Sweet Caroline escrita por Michelli T


Capítulo 23
O que me diz?




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E aqui estamos nós. Exatamente onde tudo começou.

– Você está muito encrencado, Puckerman – Diretor Figgins falou. – E dessa vez eu tenho provas.

Jesse fora atacado por me beijar. Foi impossível separá-los. Quando finalmente tiraram o Puck de cima de Jesse, ele estava horrível. Mal conseguia ficar em pé sozinho.

Do que Puck sentia tanta raiva? Se ele não me ama... Eu não hesitei em contar exatamente o que aconteceu para o Figgins e, ele disse que Puck seria suspenso. Eu até queria que ele fosse expulso depois dessa, mas Figgins disse que não. E disse também que era mais provável que a mãe dele o mandasse para um reformatório de novo. Infelizmente, eu sei que isso não vai acontecer, não agora que ela confia em Puck outra vez. Ela vai perdoá-lo quando ele explicar o que aconteceu.

Eu estou sentada numa poltrona de frente para Figgis e ao meu lado está Puck. Faço o melhor que posso para não o olhar nenhuma vez, mas quando a secretária de Figgins bateu na porta e a abriu dizendo que ela tinha um assunto urgente, ele saiu e nos deixou a sós, dizendo que voltava em 1 minuto.

Um ruído. Percebo que Puck virou sua poltrona para mim, consigo sentir seus olhos em mim. Desisto e viro a cabeça para ele.

Fale logo, vamos, o mesmo papo de sempre.

Seus lábios começam a se mexer, mas não passa de um murmúrio sem sentido algum. Não me comovi pelo seu olhar triste.

– Me... Me desculpa – ele finalmente conseguiu dizer. Engraçado ele ter demorado tanto para achar o que falar, quando até eu já sabia o que ia sair de sua boca.

– É só o que você sabe fazer – respondi. Minha resposta não foi cheia de dor, foi alta e direta. Nem pensei. Sabia exatamente o que dizer.

As desculpas quase não têm mais valor para mim.

Puck baixou a cabeça e nesse instante Figgins voltou. Ele se sentou do outro lado na mesa, em seu lugar. Respirou fundo e se aprontou para falar alguma coisa, mas eu passei na sua frente.

– Eu posso ir ver como o Jesse está? – perguntei.

Figgins realmente se surpreendeu com isso. Levantou as sobrancelhas e até deixou a cabeça cair para o lado enquanto me olhava. Não sei se ele achou que eu ia ficar com Puck depois disso tudo, se pensou, passou longe. O que mais quero é me afastar. E, afinal de contas, é Jesse que está todo quebrado na enfermaria.

Recuperado, Figgins diz:

– Claro que pode – ele esboça um sorriso satisfatório – de qualquer jeito você já está liberada – então ele olha para Puck, cerrando os olhos – eu tenho várias outras testemunhas.

É, sem dúvidas ele tem. Além de a briga – se é que se pode chamar assim - ter acontecido no corredor na frente de outros alunos, também tem Jesse.

Jesse.

De repente sou transportada para o momento em que Puck está em cima de Jesse. Eu grito para que parem, mas nenhum me escuta. Enquanto isso, os alunos parecem brotar do chão para assistir aquela cena. Por que ninguém ajuda? Por que só assistem? Conforme mais gente chegava para assistir, sou empurrada para trás. Cada vez mais para longe dos dois. Perdendo o controle, corro esbarrando todos no meu caminho. Eles não podem fazer mais do que eu, afinal. Alguns me xingam, mas eu ignoro. Quando consigo chegar até os dois outra vez, Puck está em cima de Jesse e pronto para acertar um soco em seu rosto.

Não sei de onde veio, mas eu reagi.

– Noah! Não! – gritei, com toda a força. Até para mim a voz pareceu com lamentação de mais, foi quase como se estivesse perdendo alguém que amava.

E não estava?

Olhei para Puck e Jesse. Puck está com a mão parada no ar, exatamente onde estava quando gritei, a outra segurando a blusa de Jesse. Mas ele não parecia que ia o acertar de novo, ele me olhava. No rosto uma expressão de dor. E então eu percebi que as lágrimas escorriam. Não sei quando começaram, mas estavam lá, caindo sem parar. Era quase como se ele soubesse o que eu estava sentindo. Mas isso durou uma fração de segundo. Com Puck distraído, Jesse aproveitou para virar o jogo e o colocar embaixo dele. E assim os gritos continuaram, e assim fui sendo empurrada cada vez mais para longe dos dois.

Pisco e estou de volta na sala do diretor. Levanto pronta para sair, mas antes dou uma última olhada em Puck. Seu rosto está um pouco machucado, sim. Mas ele não teve de ir para enfermaria. Isso só pode significar que, depois que não consegui mais me aproximar dos dois, ele virou o jogo em seu favor outra vez.

– Eu sei que deve ser difícil para você – Figgins diz enquanto abro a porta.

– Você não faz ideia.

E então estou fora da sala. Toda a dor e culpa pesando nas minhas costas. Todos os problemas recentes de Puck foram culpa minha. Ele estava se transformando em uma pessoa melhor, e aí eu apareci. Cheia de problemas. Problemas que ele quis resolver ao meu lado... E tem Jesse, que está na enfermaria por minha culpa.

Mas admito que pensava em Puck no momento do beijo. Não importa quanto tempo demore, estarei livre de Puck um dia. Sem sonhos ou lembranças. Porém, estar com Jesse só me fez lembrar o quanto queria estar com Puck. De repente, a missão de visitar Jesse na enfermaria ficou mais difícil.

Entro na enfermaria e, de cara, vejo Jesse deitado numa cama. Ele está horrível. Olho roxo, rosto cortado e... Começo a sentir uma vontade de chorar outra vez. A enfermeira me olha com o que parece ser compaixão e sai para nos dar um pouco de privacidade. Aproximo-me da cama e fecho a cortina que nos separa da recepção da enfermaria - como se isso mudasse alguma coisa. Ele finalmente nota minha presença, abrindo os olhos ao ouvir o barulho da cortina.

Ele sorri, mas é um sorriso fraco. Pego na mão de Jesse, tremendo. Ele a aperta um pouco.

– Obrigado – ele agradece, sua voz baixa e fraca – eu te amo, sabia? – diz e então da uma leve risada, que faz seus ombros tremerem.

Sinto um nó na garganta. Essas palavras não têm efeito nenhum na boca de Jesse. Fecho os olhos.

Consigo ouvir sua risada, sinto seus braços ao redor de meu corpo, me abraçando.

As palavras começam a formar diálogos e as imagens começam a formar lembranças que logo ganham vida.

Estamos na minha casa, eu estou triste.

– Não – balancei a cabeça – você está certo. Afinal, quem me preferiria ao invés da Quinn?

– Vocês são diferentes, ela não é melhor do que você. – afirma Puck.

Então nós já estamos em outro lugar, eu o encarando, toda chorosa.

– As coisas nem sempre são como queremos, mas não é por isso que vamos sentar e chorar – ele disse.

O vento é frio e eu estou na frente da casa abandonada que costumava a ir, antes de Puck aparecer. Ele me olha sério.

– quando vai parar de se torturar tanto?

Abro a porta do banheiro da escola e lá está ele, sorrindo para mim.

– Você ta linda, não devia ficar se escondendo aqui.

Estamos nas arquibancadas, é um lindo dia de sol, nós dois estamos felizes e ele diz:

– Ah, as coisas estão bem. O diretor não me suspendeu, isso quer dizer que vou vir nos treinos, ir no clube do coral e te ver – ele sorri.

Caminhando pelo corredor, sinto alguém ao meu lado, me viro e lá está ele mais uma vez.

– O que está fazendo aqui? – perguntei.

– Só vim ver como estão as coisas – Noah respondeu sorridente.

Então estamos brigando no meu quarto. Fomos indo para trás e eu tropecei no rádio que eu tinha colocado para escutarmos música enquanto jantávamos.De repente eu estou presa contra a parede e ele me beija. Então acaba e estamos na sala do diretor, nós dois abraçados na poltrona, ele acaba de voltar do reformatório e murmura:

– Nunca mais quero ficar longe assim.

– Nem eu – respondo sem pensar. Ouvir minha voz me faz abrir os olhos e voltar para a realidade. Não estou nos braços de Noah e o calor some rapidamente, Jesse está na minha frente, segurando minha mão e esperando por uma resposta.

Sinto que dizer que também o amo, seria uma grande traição. Não só com ele, mas comigo mesma. Não posso fazer isso. Não quando todas as lembranças formam um filme de romance em minha cabeça e me fazem querer ficar presa lá para sempre, revivendo todos os momentos felizes ao seu lado.

Mesmo que ele tenha me decepcionado, eu não posso deixar de amá-lo da noite para o dia. Sei que vai demorar, mas não vou me sentir assim para sempre. Não quero Jesse, não o quero me abraçando ou me beijando. Não, porque eu não amo ele.

– Jesse, sempre vai ter um lugar para você no meu coração – minha voz falha – desculpe.

Realmente achei que a choradeira já tinha acabado, mas não. Aqui estou eu chorando na frente de Jesse. Surpreendentemente, ele está chorando também. Estico a mão para limpar seu rosto, mas ele então solta um grunhido de raiva.

– Vá embora!

Ir embora? Eu não quero ir embora. Quero cuidar dele.

– Eu vou ficar aqui com você...

Ele me olha com o rosto contorcido de dor.

– Fez a sua escolha, agora... Só vá embora.

Muito relutante, me afasto de sua cama. Só então percebo que ainda aperto sua mão, mas ele não aperta a minha de volta. Solto ele. Respiro fundo e dou uma última olhada em Jesse. Quero sair correndo, deixar tudo para trás. Esquecer desses dias. Só não quero mais ter que olhar Jesse daquele jeito.

Algo me prende no chão, como se meus pés não soubessem o caminho de volta. Me arrasto até a cama e dou um beijo em sua testa, cuidando para não machucá-lo.

– Sempre vou lembrar o que passamos e do quanto você foi importante... – mordo o lábio.

Ele só assentiu. Percebo que não vou conseguir mais nada ali. Então viro as costas para Jesse e abro a cortina. A enfermeira ainda não voltou. Miro a porta e começo a andar na direção dela, mas algo me chama atenção. Alguém chamou meu nome, mesmo que fosse muito baixo. Viro-me para ele, torcendo para que não seja alguma ofensa que eu tenha de carregar pelo resto da vida.

– Se vai me trocar por aquele garoto, faça para valer – ele então sorri, embora eu saiba que ele não está feliz com isso. Sorrio de volta.

Eu sinto um misto de saudade e raiva. Por um lado quero abraçar Puck como fazia antes, ouvi-lo fazer brincadeiras e ter ele caminhando do meu lado, mas por outro... Quero que ele fique longe. Por ter me feito amá-lo e confiar nele para depois ser um idiota outra vez. Tenho tanta coisa para dizer que entendo totalmente o porquê de meus pés se moverem tão rápido em direção da diretoria. Não que eu saiba exatamente o que falar, não sei. Só quero ir até lá e colocar tudo para fora.

Passo correndo pela secretária – que nessa altura já deve estar acostumada a não conseguir me parar – e entro na sala. Figgins olha para mim assustado, por um segundo, esqueço o que eu tenho de fazer. Então a cadeira de Puck se vira e, olhando em seus olhos, lembro o motivo de tudo.

O que fazia tudo valer a pena. Não é o olhar triste, é o sorriso que ele costumava a me dar, o abraço que costumava a me acalmar.

– Eu sou uma idiota – falo.

Depois de um tempo para digerir, Puck parte em minha defesa:

– Não, não é.

– Para de me defender – grito da porta - é por isso que estamos aqui hoje! É por isso que essas coisas aconteceram!

Não sei se Figgins acha que não é um bom momento para dizer alguma coisa, mas ele só ficou calado nos olhando do outro lado de sua mesa.

– Então... Você está dizendo que o erro foi gostar muito de você?

– Exato – digo, antes que possa me conter.

– Está errada, Rachel. – ele balança a cabeça negativamente.

– Estou errada? Estou mesmo? Puck, pensa um pouco! Se eu não tivesse te convidado para cantar comigo, talvez isso nunca tivesse acontecido, talvez fossemos apenas conhecidos e nem nos falássemos nos corredores...

– Você não está falando nada com nada! – ele se levanta, mas continua mantendo a distância entre nós. – Eu sempre tentei te proteger, tá legal? Mas antes tinha alguém para fazer isso por mim!

Fiquei confusa por uns instantes, então começo a lembrar. Quando jogamos futebol americano, quando Puck tentou me defender de Jesse, quando me beijou, pediu desculpas. E todas as outras pequenas coisas que ninguém costuma a reparar, mas eu sim. Como o fato de ele sentar do meu lado, de sorrir e me apoiar, me dar carona ou coisas assim. O fato de eu o chamar de Noah e não de Puck como todo mundo – embora ultimamente tenha o chamado de Puck só por raiva – é algo que pode passar despercebido para muitos.

São pequenos gestos que sempre estiveram lá, mas poucos repararam.

Olho para o chão. Sei que ele está lembrando-se das mesmas coisas que eu, como o momento que cantou Sweet Caroline pela primeira vez, seu primeiro solo. Como disse para Santana que não me odiava e...

– Você sempre soube? – ele pergunta, me tirando de meus devaneios.

– Sempre soube do quê? – levanto a cabeça, o olhando outra vez.

– É – ele deixa escapar uma risada que me parece envergonhada, mas não dura muito – eu achei que podia passar despercebido, mas parece que não consegui.

Não? Claro que conseguiu. Conseguiu esconder muito bem. Se ele gostava de mim antes, ninguém poderia dizer isso. Mas era tão estranho achar que Noah Puckerman gostava de mim que eu sempre preferi ignorar, ainda mais quando ele aparecia com uma menina diferente a cada dia.

– Sabe o quando foi difícil ter que recusar você porque o Finn era seu namorado? – pergunta com o mesmo sorriso no rosto.

Sei o quanto foi difícil para mim. Lembro-me das palavras de Noah “Eu já fiz isso com ele uma vez, não posso fazer de novo”. Será que se eu tivesse reparado antes o quanto ele gosta de mim, teria largado Finn por ele?

– Eu realmente pensei que você acharia que levantei na frente dos outros jogadores para cantar com você porque não gostava deles.

Eu realmente achava que era por isso.

– Não sabia, Noah. Nunca soube de nada. Achei que era por sermos judeus que você costumava...

– Não tem nada com isso. Queria o seu bem – ele diz e então para subitamente no meio do começo de outra frase, e a recomeça. – Eu sou um idiota.

Talvez eu e Noah tenhamos uma história que não pode ser apagada. Talvez não tivéssemos ficados juntos se eu não tivesse o visto pinchando o mura naquele dia, mas ambos sempre soubemos, bem lá no fundo, que alguma coisa acontecia entre a gente.

Ficamos um pouco em silêncio, nem mesmo Figgins se atreveu a falar. Os dois em pé, frente a frente.

– Você lembra, não é? – ele sussurra - Lembra de tudo, como eu lembro?

Não consegui abrir a boca então só assenti com a cabeça. Ele franze o cenho e olha para o chão outra vez.

– Como está o Jesse? – pergunta, a voz um pouco mais alta.

– Nada bem – de repente sou assolada pela imagem de Jesse na cama, todo machucado -, e a culpa é minha.

– A culpa não é sua!Fui eu, não você!

– E qual foi o motivo mesmo? – perguntei e ele se calou. – Jesse me expulsou do quarto. A gente foi longe de mais, Noah. Só aconteceram coisas ruins e... Talvez seja melhor assim, talvez seja por isso que Puckleberry não deva existir. Não combina, não funciona.

Sinto vontade de chorar ao ouvir minhas próprias palavras, mas se há um momento para ser forte é esse.

– Ah, aconteceu sim – ele anda até mim e afaga meu queixo, direcionando meu rosto para ele – a gente aconteceu, e não devia ser de outro jeito. O que a gente teve, desde o começo, você nunca teve com nenhum outro. E eu não tive também.

– Claro, Noah... Mas isso não...

– Não diga que não faz diferença, porque faz. Muito antes da música, muito antes de realmente começar, a gente já sentia isso. – ele da um rápido beijo na minha boca e depois se afasta para me encarar.

Sim, eu sinto isso.

Mexo a cabeça positivamente, tentando acreditar que posso impedir as lágrimas de caírem dos meus olhos.

– Sempre tinha alguém nos impedindo de ficar juntos, mas agora só temos eu e você. Eu sei o que eu quero – ele solta meu queixo e segura minha mão entre as suas. – O que me diz?

Muita gente pode dizer que estou errada, que troquei dois caras direitos, dois grandes amores da minha vida por um garoto, como diz Jesse. Mas ele não é só um garoto, é o garoto que se esforçou para me fazer feliz, que mudou não só por ele, mas por mim. É o garoto que me amou e derramou lágrimas por mim e que me fez fazer o mesmo por ele. E, afinal, o que eu sou? Não passo de uma garota – não uma mulher - cheia de amor para dar. Talvez sim, mas no instante que olho para Noah, segurando a minha mão, percebo que o garoto não existe mais. Não, a pessoa que segura minha mão é um homem. Seus olhos cheios de esperança aguardando minha resposta. Por algum motivo ele se apaixonou por mim. E fez isso quando eu era uma chata e ninguém queria ser meu amigo. É como se visse como sou de verdade, não é? Então, eu o vejo de verdade também. Meu Noah. Muito além da aparência de bad boy que derrete corações por onde passa, muito além de seus músculos e sua voz incrivelmente linda. Eu vejo alguém que amadureceu. Um homem que está pronto para mudar sua história... Ao meu lado.

E o que mais eu preciso?

– sim – respondo, com um leve sorriso brotando nos lábios. Noah me prende em seus braços, pronto para me dar um beijo que, creio eu, irá marcar nossa história.


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