Respirei fundo já em frente da porta olhando Bill ir embora para o estúdio. Talvez eu não precisasse estar nervosa desse jeito, não pela Yollanda, mas sim pela minha mãe.

Peguei as chaves na minha bolsa e abri a porta. Yo estava sentada no sofá assistindo televisão sozinha. Talvez Ryan estivesse trabalhando, não fazia ideia.

– Finalmente você chegou! - disse minha prima com alívio. - Estava ficando preocupada...

– Porque? - perguntei indo me sentar ao lado dela.

– Você não para mais em casa. Poderia ter pelo menos ligado.

– Eu acabei dormindo enquanto assistíamos filme, me desculpe. - disse com normalidade.

– Não, tudo bem. Mas... Como foi seu dia com ele? Muitos acontecimentos? - perguntou ela começando a ficar eufórica.

– Yo! Não aconteceu nada do que você está pensando. - prendi meu riso.

– Ok, eu vou parar. Mas mudando de assunto... O que aconteceu? - perguntou ela agora séria.

E mais uma vez eu vou ter que lembrar e contar do que aconteceu. A vida simplismente nos faz voltar ao passado de uma certa forma, por mais que queremos esquecer.

– Eu fui demitida da LA Model Yo... - disse deixando a tristeza transparecer em minha voz.

– Como assim demitida? Porque!? - perguntou ela indgnada.

– É uma longa história, eu não suporto nem lembrar! - disse levando as mãos á cabeça.

– Clara... Sua mãe não para de ligar. Ela está uma fera. Eu disse que você está bem, mas ela está brava com alguma coisa e não quer me dizer, ela quer de todo jeito falar com você. Eu preciso saber o que aconteceu. - Yollanda colocou suas mãos nas minhas delicadamente.

– Não foi culpa minha. Você lembra do que eu te contei sobre a Brittany? - disse fazendo uma careta ao pronunciar o nome dela.

– É claro, como eu poderia esquecer de uma cobra dessas?

– Foi ela de novo Yo. Durante o desfile eu cai, na frente de todos. Ela colou meus saltos com cola! Você não faz ideia do meu constrangimento, eu tentei continuar mas não consegui. E depois no camarim eu não pude me controlar e comecei a brigar com ela. Então o Mike me despediu dizendo que eu estraguei um dos melhores desfiles. Meu sonho foi destruído Yo! - disse com os olhos já rasos d'água.

– Eu não acredito... Eu sinto muito Clara. Ela não podia ter feito o que fez. - disse Yo me abraçando confortavelmente.

O telefone tocou atrapalhando nossa conversa. Só de ouvir aquele som meu coração deu um pulo de ansiedade e nervosismo. Yollanda me olhou no fundo dos olhos e eu já sabia quem era, não haveria dúvidas e também nenhum jeito a não ser atender. Senti uma pontada de culpa por não ter ligado nem dado notícias, por estar sendo justamente como eu sempre quis ser. E isso sempre foi um erro para ela.

– Oi.

– Clara? - perguntou Esther surpresa.

– Oi mãe... - disse como quem fez algo de errado.

– Clara! Você tem noção do quão preocupados eu e seu pai estamos? Porque não retornou nossas milhares de ligações? - perguntou ela eufórica.

– Me desculpe mãe. Eu ando meio ocupada... - menti.

– E eu sei muito bem com o que! Eu nunca pensei que com a criação que eu te dei, com tudo o que fiz e lutei por você, eu iria me decepcionar tanto. Só escute uma coisa... Você vai voltar agora para o Brasil.

– Como assim voltar mãe? Eu não estou entendendo. Eu não posso. - disse fechando os punhos e batendo na mesa do telefone.

– Sim, agora que você está com esse traste, você não pode não é mesmo? Mas você vai e acabou. - disse ela com autoridade.

– Como você... Você sabe que eu estou namorando? - comecei a andar de um lado para o outro nervosa.

– Milhares de pessoas ao redor do mundo sabem disso agora Clara. Você está em vídeos, fotos e revistas junto com esse Bill Kaulitz. E também na internet, várias fotos de você saindo chorando de uma festa e notícias da mais nova supermodelo Clara Miller ter arruinado o desfile da H&M. Ou você está simplesmente fingindo de que não sabe? - perguntou minha mãe me humilhando.

– Eu juro mãe, eu não sabia disso! Eu... Eu não sei o que dizer. Me desculpe. - disse chorando.

– Mas é claro que você não sabe o que dizer. E não precisa de desculpas, agora que você já é uma decepção, isso não é necessário. - disse ela com agressividade.

– Então é isso mãe? Eu sou uma decepção pra você? Agora você se arrepende de me ter como filha? Você não sabe o que aconteceu, você não pode dizer isso... não pode! - gritei.

– Eu sei o que aconteceu Clara! Eu não queria que seu futuro fosse esse filha, ao lado de um "cara" de uma bandinha medíocre, cheio de tatuagens que mais parece um deliquente. Admita! Você foi demitida porque está apaixonadinha por ele. Meu maior erro foi ter confiado em você, em ter te deixado ir para Los Angeles. Mas você destruiu o seu sonho! Você não passa de uma jovem que não sabe nada da vida. - disse Esther em um tom alto e com a voz firme.

– Você acha que eu sou uma criança mãe? Na verdade sempre foi assim, minha vida inteira mas você nunca percebeu. Eu fiz tudo o que você achava que era certo para mim, e não o que eu achava porque você nunca confiou em mim! Você sempre me deixou presa em um mundo no qual só você enxergava que era bom. Mas agora eu cansei. - disse chorando mais ainda.

– Clara... Eu não aguento mais isso. Chega! Eu não admito essas suas malcriações, eu sou sua mãe e não uma amiga. Eu vou repetir: você vai voltar amanhã para o Brasil e seu pai já te matriculou na faculdade de advocacia. Você vai tomar jeito na vida agora de uma vez por todas!

– Não! Eu não vou para faculdade nenhuma. Porque você acha que pode fazer o que bem entender da minha vida? Eu tenho 18 anos agora mãe. Se você me deixasse explicar o que aconteceu você...

– Eu já disse duas vezes e não vou repetir, você vai voltar amanhã ou eu vou ir até ai te buscar á força. - disse Esther me interrompendo.

Ela desligou o telefone sem ao menos deixar eu terminar de falar. Minhas pernas estavam bambas, e eu sentia como se tivesse chorado um oceano e meu coração estivesse sendo despedaçado aos poucos por ela.

Tantas perguntas na minha cabeça e nenhuma delas com respostas. Tudo estava acontecendo tão rápido na minha vida e poucas dessas coisas eram boas. Eu já não tenho mais coragem de chamá-la de "mãe". Porque ela acha que pode tomar conta da minha vida? Porque, porque?

De uma coisa eu tenho certeza, não vai ser ela que vai achar que pode mandar na minha vida, não agora. Só de pensar em abandonar Bill para sempre já me causa desespero e sofrimento repentino. Ela não sabe nada do amor, e nunca soube. Ela não vai destruir a única felicidade que me restou. Eu não vou voltar. Eu não consigo, minha razão foi trocada pelo sentimento.

– Clara, você precisa se acalmar! Sente-se aqui e me conte. Olha eu sei como ela é, ela está errada mas...

– Não! - gritei pegando minha bolsa.

Sai correndo e subi as escadas rapidamente deixando toda a tristeza sair em lágrimas pelos meus olhos, bem como um oceano.

Já lá em cima correndo em direção ao meu quarto esbarrei em alguém.

– Hey! Clara? O que foi? - perguntou Ryan enquanto eu continuava correndo.

Entrei no quarto e bati a porta e a tranquei. Deixei meu corpo cair como uma pena sobre a cama. Tirei meu lenço vermelho do cabelo e enxuguei minhas lágrimas, mas elas não paravam de escorrer deixando meus olhos pretos e marcando a angústia em meu rosto.

Me sentei na cama e peguei o celular dentro da bolsa quase que instintivamente com a esperança de que tivesse uma ligação dele, do único ser que me fazia sorrir. Mas essa esperança logo se acabou, pois aquela mensagem não era a dele.

"Como é se sentir perdida, sem chão querida Clara? Eu sei como é isso e acredite, eu posso te fazer ganhar tudo isso de novo. Mas você vai precisar de mim."

Não, eu não preciso de um anônimo idiota para me recompor. Eu não preciso de alguém que nem ao menos me diz seu nome. 

Meu mundo tinha desabado. Ninguém sabe como é se sentir sozinha, como se ninguém acreditasse em você. Seu sonho foi destruído mas ninguém está lá para te salvar. Eu adormeci entre lágrimas, desejando não acordar.