SAMANTHA’S P.O.V

Acordei animada para meu primeiro dia de aula na faculdade. Pulei da cama e tomei café da manhã rapidamente.  Me arrumei na mesma velocidade e saí de casa sozinha, já que meu horário era um pouco diferente do dos outros da casa, por ser meu primeiro dia e ter algumas palestras.

Não demorou muito e eu estava sentada no auditório ouvindo o reitor dar boas vindas aos novos alunos e explicar algumas regras e aquele blá blá blá todo.

Meu primeiro dia foi tranquilo, realmente. Tinha tido apenas algumas aulas, mas os professores pareciam legais.

A namorada de Niall (que eu só conhecia por foto, já que até hoje eles não tinham arranjado um tempo para nos encontrarmos) fazia letras assim como eu e, por sorte, caiu em uma de minhas salas.

Ela era realmente a “cara” de Niall: tinha sardas espalhadas por todo seu rosto, olhos caramelos, um sorriso singelo e cabelos tão ruivos que chegavam quase a serem vermelhos. Parecia uma bonequinha, e eu era capaz de imaginar o loiro sendo tão protetor a ela quanto um pai é para uma filha.

- ei! – acenou para mim da porta e caminhou até onde eu estava sentada, alguns horários antes – não sabia que você ia fazer letras – sorriu e então pareceu se lembrar de alguma coisa – eu sou a namorada de Niall, Ashley... você é Samantha, não é? – sorriu mais ainda.

Sentou ao meu lado e ficamos mais conversando do que prestando atenção na apresentação do professor, que chamava alguns alunos lá na frente para dizerem seu nome, idade, porque estão ali, etc...

Senti-me tão à vontade com ela que naquele momento, caminhando até em casa com ela ao meu lado, e rindo de alguns casos idiotas que contávamos, parecíamos amigas de muito tempo.

- oi amor – Niall disse saindo da cozinha e vindo em nossa direção na sala, provavelmente por ter escutado a voz de Ash.

- já está em casa? – a ruiva perguntou surpresa e olhou o relógio.

- sim – disse e, finalmente chegando até ela, lhe deu um beijinho rápido – eu te mandei uma mensagem avisando que sairia mais cedo hoje – sorriu.

- nossa, eu nem vi, Niall, estava tão distraída conversando com Sam que nem vi – encolheu os ombros enquanto procurava o celular na bolsa.

- você conhece ela há – olhou para o relógio e pareceu contar alguma coisa – quatro horas e já fez com que ela esquecesse de mim, Samantha? – fingiu de bravo e nós duas demos uma risadinha.

- quer ajuda na cozinha? – perguntei passando por ele.

- você vai queimar meu caldo igual aquele dia? – levantou uma sobrancelha.

- claro que não – fingi de ofendida e ele riu.

Logo nós três estávamos preparando almoço. Se bem que eu e Ash estávamos mais rindo do que ajudando, mas o que vale é a intenção não é mesmo?

****

Terminei de me trocar e saí do banheiro secando as pontas de meu cabelo com a toalha.

Estava tão distraída andando olhando para o chão que acabei esbarrando em alguém no meio do caminho. Levantei meu olhar encontrando Liam com um sorriso bobo no rosto; tinha me olhado de forma brincalhona os últimos dias pelo fato de ter me lembrado especialmente dele em minha primeira lembrança.

Sorri de volta e passei pelo espaço entre ele e a parede, já que parecia que não iria se mover tão cedo.

Pendurei a toalha no varal e subi para o quarto de Harry. Bati da porta duas vezes e entrei antes que ele dissesse se eu realmente podia.

- vai sair, cachinhos? – disse pulando na cama e ele sorriu, se virando para o armário logo depois, concordando com a cabeça.

- na verdade acho que você é a única que vai ficar em casa – levantou as sobrancelhas.

- pelo menos vou ter a casa toda só pra mim – abri os braços sentando de pernas de índio na cama e ele soltou uma risada pelo nariz.

- não sei como você gosta tanto de ficar em casa...

- eu é que não sei como vocês gostam tanto de sair... e pior, depois eu é que tenho que ficar escutando vocês reclamando de cansaço no dia seguinte – revirei os olhos.

- qual das duas? – me ignorou, me mostrando duas camisas que segurava pelo cabide.

- a azul – disse depois de analisa-las por alguns segundos – Harry? – disse incerta depois de me deitar na cama mais uma vez.

Se virou para mim ao mesmo tempo que passava a camisa pela cabeça.

- o que você acha do Ryan? – perguntei olhando para o teto e ele hesitou um pouco.

- eu... eu acho ele legal, Sam. Porque? – juntou as sobrancelhas em uma cara confusa.

- por nada. Só queria saber o que você achava dele – dei de ombros – Harry? – perguntei mais uma vez, mas não olhei em seus olhos para ter certeza de que estava atento – o que você acha do Liam?

- eu... eu acho o Liam bem legal também, Sam – soltou uma risada pelo nariz e veio se sentar na cama.

Continuei sem encará-lo.

- o que está acontecendo, Sam? – puxou de leve a minha calça.

- não é nada – fingi de confusa – é só que vocês pareciam bem mais animados com o meu namoro quando o Liam fazia parte do relacionamento...

- é porque o Liam é nosso amigo, Sam, isso deve ajudar nessa decisão, não é? – passei as mãos pelos cabelos e ele se deitou ao meu lado, fitando o teto como eu – converse comigo, Sam... – dei uma risadinha – eu estou falando sério – disse com um sorriso – tem tempo que a gente não faz isso.

- eu estou confusa... – quebrei o silêncio depois de alguns minutos.

- confusa? – continuávamos encarando o teto.

- sim... – respirei fundo – quer dizer, quando eu vim pra cá, eu tinha certeza... bom, uma grande parte de mim tinha certeza de que eu não sentia mais nada pelo Liam, e que iria ser tudo bem. Mas parece que foi só eu olhar pra ele que...

- que o quê, Sam? Você está em dúvida entre ele e o Ryan, é isso?

- não – disse rápido de mais e cobri o rosto com a mão logo depois – quer dizer, não sei... eu estou confusa! – hesitei por um momento – eu gosto do Ry, gosto muito dele. Mas parece que quando eu estou como idiota do Liam alguma coisa muda, sei lá. Eu me sinto diferente e...

- talvez você devesse terminar com o Ryan e pensar melhor...

- mas é claro que não – disse olhando-o pela primeira vez – você não escutou a parte que gosto muito dele? – Harry segurou um sorriso – acho que estou mesmo dividida entre os dois... o que você faz quando isso acontece? – fiz uma cara de redenção e ele deu de ombros.

- durmo com as duas e vejo quem eu gostei mais...

- Harry! – cobri meu rosto com o travesseiro e pude escutar uma risada vindo dele.

- mas, ei, Sam, eu não sou igual a você...

- não mesmo – cortei-o – eu nunca decidiria assim...

- não foi isso que eu quis dizer – olhei-o feio e ele bufou – tudo bem, foi mais ou menos isso. Mas a principal moral da historia é: você já amou o Liam e está apaixonada pelo Ryan... e eu acho que nunca senti nada disso. Entendeu agora?

- a moral é que... Não é pra eu dormir com nenhum dos dois? - perguntei de brincadeira e ele riu.

- larga de ser idiota - me deu um tapa na testa - não sei direito o que eu quis dizer na verdade - disse pensativo e eu comecei a rir - mas o que importa são os prós e contras de você morar aqui...

 - continue - disse me deitando de lado a fim de poder olhá-lo enquanto falava.

 - bom os prós são: você pode ver seu irmão perfeito todos os dias - disse e me deu uma lambida na bochecha, o que rendeu alguns segundos de briga e risadas - você está morando com sua melhor amiga, tem o Niall pra cozinhar quando você quiser, tem os meninos...

 - tudo bem, já tá bom. Agora os contras... - disse apressando-o

 - bom tem... - pensou por um tempo - os contras são que... - estreitou os olhos e demorou alguns segundos mais para responder - acho que o único contra é você e o Liam estarem nesse relacionamento enrolado - fez aspas no ar e eu revirei os olhos

 - nós não estamos em relacionamento nenhum, Harold... 

 - não que você não quisesse - me olhou de soslaio.

 - você não tem um encontro para ir? - tentei mudar de assunto e ele levantou apressado depois de uma rápida olhada no relógio.

 - tenho mesmo... E você tem que arrumar alguma coisa pra fazer nessas horas que não estará em minha ilustríssima companhia - disse com a mão sobre o peito e eu dei-lhe um tapa.

 Desci saltitando pela escada e entrei em meu quarto ao fim do corredor.

 Já eram cinco horas, mas o céu já estava escuro, carregado com nuvens negras que me davam ainda mais preguiça de sair de casa.

 Coloquei o computador sobre a cama, peguei minha caixa com a ultima temporada de Brothers and Sisters, e corri até a cozinha, com a brilhante ideia de fazer chocolate quente e pegar alguns biscoitos. Afinal, Clary tinha me falado que o primeiro episódio era muito mais triste que o ultimo da 4 temporada e, como tinha quase desidratado vendo o ultimo, tinha que me preparar psicologicamente para aquele.

 Fiz meu chocolate rapidamente, quase corri para o quarto, fechei a porta e entrei em baixo das cobertas.

 ****

 Bateram na porta alguns episódios depois e eu gritei que podia entrar.

 Para a minha surpresa, foi Liam quem colocou a cabeça para dentro.

 - oi - sorriu levemente - é que Harry disse que você ia ficar em casa e como eu também vou resolvi vir aqui te avisar, pra você não morrer de susto se esbarrar em mim por aí - deu outro sorriso.

 - hmm claro - sorri também – achei que você fosse sair com Briana.

- ela tem uma festa de família... – deu de ombros e se encostou no batente da porta – e você, onde está o príncipe encantado? – levantou as sobrancelhas.

- estudando... – Liam deu uma risadinha disfarçada – bom – disse cruzando os braços, um pouco nervosa – alguém tem que fazer isso, não é mesmo?

- ah claro – disse derramando ironia.

- se ele está trabalhando duro para passar no período,  que bom pra ele... – levantei as sobrancelhas – e pior pra vocês que não estudam: não vão passar.

- ei ei, branca de neve, calma lá. Não estou xingando ele – levantou as mãos com uma cara engraçada – só estou rindo por ele estudar num sábado anoite... – enrugou a testa, parecendo lembrar de algo – e eu também estou dando duro, ok? Além de estudar também estou trabalhando, coisa que seu namoradinho não precisa, já que tem o dinheiro dos pais a hora que quiser...

- Liam – disse calmamente – eu não quero brigar com você....

- nem eu, Sam, nem eu – fechou a porta e saiu.

Olhei para a janela e vi que já estava escuro.  Desliguei e coloquei-o em cima da mesinha de cabeceira.

Peguei dentro da gaveta o livro que estava lendo e mergulhei na leitura por algum tempo, sem conseguir me concentrar direito, me pegando pensando no que Liam deveria estar fazendo...

Estava no meio de um parágrafo quando a luz apagou. Olhei nervosa para a porta esperando ver Liam e xingá-lo, mas esta estava fechada. Olhei para os lados como se procurasse alguma coisa e andei devagar até a porta.

Abri-a devagar e coloquei só a cabeça para fora, vendo o corredor escuro, assim como parecia o resto da casa. escutei um barulho vindo da cozinha e dei um pulo de susto.

- Liam! Isso não tem graça! – disse o mais alto que consegui e minha voz saiu um pouco falha.

- eu sei que não tem graça! – escutei sua voz nervosa e segui o som, sentindo menos medo – é por isso que estou procurando uma vela...

Cheguei à cozinha e vi Liam abaixado perto das gavetas, abrindo cada uma delas e inspecionando cada cato antes de fechá-la.

- as velas ficam na prateleira de cima... – disse chegando perto dele e apontando para o armário acima de sua cabeça.

- eu já procurei lá... – levantou de uma só vez e bateu a cabeça na porta aberta, me fazendo rir – não tem graça, Samantha – disse passando a mão sobre a cabeça.

- eu sei que não tem graça... – disse imitando o que tinha dito para mim e ele teve de reprimir um sorriso, devido à cara engraçada e debochada que fiz.

- vai me ajudar a procurar a maldita vela ou não? – começou a olhar em outra parte do armário e eu fiz o mesmo.

- mas o que é que aconteceu? Esqueceram de pagar a conta de luz?

- há há – disse sem nem olhar em minha direção – não sei se a espertinha percebeu, mas a rua toda está sem luz... – apontou a janela com a cabeça e eu fui até lá olhar, encontrando a rua realmente um breu.

Liam estava com a vela na mão quando voltei e levamos alguns segundo para conseguir coloca-la em pé, pelo fato de ser mais fina.

- e então, onde vamos ficar? – perguntou me olhando sob a luz da chama assim que a acendemos.

- como assim? – perguntei confusa.

- não sei se você percebeu – disse em tom confidencial – mas só temos uma vela. Temos que ficar juntos em algum lugar.

- é – disse colocando as mãos na cintura – meu sábado perfeito: presa em casa com você. E no escuro – ele sorriu e saiu com a vela em direção à sala – ei, onde vai?

- pra sala... ou você prefere que a gente fique no seu quarto? – levantou uma sobrancelha.

- você é impossível não é mesmo? – disse passando por ele em direção ao sofá e agradecendo pelo escuro, já que sentia minhas malditas bochechas queimarem.

- tudo bem. A sala então – sentou-se ao meu lado no sofá e colocou o pires com a vela sobre a mesa.

deu um sorriso torto e se encostou no sofá, me olhando de soslaio.