POV. Camilla Albuquerque.

Infelizmente, eu tive um sono muito leve na noite anterior ao jogo contra a Orbis. O que significa que quando eu acordei às 6:00 da manhã, não consegui mais dormir. Ainda faltavam duas horas para o jogo, mas nada me faria dormir outra vez.

Bufei aborrecida e me levantei. As meninas dormiam tranquilamente e nem se mexeram quando eu segui para o banheiro. Tomei um banho rápido, coloquei uma roupa simples e saí do dormitório. A sala comunal estava deserta, obviamente. Eu saí do castelo e fui andar na praia. Claro que eu sabia o porquê de não conseguir dormir: O ataque de ontem me preocupava. E muito.

Passei uns dez minutos caminhando e pensando. Resolvi me sentar um pouco. Os pensamentos preocupados ainda rondavam a minha mente quando, algum tempo depois, a sombra de alguém bloqueou o sol que batia em mim.

-O que está fazendo aqui? - Perguntei surpresa.

-Não consegui dormir. - Respondeu Nick, se sentando ao meu lado.

-Entendo. - Murmurei, voltando a olhar o mar.

-E você, está fazendo o que aqui? Não deveria estar se arrumando com as suas amigas? - Ele perguntou, me olhando. Voltei a encará-lo e por um segundo, me perdi em seus olhos castanhos que ficaram muito mais bonitos com o sol refletindo neles.

-Elas ainda devem estar dormindo, e eu também não consegui dormir. - Respondi, dando de ombros.

-Ansiosa com o jogo? - Ele arriscou.

-É... - Falei vagamente. Não queria encher o garoto com as minhas preocupações.

Ficamos em silêncio um minuto. Ok, eu admito que... Estou meio nevosa por estar sozinha com ele depois do nosso beijo ontem. Não que eu me arrependa, porque afinal de contas eu queria isso há muito tempo, e foi perfeito, mas nós não conversamos sobre isso, então...

-Milla. - Ele me chamou e eu o encarei novamente. - Me conta o que está te preocupando.

Ok... Fiquei bem surpresa com essa; como ele pode me conhecer tão bem?!

-Não quero te incomodar com as minhas preocupações bestas. – Respondi, envergonhada.

-Você nunca me incomoda. - Ele me lançou um sorriso doce e colocou uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha. - Me conta...?

-Ok. - Disse, corando. - Eu estou preocupada com aquele ataque de ontem. Quer dizer, qual foi o propósito daquilo?

-Eu não sei Milla. Ao que me pareceu, eles estavam tentando nos intimidar ou coisa parecida. - Ele respondeu, ficando sério. - Mesmo assim foi estranho.

-É... Eu sei. - Dei um profundo suspiro. - Também estou me sentindo péssima por não ter podido manter a minha irmã a salvo. Quer dizer, ela saiu da loja e podia ter se ferido gravemente... E eu não fiz nada para evitar.

-Camilla, o que é isso?! Você fez o melhor que pôde para protegê-la, mas Larissa tem a lealdade da irmã... E também não consegue ficar parada. Quando viu seu amigo correndo perigo foi ajudá-lo. - Nick colocou uma mão no meu rosto para me fazer olhar para ele. - Além do mais, você lutou muito bem. Se quiser saber, nunca vi alguém conseguir duelar de salto.

Eu sorri agradecida e envergonhada, ao mesmo tempo. Depois voltei a olhá-lo nos olhos.

-Eu teria conseguido fazer muito mais se você não tivesse tentado me proteger o tempo todo. - Brinquei, revirando os olhos.

Ele sorriu daquele jeito que faz com que eu me derreta inteira e se aproximou mais ainda de mim, até que ficássemos a somente uns dois centímetros de distância.

-Eu sempre vou proteger você. Acostume-se. - Ele sussurrou olhando dos meus olhos para os meus lábios, e de volta. Eu perdi o fôlego por um instante, e a distância entre nós desapareceu.

Os lábios dele me causaram arrepios e um enorme calor. Nos beijamos com calma, afinal para que teríamos pressa? Aproveitamos cada segundo daquele momento delicioso, mas eu tive que parar o beijo, depois de uns minutos.

-Temos que ir. - Falei, em voz baixa, me odiando por ter que fazer isso.

-Sério? - Ele perguntou, como uma criança que quer ficar mais tempo no parquinho. Eu dei uma risadinha.

-Sério. Ainda temos um jogo pra ganhar, esqueceu?! - lembrei-o, divertida. Dei-lhe um último selinho e me levantei.

-Ok, ok... Vamos antes que a Juh nos mate. - Ele suspirou se levantando também e eu ri.

Nós dois voltamos para o castelo de mãos dadas e assim que entramos no Salão Principal já cheio, as habituais vaias e incentivos para os jogadores foram substituídas por murmúrios de fofoca. Acreditem, eu estava feliz por ser o motivo.

-Aonde vocês dois se meteram? - Perguntou Juh, nervosa.

-Calma, Juh, nós estávamos na praia. - Falei, rindo da irritação dela. Pobre Julia, estava ficando muito nervosa com toda essa responsabilidade de capitã. Não que ela não agüente, ela segura muito bem o tranco... Mas deve ser muita pressão.

-Tá, está bem... Mas andem, comam logo! Precisamos nos apressar. - Ela mandou, apontando para os pratos. - Bella, anda logo você também, e vê se não exagera! Você foi atacada ontem, se comer demais vai passar mal.

-Lia, eu já disse que estou bem. Fica calma. - Reclamou Bella, depois de engolir um enorme pedaço de panqueca.

-Não vou me acalmar até nós massacrarmos a Orbis naquele campo. - Ela respondeu, com a maior cara de "A Exterminadora".

-Ok, agora eu estou com pena dos jogadores da Orbis. - Disse Mandy, arrancando risada de todos, menos de Juh que ainda parecia meio tensa.

-Imagina se ela fosse batedora. Ai sim nós teríamos motivos para temer pelos jogadores da Orbis. - Disse Jazz, nos fazendo rir mais ainda.

 -Será que dá para vocês comerem mais rápido? Tem como? - Lia quase gritou para mim e para Nick. Eu arregalei os olhos de susto. Meu Merlin, a Julia ta pirando!

 -Lia, fica calma. Vai dar tudo certo, tenho certeza que vamos ganhar. - Garantiu Caio, que estava ao lado da minha amiga, pegando sua mão. Eles se encararam nos olhos por um momento e Juh pareceu se acalmar um pouco, recostando-se em seu peito. Ele deu um sorrisinho convencido, me fazendo revirar os olhos.

 -Parece que encontramos o antídoto para o estresse da Juh. - Sussurrou Mandy para mim e nós duas rimos baixinho.

- Terminei. - anunciou Bella, jogando o garfo no prato, produzindo um som irritante.

- Ótimo... Vamos. - Lia foi na frente, em direção ao vestiário da Silici. Chegamos logo depois, colocamos o uniforme rapidamente, e esperamos. Era o primeiro jogo contra Orbis, o anterior havia sido contra Portent... As aulas começam em Setembro, para facilitar para os intercambistas, e por ser verão, estava muito quente. Lia fez o habitual discurso de capitã, não tão longo, mas enriquecedor. Isto é... Se eu tivesse prestado alguma atenção. Mas enquanto ela falava, eu me concentrava em Nick, que estava brincando com meus dedos. Ouvimos os avisos lá de fora, e nos organizamos em fileira.

- Boa sorte povo... - berrou Bella, fazendo todos rirem.

- Boa sorte. - ouvimos a voz de Lia - Concentração, nós vamos arrasar...

- E é o clássico, Orbis e Silici, quem será que vai ganhar? - a voz de Matheus retumbou pelo campo. - Alguém ai tem duvidas de que são os pintados?

- Johnson! - berrou a professora Cássia Regina.

- Desculpa ai professora...

- E entram os guepardos! Roawr! - rosnou logo depois da frase, arrancando risos. Quase três quartos das arquibancadas estavam de azul e preto. Começamos o trajeto de entrar em campo, os brados da multidão dominavam nossos sentidos, eu sorri de orelha a orelha, o publico berrando, Lia parecia orgulhosa.

- A capitã esse ano, é a gata da Julia Camargo... - ouvi Caio resmungar e dei uma risadinha. – Essa menina além de linda tem garra, habilidade... E curvas. – a professora deu um tapa na parte de trás de sua cabeça, fazendo-o se calar. Paramos ao meio do campo, ainda rindo. - E entram os lobos... – ele deu uma pausa, todos esperaram o nome que viria a seguir, quando fomos surpreendidos. - Ninguém liga pro capitão... - a professora o fuzilou, a onda azul gargalhou enquanto os que estavam de verde e ouro trincavam os dentes.

- O capitão da Orbis, Paulo Campos. - a professora explicou no megafone, enquanto Matheus ria.

O time adversário chegou até onde estávamos. Madame Serena se aproximou, o apito preso entre os lábios.

- Quero um jogo limpo ouviram bem? - retrucou. - Capitães, apertem as mãos.

Lia estendeu a mão, e Paulo a puxou, dando um leve beijo. Bella começou a gargalhar, Caio rosnou, a professora deu um tapa atrás da cabeça do garoto da Orbis. Montamos na vassoura, e demos impulso. Vi pelo canto do olho todos pegarem impulso também.

- Madame Serena lança a goles... E COMEÇA O JOGO... - anunciou Mat. - Dias segue para uma posição mais elevada, Silici tem a posse da Goles, e é o Lima desvia de Campos, de um balaço, segue para o gol e... Dal Molin intercepta. - um urro da multidão. - É Orbis com a posse da Goles, passa pra Campos, de volta a Dal Molin, e é Santos. Uh! Atingido por um balaço...

Observei o campo em geral, Lia estava se inclinando sobre a vassoura a fim de ter uma melhor visão. Notei uma brecha, fui por baixo, e rapidamente tirei a Goles de Gustavo.

- E é Albuquerque! Essa menina é um espetáculo... De todas as formas se é que me entendem... – brincou. Eu dei uma risadinha e apertei o cabo da vassoura pegando mais velocidade, o goleiro foi para a esquerda joguei no aro direito e... - É PONTO PARA SILICI!

As arquibancadas vibravam, e a sensação era ótima, depois de mim, Nick fez um ponto, e eu fiz mais dois. Os garotões da Orbis pareciam estar se irritando muito.

Voei baixo, pegando a bola do capitão da Orbis, a lancei para Nick, que a agarrou em um átimo, desviou de um, passou pelo outro, e mais um ponto. Estávamos a frente de 50 à 0, dei uma pirueta, voltando para o meio de campo para outro inicio. Por fim um dos batedores, Curch, se irritou. Enquanto todos os artilheiros estavam concentrados e perto dos aros da Orbis, ele mandou um balaço em direção aos aros da Silici.

 Caio desviou de um, mas não foi suficientemente rápido para sair do segundo. Caiu da vassoura, batendo na areia com um baque. Um oh! Geral da multidão, e por fim gritos e reclamações.

- VOCÊ ESTÁ LOUCO SEU IDIOTA? – berrou Laura, jogando a goles na cabeça de Gustavo, eu a peguei antes que caísse, ainda no modo automático.

A multidão ainda urrava em protesto. O megafone foi tirado das mãos de Matheus depois de uma incrível seqüência de blasfêmias.

Se aproveitando da minha atual situação de desnorteamento, a goles foi tirada de minha mão, os gols que se seguiram foram massacrantes. O placar da Orbis só subia, tentávamos defender, mas mais essa aquisição a nossa função de fazer gols, e a dos batedores de defender-nos... Além de que ninguém era tão bom quanto Caio no gol. Lia berrava ordens lá de cima, Bella estava ficando totalmente confusa, o time todo estava louco.

- CAMMIE, VOE PELA ESQUERDA, NICK, VAI PELA DIREITA, BELLA, ACERTA UM BALAÇO NO CURCH, PEDRO DEFENDE OS ARTILHEIROS. E LUANA, FICA NA DEFESA, PEGA A GOLES ANTES DE CONSEGUIREM CHEGAR PERTO DOS AROS - ela começou a mudar a estratégia de jogo, a parte do balaço eu sabia que era somente uma parte da pequena vingança por terem atingido o Caio.

- Bota pra quebrar... - berrou Bella, dando uma pirueta, um mortal, e voando atrás de um balaço. - AHÁ! Você me paga seu filhote de explosivin.

Voltamos a toda para o jogo, cada um cumprindo suas tarefas perfeitamente. Dentre tudo isso, conseguimos mais três pontos, e então:

- Parece que a apanhadora da Silici viu alguma coisa! - berrou Mat.

Virei-me para trás e vi Juh descendo a toda, a apanhadora da Orbis atrás, mas não vi nenhum brilho à frente.

Quando chegou a centímetros do chão ela virou a vassoura, guinando para cima, e então eu finalmente vi o pomo. Quando Lorena percebeu o que estava havendo... As mãos se fecharam sobre a bolinha dourada, e um urro de felicidade saiu de sua garganta. Nós começamos a berrar junto, e a voz de Matheus ecoou:

- E SILICI GANHA O JOGO, DUZENTOS E TRINTA À NOVENTA. - depois ele subiu no banco. – NOSSA! NOSSA! ASSIM VOCÊ ME MATA!

Desci rapidamente para o campo e desmontei a vassoura. Julia, que já estava no chão, correu para me abraçar e logo Bella nos alcançou. Mas como essa loira é uma ogra, quando ela nos abraçou fomos as três para o chão, rindo loucamente.

Ainda estávamos no chão quando Caio puxou a Juh pela mão e lhe deu um mega beijo. Bella e eu gritamos um "WOW". Poxa, isso sim que é comemoração! Lia caiu por cima dele, sem descolarem os lábios. Nós nos levantamos também exatamente no momento em que os nossos colegas da Silici invadiam o campo, com Mandy e Jazz a frente. Elas correram na nossa direção, mas ao invés de nos abraçarem, começaram a fazer uma dancinha da vitória, que Bella e eu acompanhamos.

Estava no meio da minha dança ridícula, todo mundo começou a cantar Macarena, quando senti braços fortes me abraçando por trás.

-Não vai me parabenizar? Eu também ajudei, sabe?! - Disse Nick, na minha orelha. Eu me virei radiante e passei meus braços por seu pescoço. Quando estávamos a só dois centímetros de distância, uma voz grave berrou:

-CAMILLA MENDES ALBUQUERQUE! - Me soltei de Nick na mesma hora ao ouvir a voz do meu pai. Olhei para o lado e lá estava ele, com uma expressão furiosa. Nick saiu de fininho, quando eu corri para perto de meu pai.

-Papai? Ta fazendo o que aqui? - Perguntei chocada. Na verdade a pergunta correta seria: "O que VOCÊS estão fazendo aqui?". Minha mãe, Gabriela, os pais da Juh e os irmãos dela também estavam lá.

-Viemos assistir o jogo, mas isso não vem ao caso! - Berrou ele, ficando vermelho. - Eu quero saber é o que você estava fazendo com aquele garoto depravado!

-Ele não é um depravado, pai! - Falei indignada.

-Marco, se acalme. A Milla não estava fazendo nada demais. - Minha mãe me defendeu. Obrigada, dona Lívia!

-Como me acalmar? Aquele pervertido estava agarrando a minha filhinha! - Ele bradou. Eu revirei os olhos.

-Já disse que ele não é um pervertido, pai! Que droga! - Reclamei, ficando estressada.

-Mas...

-Papai, deu né?! - Interviu Gabriela, fazendo meu pai se calar imediatamente, de má vontade. Ah, claro! Quando a filha favorita pede, ele cala a boca, quando é comigo, só tomo bronca! Eita, vida injusta.

-Cammie! - Berrou Juh, pulando nos meus ombros e então ela viu os nossos "convidados". - Ué, estão fazendo o que aqui?

- Viemos ver o jogo... – explicou Gabi. Lara estendeu os bracinhos, e Lia a pegou nos braços.

-A propósito foi uma incrível captura, minha filha. - Parabenizou o tio Will, sorrindo orgulhoso.

-Com certeza, a Jujuba tem pegada. - Comentou Henrique com um tom de duplo sentido. Ele olhou muito rápido para a direção onde Caio estava com os amigos. Juh corou e lhe mostrou a língua.

-Achei as duas! - Gritou Mandy, se juntando a nós com Bella e Jazz.

-Andem logo! A galera vai dar uma super festa para comemorar a nossa vitória, lá na sala comunal. - Anunciou Bella rebolando feliz, sem notar os nossos pais atrás de nós.

-Oh, olá Sr. e Sra. Dias. Olá Sr. e Sra. Albuquerque. - Cumprimentou Jazz, educada como sempre.

-Olá Jamim. - Cumprimentou minha mãe, sorrindo gentilmente.

-É um prazer revê-la, querida. - Disse a mãe da Juh. - Amanda, Belinda, é muito bom vê-las também.

-Com certeza, é ótimo ver você... Mas não me chame de Belinda. - Disse Bella, visivelmente incomodada em ter que pronunciar o próprio nome. Juh a fuzilou com os olhos.

-Bella! - Censurou Lia.

-Ta, desculpa! Dá para a gente ir logo para o vestiário? Quero ir para a festa! - Bella quase gritou e depois fez uma dançinha, como se estivesse em uma balada.

-Ok... Vamos logo... - Falei, rindo daquela louca e depois acrescentei baixinho para as meninas: - Antes que o meu pai comece a chamar o Nick de depravado outra vez.

Elas riram e nós fomos para o vestiário. Ao que me pareceu, meus pais e os pais da Juh ainda tinham assuntos para tratar na escola, então depois nós nos despediríamos deles.

Bella, Juh e eu tomamos um banho e nos arrumamos enquanto Mandy e Jazz nos esperavam. Saímos do vestiário e seguimos para o castelo comentando sobre o jogo todo o tempo. Finalmente chegamos à torre sul e assim que o quadro se abriu para nós, fomos recebidas por uma gritaria.

Várias pessoas nos puxaram para dentro e antes que eu pudesse piscar, já havia um copo de cerveja amanteigada na minha mão, Lia estava erguida nos ombros de dois garotos do oitavo ano e sendo carregada para o meio da sala comunal.

-Um brinde à garota que nos levou a vitória hoje! - Disse Luana, artilheira do time, animada. - A nossa capitã, Julia Dias Camargo Santiago!

Todos comemoraram e brindaram animadamente. Juh ficou corada ao ter o sobrenome de Caio colocado junto ao seu, sacudiu a cabeça, murmurando algo que ninguém ouviu, mas sorriu e brindou também. Colocaram-na no chão depois de alguns minutos de baderna, e logo a minha amiga foi muito bem recebida por Caio, se é que vocês me entendem. Ambos sumiram pela multidão, se acomodando em um sofá ao lado da janela que dava para a praia. Eu sorri para os dois e segui para o sofá.

-Será que posso ter os meus parabéns agora? - Perguntou uma voz, maravilhosamente familiar, ao meu lado.

-Com certeza. - Falei sorrindo para Nick. Não esperei nem um segundo para colar nossos lábios. Podem me chamar de desesperada, mas cada segundo longe dele era um desperdício para mim.

E lá estava eu novamente, me sentindo completa por estar beijando o cara mais perfeito do mundo. Cada movimento nosso me trazia arrepios, mas claro que algo tinha que estragar esse momento... Dessa vez foi um murmúrio geral na sala comunal que me incomodou. Todos ao nosso redor comentavam coisas como "Oh Merlin, Gabriela e Henrique estão aqui! Wow!".

-Desculpa interromper, maninha. - Disse Gabriella, quando eu a fuzilei com o olhar. - A diretora quer ver você e as suas amigas.

-Então fala pra ela que eu estou muito ocupada. - Falei irritada.

-Não dá Milla, a parada é séria. - Ela disse em tom de quem se desculpa.

Eu bufei, lancei um olhar de desculpas para o Nick e me levantei.

-Desde quando uma jornalista, que escreve para o Profeta Diário de Londres, fala "parada"? - Perguntei indo para a saída com ela.

-Não enche Camilla. - Ela bufou, me empurrando de leve.

Encontramos as minhas amigas e Henrique no corredor. Gabi foi praticamente desfilando na direção do namorado, que a recebeu carinhosamente. Fechei ainda mais a cara e percebi que Juh também parecia muito irritada. Eles seguiram, guiando o grupo, abraçados pelo corredor.

-Vamos logo, assim podemos voltar mais rápido para a festa. - Disse Henrique piscando para nós e pegando o caminho que nos levaria para a sala da diretora.

-Correção: Nós vamos voltar para a festa e vocês vão embora. - Disse Lia.

-Falou tudo, Juh! - Concordei ainda emburrada.

-Olha... Eu tenho que concordar com elas, sabe?! - Disse Bella. - Eu estava quase ficando com aquele loiro gato do sexto ano, aí vocês chegam e ele começa a babar em cima da Gabriella. Quase me joguei da torre de Astronomia.

-Ah não fica assim não, Bellinha. - Consolou Mandy. - Ele devia estar de olho no Henrique, isso sim. Você pode ter se livrado de uma propaganda enganosa.

-Sempre achei aquele cabelo meio suspeito. - Concordou Jazz, fazendo com que nós ríssemos mais ainda.

-Vocês não prestam. - Comentou Bella, rindo.

-Falou a anja do grupo. - Debochou Juh e a loira lhe mostrou a língua.

Continuamos nos zuando até chegarmos à sala da diretora, onde Gabi disse a senha e nós entramos. Lá dentro Zuleica, meus pais, os pais da Juh e, o mais impressionante de tudo, Harry Potter e um garoto muito lindo, e parecido com ele, nos esperavam.

-Ah meu Merlin, me segura. - Murmurou Jazz, baixinho. - Eu estou na mesma sala que Harry Potter. Ai socorro!

-Jamim, não vá para a luz! - Berrou Belinda, agarrando os ombros da amiga com força e a sacudindo. - Fica comigo, amiga! NÃO MORRE!

-Belinda, para com isso. - Mandou Mandy, envergonhada pela louca que chamamos de amiga.

-Primeiro: Não me chame de Belinda! Quantas vezes eu tenho que repetir? Segundo: Ok, a Jazz já esta melhor. - Bella largou Jamim e continuou agindo como se nada tivesse acontecido.

-Ela é sempre assim? - Perguntou o garoto, ao lado do Harry Potter, em inglês.

-Sempre. - Respondemos todas juntas, na mesma língua, incluindo Bella.

-Meninas... Chamamos vocês aqui para conhecerem o Sr. Potter. - Disse a diretora.

 -Oi, meninas. - Ele nos cumprimentou em um português com algum sotaque, e nós olhamos para ele como se estivéssemos conhecendo Merlin em pessoa. - Belo jogo hoje.

- Você assistiu?! – exautou-se Lia.

-Claro que sim. - Ele sorriu. - Belin... Bella, você tem um braço bem forte, garota!

 -Ela treina em mim. Sou o saco de pancadas oficial dela. - Mandy falou, revirando os olhos.

 -É mentira, Sr. Potter! - Defendeu-se Bella, indignada e ele riu.

 -Camilla, você tem muito talento. - Ele me elogiou, eu corei furiosamente e sorri agradecida. - E Julia, você é apanhadora muito boa! Acho que nem eu pegaria aquele pomo como você pegou.

Juh ficou tão vermelha que eu achei que ela ia explodir a qualquer momento. Ela também sorriu agradecida e envergonhada, afinal, idolatrava Harry Potter com todas as forças.

 -Imagina, Sr. Potter! O senhor é o melhor apanhador de todos os tempos, e todo mundo sabe disso. - Ela respondeu.

 -Não! Nem jogar profissionalmente eu joguei e... - Ele estava muito animado com a conversa, mas o meu pai o cortou.

 -Perdão, Sr. Potter, mas creio que fomos chamados aqui para descutir assuntos mais sérios do que quadribol. - Ele disse, sério, mas educado. Afê... Tinha que ser o meu pai para acabar com a diversão!

- Oh! Sim, claro. Desculpe-me Sr. Albuquerque. – pediu o Sr. Potter, piscando para nós. – Me deixei envolver...

-Vamos ao ponto principal dessa reunião... - Disse a diretora. - O herdeiro de Você-Sabe-Quem.

-Sim, isso é muito sério. Se Voldemort tem um herdeiro nós teremos muitos problemas pela frente. - Falou Harry, sério.

-Sim, problemas demais para envolvermos crianças, como as meninas. - Disse a tia Lizzie, parecendo aborrecida.

-Sim, problemas demais para envolvermos crianças, como as meninas. - Disse a tia Lizzie, parecendo aborrecida.

-Eu concordo. Isso é algo sério demais para envolvermos as meninas. - Concordou minha mãe.

-Não somos crianças! - Bradei, irritada.

-E além do mais já estamos envolvidas demais para nos tirarem da jogada. - Concordou Bella.

-Estão? - Perguntou o tio Will, nos lançando um olhar desconfiado.

-Claro... - Jazz apressou-se para responder. - Afinal de contas a profecia se refere a nós, não?

-Profecia? - Perguntou Harry, intrigado.

-Sim, Sr. Potter, a profecia diz que cinco heroínas irão salvar o nosso mundo. - Esclareceu Zuleica.

-Na verdade a profecia diz: Filho Daquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado surgiu, pronto para trazer a discórdia e a tragédia ao nosso mundo; Cinco heroínas deverão encontrar a chave para destruí-lo; O mundo bruxo correrá perigos jamais vistos antes; Antigos aliados e inimigos reaparecerão; Mas no final, somente essas cinco heroínas determinarão se o mundo viverá na luz ou nas trevas. - Falou Juh, séria.

-E como sabem que se refere a vocês? - Perguntou Tiago, em um português muito bom, mas que mesmo assim deixava claro que ele não era daqui. Bella revirou os olhos com o fato de que ele sabia falar nossa língua, mas mesmo assim nos fez falar em inglês.

-A professora abelhuda... Digo, a Profa. Silvestre recitou para nós extamente no momento em que nos encarou. - Explicou Mandy.

-Isso não significa nada. - Contestou Gabi, se pronunciando pela primeira vez desde que entramos na sala.

-Com todo o respeito, Gabriella, mas significa sim. - Retrucou Jazz, com muita educação. - Estudos mais recentes sobre videntes dizem que eles estão muito mais tentados a terem visões ou fazerem profecias quando estão em frente ou na presença da pessoa que terá a ver com ela. E todos nós sabemos que a Profª. Silvestre tem antecedentes que eram verdadeiros videntes.

-Todos sabem? Eu não sabia. - Comentou Bella, parecendo admirada com a informação. Nós rimos de leve.

- Pelo menos era para saberem Srta. Ferreira... - os olhos da diretora faiscaram, fazendo Bella se calar. - Por hora, vamos continuar esperando, qualquer mudança eu aviso a vocês, o Sr. Potter ficará hospedado por hora na casa de seu pai Srta. Camargo. Agora, se me derem licença, tenho que acertar as ultimas coisas com o Sr. Potter para sua entrada na Magnum para depois do Natal.

Todos saimos da sala da diretora, menos Harry e Tiago, que ficaram conversando com a diretora. Paramos do lado de fora da sala, na frente da estátua.

-A conversa está muito boa, mas nós temos que ir! - Anunciou Bella e quando já estava virada para voltar à torre sul, Jazz segurou seu braço, fazendo-a tropeçar e voltar.

-Não seja tão grossa, Belinda. - Censurou Jamim, olhando feio para a loira.

-Mas eu quero a minha festa. - Reclamou Bella, fazendo bico.

-Não se preocupe, Bella, já estamos de saída. - Disse Henrique, rindo.

-Não, eu só saio daqui, quando estiver certo que a minha filha está dormindo quietinha e sem garotos, no seu dormitório. - Falou meu pai. Bufei e revirei os olhos.

-Qual é, tio Marco?! A Gabi já é bem grandinha e todo mundo sabe que ela e o Henrique já são bem íntimos. - Brincou Juh, enfatizando o bem. As meninas e eu quase rolamos de rir, mas minha irmã e o irmão dela não pareceram achar graça nenhuma.

-Você tem razão, Julia. - Falou Rique, com um sorriso maroto nos lábios. - Gabi não precisa ser vigiada. Já não posso dizer o mesmo de você, não é pegadora?

-O que você quer dizer com isso, garoto? - Perguntou o pai da Juh, ficando vermelho e a minha amiga arregalou os olhos, em pânico.

-Você não está sabendo pai? A Juju aqui está de namorado novo. - Disse o moreno na maior cara de inocente. Eu podia jurar que a Lia ia pular no pescoço dele a qualquer minuto.

-EU VOU MATAR VOCÊ, HENRIQUE! - Gritou Juh, furiosa. Ela avançou para o irmão rapidamente e começou a bater em cada parte do irmão que conseguia alcançar. Foi preciso que Bella, Jazz, Mandy e eu a puxássemos com toda a força para afastá-la, pelo menos um pouco, do irmão.

-Toda essa agressividade só prova que eu estou certo. - Provocou Rique e Julia fez menção de avançar novamente sobre ele, mas nós a seguramos.

-Me soltem! Eu quero quebrar a cara desse safado! - Ela gritou, tentando se soltar de nós.

-Para com isso, Juh. - Pediu Mandy, depois de quase engolir o cabelo da amiga, que se debatia.

-Julia Dias Camargo! - Chamou o pai da Lia, autoritário e ela parou de se debater. - Me explique essa história de namorado agora mesmo!

-Eu não estou namorando, papai. - Defendeu-se Juh, sendo sincera. Ela está falando a verdade, ora! Tecnicamente eles não estão namorando... Ainda.

-Então, por que está tão agressiva com o seu irmão? - Ele questionou, desconfiado.

-Porque ele está mentindo a meu respeito, ora! - Ela disse, indignada. É, Julia Dias Camargo é realmente uma ótima atriz.

-Mas...

-Sr. Camargo, então é verdade que Harry Potter vai ficar na sua casa? - Perguntou Gabriella, mudando de assunto rápidamente. Olhei agradecida para ela. Minha irmã pode ser a Miss Perfeitinha, mas quando a coisa aperta ela sempre me ajuda. Nos ajuda, nesse caso, porque pelo rumo da conversa logo meu pai ia mencionar o Nick também.

-Ah, sim é verdade. - Respondeu a tia Lizzie, pelo marido. Ela lançou um olhar de "vamos conversar sobre isso depois" para a Juh, mas continuou: - Vão se hospedar lá por um tempo.

-Harry Potter vai estar na sua casa? - Perguntou Bella, de repente. - Já sei onde vou passar o Natal...

Todos rimos dela.

-Precisamos ir, meninas. - Anunciou Jazz, se aproveitando do clima leve.

-Apoiado! - Disse Mandy, na mesma hora.

 Nós nos despedimos deles e voltamos correndo para a sala comunal, sem dar tempo para mais comentários embaraçosos.

 -Saída de mestre, Jazz. - Elogiou Juh, caminhando apressadamente de volta para a torre sul.

 -Eu sei, obrigada. - Jamim agradeçeu, jogando o cabelo para trás. Nós rimos e seguimos o nosso caminho.