Que ótimo país novo, e agora escola nova. Era só o que me faltava. Vim passar um tempo com o meu pai na Inglaterra, mas precisamente em Greenwich. Meus pais são divorciados, e eu moro com minha mãe em Nova York.

Minha mãe é fotografa, ela foi chamada para tirar fotos de um projeto em uns locais com nomes estranhos na África. E então tive que vir morar com meu pai, já que ela vai passar oito meses trabalhando.

– Ali! - ouvi meu pai gritar. - Está na hora, se não, vai chegar atrasada.

– Já estou indo - disse pegando minha mochila e me preparando emocionalmente para o inferno de ser uma novata.

– Está pronta? - perguntou meu pai, que estava parado próximo a porta do meu quarto.

– Sim - murmurei.

– Ok - ele bufou. - Até mais tarde.

– Tchau pai - falei.

– Tchau querida.

Desci as escadas, abri a porta e sai andando em direção a escola. Como eu moro somente a três quarteirões de distância da escola, fui andando.

Caminhei observando a rua e a bela paisagem. Era engraçado, pois todas as casas pareciam iguais. Estava no início do outono, então as árvores tinham folhas de tom alaranjado e avermelhado, e havia umas folhas marrons caídas no chão. Soprava um vento frio e sem vida que transpassava os meus fios de cabelo loiros e percorria levemente meu pescoço e minha face.

Havia alguns jovens caminhando com suas mochilas nas costas, e de vez em quando passava um carro na rua. Era um cenário um tanto melancólico e triste, mas muito bonito e bem diferente das ruas movimentadas de Nova York.

Depois de dobrar a esquina, passei por um parque, e avistei uma garota que lia um livro grande em quanto andava. Ela tinha um estilo sombrio. De repente comecei a sentir uma sensação estranha, ou o que devia ser um arrepio na espinha, ou somente nervosismo.

A escola parecia um castelo. Era cercada por um muro enorme, tinha um belo gramado antes da entrada, no qual havia vários jovens deitados e sentados conversando. Por dentro tinha um estilo que lembrava a época renascentista da Europa medieval, com um toque moderno. Totalmente diferente da minha antiga escola. Até os armários eram diferentes.

Peguei uma folha de papel que continha meu horário. Minha primeira aula era de literatura, na sala 12, no primeiro andar. Me dirigi até a sala e ao entrar, avistei aquela garota que estava lendo o livro. Ela estava sentada na quinta carteira, na fileira ao lado da janela. Ela ficava encarando a paisagem através da janela com seus enormes olhos azuis. Ninguém estava falando com ela, então resolvi me apresentar.

– Oi - falei, e ela tirou a atenção da janela e ficou me encarando sem dizer nada - Eu sou a Alice.

– Por que está falando comigo? - ela perguntou fria.

– Bom, é que eu sou novata e...

– Isso não me interessa - ela me interrompeu ainda em tom frio. Assim que ela disse isso, um homem alto e loiro entrou na sala, e todos começaram a se sentar. Fui rápida, e me sentei ao lado da garota e de uma patricinha que me encarava. Eu sorri para ela, e ela me olhou com desprezo e virou a cara. Parece que as pessoas daqui são "bem simpáticas".

– Bom dia alunos - o homem loiro, que no caso era o professor, disse - Eu sei que é minha primeira aula com vocês, mas eu quero debater um pouco sobre um livro que eu reli nessas férias - ele fez uma pausa, e se sentou em sua mesa - um clássico da literatura, Guerra e paz, acho que vocês já devem ter ouvido falar- olhei para o lado e vi que era este o livro que a garota estava lendo.

– Ela está lendo esse livro - eu o interrompi, e ele se esticou para ver de quem se tratava e ela arregalou os olhos para mim.

– Ora, ora, ora, se não é a Srta. Salazar - ele disse - parece que vamos ficar mais um ano juntos - ele ficou a encarando, acho que esperando uma resposta - o que? - ele se levantou - não vai retrucar? - ele sorriu malicioso - parece que está com medo.

– E me diga do que eu teria medo? - ela perguntou encarando-o.

– Minhas provas, para quem não assistir a minhas aulas, será bem mais difícil.

– Hum, então vamos ver se você aprendeu a fazer provas mais descentes.

– Já chega! - ele gritou batendo a mão na mesa - não vou aturar suas gracinhas no primeiro dia de aula!

– Você não é obrigado a aturar - ela retrucou.

– Então saia de minha sala - ele ordenou e ela pegou suas coisas e saiu.

O resto da aula foi tranquila. Logo depois eu tive Inglês e depois seria educação física. Fui para o vestiário me trocar. Percebi que nem aquela garota e nem as patricinhas tinham ido para o vestiário. Quando sai, vi as patricinhas conversando com uns garotos que estavam no campo, e a garota estava na arquibancada lendo.

Depois da aula super cansativa, foi o intervalo. Eu estava sentada num canto observando as árvores, quando uma garota morena de olhos claros se sentou ao meu lado.

– Oi - ela disse.

– Oi - respondi sorrindo.

– Você é a Alice não é? - fiz que sim com a cabeça - eu sou Juliana.

– Prazer - foi tudo o que eu consegui dizer, o que era estranho, já que eu era muito tagarela.

– Você é americana, não é?

– Sim - respondi - e você? -perguntei - não parece ser daqui, apesar do sotaque.

– Meus pais são brasileiros - ela respondeu sorrindo - vi que você tentou falar com a Nicole.

– Sim, mas acho que não deu muito certo - disse - e agora ela deve me odiar por eu ter feito ela sair de sala.

– Talvez sim, mas desde que eu estudo aqui ela sempre responde aos professores, e principalmente o professor de literatura. Acho que ela só assistiu a duas aulas dele ano passado, e mesmo assim ela só tira nota máxima.

– Ele deve odiá-la - disse rindo e ela concordou.

Nas outras aulas me sentei perto da Juliana, e ela me apresentou um amigo dela o Lucas, ele é bem bonitinho e fofo. Depois das aulas, Juliana me chamou para ir assistir o treino de futebol, no qual iriam escolher os jogadores para o time. Eu concordei, e liguei para o meu pai para avisar que iria chegar mais tarde.

– Olha só - Juliana disse, chamando minha atenção para a arquibancada, na qual a Nicole estava sentada observando jogo.

– Por que será que ela está aqui? - perguntei curiosa.

– Sei lá, ela é toda estranha - ela respondeu dando de ombros - e olha lá - ela disse apontando para o outro lado da arquibancada onde tinha umas patricinhas - é a Kimberly e a Emily, as típicas patricinhas se atirando para os jogadores. Por que elas não pegam um cartaz escrito "desesperadas"? - eu ri do comentário.

Logo que o treino-teste acabou o treinador anunciou os nomes dos sortudos que iriam entrar no time e assim que eles entraram no vestiário, Nicole e as patricinhas foram embora.

– Lógico que o Jake e o John iriam ficar no time, eles são ótimos atletas e super gatos - a Juliana disse toda empolgada - pena que eles são populares de mais.

– Pois é - disse - eu já vou indo, tchau!

– tchau.