O sol havia acabado de nascer, iluminando toda a colina de Fairy Hills, mas ninguém já estava acordado para ver dois pequenos seres passarem apressadamente pelos portões.

– Depressa Gray! – sussurrou uma salamandra vermelha, que comicamente usava um pequeno colete e um cachecol – A transformação que Macao colocou em nós só vai durar duas horas.

– Eu sei – retrucou um coelho-das-neves atrás dele, que singularmente usava um pequeno medalhão em volta do pescoço – Porque nós fomos escolhidos para isso mesmo?

– Pela honra de ajudar companheiros de guilda – respondeu Natsu com simplicidade – Mas acho que eu também ouvi Wakaba dizer que no caso de nos descobrirem, a chance da Erza nos matar é menor do que a com outros.

– Isso está cada vez melhor - disse Gray em um tom sombrio, enquanto tentava alcançar o beiral de uma janela.

Entrar poderia ter sido um problema, mas Gray logo viu a utilidade de trazer Natsu, quando este conseguiu abrir a janela com as patas.

– Você deveria ter escolhido um animal com polegares – disse Natsu saltando pela janela.

– Não enche – disse Gray saltando atrás – Você se lembra do que fazer?

– Sim – Natsu assumiu o tom de quem recita algo decorado – Devemos tentar descobrir ou flagrar momentos constrangedores ou reveladores, e nesses casos, usar nossos lacrimas de transmissão para compartilhar a informação com os rapazes na guilda.

– Exato – Gray ficou contente por não ter que repetir tudo – E o que devemos gritar caso sejamos capturados?

– Fujam das Colinas – respondeu Natsu com um sussurro – Isso desativa o lacrima e é sinal de retirada.

– Agora nos separamos – disse Gray se virando para a esquerda – Nos vemos aqui em uma hora e meia.

– Tente ser discreto – disse Natsu antes de desaparecer em uma curva do corredor.

– E diz isso o cara que está transformado em uma salamandra vermelha bípede que usa roupas – resmungou Gray enquanto se apressava na direção oposta.

Natsu, devido ao seu bom nariz, encontrou um quarto habitado com maior velocidade, e se aproveitou da sua baixa estatura para entre por debaixo da porta.

– Ok, rapazes – disse Natsu ativando o lacrima no modo comunicação depois de dar uma olhada no ambiente e na habitante que dormia – Estou no quarto da Levy.

Ele ouviu sons de luta para ver quem olhava o lacrima primeiro.

– Mostre! – as vozes eram de Jet e Droy, mas Natsu suspeitou ter ouvido Gajeel em meio ao coro.

– Ainda não vi nada de interessante – retrucou Natsu – Agora calem a boca enquanto eu olho o local.

Em quanto isso, na guilda, meia centena de homens se acotovelavam em frente a um lacrima de recepção que não era maior que uma bandeja.

A transmissão de Natsu foi interrompida por uma série de ruídos estranhos.

“O que aconteceu?” era uma pergunta geral “Ele já foi capturado?”

Gajeel resolveu assumir o controle da situação, e abriu caminho a pancadas até chegar ao lacrima.

– Natsu? Que diabos aconteceu com você – rosnou ele.

De volta ao dormitório, Natsu estava em uma escuridão quase total, e reativou o lacrima.

– A Levy acordou! – disse ele num sussurro – Me escondi na gaveta de roupas íntimas dela.

Várias mandíbulas caíram na guilda.

– O que você fazendo aí? – Natsu ouviu um Jet indignado perguntar.

– Me escondendo – respondeu ele surpreso por tamanha hostilidade – Alguém sabia que a Levy gosta de roxo?

Uma onda de risadas sacudiu a guilda.

– Natsu - falou Wakaba tentando se aproximar mais do lacrima – Nos mande uma imagem disso!

Sua euforia foi reprimida por olhares mortais vindos de Jet, Droy e estranhamente, de Gajeel.

– Não sei, isso me parece errado – ouve um pânico coletivo enquanto os homens da guilda tentavam pensar em algo que tornasse aquilo algo mais aceitável.

Foi Macao que teve a idéia salvadora.

– Natsu – disse Macao pela transmissão – Você sabia que existe uma sala de espionagem embaixo da nossa piscina? Sabe quantas vezes elas podem ter ouvido coisas constrangedoras? Vamos considerar isso como uma pequena e saudável vingança.

– Quando se fala assim, não parece ruim – eles ouviram Natsu dizer – Vou fazer uma pequena gravação, fiquem atentos.

A transmissão foi cortada temporariamente.

– Macao, você sabe que aquele lugar foi construído pelo mestre na época que as garotas também usavam a piscina da guilda, não é? – perguntou Wakaba rindo.

– Bom, o Natsu não, então o problema está resolvido – respondeu Macao sorrindo – Ser um bom pai envolve saber empregar mentiras que se sustentam com uma verdade.

A discussão foi interrompida pelo fato do lacrima começar a receber imagens.

Eles conseguiam ver bem pouco devido ao pequeno tamanho do lacrima(tudo parecia de um tamanho absurdo) e pela pouca iluminação, que vinha de um dos ataques de Natsu.

Natsu vagou sem destino por entre as formas gigantescas de roupas intimas, mas aquilo causou uma grande balburdia entre os homens da Guilda.

– Hey Natsu – gritou Bixslow enquanto usava seus bonecos para flutuar por cima do multidão que se acotovelava para ver – Foque na de pelúcia prateada.

– Quando uma garota usa algo do tipo? – perguntou Loke, que passara pelo portal sem o consentimento de sua dona para assistir o evento – Acho que a Lucy é uma má associação para ela.

– Ei, esperam um pouco – eles ouviram Natsu dizer – Essa é idêntica a uma da Lucy!

Ouve um silencio pasmo na guilda.

– Subitamente, o garoto dragão acabou de se tornar meu herói – riu Bixslow de modo exagerado, colocando a língua para fora.

– Desculpe caras, vou desligar a imagem, está gastando muito poder mágico – A transmissão de imagem foi interrompida, mas eles ainda podiam ouvir Natsu descrever o ambiente.

Aquilo se estendeu por alguns minutos, até eles ouvirem Natsu exclamar:

– Encontrei um livro!

– Conte uma novidade – replicou Gajeel, que foi o primeiro a escapar das cenas que aquelas peças de roupa causavam na imaginação – A garota é um rato de biblioteca.

– Esse se parece com um rascunho, como um que eu vi na casa da Lucy – disse Natsu, e na guilda eles ouviram o som de folhas sendo passadas – Quem diria, ela escreve seus próprios contos quentes imaginários.

Jet e Droy despencaram para trás nesse momento, e Gajeel sabia que qualquer um dos dois trocaria a alma por esse livro.

– Explique isso melhor – disse Gajeel de forma rude, para esconder a curiosidade.

– Ela inventa situações entre ela e outras pessoas – disse Natsu que parecia não achar aquilo nada demais – Veja, você tem um capítulo só seu Gajeel.

– Como? – disse ele sofrendo uma mudança de cor, enquanto o resto da guilda tentava segurar a gargalhada.

– Você tem um capítulo próprio – respondeu Natsu – Eu divido o meu com o Fried e o Mystogan.

Dessa vez, vapor começou a sair da cabeça de Fried, enquanto alguns já chegavam as lagrimas de tanto rir.

– Hey, e quanto a mim? – perguntaram Jet e Droy e uníssono.

– Vocês nem aparecem – a falta de sensibilidade do Dragon Slayer fez com que ambos se encolhessem em um humor cinzento.

Na guilda, o riso se alastrava como fogo deixando a transmissão sobrecarregada de sons, então Natsu deixou em mudo enquanto saía para uma nova investigação.

Mas todo o divertimento foi pausado quando a sombra de um gigante pairou sobre eles.

– O que vocês estão aprontando dessa vez? – perguntou Makarov ao ver a bagunça que eles faziam.

Ninguém teve coragem de dizer nada, até Elfman resolver tentar.

– Mestre, Natsu e Gray estão em uma missão para verdadeiros homens e estamos os apoiando como homens!

– Ou seja – disse Bixslow rindo – Eles estão espiando o dormitório das garotas e nós estamos assistindo. Quer se juntar a nós?

Todos encararam com incredulidade o membro do Raijinshû.

– E porque diabos não me convidaram antes? – disse o velhote reduzindo de tamanho e se posicionando no balcão – Como fizeram para manter as garotas longe daqui?

– É dia de limpeza em Fairy Hills – respondeu Nab – Mesmo as garotas que não moram lá resolvem ajudar.

Antes que a discussão se alongasse, a transmissão voltou.

– Código Azul pessoal – eles ouviram Natsu dizer – Liguem a freqüência mágica do Gray, ele me contatou, parece que ele tirou a sorte grande.