POV Luke

-Que pouca vergonha é essa?!?! – ouvi uma voz grossa parecida com uma trovoada gritar em algum lugar da sala.

Thalia e eu pulamos das cobertas e ficamos em pé procurando o dono da voz. Não demora muito pra achar. Zeus está completamente furioso no pé da escada. Oh pai do céu, to ferrado. É hoje que eu levo um tiro.

-Er... Pai! – Thalia comprime um sorriso ao ver o pai furioso. Ela tá querendo morrer ou o quê?

-O que está acontecendo aqui?! – ele esbraveja.

-Bem... É que... Ah... – gaguejo.

-Fica quieto Luke. – Thalia diz divertidamente. – É que eu não estava conseguindo dormir lá no quarto, aí eu vim aqui na sala. E... Bem, só tinha um colchão. – ela dá de ombros.

-Sei. – ele fingi que acredita e vai pra cozinha com o cenho franzido.

-Thalia. – murmuro.

-O quê?

-Minha morte está próxima. – digo com os olhos arregalados de medo.

-Fica sussa, ele parece bravo, e ele é bravo, mas não vai te matar. Só causar muita dor. – ela dá um tapinha de consolo no meu ombro e eu me viro para ela com uma expressão de “Nossa, fiquei muito mais tranquilo agora”. Ela ri. – Brincadeira. Vem vamos tomar café.

-Acho que vou esperar seu pai sair de lá. – digo começando a subir as escadas. – Não quer esperar comigo lá em cima? – sorrio sacanamente.

-Você não muda nunca. – ela revira os olhos e vai pra cozinha.

Subi as escadas e entrei no meu quarto. Meu pai e o pai de Megan ainda estavam dormindo. Hermes no chão e Apolo na cama. Preguiçosos, eu tenho que acordar as nove da manhã e eles ficam dormindo no bem bom.

Ah, quer saber? Também vou dormir. Jogo meu edredom no chão pego um travessei e deito ali mesmo. Não demora muito pra eu voltar a dormir.

POV Annabeth

Quando acordo Kate já tinha levantado e não estava mais no quarto. Me levanto, lavo o rosto, escovo os dentes, penteio os cabelos, passo uma maquiagem leve e vou escolher alguma coisa pra vestir.

Acabo optando por um shorts jeans claro, regata cinza e blusa com decote canoa por cima. Visto all stars e desço para tomar café.

São nove horas da manhã. Kate, minha mãe, Thalia e Zeus já estão acordados. Eles tomam café enquanto conversam animadamente.

Thalia me manda uma mensagem de texto quando apareço na cozinha contando que Zeus a viu dormindo com Luke hoje de manhã. Esses dois são uma piada mesmo. Balanço a cabeça e sorrio com o canto dos lábios.

Tomo meu café rapidamente e fico batendo papo com o pessoal que está na cozinha.

Uma hora depois Zeus e Hades voltam para Nova Iorque. Eles tem compromissos com seus trabalhos ou coisas assim. Eu já estou acostumada com Zeus, Thalia vive reclamando de ele estar sempre trabalhando. E pelo jeito com Nico não é muito diferente.

Depois que me despeço deles, e presencio uma ameaça de morte indireta ao Luke, eu subo as escadas e organizo meu quarto. Minha mãe entra e me ajuda enquanto conversamos sobre a faculdade e a vida por aqui.

-Annie, fico feliz que esteja tudo bem por aqui... Mas... Estamos com problemas.

-Problemas? – franzo as sobrancelhas me sentando ao seu lado na ponta da cama.

-Problemas. Na verdade, minha empresa está passando por alguns problemas. Nós meio que estamos em crise. – ela baixa os olhos. – Não sei se consigo continuar pagando a faculdade.

Minha boca forma um O. Não! Não posso para o curso! Eu preciso me formar! Eu sonhei com essa faculdade a vida toda! Eu tenho que continuar!

-Me desculpa filha. – ela me abraça.

-Mãe... – as palavras não saem da minha boca. Ela afaga meu cabelo. – Espera! – me separo dela rapidamente com um sorriso. – Posso conseguir uma bolsa.

Atena solta um sorriso.

-Pode sim. – ela dá de ombros. – Só não sei se vai ser fácil conseguir uma bolsa no meio do semestre.

-Eu tenho que tentar. – aperto sua mão. Minha mãe me ensinou a nunca desistir. Nunca deixar que os sonhos escapem pelos meus dedos. E é isso que eu vou fazer.

-Annabeth. – ela respira fundo se recompondo e levanta. Atena não suporta que os outros vejam que ela não feita de pedra, mesmo que esses outros seja eu. – Eu vou fazer algumas coisas. Seria uma boa você conversar um pouco com a sua irmã, você não tem uma conversa a meses.

Balanço a cabeça em concordância e desço as escadas até a sala. Kate não está lá. Ela está na varanda. Fecho a porta da frente as minhas costas e me apoio na grade dá área. Nós observamos a rua por alguns minutos. Meus vizinhos estudantes estão todos dormindo numa hora dessas. A festa de ontem a noite devia estar boa. Um sorrisinho brotou no canto dos meus lábios com esse pensamento.

-Mamãe já te contou? – perguntou ela ainda com os olhos na rua deserta.

-Já. – respondo sem entusiasmo. – Mas vou tentar achar uma bolsa, ou alguma coisa assim. Posso trabalhar meio período... – começo a cogitar todas as possibilidades.

-Não acho que vá ser fácil conseguir uma bolsa agora.

-Não custa tentar. – respondo com a face rígida.

-É. – ela franzi os lábios. – Mas é bom você começar a se acostumar com a ideia de poder ficar sem sua vidinha aqui. Sem seu namoradinho... – ela dá um sorrisinho.

-Podemos continuar juntos mesmo assim. – dou de ombros.

-Talvez. – ela continua sorrindo e brinca com o cabelo.

-Por que toda essa felicidade?

-Nada. – ela dá de ombros e faz a cara de “eu sei de muita coisa”.

-Fala.

-Talvez o Percy não seja tão perfeitinho quando você imagina. – ela comenta. Eu a encaro com os olhos semicerrados. A loira continua. – Talvez ele já tenha feito coisas de que você não sabe.

-Que tipo de coisas?

-Como beijar a sua irmã mais nova... – minha expressão congela.

Não exatamente o que fazer, mas saio como um raio porta a dentro e subo pro meu quarto. Bato a porta as minhas costas sem me preocupar com o barulho. Não sei se alguém me viu subindo as escadas e chorando. Não sei onde as pessoas estão. Só sei que minha cabeça gira trezentos e sessenta graus.

Enterro o rosto no travesseiro. Não acredito que minha irmã mais nova ficou com meu, mais ou menos, namorado.

Ouço batidas na porta. Eu não quero abrir. Droga, a porta está destrancada. Alguém entra. Não faço a mínima questão de responder.

Sinto o colchão pendendo para um lado. Oh shit, ele se sentou na cama. Dedos percorrem meus cabelos. Por favor que não seja ele, por favor que não seja ele. Minha mente repete.

-Annie. – ele sussurra. Oh merda de sorte. É Percy.

Balanço a cabeça em negação e afundo ainda mais o rosto no travesseiro. Eu não quero vê-lo. Não quero encarar que eu fiz a escolha errada.

-Annie, o que aconteceu?

-Você sabe o que aconteceu. – digo com a voz abafada.

-Sei?

-Kate. – responde simplesmente.

Junto forças para encará-lo. Me sento na cama com as pernas cruzadas como um cacique. Ele observa meu rosto. Eu não estava chorando, então acho que deve estar pálido.

Percy em encara por um momento. Seus olhos verdes mar estão... Tristes? Magoados? Culpados? Uma mistura.

-Me desculpa Annie. – ele sussurra baixando a cabeça. Eu nego com a cabeça. Essa não é a primeira vez que ele me pede desculpas. – Eu entendo. – ele me responde num fio de voz.

O moreno se levanta da cama. Beija minha testa e passa os dedos pelo contorno de meu rosto. Seus olhos estão marejados. Percy está chorando.

Minha boca se abre, mas não consigo dizer nada. Ele sai do quarto e fecha a porta.