Sir Hellsing, como de costume se encontrava em seu escritório, agilizava e assinava uma papelada que estava atrasada há tempos e compulsivamente tragava um nobre tabaco inglês, ainda estranhava o silêncio que sua mansão tinha adotado.

Já não tinha o vampiro Alucard para importuná-la com suas ironias e nem seu querido mordomo Walter em que muitas circunstâncias lhe serviu como a figura de um pai, que com sua morte Alphonse teria ocupado seu lugar de mordomo.

Tinha que confessar, Alucard e Walter faziam uma falta significativa que jamais pensaria que Integra Fairbrook Wingates Hellsing sentiria falta de meros servos, consequentemente a levava a pensar no fato de estar amolecendo, isto a perturbava em todos os aspectos.

Com o passar dos meses estava começando a se acostumar com a presença de Alphonse, Walter jamais seria substituído, entretanto seu novo mordomo era dotado com características do seu anseio, silencioso ao ponto de algumas ocasiões não notar sua presença, dotado de uma disciplina exemplar e principalmente usufruir de bons costumes ingleses, a convenceu vagarosamente que lhe era apto a ocupar o lugar exercido por Walter, mesmo a coragem de Alphonse nunca ter sido posta à prova, algo lhe dizia que não poderia contar com atos heróicos vindos de seu novo mordomo, isso não a incomodara tanto, pois não via necessidade de ninguém para assegurá-la, embora em muitas circunstâncias sua teoria teria sido contrariada, porém seu ego inflado com anos de árduos treinamentos a favorecia em continuar com toda sua presunção.

Com o costumeiro silêncio de Alphonse, Integra não notou que lhe entregara uma carta mais cedo, ao pegá-la notou a perfeição em sua confecção, virou lentamente afim de apreciar aquele simples trabalho, sabia que poucas pessoas tinham paciência e mãos cuidadosas o suficiente para com aquilo, inicialmente algo lhe intrigou, aquela carta continha um brasão peculiar que lembrara ter visto em alguma época de sua vida, então uma lembrança se aconchegou  vagarosamente:

Estava uma ensolarada manhã de verão, acompanhava seu pai em sua cansativa rotina de trabalho, mesmo sendo um criança adorava o fato de estar junto a ele, com isso relevara as horas que ficava trancafiada em seu escritório, quando de repente ouvira Walter com suas singelas batidas na porta e a voz firme e calma de seu pai:

-Entre Walter, disse seu pai.

E a voz mansa e cautelosa de Walter tomou conta do ambiente, - Uma carta chegou esta manhã mestre.

Com um sorriso simpático em seu rosto respondeu-lhe,:       

-Obrigado Walter.

Depositando a carta cuidadosamente sobre a mesa, Walter retirou-se com uma singela reverência.

Ao mirar seus olhos no brasão em que o selo carregava algumas palavras involuntariamente fugiram de seus lábios:

-O selo dourado.

Com estas palavras mostrava que estava visivelmente intrigado pela leitura que estava por vir.

Ao voltar de sua viagem ao passado, lembrara também que em sua morte que seu pai deixara o selo aos cuidados de Walter.

Nesse momento uma forte ansiedade a assolara, esquecendo a perfeição que o envelope havia sido confeccionado, abriu a carta rapidamente ignorando os danos que tinha feito, forçando o olho míope que lhe restara, reconheceu a caligrafia desenhada com perfeição por Walter, logo um sentimento nostálgico a tomou.

Depois de tantos anos com aquele velho a importunando a fazer as devidas refeições, outrora interferindo em suas importantes decisões em olhares singelos ou até mesmo com palavras ditas, sabiamente, porém jamais pensaria que sua falta seria sentida de forma tão destoante.

Ajustando os óculos em seu típico nariz inglês, pôs se a ler a carta que tanto a infringia, e se deparou com palavras que jamais esperaria de Walter.

- Querida Integra, convenientemente o fato de estar lendo esta carta é que me encontro morto, bem espero que aceite meu filho Harry para ocupar o meu devido lugar.

P.s: I love you my master, forgive me.

Walter C. Donnelly Dornez

Integra ficou estática simplesmente não acreditara no que terminara de ler, mas a caligrafia presente naquela carta era igual a do mordomo o brasão que selara a carta era da família Hellsing, com todos aqueles argumentos não havia modos de ser falsa. 

As palavras que adentraram em seu coração bloqueados de inúmeras barreiras, construídas com o tempo para impedir que fosse machucada ou até mesmo pelo medo de ser conquistada, se perguntava como aquela simples frase foi capaz de reduzi-las em pó, e então se sentiu sozinha, desprotegida como uma criança, e o pior sentimento estava por vir, sabia que aquelas palavras singelas e fortes como um tiro de canhão que lhe perfurava a alma, foram de uma total veracidade que ele demonstrara a tratando como filha, protegendo de todos os males até mesmo dela.

Depois de minutos perdida em seus pensamentos sussurrou apenas uma única palavra:

 -Maldito.

Levantou-se e preparou uma generosa dose de whisky apagando seu cigarro e acendendo outro em seguida.

Perguntava-se onde andara Harry, o filho que Walter escondeu por tantos anos, e por qual motivo teria escondido a sua existência ? Essa dúvida a tinha deixado sem respostas cabíveis, mas com toda certeza seu confiável mordomo já havia pensado em tudo, presumia que provavelmente Harry também não sabia de sua existência e nem muito menos o fato de ter que substituí-lo, era uma questão de tempo até receber uma carta ou até mesmo um telefonema.

Conforme o costume, Integra se encontrava em seu escritório, ainda absorta com a carta que recebera, não percebeu novamente que Alphonse havia entregado uma carta, desta vez não parou para admirar o seu envelope, apenas o despedaçou.

Estava certa mais uma vez sobre a personalidade de Walter, a carta que estava em suas mãos era de Harry, a caligrafia presente era quase uma obra de arte superando até mesmo Walter.

Colocando seus óculos em seu devido lugar começou a ler :

Sir Hellsing,

Imagino que tenha presumido que não era do meu conhecimento o fato de ter que assumir o lugar de meu pai, mas seguirei a sua vontade, dentre 3 dias irei a Londres.

 Espero que não se importe em ter um ex Iscariot como seu mordomo.

Atenciosamente:

Harry C. Donnelly Dornez