O tão temido intervalo chegou. Sophia achou melhor ficar na sala para não ter que falar com Natália. “Quanto mais distante melhor!” Sophia pensava. Felipe agora já não ficava mais na sala, ele já tinha se enturmado com os outros alunos e já tinha encontrado um grupinho. Sophia colocou seus fones de ouvido escolheu a música mais triste que tinha em seu celular e deitou sobre a mesa. A música estava muito alta então ela não ouviu a porta se abrir. Natália estava ali, olhando para ela com aquela cara que criança que está se divertindo muito. Ela sabia que Sophia se assustaria ao vê-la ali. 

Sophia finalmente levantou a cabeça para trocar de música e encontrou a menina ali parada encostada em uma das carteiras a observando.

- Oi, Sophia! –Natália não conseguiu conter o sorriso.

- Natália?- Sophia disse assustada.

- Feliz em me ver?

- Na verdade surpresa.

- Você não apareceu lá fora, então eu resolvi te procurar aqui. Na verdade o Felipe me disse que você estava aqui.

- Vocês são amigos? –Sophia não gostava muito dessa ideia.

- Sim! Ah, você não sabe ainda. –Natália falou piscando para ela. –Na verdade pouca gente sabe.

- Do que? –Sophia perguntou confusa.

- O Felipe é gay. –Disse ela olhando para a expressão espantada de Sophia.

- É sério?

- Sim.

Sophia ficou decepcionada e surpresa com a descoberta. Ele não tinha nenhum jeito, como ela não percebeu?

- Eu sei que parece mentira, mas é verdade. Eu também não percebi nada até que um dia a gente conversando, ele me contou. –Natália disse parecendo ter lido os pensamentos de Sophia.

- Nossa! –Sophia não pôde esconder a surpresa na voz.

Sophia se levantou para guardar um caderno na mochila e Natália se aproveitou da situação para chegar mais perto da garota.

- Então, nós vamos ficar só na conversa? –Natália já estava muito próxima de Sophia.

- O que você espera? –Disse Sophia dando um passo para trás.

- Ah, sei lá. Depois daquele dia na festa, eu achei que nós poderíamos ter algo a mais.

- Como o que? –Sophia agora encarava Natália.

Natália tocou seu rosto, colocou uma mão na cintura de Sophia enquanto passava a outra pelo seus cabelos, puxando-a pela nuca.  Sophia se assustou mas não tentou impedi-la.  Os lábios das duas meninas se encontraram, num beijo que começo lento, mas que logo ficou rápido e quente.

Sophia não conseguia se controlar quando estava perto de Natália. Ela começou a andar pra trás, ficando entre Natália e a parede da sala. As mãos de Natália começaram a percorrer o corpo de Sophia que sentia novamente a mesma sensação que sentira no banheiro da festa. Mas dessa vez ninguém apareceu para interromper as duas, as mãos de Sophia deslizaram para dentro da blusa de Natália, que sorriu com aquilo. Natália agora tinha as mãos abaixo da cintura de Sophia e tentava desesperadamente abrir a calça da menina. De repente elas ouviram um barulho alto, era o sinal indicando o fim do intervalo.

- É melhor eu ir agora. –Disse Natália que parecia sem ar.

- Também acho melhor. –Sophia agradecia em pensamento por aquele sinal ter tocado naquele exato momento.

- Então, tchau! –Disse Natália dando um beijo na menina e saindo pela porta.

Sophia ficou ali parada pensando no que ia acontecer se o sinal não tivesse batido. Na verdade ela não sabia exatamente o que iria acontecer, mas a ideia já lhe causava arrepios.  Ela andou para sua carteira com medo que os outros alunos chegassem e a vissem ali parada com cara de idiota.

Juliana entrou na sala e vendo que a amiga não estava muito bem perguntou:

- Sophia o que houve? –Juliana parecia estar realmente preocupada.

- Nada, estou bem. –Disse Sophia tentando acalmar a amiga.

- Tá com cara de quem tomou um susto. Eu vi a Natália Saindo daqui, ela teve algo a ver com isso?

- Não.

- Não minta para mim. Você sabe que é péssima com mentiras.

- Depois a gente conversa. –Sophia aproveitou que o professor tinha entrado na sala para cortar a amiga.

Ela sabia que Juliana não ia desistir até saber o que realmente tinha acontecido. Sophia não contou nada para ela sobre o que tinha acontecido com Natália. Não conseguia nem imaginar como a amiga reagiria. E ela também não queria que ninguém soubesse do que aconteceu entre ela e Natália.

Mais tarde naquele mesmo dia, Sophia estava em seu quarto pensando o que ia fazer com relação a Natália. Ela sabia que tinha que acabar logo com aquilo antes que as coisas ficassem mais sérias entre as duas. Então ela ouviu sua mãe gritar lá de baixo:

- Sophia, tem uma amiga sua aqui querendo te ver!

Sophia desceu as escadas pensando que seria Juliana querendo saber o que tinha acontecido mais cedo. Mas quando chegou ao primeiro andar da casa deu de cara com Natália.

-O que está fazendo aqui? –Sophia parecia com medo.

- Isso é jeito de tratar uma amiga minha filha? –Disse Dona Marta estranhando o comportamento da filha.

Sophia ainda olhava para Natália assustada.

- Vamos lá pra cima. –Foi só o que ela conseguiu dizer.

Natália acompanhou Sophia até o seu quarto.

- Entra. –Sophia estava sendo um pouco rude com a menina. Mas não era sem motivo, o que Natália tinha ido fazer ali?

- O veio fazer aqui? –Disse Sophia enquanto fechava a porta do quarto.

- Queria te ver. –Natália estava começando a irritar Sophia.

- Não podia esperar até amanhã?

- Ah, podia, mas eu fiquei com saudade. E agora já conheço a sogra. –Natália passou os braços pela cintura de Sophia.

- Você é maluca! –Disse Sophia não achando graça e escapando dos braços de Natália.

- Você está com raiva de mim? –Natália parecia arrependida.

- Não, mas eu acho que nós precisamos conversar Naty. –Sophia já tinha tomado sua decisão, e quanto mais cedo acabasse com isso melhor.

- Fala. –Natália se sentou ao lado de Sophia na cama.

- Olha Naty, você é uma garota muito legal e muito linda também...

- Pode pular essa parte. –Natália parecia querer chorar.

Sophia não sabia mais o que dizer. Ela estava com medo de que Natália começasse a chorar e ela não tivesse mais coragem de dizer.

- Naty? Olha pra mim.

- Eu sabia que isso ia acontecer. Você não consegue gostar de mim, não é?

- Eu sinto muito Naty. Eu... Sempre estrago tudo. A culpa não é sua! –Sophia tinha lágrimas nos olhos.

Natália começou a chorar e Sophia se sentiu péssima com isso. Ela passou a mão no rosto de Natália para secar as lágrimas.

- Você foi muito importante para mim Naty. É sério.

- Não tão importante quanto eu gostaria de ser.

- Mas foi! Foi não, é! Acontece que eu não consigo te amar. E seria injusto com você se eu fingisse, sabendo o quanto você gosta de mim.

- Tudo bem. –Disse Natália sorrindo e Sophia a abraçou.

Sophia sabia que por mais doloroso que fosse, era o certo a se fazer. E ela também sabia que Natália iria superar aquilo assim como ela um dia superou.