-Dessa vez eu digijo- eu disse pegando as chaves que Tyler segurava.

- Ótimo, assim posso abrir essa garrafa e vodka e...

- Nada disso! - interrompi tirando a garrafa de sua mão- Vamos beber com os outros, já está quase anoitecendo, controle-se.

- Foi brincadeira, eu só ia experimentar.

- Mentiroso!- guardei a garrafa no banco de trás.

- Tá bom Mary, eu espero chegarmos na cabana, mas você terá que beber comigo.

- Cara, eu acabei de dizer que não faria isso, agora que estou começando a limpar minha imagem. Não quero ficar com fama ruim de novo, e tenho certeza de que o William não curte essas coisas.

Ele abaixou a cabeça e concordou comigo. Dei partida no carro, ficamos em silêncio metade do caminho.

- Acho muito bom você ter mudado, mas acho que está exagerando por causa dele. Entendo que se gostem, só não devia mudar tanto ou fingir ser o que não é.

- Não estou fingindo nada Ty, apenas tentando mudar. Se vai ser fácil? Creio que não, mas não é impossível.

- Você está certa, não discordo em tudo, somente algumas coisas, mas a vida é sua e eu não tenho direito de julgar.

Chegamos, e eu fui logo perguntando pelo William. 

- Ele está no último quarto, sentiu enjoo e foi deitar- disse Tiffany mostrando o caminho.

- Oi, Tiff disse que você quis deitar aqui- abri a porta e dei leves passos até a cama.

- É, eu acho que fiquei tonto, então deitei para ver se passava. Agora estou melhor.

- Desculpe a demora, Tyler quis inventou de comprar mais coisas, ai já viu né? Rodamos o mercado inteiro também, pelo visto faltava muita coisa. Compramos carne, bebida, temperos e alguns aperitivos.

Ele não disse mais nada, apenas concordou balançando a cabeça. Deixei a mochila no chão e deitei ao seu lado.

- Horrível estar passando mal, mas daqui a pouco você melhora e qualquer coisa posso comprar o que precisa, nem é tão longe assim, okay? Só quero que fique melhor.

- Já estou melhor, só preciso descansar um pouco.

Concordei com a cabeça e ele me beijou. Mexi em seu cabelo até fechar os olhos, adormeci em seguida.

Fim do POV de Mary

Enquanto isso, do lado de fora da cabana os outros começavam os preparativos para a primeira noite do fim de semana. John levou um violão, porque como ele sempre diz "nada funciona sem um pouco de música".

William ama música, gostava de compor e tinha várias  prontas, mas nunca pensou em montar uma banda ou algo do tipo. Guardava apenas para si, pois tinha medo que não gostassem de suas letras. Começou a escrever uma música para Mary, mas ainda não conseguiu terminá-la. Talvez por não encontrar palavras para descrever tal sentimento, e pior ainda seria cantá-lo. Ele mal conhecia a garota quando começou a compor, agora que já tinham ficado oficialmente, poderia até tentar terminar a música. Como se ele fosse pensar em escrever depois de esperar tantos dias por esse acampamento, e finalmente ver que as coisas estavam saindo muito bem, até melhor do que pensava. Certamente iria voltar para casa cheio de inspiração para compor um álbum completo, mas não nesse fim de semana.

- Mary? Você está ai?- Tiffany bateu na porta e entrou logo em seguida.

- Oi? Acho que peguei no sono- respondeu levantando da cama enquanto prendia o cabelo.

- Shiu, ele continua dormindo- Tiffany apontou para William, que dormia feito criança.

- Pode deixar que eu cuido disso, e também posso ajudar com o restante das coisas.

Tiffany concordou e saiu do quarto.

- Will?- Mary mexeu em seu cabelo- Está anoitecendo, vamos fazer a fogueira agora. Você está melhor?

O Jovem abriu os olhos e se deparou com o sorriso mais lindo do mundo.

- Agora estou- disse esfregando os olhos e tentando arrumar o cabelo.

- Fiquei preocupada... Você sabe que pode falar qualquer coisa, até se quiser ir embora... É, menos isso, porque eu não quero que vá.

- Isso eu não quero, esperamos tanto tempo pra vir, não é um enjoo bobinho que vai atrapalhar, certo?

- Eu já disse, se você estiver mal, podemos ir embora.

- Obrigado, mesmo. Agora vamos ficar com seus amigos, antes que comecem a falar como sou chato e anti-social.

- Seu bobo- Mary disse selando-o- Vamos então.

A fogueira estava perfeita, assim como nos filmes. John tocava músicas do Nirvana (todos ali curtiam bastante), enquanto Tiffany curtia o som ao seu lado. De frente para os dois estavam Luke, Joey e Paul. Tyler (é claro), já tinha bebido bastante e começou a dançar feito louco em volta da roda. William e Mary sentaram-se ao lado de Joey, que logo de cara deu aquele olhar de "É Mary, está pegando ne?". Mary somente retribui o olhar de um jeito "Abra a boca, e eu te mato".

I'll take advantage whileYou hang me out to dryBut I can't see you every nightFree, I do...

- Eu amo essa música! Sei la, o Cobain parecia tanto comigo que chega a me assustar às vezes...

- Bem louco mesmo Mary, feito você- Luke disse com um certo tom de implicância.

- Eu não quis dizer nesse sentido, mas em outras coisas... Não sei explicar.

- Vou fingir que entendi... Acho que estou ficando bêbado- tentou levantar-se duas vezes, conseguiu na terceira e saiu cambaleando até o mato.

- ONDE VOCÊ VAI?- gritou Joey desafinando.

- Quero ir no banheiro.

- O banheiro é na cabana- Tiffany estava rindo muito, era a única que ainda conseguia falar direito e não estava tonta (assim como Mary e William também não estavam).

- Me deixa, eu vou no mato mesmo. SEM MEDO DE SER FELIZ!!!!!!! EU AMO A MINHA VIDA!!!!!!!!

- Okay, vamos deixar então, assim ele sai daqui porque já estava ficando chato- disse olhando para Mary, que concordou.

- EU VOU JUNTO!!! VAMOS NADAR PELADOS?- Tyler jogou metade de suas roupas no chão e saiu correndo atrás dele.

- Quer saber? Eu vou deixar esses loucos fazendo o que bem entendem- disse Tiffany olhando para John- E acho que vou buscar um chocolate quente.

- Poderia me fazer um também? Não quero ter ressaca.

- Claro J, mas vou precisar de ajuda.

Ela levantou e o ajudou a ficar de pé. Foram até a cabana.

- Bom, sobramos nós e o casalzinho aqui- Joey levantou com a garrafa de whisky e sacudiu Paul, que estava até babando. Foram cambaleando até a barraca e se jogaram lá dentro.

- Esses caras são uma piada! Acho que nunca ri tanto como hoje- disse William.

Mary apenas concordou com a cabeça, parecia chateada.

- O que foi? Você estava tão animada, de repente ficou assim. Eu fiz algo errado?

- Não é isso, mas é que o Luke tocou em um assunto que eu detesto.

- Ser parecida com o Kurt Cobain? Isso é ruim?

- Bom, eu me referi ao jeito dele, mas o Luke estava falando de outra coisa.

- Tipo o quê? Sabe que pode me contar tudo, não sabe?- ele agora estava preocupado.

- Eu sei, só que esse é o tipo de coisa que eu não gostaria de falar, ai ele foi e fez a brincadeira. Não posso culpá-lo, foi inocência mesmo.

Ela estava olhando para o chão com os olhos cheios de lágrimas. Respirou fundo, mexeu no cabelo e por fim, continuou:

- Eu usava drogas, quase todos os tipos. Alguns dizem que eu era influenciada por amigos, mas entrei nessa porque quis. Era tão burra, ainda sou. Mas nunca faria isso de novo. Quase perdi minha família, me afastei de amigos, namorado, tudo. Era grossa com todo mundo, já tentei me matar até. Lembro que fiquei internada quase um mês, sendo vigiada. Depois disso, voltei a estudar em casa, e me reaproximei dos amigos, até os que usam drogas, mas agora, nem de bebida eu quero saber. Porque até com isso eu tive problemas. Quando parei de usar drogas, comecei a beber de novo, mas bebia muito. Qualquer coisa me deixava triste e eu começava a beber.

Estava chorando muito, mal conseguia falar. William percebeu que a história não tinha terminado, e aguardou.

- Um ano e meio atrás, eu briguei com meu namorado. Briga feia mesmo... Então fomos embora de uma festa, e ele estava muito irritado, detestava me ver bêbada daquele jeito. Entramos no carro, fiquei calada metade do caminho, até que ele começou a dizer  coisas desagradáveis, jogar na minha cara tudo que fiz de errado. E eu gritava muito, até dei um soco na cara dele, quebrei uma garrafa de vodka no volante... A discussão foi tão grave, que ele não viu um caminhão que estava na frente, e bateu.

- Eu nem podia imaginar, mesmo. Deve ser horrível, mas isso é passado Mary, você tem que viver o que tem agora... Vem aqui- William lhe abraçou- Não foi culpa sua. Você estava com problemas, eu entendo isso... O que houve com ele?


- Ele ficou internado em estado grave, mas depois foi melhorando. Só que não anda mais, e é por minha causa. Eu nunca vou me perdoar... Visitei algumas vezes depois que voltou para casa, mas sua família se mudou  há 8 meses atrás. Nem sei para onde foram, e eu nunca mais falei com ele depois disso.


- Não sei o que dizer, mas não vamos falar disso. Não quero te ver assim.

- Só prometa que nunca vai me deixar te magoar, e que se eu fizer algo de errado, qualquer coisa, vai me dizer o que te incomoda. Por favor.

- Prometo.

-Obrigada por ter entrado na minha vida, e me fazer tão feliz.

Ela deitou-se em seu ombro.