente a frente, dançando na Sala dos Espelhos. Por onde olhava, encontrava refletido um casal a dançar, a mão de Kaname firmemente na minha cintura e seu olhar procurando o meu. Não conseguia corresponder, deixando apenas guiar-me pelos seus movimentos.

- Você não está falando muito, Yuuki. Fico-me perguntando se é isto que você realmente quer. – Disse ele, agora com um tom triste na sua voz.

- Mas é claro que quero, Kaname-Sama! Para mim é uma honra dançar com você! – Respondi irritadiça e chocada, mas ainda assim preocupada com o pensamento deste.

- Honra sim, mas seria um prazer?

- Seria... – Hesitei, olhando para baixo. Seus longos dedos tocaram de forma suave no meu queixo e levemente ergui a cabeça. Kaname-Sama olhou para mim e com a voz incrivelmente aveludada e sedutora replicou:

- Então demonstre.

A música havia ficado mais ousada, e imediatamente os movimentos também. Encaixava minha perna na de Kaname, girávamos e enfim percebi: dançávamos tango. Apesar da rapidez da dança, ficamos um bom tempo a dançar, eu concentrada em não perder o passo, ele olhando docemente para os meus olhos. Mesmo sendo distraída por natureza, me senti realmente confiante com as mãos de Kaname a me tocar. Ele fez com que eu rodopiasse suavemente e caísse em seus braços. Como era confortável os braços dele!

- Yuuki...- Chamou ele, ainda me segurando, inclinando levemente a cabeça para poder olhar nos meus olhos. Eu só sabia o contemplar, admirada. – Sou deploravelmente frio e manipulador às vezes, e com esta máscara ainda não consegui demonstrar meus sentimentos por você.

- Do que está falando Kaname-Sempai? Você é uma pessoa...perfei

- Yuuki eu amo você. – Interrompeu Kaname-Sama. Ao mesmo momento em que a neve veio com mais força lá fora, o tempo para mim congelou. Retirando a rosa de seu bolso, depositou com calma no meu cabelo. Não consegui acreditar no que ouvia. Era um sonho. Só podia ser. Ele não podia me amar.

Mas me amava. E no fundo eu sabia disso. Nossos corações batiam com força e em mesmo ritmo, como se fosse um. E desejávamos isso. Dava para ver no seu olhar que aquele momento foi ansiado por muito tempo, assim como eu ansiei por isso. Pensava em todas as situações vividas ao seu lado, e como ele sempre me deixou feliz e admirada. Pensava que era graças a ele que eu estava viva. E mesmo naquela hora, quando já estava desistindo do seu amor, ele me devolvia a vida, quando sem que eu falasse nada, sem que eu conseguisse explicar o que sentia, encostou seus lábios nos meus, e me vi envolvida num doce e apaixonado beijo.

- Yuuki, você me ama também? Você...Passaria a eternidade comigo? – Perguntou ele ansioso, quase suplicante. Mas divino. Como eu o amava!

- S-Sim...- Respondi temerosa e ansiosa ao mesmo tempo. Kaname...Um vampiro...Eu desistiria da minha vida humana para passar todos os meus dias ao seu lado. Desistiria da minha mortalidade para amá-lo para todo e sempre...Valeria a pena? Sim. – Mas...Kaname... - Era a primeira vez que o chamava apenas pelo nome. – Por que...Eu?

- Porque, Yuuki. – Começou ele – Porque você é a razão da minha vida.

Enquanto nevava nos terrenos, na sala estava assombrosamente quente. Ele retirava as mechas castanhas de cabelo do meu pescoço, e desceu sua cabeça, cravando seus dentes nele e me fazendo sangrar. O que contemplava-se como uma cena assustadora apresentava-se para mim como o momento mais feliz da minha vida. Kaname-Sama me amava e passaria a eternidade comigo. Eu sorria, mesmo sabendo que aquela mordida era o final da minha existência humana, pois tinha certeza que ele faria valer à pena. Sangue escorria pelo meu pescoço e pelos delicados lábios de Kaname-Sama. Aos espelhos, só restava imitar.