No dia seguinte, fiquei enrolando na cama eu não queria ir para escola e ter que encarar todo mundo. Ainda mais hoje, que eu tinha uma aula com o Kaique e ele se sentava ao meu lado. Fiz todas as minhas coisas bem lentamente, fazendo com que assim, minha mãe ficasse me apressando de cinco em cinco minutos. Quando cheguei à escola, a professora Helen me chamou pra conversar. E eu fui correndo, porque assim seria um jeito de evitar pelo menos por alguns minutos, que eu não queria encontrar.

- Então, Isabella – Ele começou – Sabe que uma integrante da banda se machucou, não sabe?

Eu fiz que sim com cabeça.
Ela ensaiava a banda que torcia nos jogos da escola. Eles ficavam lá na arquibancada, a maioria eram os nerds. Era a única atividade alternativa que eles conseguiam participar na escola, e pra cada jogo que animam, ganhavam um ponto em cada matéria. Eu já havia pensado em participar, cheguei até a conhecer as músicas, mas eu não queria se zoada ainda mais.

- Isabella, nós precisamos de alguém pra substituir. 

- Ai Helen, é que...

- É só um jogo. – Ela interrompeu sorrindo.

- Tudo bem. – Eu disse desanimada.

- Pense, depois você ainda vai ganhar um ponto nas matérias. – Ela disse se levantando – Os ensaios são depois das aulas.

Depois fui me arrastando para a aula. Quando entrei, Kaique já estava lá sentado. Eu não olhei pra ele enquanto andava, me sentei e fiquei olhando pela janela. 

- Bella? – Ela me chamou e eu ignorei – Olha, eu lamento pelo que aconteceu ontem, eu devia ter feito alguma coisas, mas...

Eu me virei pra ele e balancei a cabeça negativamente.

- Devia ter feito sim, mas não fez. É melhor não dizer nada – Falei fria. O professor entrou na sala e começou a dar matéria.

- Não devia ficar tão chateada com isso. Afinal, não fui eu quem brigou com você.

Eu lancei um olhar mortal pra ele.

- Que se dane quem brigou! – Falei irritada – Pensei que fôssemos amigos, e por isso, você não iria ficar parado lá ouvindo ela me insultar daquele jeito.

Ele me olhou sem expressão. A aula passou sem nem ele e nem eu dizermos uma palavra. Quando o sinal bateu, peguei minha mochila rapidamente e me levantei.

- Isabella – Ele parou na minha frente sério – Me perdoa, eu sinto muito. Fui um idiota, eu sei. Mas eu preciso ficar bem com você, preciso da sua amizade. Não é fácil lidar com a Nicolly, mas eu... Eu gosto dela.

A última frase fez meu coração ficar pequenininho e eu fiz muito - muito - esforço pra impedir as lágrimas. 
Se eu ainda tinha alguma dúvida sobre os sentimentos dele por ela, agora já não tinha mais.

Eu respirei fundo.

- Sinto muito se atrapalhei vocês – Disse num fio de voz , sinceramente, não conseguia mais ficar irritada com o que aconteceu. – Mas, a culpa não foi sua, e eu estou sendo irracional mesmo em dizer que você devia ter ficado do meu lado em vez da sua namorada. 

- O que ela fez, não foi legal, mas eu conversei com ela depois. Ela disse que vai parar com aquelas coisas.

- Ta bom – Eu ri debochada, ele não conhecia mesmo aquela cobra – Olha, faz o seguinte, Kaique. Quando a Nicolly deixar de ser tão ridícula como ela é, me avise. Aí eu vou poder saber quando é o dia de São nunca.

- Ela só é um pouco mimada...

- Só? Mimada é uma palavra resumida de Metida, arrogante e sebosa?

Ele riu.

- Ta bom, já entendi. Você não gosta dela e ponto. 


- Não gosto do jeito dela – Corrigi. O outro sinal bateu – Tenho que ir pra outra aula.

Eu já estava na porta quando ele me chamou novamente.

- Estamos bem? 

Eu fitei o chão, pensando e o olhei de novo. Mas não respondi e segui pra outra sala. 
Mesmo sorrindo para alguns, por dentro eu me segurava pra não chorar. Eu ainda estava chateada. Bem no fundo, eu estava mais triste ainda por ele ter dito que gosta dela mesmo. Aquilo me magoou muito. Eu não estava com cabeça pra pensar. 
Depois das aulas fui pro ensaio, até seria bom. O ensaio seria um jeito de esquecer essas coisas. 
Quando cheguei, todos já estavam. O sala era bem grande e havia instrumentos por todos os lados. A professora Helen anunciou que eu participaria e todos eles foram bem simpáticos.

Depois do ensaio eu fui pra casa, lembrei que devia uma visita a Mandy, mas não ir à casa do Kaique era uma coisa sem cogitação. Então liguei pra ela pedindo que viesse aqui.

- Oi – Sorri enquanto ela entrava no quarto.

- Hey, Sumida – Ela se sentou na minha cama – somos mesmo vizinhas?
Eu ri.

- Desculpe por não aparecer por lá... 

- Kaique disse que vocês não estão se falando. O que aconteceu?
Eu expliquei pra ela tudo o que aconteceu, desde o início. Daí, não parei mais, desabafei como se ela fosse um diário. 

- Nossa, que barra – Ela disse em um tom baixo – Mas, você não vai desculpar ele?

- Não é tanto a questão de não desculpar sabe... Acho que, se eu me afastar um tempo dele, talvez eu consiga esquecê-lo. 

- Se você olhar pela janela, ele vai estar lá – Ela brincou.

- Se eu manter a cortina fechada, não vou vê-lo. 

- Tem certeza de que é isso que você que?

Eu me levantei da cama e fui até a janela. Observei dentro do quarto dele, as coleções de bonecos e os troféus que ganhou jogando no time da escola. Eu estava aqui, sofrendo, e talvez agora, ele esta se divertindo por aí.

- É isso que eu preciso fazer – Falei fechando a cortina - Essa é umas das coisas que você deve agir com a cabeça e não com o coração.

Eu sabia que não iria ser fácil esquecer o Kaique. Mas isso era uma coisa que eu já devia ter tentado há tempos. Continuar alimentando esse sentimento não era uma coisa boa.

Mandy tombou a cabeça pra trás respirando fundo, depois deu um sorriso breve.

- Mas tudo isso porque ele não fez nada sobre os insultos da Nicolly?

- Não só por isso – Falei enquanto voltava a me sentar de frente pra ela – Ele me disse que não era fácil lidar com a Nicolly, e – Fiz uma pausa, não era fácil lembrar-me das palavras dele – Ele me disse que gosta dela... Gosta dela mesmo.

- Ele disse isso? – Mandy sacudiu a cabeça, abismada.

- Sim.

- Então foi depois disso que você resolveu que iria tentar esquecê-lo?
Eu assenti.

- Em vez disso, porque você não o conquista? 

Eu olhei pra ela com uma sobrancelha erguida.

- Ta me zoando? – Perguntei com uma risada.

- Eu to falando sério, se você quisesse, conseguiria. A gente pode ir ao shopping, chama a Julieta e você muda o visual, só pra começar.

Ela olhou em volta como se procurasse por alguma coisa. Em seguida se levantou e foi até a pequena mesa lilás no canto do quarto. 
Pegou a caixinha que eu coloca as lentes de contado - que eu nunca usava - Ela retirou os óculos do meu rosto e os colocou sobre a cama. Depois abriu a caixa e me fitou com um sorriso.

- Já se viu sem esses óculos? Você fica linda, Bella. Coloque as lentes e se esqueça deles.

Eu peguei as lentes e coloquei.

- Isso... incomoda... muito – Falei enquanto piscava sem parar – Prefiro os meus óculos.

Quando fui pegar os óculos em cima da cama, ela foi mais rápida.

- Pelo menos tente – Falou autoritária.

- Não importa Mandy. Seu irmão gosta da Nicolly. E mesmo não eu gostando dela, não posso dizer que ela não é bonita.

- Quem foi que me disse uma vez que ‘’ antes de você querer que alguém goste de você, o mais importante é você gosta de si mesma’’ ?

- E o que aconteceu com a frase anterior, ‘’não mude pra agradar ninguém, as pessoas devem gostar de você do jeito que você é’’ ?

Mandy riu e revirou os olhos. 

- A Nicolly estraga toda a beleza dela, com o que ela é por dentro. Por favor, Isabella, confie que você pode ficar ainda mais linda, e deixar a Nicolly , o Kaique e todos de boca aberta com toda beleza que você tem aí escondida. – Ela colocou as mãos sobre as minhas – Promete que vai pensar sobre isso?

Às vezes eu ficava chocada com ela, apesar da idade, ela era muito madura.

- Tenho outra opção? 

Ela balançou a cabeça negativamente e nós rimos.

- Então tá – Suspirei – Irei pensar sim.

- Espero que você não continue sendo boba e aceite – Ela riu – Agora tenho que ir, a gente se vê depois.

Eu assenti e a acompanhei até a porta.

- Obrigada – Falei a abraçando, ela fez o mesmo.

- Pode contar comigo, Bella. Sabe que eu te considero como uma irmã, não é?. 

- Eu também, Mandy - Eu sorri afagando sua bochecha.