Diário De Uma Acompanhante escrita por judy harrison


Capítulo 4
Aprendiz


Notas iniciais do capítulo

Existe em nossa vida o lado mal e o lado bom, todo mundo sabe disso. Mas será que sabe qual rumo sua vida está tomando?



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Quando me levantei, encontrei um bilhete ao meu lado.

Tita havia ido embora e deixou todo o dinheiro que eu lhe dei. Disse que não voltaria mais para aquele lugar, e que eu deveria ir embora também, pois Noel acabaria se vingando de mim.

Senti tanta coisa! Raiva, tristeza, mágoa... Eu mal conseguia pensar no que faria naquele momento. Fui para o banheiro e me olhei no espelho.

Lembrei-me de um cliente daquela noite, que me obrigou a fazer sexo oral e me maltratou, mas me deu um pouco a mais do que eu pedi. E aquela foi a verdadeira razão de eu ter bebido.

Eu vi meus olhos borrados e meu rosto vermelho pelas bofetadas que levei. E chorei muito.

Mas pela tarde, estava novamente na rua, e eu ignorava totalmente o aviso de Tita sobre Noel.

Mais uma noite de trabalho e eu era bem requisitada por se tratar de uma novidade da noite.

Voltei novamente para casa com muito dinheiro e o coloquei junto ao que Tita deixou. Minha intenção era sair de lá e procurar por ela, entregar-lhe tudo que ela gastou comigo e lhe pedir perdão. Eu pensava que ele havia partido por causa da discussão.

Com minhas coisas já arrumadas em uma caixa, eu planejei trabalhar por mais algumas noites, e então procuraria um lugar mais luxuoso. Intencionava fazer de minha casa um local de trabalho. Então por vários dias  trabalhei e trabalhei, juntando cada nota e guardando em um cofre na casa.

Um cliente que já atendi, na noite em que trabalhei para Noel, me contatou, e me disse que estava sabendo de minha desistência.

_ Você tem muita coragem de desafiar o “pançudo”!

_ Não veio aqui pra falar dele, veio?

_ Não, mas acho que você deve tomar cuidado com ele. Ele está uma fera com o que fez.

Eu estava impaciente. Ele estava nu, e com seu pênis introduzido em mim, mas não parava de falar.

_ Por que não continua? Estava bom.

_ Vocês são todas iguais. – agora ele falava enquanto praticava o ato – Não se importam com quem entra e sai, só com dinheiro.

_ Continue!

Minha esperança era de que aquilo acabasse logo, mas foi uma situação duradoura.

Já sem paciência eu pedi que ele parasse, pois seu tempo havia acabado.

Então ele acelerou o processo, e me pagou pelo serviço.

Injuriada com aquilo eu ia para casa antes do horário quando um homem me chamou. Ele estava a pé e se vestia com simplicidade, mas era bonito.

_ Quero falar com você.

_ Desculpe-me, mas meu tempo já acabou, estou indo para casa. Se quiser, lhe dou meu telefone.

_ Eu posso pagar, se é o que está duvidando.

Minha bolsa já tinha muito dinheiro, e eu estava muito cansada, mas atendi o homem insistente.

Quando fomos ao hotel, ele fechou a porta, mas não se sentou na cama, nem usou o banheiro.

Cheguei a ficar desconfiada, e peguei de minha bolsa um spray de pimenta. Mas não precisei usar.

_ Estou aqui para falar com você. – ele disse.

_ Normalmente um homem não me paga para conversar.

_ Mas eu estou aqui em uma missão pessoal. Noel contratou uma pessoa para matar você.

Eu fiquei assustada.

_ Você?

_ Não, não sou eu. Ele é meu irmão, e eu soube por que ouvi a conversa deles. Meu irmão acabou desistindo por que eu falei com ele.

_ O que você quer então?

_ Quero que desista desse trabalho, que saia das ruas.

Depois do susto eu fiquei indignada.

_ Por que eu deveria? Ninguém tem nada a ver com o que faço!

_ Aquele homem não está brincando, moça! Se eu fosse um assassino, você já estaria morta! Precisa sair daqui e deixar as ruas.

_ Noel não pode me impedir de trabalhar! Não estou tirando nada de ninguém. E ele foi quem me incentivou a começar com isso. A verdade é que ele sabe que estou me dando bem, e queria me explorar.

_ Você é muito imatura, garota! – falava como um irmão mais velho – Eu sei que você tem encontrado gente de todo o tipo, que já apanhou. E sei que alguns travestis estão querendo fechar o  cerco para você.

Fiquei impressionada.

_ Como sabe de tudo isso?

_ Você é uma prostituta! – eu senti vergonha ao ouvir aquilo, sei que é hipocrisia, mas ninguém ainda havia me chamado daquele jeito – Seu nome está na boca de todos que frequentam as ruas. Está sujeita a todo tipo de comentário e exposta a qualquer perversidade. E não tem ninguém além de si mesma.

_ Eu não preciso de ninguém! – eu falei aquilo por que estava moralmente ferida – Eu me basto sozinha.

Ele olhou para mim como se não acreditasse em minhas desculpas, e eu suspirei.

_ Não posso parar agora. Preciso de dinheiro para resolver minha vida.

_ O que ganhou até agora não é o suficiente? Acha que vale a pena correr esse risco?

_ Eu preciso ajudar minha amiga! Preciso devolver a ela o que tirei, uma vida tranquila... Eu fiz com que ela perdesse o emprego, e que levassem seu filho.

Pensar em David me fez chorar. Eu estava tão cansada que queria me deitar e dormir, esquecer que estava envolvida naquele mundo sórdido e cruel. A vida fácil que eu queria agora era a que eu tinha antes, com meus pais.

_ Tente outra coisa. O tempo está ao seu favor.

_Eu não sei fazer outra coisa. Esse... maldito trabalho foi a única coisa que consegui até hoje.

_ Não tentou fazer outra coisa. É diferente.

_ Fala como se me conhecesse, mas não conhece.

_ Não pensa que está em jogo também sua reputação, sua dignidade?

_ Não existe esse tipo de coisa aqui nesse mundo! É uma coisa que se aprende quando está nele.

Eu me sentia também impotente diante dele.

Ao levantar os olhos vi que ele estava me olhando com tristeza. Quis saber quem ele era.

_ Basta que você saiba quem você é, e o que quer ser daqui em diante. Por favor, desista disso e vá embora!

Ele ia saindo, mas eu não queria que fosse, sem pensar muito o abracei e era estranho, ele não sentia o mesmo que os outros homens.

_ Você pagou por esse tempo comigo. Por que não fica mais um pouco?

Sabendo o que eu quis dizer, ele me deu uma resposta arrasadora.

_ O desejo da carne representa o abismo de muitos homens. Embora seja grande minha vontade de te possuir por sua beleza, nunca o faria. Eu pagaria milhões para salvar sua vida, mas nenhum centavo pelo seu corpo, por que você não sabe ainda que ele não tem preço.

Com aquela lição de moral, ele me deixou e se foi.


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Notas finais do capítulo

Obrigada pela leitura novamente. Agradeço pelos reviews anteriores e espero por mais opiniões desse capítulo também. Valeu!!!!.