Tale As Old As Time. escrita por Jajabarnes


Capítulo 56
A Birthmark


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal! Bem, faz muito tempo desde a última vez, não é mesmo? Muita coisa aconteceu. Contudo, a história não pode parar kkk e não parou, só levou mais tempo no forno. Espero que gostem.



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No dia seguinte, logo após o café da manhã, com uma trégua da neve que insistia em cair até a madrugada, Corin propôs que fôssemos para o lado de fora experimentar os trenós que ele encomendar e pelo brilho em seus olhos, parecia que estava sonhando com a travessura há ansiosos tempos. Eu ri perante isso, mas confirmamos antes mesmo de ele terminar o pedido. Houve um certo estardalhaço quanto todos apressaram-se para pôr roupas mais adequadas enquanto os criados iriam preparar os cães. Lillian exclamou umas duas vezes que resistira veementemente a ter tantos cães em casa, mas todos sabíamos o quanto Corin adorava cães - cães treinados - e não deve ter sido difícil convencê-la a ter um canil atrás de casa.

Não me demorei e logo estava descendo as escadas abotoando o casaco pesado que a ocasião pedia. O silêncio ali em baixo fez-me crer que era o primeiro, mas logo pude ver Pedro de costas, olhando para o lado dr fora. Já estava pronto.

— Acho que esperaremos um bocado por sermos os primeiros. - comentei, anunciando minha chegada, que o tirou de seus devaneios.

—Tenho plena certeza. - ele tornava-se para mim, um mínimo e breve sorriso aparecendo, mas tornou-se à janela outra vez.

Houve silêncio, profundo e longo. Lancei olhares às costas de meu amigo, mas ele não dava sinais de que iria - ou queria - dizer mais alguma coisa. Sentei-me. Ele estava assim, quieto e pensativo, desde a morte da mãe. O fato por si só já era devastador demais, porém era certo que havia algo errado com Pedro.

— Caspian. - surpreendi-me ao ouvir meu nome.

— Sim? - respondi. O movimento que os ombros dele fizeram indicou a respiração funda.

— O que você faria se toda sua vida virasse do avesso de repente?

Por um momento fiquei um pouco confuso com a pergunta repentina, pisquei algumas vezes enquanto formulava uma resposta. A minha já havia virado no dia que a herança se manifestou. Seria fácil responder, se não fosse mais difícil ainda saber o que fazer quando já estava do avesso.

— Bem, é uma pergunta complicada. - foram as primeiras palavras que encontrei, mais perdido ainda. - Acho que eu tentaria entender o que estava acontecendo, para então tomar uma decisão... - a expressão de Pedro estava reflexiva, ele não me olhava mais. - Mas por que pergunta? O que houve?

Ele puxou ar vindo até mim, assentando-se à minha frente, apoiando os cotovelos nos joelhos.

— Talvez eu não saiba o que fazer.

— Espere, Pedro, o que está acontecendo?

Minha consciência apontou que eu não lhe contara tudo o que acontecia comigo, por isso era injusto cobrar que ele o fizesse. Porém, lembrei, eu o estava protegendo, tinha ressalvas que justificavam o segredo, e haviam chances quase nulas de que as razões de Pedro fossem tão graves assim.

— Sabe que sou filho único - começou ele. - Depois que mamãe se foi, logicamente, começaram os processos de inventários, eu passei as últimas semanas decidindo o que faria com cada pertence e você sabe - fez um gesto com a mão. Apenas assenti. - Até que trouxeram a mim os pertences de mamãe que estavam no banco, nada de muito inesperado, algumas jóias e algumas cartas...

Continuei apenas assentindo.

— A questão - continuou ele após passar as mãos no rosto. - É que não consigo entender o motivo dessas cartas, nem o que querem dizer...

— Espere, Pedro, o que está havendo? - pedi com calma, mas vozes e risadas se aproximaram de nós.

— Veja, Caspian, esqueça - ele balançou a cabeça. - Você já tem problemas demais, eu resolvo isso. - as vozes ficaram cada vez mais próximas. - Sei que não é preciso pedir, mas é importante: não comente com ninguém.

Então Jill e Lúcia chegaram e minha conversa com Pedro terminou ali, a importante, pelo menos, porque seguiram-se apenas assuntos triviais. Susana desceu não muito depois, sua aparência era tranquila por cima de um toque de tristeza, também parecia um pouco cansada, certamente demorara a dormir, se é que conseguirá. Seu olhar cruzava com o meu, inquisidor, e ela assentiu de vagar do outro lado da sala, dizendo em silêncio que estava bem, pouco antes de Dash abordá-la. Rolei os olhos, enfiando as mãos nos bolsos.

Corin apareceu radiante avisando que já estava tudo pronto e partimos para o lado de fora. Realmente haviam muitos cães. Depois de um pouco de familiarização, começaram as brincadeiras e risos, principalmente causados pelos tombos.

Apostei algumas corridas pela propriedade, devo confessar. Pedro, Edmundo e Rillian eram adversários à altura, não facilitaram. Susana e Lúcia se juntaram a nós na competição e a coisa não melhorou.

— Ora, o que está havendo? Perderam o fôlego? - questionou Lúcia depois de vencer mais uma. Rolei os olhos, Rillian riu, obviamente, Pedro também, mas de Rilian. - É justo uma revanche. - cedeu ela.

— Oh, pare com isso, pequena. - resmunguei. - Não vê que lhe deixaram ganhar?

Lúcia fez feição de deboche, sabia que era mentira.

— Mesmo sendo justo. - falou Susana. - Está foi minha última. Preciso ir até Lantern.

Pedro deu de ombros.

— Podemos apostar corrida até lá.

Ponderei.

— De acordo. - animou-se Edmundo.

— Então certo. - Susana topou quando já nos posicionávamos. Lúcia parecia quase eufórica.

— Oh, Corin não poderia ter tido ideia melhor!

Estávamos todos enfileirados, Rilian ficou responsável pela largada e assim disparamos. Os cães eram hábeis e fortes, pareciam exaltar com a corrida e era um belo espetáculo vê-los. Assim que Rilian deu o sinal, disparamos para a estrada, tão coberta de neve fofa que amontoava-se aos pés das árvores, que era impossível ver sequer um pedaço do chão. A corrida se acirrou na saída da propriedade, exatana curva para a estrada vazia e silenciosa até Lantern. Os trenós riscando a neve, parecíamos ser o único som em todo o bosque.

O caminho estava livre à nossa frente, o chão era riscado pelos trenós e finíssimos flocos pairavam no ar à nossa volta até serem girados em turbilhão pela movimentação que causamos. Foi, então, ao som de risos e comentários gritados, se aproximando a última curva. Pedro, Lúcia e Edmundo estavam na frente. Os três aceleraram para afunilar a liderança na hora da curva, porque não passariam os três juntos.

— Cuidado! - pediu Susana.
Edmundo conseguiu a liderança e fez a curva primeiro. A míseros metros de dobrar, Pedro e Lúcia estavam emparelhados e não passariam juntos. Um frio pior do que gelo percorreu minha espinha, nenhum conseguiria parar a tempo de impedir o choque.

— Cuidado! - gritamos Susana e eu, de trás, com o coração na boca.

— Lúcia! - Rilian bradou ao mesmo tempo.

No mesmo segundo, o último, Pedro freiou. Os cães obedeceram o quanto puderam. Lúcia passou pela curva intacta e o trenó de Pedro ziguizagueou pela estrada ao som dos latidos até bater contra uma árvore, derrubando-o. Quando dei por mim, já estava correndo pela neve ruma a Pedro.

[...]

O socorro fora muito rápido. Pedro estava consciente e conseguia andar, mas machucara as costas e sangrava muito. Edmundo e Rilian me ajudaram a levá-lo para a casa de Susana que não estava muito longe. Um médico foi chamado e chegou cerca de duas horas depois, devido o mal tempo. Enquanto Pedro era atendido, aguardamos no primeiro andar.

Não nos demoramos ali. A conversa se estendeu até altas horas, denunciadas por bocejos e feições cansadas, obrigando-nos a nos recolhermos. O criados ficaram de avisar quando todo o procedimento terminasse. Sequer senti a hora em que adormeci. Estava na mesma posição quando despertei pela manhã. Uma parca luz entrava pela janela, iluminando o silêncio profundo, a única coisa que se ouvia por todo lado. Esfreguei os olhos e passei as mãos no rosto antes de sentar. Levei alguns minutos para não adormecer de novo.

Antes de descer para o desjejum, estiquei o caminho até o quarto de Pedro. Encontrei dois criados trocando os curativos de suas costas.

— Estive a noite toda aqui, senhor. - disse um deles, logo após me cumprimentar. - Ele permaneceu assim o tempo todo. - Assenti enquanto o criado molhava panos limpos no unguento. - Certamente é efeito da droga. - comentei.

A criada retirou os panos usados das costas de Pedro revelando a fileira de pontos do lado direito de suas costas, a pele em volta ainda avermelhada pela violência do procedimento, porém, meus olhos foram capturados por uma mancha um pouco menor, bem ao lado do ferimento.

Naquele segundo, a voz do criado emudeceu-se em meus ouvidos, o quarto girou vertiginosamente. Eu já havia visto aquela marca tão característica, e só havia mais uma pessoa que a detinha, exatamente no mesmo lugar. O nó do susto, do choquez subiu à minha garganta e entalou ali.

— Certo, certo. - falei, tentando disfarçar a pressa. - Peço que nos mantenha informados.

Ele assentiu uma vez e assistiu-me correr para fora, ou o mais rápido que pude, como preferir. Cortei os corredores até o quarto de Susana mas não a encontrei lá. Fui pelo caminho todo até a sala de jantar no primeiro andar com o sangue parado em minhas veias, sem sequer ter uma verdadeira noção do que estava acontecendo, o quanto as coisas poderiam mudar dali por diante, ou quais as possibilidades de eu estar delirando. Querendo ou não, eu precisava compartilhar.

— Su. - chamei. Tive sorte ao encontrá-la sozinha na companhia de duas criadas que terminavam de colocar a mesa.

— O que houve? - suas sobrancelhas se uniram ao ver a expressão em meu rosto, seja ela qual fosse.

— Venha comigo, você precisa ver uma coisa. - e saí, levando-a de volta ao quarto de Pedro. Lá, somente o rapaz estava. Pôs-se de pé e cumprimentou Susana.

— Bom dia, sr. James. - disse ela, docemente. - Agradeço demais por seus serviços, mas agora, por favor, vá descansar, você deve estar exausto.

Ele sorriu sem jeito, agradeceu logo pedindo licença, e saiu. Pedro ainda estava do mesmo modo, porém novas badagens escondiam a marca.

— Ele piorou? - perguntou ela, preocupada. Parei, obrigando-me a respirar. Neguei com a cabeça, a importância do momento pesando violentamente sobre minhas costas.

— Su, escute. - falei com calma. - Há algo que você precisa ver.

Ela, claro, olhou-me sem entender. Aproximei-a da cama e sentei-me ao lado de um Pedro inerte para, com cuidado, mover as bandagens. E lá estava a marca, claramente real. Quando ergui o rosto para Susana, o espanto lhe emoalidecera, o olhar cravado nas costas de Pedro. A fala lhe fugira completamente, as emoções afluíram quase ao mesmo tempo, deixando-a em choque. Não precisávamos de palavras naquela hora.

As horas seguintes passaram rapidamente ao mesmo tempo que se arrastaram. Levei Susana para outro cômodo onde ela n resistiu e rendeu-se às lágrimas, aos sorrisos e aos encaixes possíveis do quebra-cabeça. Por mais incrível que pareça, as palavras fugiram, afugentadas pelo choque da surpresa. Perguntei-me várias vezes se eu realmente me dera conta do que estava acontecendo.

— O que fazemos agora? Céus! - Susana perguntou após um giro, em uma de suas muitas voltas pelo cômodo, com o rosto moldado pelo sorriso enorme e pelas lágrimas, regozijo e apreensão passando por seus olhos ao mesmo tempo.

— Recomponha-se. - ri, aproximando-me dela. Susana riu, um som que não ouvia havia muito tempo. Peguei seu rosto em minhas mãos, limpando as lágrimas dali. - Temos que ser muito cuidadosos com esse assunto. Acho que precisamos ter certeza antes de conversar com Pedro.

— Não há dúvidas, Caspian! - lembrou ela, o rosto iluminado.

— Entendo, mas você mesma disse o quanto seria tumultuoso revelar toda a verdade. - falei. - Sei que está feliz, Susana, eu também estou, mas não se esqueça disso.

— Te m razão - concordou ela.

— Acho que devemos comunicar meu pai, Polly e Harold, eles vão saber nos orientar.

— Farei isso agora mesmo! - e andou para fora dali, mas ao passar por mim gentilmente segurei seu braço, fazendo-a girar de volta a mim para então beijá-la.

— Estou muito feliz por você. - disse-lhe. - Verá como tudo começará a ficar bem a partir de agora. Tudo irá para seu devido lugar.

O sorriso dela hesitou, inseguro quanto a isso, mas ainda assim, seu rosto estava iluminado pelo alívio. Então ela saiu. Respirei fundo. Susana tinha todo motivo do mundo para estar feliz, a busca por seu irmão tornara-se seu maior objetivo desde que descobriu sobre ele. Eu, de fato, estava muito feliz pelo resultado praticamente milagroso dessa busca, apesar de meus motivos serem um pouco diferentes. Por mais que eu odeie admitir isso.


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Notas finais do capítulo

Peço desculpas pela imensa demora com essa fanfic e todas as outras. As coisas estão mais folgadas agora então estou podendo me organizar melhor com a escrita. Espero que tenham gostado e, se ainda tem alguém acompanhando, deixe seu review ❤
Até mais!
Beijokas!!



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