Capítulo 19 – Por Caius

-Se quiser, o próximo eu deixo para você – falou Zac voltando enquanto limpava sua lança

-Obrigado – eu agradeci, não queria o próximo, nem matar ninguém, mas aceitei como uma dádiva a proposta, Carreiristas não deixam vitimas para os outros, eles disputam quem mata mais

Continuamos andando por algum tempo tentando seguir pistas, mas nada. O máximo que encontramos foi uma poça de sangue seca, que não sabemos se era de algum animal ou de algum outro tributo morto. BOOM. Mais uma morte, onze ao total. Como os números desciam tão rápido? Mais uma semana de arena e só um estará vivo. Preciso achar Juliet

-Vamos voltar – falou Zac após de horas, e assim voltamos ao acampamento em silencio.

Todos já estavam lá e não pude deixar de notar uma pequena poça de sangue ali. Aproximei-me para ver o que tinha acontecido, e encontrei Lime se gabando por matar um tributo que tentara nos roubar.

-Era aquele garoto do 7 – ela falava balançando os cabelos loiros como se matar fosse a coisa mais normal, talvez nesse grupo seja – Ele tentou nos roubar e eu ainda estava na metade da minha trança, ele achou que eu fosse ignorar, porem eu fui atrás dele e o idiota achou que poderia me matar, bom eu fiz isso antes e ele tinha um machado legal – Lime falou mostrando a arma

-Vocês conseguiram alguma coisa? – perguntou Agatha irritada, acho que ela se irritava por Lime estar se gabando e ela não ter nada para criticar

-Distrito 10 – Zac falou – Ela estava fazendo uma barulheira tentando acender a fogueira

-Essa garota era idiota? – perguntou Isabel que estava separando a comida - É serio, quem acenderia uma fogueira a essa altura dos Jogos? Existem pessoas que parece que nunca assistiram ao programa

Ninguém argumentaria porque Isabel tinha razão, qualquer um que assistisse aos Jogos saberia que uma fogueira nos primeiros dias significaria morte. Ninguém pode julgar aquela garota, por ser do 10, ela deve estar acostumada a ter carne em casa e convenhamos que qualquer um pode fazer um fogo para assá-la, as vezes ela queria acender a fogueira por sentir fome, nem todos tinham patrocinadores e suprimentos da Cornucópia para sobreviver.

Isabel separou em porções iguais as frutas secas das mochilas e deu para cada um, todos comeram sem ao menos se preocupar para guardar, era claro que não precisaríamos disso tendo tantos patrocinadores.

-E o que faremos agora? – perguntou Lime olhando para Zac assim que terminou sua porção

-Não é óbvio? – Agatha falou irônica – Iremos caçar tributos

-Não – falou Zac e ela o olhou espantada. Tive que me segurar para não rir da reação dela e olhando para o lado vi Luke segurando a risada também

-Não? – ela perguntou novamente e agora Lime também segurava o riso

-Não – respondeu Zac sério novamente

- E por que não? – a garota perguntou irritada, ela nunca acertava as coisas

- Porque a maioria dos tributos está distante – o líder falou economizando palavras

-E o que isso tem haver? – a Distrito 4 perguntou ainda irritada

-Você não consegue ver? Isso é óbvio! – exclamou Isabel imitando um pouco o tom de voz da outra – Teríamos que andar quilômetros para encontrá-los e estaríamos cansados quando os encontrassem

-E então o que faremos? – Agatha perguntou derrotada

-Não é óbvio? – dessa vez foi Lime com deboche - Ficaremos no acampamento, sua lerda

E então tudo foi muito rápido, em questão de segundos Agatha voou para cima de Lime e começou a puxar o cabelo dela enquanto as duas rolavam no chão. A Carreirista do Distrito 1 também não ficava para trás nos puxões de cabelo. Bruce e Luke correram para tentar separar as duas, mas só conseguiram esse feito depois que elas haviam caído na poça de lama que tinha ali. Bruce segurou Agatha enquanto Luke segurava Lime nos braços, ambas se debatiam querendo atacar a outra. Era fato que estávamos com a audiência agora. Eu e Zac observávamos, Isabel ria em seu canto e as outras duas gritavam xingamentos, até Zac se irritar.

-Quantos anos as duas pensam que tem? Ou melhor, onde vocês acham que estão? – ambas pararam de se debater podendo dar um descanso para os outros dois - Somos aliados, todos temos que agir em grupo e um grupo não pode ter pessoas brigando iguais duas crianças de 5 anos. Sinceramente, eu esperava mais das duas.

A essa altura as duas já haviam parado de brigar e Bruce e Luke já não as prendiam com tanta força. Agatha apenas tirou as mãos de Bruce de seus braços, pegou uma mochila azul que havíamos entregado a ela e disse:

-Ótimo, se não me querem aqui, estou caindo fora. Apenas espero que vocês sejam dignos de não me atacarem pelas costas. Adeus – e dizendo isso ela entrou na floresta, ninguém a atacou, apesar da sede por sangue todos ali tinham a honra de não romper uma aliança dessa maneira.

Depois de alguns minutos com a saída de Agatha, Luke apenas deu uma risadinha e disse:

-Tinha que ser a Agatha mesmo – e só agora que me veio a mente que os dois eram parceiros de distrito, o distrito 4 não me parecia ser um lugar legal

-Vocês já se conheciam, Luke? – perguntou Isabel curiosa

-Éramos da mesma sala, e ela sempre foi assim, sempre que todos a contrariavam ela sumia, por isso todos odiavam fazer trabalho em grupo com ela – aquele garoto irritante falou

-Então foi bom ela ter saído da aliança, Agatha só nos traria problemas – falou Zac frio

-Já estava nos trazendo – falou Lime, ela ainda estava suja de lama que secava em sua roupa e em seu rosto tinha alguns arranhões

-Eu não sei o porquê dela querer tanto caçar tributos, não conseguia nem chegar perto dos animais de tanto que ela fazia barulho – falou Bruce

-O programa vai começar – falei apontando para o céu que mostrava o símbolo da nação cortando o assunto

A foto do garoto do 7 surgiu seguida pela garota do 10. Hino. Símbolo de Panem. Fim do programa.

-Quem é o primeiro a ficar de guarda? – Luke perguntou e Lime se apresentou, eu era o segundo.

Todos nós deitamos em nossos sacos de dormir enquanto Lime ficava de vigia. Fechei os olhos e em questões de segundos adormeci. Comecei com um sonho tranqüilo de uma lembrança não muito antiga do Distrito 3.

-Ei, está na minha vez - falava Feron esticando o braço para pegar o que estava na minha mão

-Nem venha Feron, você ficou um tempão atirando, sendo que o arco ainda é meu – eu falei enquanto esticava os braços e mudava o arco rapidamente de uma mão a outra para que meu amigo não conseguisse alcançar

-Ah Caius, você sabe muito bem que está na minha vez, pare com seus joguinhos - o moreno falou tentando pegar a arma

-Que joguinhos? – perguntei sarcasticamente enquanto via o igual a uma criança tentando tirar o arco de minha mão

-Quantos anos vocês dois pensam que tem? - perguntou Isis sentada embaixo de uma árvore fechando seu livro com força - Está terrível ler com vocês dois discutindo,   tenho certeza que os amigos de Juliet não fariam tanto barulho.

-Mas ele não me deixa treinar - falou Feron como se tivesse cinco anos de idade

-Você ficou horas com o arco e eu que não te deixo treinar? – rebati o provocando

-Por que eu ainda perco meu tempo com vocês? - perguntou Isis colocando o livro de lado e fechando os olhos por um minuto para sentir a brisa em seus cabelos

-Sei lá, acho que tem alguma coisa haver com o fato de você acha as outras garotas irritantes - Falou Feron ao parar um pouco de tentar recuperar o arco

-Ou talvez o fato de você amar a gente - falei sentando ao seu lado e abrindo um sorriso, ela o retribuiu

-Boba - ela falou me dando um tapa leve no braço ainda com um sorriso

-Ahá, consegui - falou Feron ao conseguir pegar meu arco enquanto eu estava distraído

-Ora, volte aqui – falei me levantando e correndo atrás de Feron, mas ao virar de costas apenas ouvi um grito vindo de Isis. Nós dois nos viramos o mais rápido que pudemos e conseguimos ver um lobo em cima dela sujo de sangue. Feron, que estava com o arco, o ergueu com uma flecha na tentativa de atacar, mas antes que ele pudesse fazer qualquer coisa o lobo foi para cima dele o estraçalhando, em seguida o animal me olhou com um braço do meu amigo na boca e então pude notar que não era um lobo comum, era um bestante. Uma fera enorme com pelagem dourada e olhos azuis elétricos que logo reconheci ser Zac, a fera veio se aproximando numa velocidade inimaginável e pulou em cima de mim, eu  era a próxima vítima.

Acordei assustado e suando frio, pisquei os olhos algumas vezes sem conseguir ver nada e quando consegui ver alguma coisa, consegui enxergar apenas Lime quase dormindo na vigília.

-Vá dormir – falei tocando em seu ombro – Eu assumo a partir de agora – não precisei falar duas vezes, ela rapidamente foi para seu saco de dormir e se aconchegou adormecendo.

Fiquei algum tempo encarando a floresta até notar a criatura parada ao meu lado, uma menina com a pele perolada, como se já não fosse muito perturbador sonhar com a mistura de uma lembrança com um pesadelo. O que seria ‘aquilo’? Poderia parecer com uma pessoa, mas não era. Era um fantasma? Sim, era isso mesmo, mas de quem? Juliet? Não, as características eram muito parecidas, mas ainda era possível ver diferenças como o cabelo e o formato da boca.

-Finalmente você me notou - falou a menina-fantasma 

Pisquei mais algumas vezes, o que realmente era aquilo? Apertei um pouco mais os olhos até conseguir me lembrar de uma antiga fotografia que tinha em casa

-Teve pesadelos? – ela me perguntou com um tom maternal o qual eu já não ouvia há muito tempo

-Tia Nina? - perguntei ainda confuso ao reconhecer a criatura perolada a sua frente, ela era muito parecida com minha irmã

-Achei que nunca fosse me reconhecer - ela falou se sentando ao meu lado, era até estranho chamá-la de tia sendo que ela tinha uma aparência mais nova do que a meus - Pesadelos muito ruins? - perguntou ao notar que eu ainda meio perturbado

-Sim, mas isso passa - falei passando uma das mãos pelo cabelo, algo que sempre fazia quando estava nervoso

-Os pesadelos? - ela perguntou enquanto me observava, isso era extremamente estranho - Acha mesmo que eles passam? Pois aí vai uma verdade: Eles não passam. Enquanto estiver na arena, tudo o que você estiver sonhando pode se tornar real, até mesmo seus pesadelos mais horripilante. Se você sai vitorioso, suas lembranças reais com seus pesadelos se misturam e se tornam pesadelos pelo resto de sua vida. Marcus é a prova viva disso. Sua única chance de escapar disso é morrendo na arena - ela fez uma pausa -Talvez fosse melhor você tentar isso antes, eles apenas pioram com o tempo.

-Você está me dizendo para eu cometer o suicídio? – perguntei confuso

-Ah sim, é a melhor maneira para acabar com esses pesadelos - a fantasma falou como se fosse a melhor coisa a ser feita

-Mas, mas… E os Jogos? – eu permanecia confuso

-Ora, você já não vai morrer de qualquer maneira mesmo? Por que não logo para acabar com toda essa dor? - Nina perguntou enquanto olhava a floresta ao seu redor - Preciso ir, o dia vai amanhecer logo - e com isso desapareceu

Em parte ela estava certa, eu já não aguentava mais cada pesadelo e qual era o sentido de permanecer vivo se sabia que morreria logo? Eu já havia pensado algumas vezes em suicídio. O número de pessoas na arena já havia reduzido para treze e até agora não havia encontrado Juliet. Talvez fosse melhor se nenhum dos dois saísse vivo.

Mas em que eu estava pensando? Só estava a dois dias na arena! Minha própria mente está se confundindo, isso é ruim. Não posso ser egoísta ao ponto de achar que minha morte e a de Juliet viriam de bom grado e deixar meu pai sozinho, nós dois éramos a única coisa que ele ainda tinha e que a Capital estava tirando.

E agora a pergunta que não saia da minha cabeça: A fantasma era real? Ou era apenas um pesadelo dentro de outro?

Me parece ser real, mas aquilo seria um truque dos Idealizadores para me confundir? Bem provável. Talvez essa arena seja mais perigosa do que parece.