13 horas da tarde e eu estou acordando só agora com meu celular tocando Hurricanes and Suns. Minha cabeça está explodindo tanto pela dor como pelos meus problemas, eu nem consigo raciocinar direito. Senti uma estranha moleza no corpo e me levantei com dificuldade da cama ainda com os olhos querendo se fechar de sono e atendi a ligação.

– Oi. - disse com a voz cansada.

– Oi meu amor, você estava dormindo? - perguntou Bill.

– Sim, mas tudo bem.

– Eu acabei de voltar da academia, e eu estava pensando... O que acha de irmos pra Venice Beach? Só eu e você.

Como eu vou pensar direito com tantas outras coisas passando pela minha cabeça? Eu ainda não estou nada bem, mas eu preciso mesmo sair para arejar minha cabeça, eu preciso esquecer tudo o que me faz mal em troca do que me faz bem.

– Eu acho ótimo. - disse decidida a acabar com toda a amargura que incomodava minha cabeça.

– Eu só vou tomar um banho e já vou te buscar. E não se esqueça do biquini. - disse ele rindo.

– Tudo bem. - ri também não resistindo a sua risada fofa.

– E só mais uma coisa...

– O que? - perguntei.

– Eu te amo e sou louco por você. - disse ele docemente.

– Eu também te amo, além da razão.

Desliguei o celular e dei um suspiro pesado me encostando a parede. Hoje eu acordei decidida, disposta a mudar, dispota a parar de sofrer por fatos que não podem ser mudados. Mas é dificil ter como pais, pessoas que não confiam em você. Então eu vou acreditar em mim e fazer da minha vida o que eu bem entender.

Fui para o banheiro tomar um banho e eu estava exatamente como imaginava: olhos um pouco inchados pelo choro e cabelo bagunçado, bem mal para começar do zero.

Após o banho coloquei meu biquini azul da Rosa Chá por baixo de um shorts jeans claro e uma blusa xadrez vermelha. Nos pés escolhi uma rasteirinha. Coloquei um óculos aviador e deixei o cabelo solto.

Peguei minha bolsa e coloquei uma toalha e desci para a sala. Me surpreendi quando vi Bill sentado no sofá ao lado de Yollanda. Ele estava com uma camiseta xadrez roxa, boné e óculos como eu.

– Bill, você é muito rápido. - disse estampando um sorriso em meu rosto e indo abraça-lo.

– Você é que demora demais.

– Seu chato.

Ele não era chato, mas a irionia reinava entre nós. Não medi esforços e o beijei como se isso fosse o único remédio capaz de me salvar nesse exato momento. Percebi que ele estava me agarrando e as coisas ficando mais intensas. Parei o beijo empurrando-o para trás. Era imperceptível a presença de qualquer pessoa a nossa volta quando nos beijávamos.

– Eu não estou aqui, na verdade estou saindo. Vocês são lindos, podem continuar. - disse Yo se levantando e eu sabia que ela estava prendendo uma risada.

– Não precisa Yo. Nós estamos indo para Venice Beach, tudo bem? - perguntei lançando um olhar de "eu preciso esfriar a cabeça".

– Ah claro! Mas você não vai comer nada Clara? - ela me lançou um olhar preocupado.

– Eu vou levá-la para almoçar no Fihtree's Cafe. - interrompeu Bill.

– Eu adoro esse restaurante. Bem, divirtam-se por mim!

Nos despedimos dela e fomos para fora em direção ao Audi. Como sempre, Bill fazia questão de abrir a porta para mim e eu tinha sorte de ter um cavalheiro desses comigo.

– Esqueci de dizer, você está linda, como sempre. E ainda me imitou colocando uma blusa xadrez. - disse ele rindo enquanto estávamos parados no tráfego de LA.

– Eu não te imitei, você que tem um intuição apurada demais. - ri junto.

Após 20 minutos presos no trânsito infernal de LA, enfim chegamos á Venice Beach. Eu nunca tinha estado ali, e era realmente um ambiente praiano totalmente diferente do Brasil. Ao contrário, era bem mais vazio e com lindas palmeiras. Havia pessoas andando de bicicleta pela calçada, outras jogando basquete em quadras.

Almoçamos deliciosos sanduíches de muzzarela no Fihtree's Cafe que ficava bem em frente a praia, mas dessa vez eu paguei minha própria comida vencendo o cavalheirismo do Bill.

Depois saimos do restaurante e ficamos andando de mãos dadas pela calçada da praia em silêncio. E eu estava pensando no quão bem ele me fazia estando ao me lado, me fazendo esquecer de tudo.

– Você viu nossas fotos na internet? - perguntou Bill quebrando o silêncio.

Droga, ele já tinha visto pelo jeito. Menos eu que não entro na internet faz tempo, mas já sabia. E isso me fez lembrar da briga entre mim e minha mãe. Só espero não chegar nesse assunto.

– Sim. Eu odeio paparazzis. Até publicaram que eu arruinei o desfile da H&M. - disse desapontada.

– Eu também os odeio, sempre atrapalham nossa vida. Mas uma hora eu vou ter que confirmar sobre a gente ou eles nunca vão parar.

– É mesmo... - disse olhando para o chão.

– Você quer entrar na água? Está muito calor. - disse ele parando de andar e me envolvendo pela cintura.

– Se você entrar eu entro. - disse encostando minha cabeça em seu ombro. - Ele é apenas alguns poucos centímetros mais alto do que eu, ele sempre ganha de mim.

– Então vamos.

Ele me deu um beijo e descemos para a areia da praia, mas não tiramos os sapatos. Fomos caminhando até a beira da água e paramos ali. Não havia muitas pessoas ao redor, mas mesmo assim eu estava com vergonha.

Ele deve ter percebido que eu não seria a primeira a tirar minhas roupas, então ele começou a desabotoar sua blusa xadrez. Tomei coragem e fui tirando minha roupa também até ficarmos ambos com a roupa de banho. Comecei a rir da situação inconveniente que eu mesma tornava.

– O que foi? Está com vergonha? - ele começou a rir também.

– Talvez. Eu não sei.

– Para com isso! Você é... maravilhosa. - ele riu e jogou um pouco de água nas minhas pernas.

– Bill, isso não vale. Agora você vai ver!

Ele começou a correr de mim antes de ser molhado e eu fui atrás dele. Consegui alcança-lo e dei o troco molhando-o por inteiro. Entramos mais ao fundo na água e ele molhou meu cabelo.

– Bill, essa água com sal faz muito mal para os cabelos. - disse jogando um pouco de água no peito dele e depois prendendo meu cabelo.

– Sua fresca. - disse ele chegando mais perto de mim me agarrando pela cintura.

– Seu bobo. - susurrei perto da boca dele.

Eu queria beijá-lo mas ele continuava me atentando apenas respirando perto do meu rosto, até que ele roçou seus lábios nos meus e então me beijou delicadamente e bem devagar me fazendo sentir cada espaço da sua boca. Senti sua mão subindo e descendo pelas minhas costas. Ele pegou minhas pernas e me colocou em seu colo. Agarrei seu pescoço fazendo com que o beijo ficasse mais intenso até sentir o gélido piercing de sua língua. Nada podia nos separar agora e ele susurrava para mim o quanto me amava e eu me sentia a garota mais especial do mundo. Com ele não havia tristeza ou desesperança.

Ficamos ali mais um tempo e depois apenas se refrescando na água. O céu começou a escurecer e finos pingos de chuva começaram a cair.

– Está chovendo. - disse levantando as duas mãos sentindo as gotinhas na minha pele.

– Você quer ir embora? - ele perguntou me abraçando.

– Querer eu não queria, mas é melhor antes que comece a ficar mais forte. - disse mexendo em uma mecha de cabelo dele.

– Pra minha casa?

– Você não vai estar ocupado? - perguntei enquanto andávamos de volta para a praia.

– Vamos para o estúdio só de noite.

Peguei a toalha em minha bolsa que estava na areia para nos enxugarmos. Colocamos nossas roupas e fomos embora. No carro comecei a ficar com frio por causa do meu cabelo molhado e espirrei.

– Você vai acabar ficando doente. É melhor tomar um banho bem quente. - disse ele quando já estávamos em frente a sua casa.

Saimos correndo para entrar dentro da mansão Tokio Hotel antes que a chuva nos ensopasse e eu ficasse realmente doente.

– Cadê a minha banda favorita? - perguntei olhando para todos os lados.

– Eles devem estar dormindo ou saíram. Mas vamos, você precisa de um bom banho quente. - disse ele me puxando pela escada.

Subimos para seu quarto e Bill pegou um toalha para mim.

– Obrigada amor. Eu já volto. - disse pegando-a.

– Ok. - disse ele e depois me deu um selinho.

Tomei um banho bem quente e relaxante e tive que lavar duas vezes o cabelo para tirar o maldito sal. Ao terminar coloquei minhas roupas e não as do Bill.

Sai do banheiro e ele estava sentado na ponta da cama mexendo no meu celular com uma expressão que eu nunca tinha visto antes. Parecia estar furioso. Fiquei assustada.

– Bill... o que foi? - perguntei me agachando e colocando minhas duas mãos em seu rosto.

– Eu que te pergunto o que foi! - ele gritou tirando minhas mãos do rosto dele e se levantando.

– Eu não estou entendendo... - disse já sentindo uma fraqueza percorrer meu corpo.

– De quem é essa mensagem?

Bill pegou o celular e colocou-o em frente ao meu rosto me fazendo ler a seguinte mensagem: "Me encontre no Figtree´s Cafe ás 19, se quer uma dica, é melhor você ir. Eu ainda não te esqueci."

– Porque você mexeu no meu celular? - perguntei confusa.

– Porque eu ouvi o barulho da mensagem e decidi ver o que era, podia ser sua prima. Algum problema? É um homem? Você está saindo com outro? - perguntou Bill levando as mãos na cabeça.

– Não é nada do que você está pensando é que...

– Então me explica com quem você vai se encontrar? - ele me interrompeu.

– Eu não sei Bill! - disse falando a verdade mais estranha de todas.

– Então é isso... Eu já entendi. Por isso você sempre ficava estranha com esse celular. Você não confia em mim, você não me ama de verdade, eu sou um idiota mesmo.

Ele começou a chorar e andar nervoso de um lado para o outro. Eu não sabia o que fazer, ou o que dizer. Eu estava estatizada olhando para o nada e pensando no quanto isso era estranho. Ele devia confiar em mim, ele acha que eu estou traindo-o? Essa pergunta foi a gota d'água para meus olhos começarem a demonstrar toda a minha repulsa.

– Você não está achando que... Bill, porfavor, não faz isso comigo! Eu juro por tudo que não sei quem essa pessoa é, ele ou ela fica me mandando essas mensagens... - disse desesperada.

– Então porque você não me contou!? - ele gritou de novo.

– Para de gritar, essa briga é um bobisse você não percebe? Bill, eu te amo. Eu confio em você e você confia em mim. Olhe as outras men...

– Se você não percebe, eu tenho ciúmes de você. Eu preciso pensar. - ele me interrompeu de novo.

"Pensar?" susurrei para mim mesma. Bill saiu do quarto e bateu a porta me deixando sozinha em meu próprio desgosto. Comecei a chorar mais e olhar para o quarto. Porque tudo precisa dar errado comigo? Porque as outras pessoas precisam interfirir na minha vida de uma forma tão simples assim destruindo tudo? Eu não aguentava ficar mais um segundo ali. Peguei minha bolsa e desci correndo as escadas.

Ele estava encostado na parede da sala fumando um cigarro. Olhei para ele e isso me fez perder o chão. Não sabia que ele fumava. Sem pensar duas vezes sai correndo em direção a porta. Ouvi seus passos atrás de mim, mas não parei.

– Clara, espera!

Eu não voltei, eu não conseguia, nem ao menos sabia o que se passava pela cabeça dele. É uma bobagem imensa o que ele está fazendo. Eu não liguei para a chuva e continuei correndo pela rua misturando minhas lágrimas com a sua água. E a última coisa que eu vi foi uma escuridão sem fim.