Sejamos Realistas! escrita por Alice Moor Schiller


Capítulo 6
Castelo de Pedras


Notas iniciais do capítulo

Desculpe por toda a chatice de reflexões nesse capítulo. As partes em negrito são trechos traduzidos da música Castle Made Of Sand, de Pitbull (feat. Kelly Rowland & Jamie Drastik). Que tal ouvir enquanto ler?



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A areia macia e fria sob seus pés lhe dava uma sensação de conforto e nostalgia. Quando era pequena e morava ainda com seus pais, tinham uma casa de praia onde passavam as férias. Os melhores momentos de sua infância tinham sido, sem dúvidas, com os pés na areia.

"Deus sabe que tenho um bom coração"

Fechava os olhos, trazendo as lembranças à memória, movendo o pé na areia, sentindo cada grão.Era criança de novo. A maior preocupação era voltar para sua casinha de praia além do horário e levar bronca do pai. Nenhum problema. Nem sabia o que era amor. Podia até gostar daquele vizinho que brincava com ela. Mas logo desinteressava. Era só um gostar bobo.

"Estou lutando comigo mesmo, acredite"

Amar. Esse verbo a trouxe de volta à realidade. Ela amava Erik. Não era a primeira vez que lhe acontecia algo assim. Desde o garoto com o qual desperdiçara o primeiro beijo, era sempre a única que tinha amor. Eles tão somente a achavam bonita ou não gostavam dela o bastante para um relacionamento que durasse mais de dois meses. E então, quando ela por fim consegue um relacionamento duradouro - foi um namoro de um ano e seis meses - ela leva um belo pé na bunda, quando estava esperando por uma aliança de noivado.  Porque, ao que parecia, o cara não gostava de mulheres. O cara que ela acreditava ser o homem da vida dela! 

"Se você quer saber de onde eu vim, saiba por onde passei"

A vida é mesmo engraçada... As vezes parecemos ter tanta certeza sobre algo, sobre nosso próprio futuro. Mas, afinal, não sabemos nada. Não fazemos ideia do que nos espera. Isso é uma droga... 

Matheus estava sentado na areia, mexendo com a mão. Na cidade onde costumava morar não tinha praia. Só quando foi morar no quarto e sala - onde ele ainda morava - a ruiva com quem dividia o quarto o levara a praia. Achara tão lindo que quase chorara. Mas não queria parecer um maria mole, então segurou o choro, naquela ocasião. 

"Posso me mover no cômodo cheio de lobos"

A garota de pele mais alva que as espumas do mar, foi caminhando para mais perto da água salgada, deixando que molhasse levemente seus pés. O médico a acompanhou. Sentaram-se em cima dos sapatos na areia úmida da beira, com o cuidado de que a água batesse somente em seus pés, pois ela não queria molhar seu short jeans preto, e ele não queria molhar a bermuda cor-da-pele.

"Deixei um filho da mãe derrubar o meu castelo de areia"

O garoto começou a construir um montinho de areia. O silêncio entre eles era leve, confortável. Jenny desenhou uma porta no montinho, com as unhas médias que tinha. 

- Um castelo? - Ele perguntou. 

- É, um castelo. - Ela confirmou. 

Ele tentou fazer uma torre no montinho, já que deveria ser um castelo. Ficou meio estranha, é verdade. Mas, se usasse a imaginação, veria um pequeno castelo com uma torre. Ela, por sua vez, fazia um pequeno muro de areia ao redor do castelo. A maré estava enchendo. Logo a onda foi longe o bastante para transformar o castelo numa coisa indecifrável. Mais uma onda e o castelo estava totalmente destruido.

"Então você tentou acreditar no castelo de areia"

- Poxa, estava até bonitinho. Deu trabalho fazer aquela torre, sabia? - Resmungou o rapaz de cabelos negros. 

- Eu sei, deu trabalho fazer o muro também... - Ela pausou como se pensasse além disso. - Um relacionamento pode ser assim também. Veja só, os dois trabalham construindo um castelo. As vezes um deles só constroi a parte "sexo". E o outro está construindo "amor" e "sonhos". Mas mesmo que construam um lido castelo de amor, sonhos, respeito,  e mesmo sexo, cercado de uma muralha que parece forte... Sempre vem uma onda que deixa tudo meio mole, meio fraco. E logo depois vem uma onda devastadora, e não resta mais nada...

"Quando ele cai no mar"

- Pois deixe de ser boba, Jenny! Que pessimismo. Pois as vezes Nenhuma onda derruba o castelo. As vezes quando o castelo fica mole, os dois aprendem a construir mais longe do mar ou a construir um castelo de pedra, ao invés de areia! E então o relacionamento tornasse mais forte, depois daquela onda. 

- Ah, poxa. Você sempre tem razão! Eu não sou mesmo muito boa nessas comparações inteligentes... 

"E seus pés não podem achar terra seca"

- Você foi muito bem, na verdade. Só foi pessimista. Mas acontece assim as vezes, tudo é destruido. Como com você e Erik. E isso é bom, sabia? Agora, quando você for construir um novo castelo, já vai saber que precisa ser de pedra e longe do mar!

- Sejamos realistas! Dizer assim é fácil. Mas como eu vou saber o que é um castelo de pedra e longe do mar na verdade? Porque não é bem de pedras e castelos que estamos falando!

"Procure por minha mão"

Ele a olhou um pouco triste. 

- Você precisa descobrir sozinha o que falta nos seus relacionamentos. 

Matheus sabia muito bem que faltava alguém que a amasse, que faltava alguém que não fosse tão somente namorado, mas também amigo. Mas dizer aquilo depois de se declarar. Ele achou que poderia parecer que ele estivesse se vangloriando ou coisa do tipo...

 "Vim à praia do sul para erguer um novo castelo"

- É melhor nos apressarmos, ou não vai mais ter crepe. - Ele disse, olhando as horas no celular que acabava de tirar do bolso da bermuda - Já são quase dez. Lá fecha meia noite. 

- Certo. Mas vamos pegar um táxi. - Ela disse, levantando da areia.

Ele levantou também e discou o número do táxi que eles sempre pegavam. Geralmente pediam táxi quando saiam bêbados de festas, então Geraldo, o taxista, já sabia onde deixá-los. 

- Ele vai ficar imprecionado por ainda não serem nem duas da manhã e estarmos lúcidos! - Jenny disse. 

"E não importa o que aconteça"

- E por não estarmos indo a nenhuma festa. - Os dois riram, mesmo que para quem está de fora pareça algo sem a menor graça.

Subiram as escadas de volta para calçada e sentaram-se e atravessaram a rua. Tinha um supermercado ali, era mais seguro para esperar o táxi. Conversaram sobre bobagens, como a mulher de mais de sessenta anos que passou por ali e que tinha cabelo pintado de roxo e vestia uma camisa dizendo "eu sou gordinha, mas posso emagrecer. Pior você, que é feio!". Acharam aquela senhora hilária! Não demorou muito até Geraldo chegar para levá-los até a creperia. 

"Não há razão para eu te amar"


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Notas finais do capítulo

Mande seu review, pliss =3



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