Fui andando pra o meu chalé quando decidi falar com Greg antes, eu sei que era tarde  mas a gente precisava conversar.

- Greg, você está ai? – Perguntei batendo na porta de madeira do chalé de Dionísio.

- Helena, o que faz aqui essa hora? – Ele perguntou botando a cabeça pra fora da porta e embrulhado em um lençol, parecia que estava indo dormir. Não pude deixar de ri da cena dele com o cabelo bagunçado e a cara de sono.

- Me desculpa, não sabia que você já ia dormir sabe? Ainda não deu a hora de recolher.

- Não, tudo bem, o que houve?

- Nada, eu só queria estar com... você. Estou com medo dessa missão, não por mim, eu não tenho medo de morrer nem de que nada aconteça comigo. Mas você e a Charlie, eu tenho medo por vocês. A gente se conhece a poucos dias, mas eu já me sinto ligada a vocês. – Eu disse .

- Vai dar tudo certo. Você não meteu a gente nisso, já estava destinado a acontecer. Vem, vou te levar pro seu chalé, você precisa descansar. – Ele foi andando comigo em direção ao chalé 13 que era ao lado do dele, parou na porta.

- Você não quer entrar? – Eu perguntei.

- A gente pode se meter em encrenca... Mas quem liga? – Ele disse já entrando. Eu dei um grande sorriso e entrei no banheiro pra trocar de roupa, botei meu pijama e quando sai o Greg estava cutucando meu celular.

- Sabia que semideuses não podem usar a tecnologia? Ela atrai monstros e, quem é esse com você na proteção de tela? – Greg perguntou apontando pra o menino da foto ao meu lado e fazendo uma careta. Ciúmes?

- Longa história, um dia eu te conto pode ser? E eu tinha esquecido completamente que meu celular estava ai, nem uso mais ele praticamente, não tenho pra quem ligar mesmo. – Ouvi um sopro de concha ao longe.

 - Toque de recolhe, acho que se te pegarem nós estamos bem ferrados. – Greg riu.

- Então é melhor que não me peguem. E sobre isso, - Ele disse apontando pro celular. – Pode sim me contar outra hora.  

Eu sentei na cama e dei palmadinhas do meu lado chamando ele que se sentou também.

- Ok, eu estou na cama de uma garota, no meio da noite com o risco de 99,999% de o meu pai ou o Quíron pegar a gente. Isso é bom? – Ele falou mais pra ele mesmo do que pra mim. Eu ri. Era basicamente o que eu fazia na presença dele, não sei como ele já não estava começando a me achar retardada.

- Com a minha sorte, é capaz de eles chegarem aqui em cinco minutos, mas não precisa ficar se não quiser. – Eu disse com um olharzinho meio de cachorro que caiu da mudança.

- Não, é claro que eu quero ficar. – Ele falou me fitando com aqueles olhos violetas profundos. Então nós deitamos. Quer dizer... Eu deitei e ele se meteu em baixo, então eu fiquei com a cabeça no braço dele e ele nos cobriu com o seu lençol que tinha o cheiro dele. Uvas... Adormeci instantaneamente.

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- Onde estou? – Falei me sentando e pondo a mão na cabeça, estava  doendo como se eu estivesse de ressaca. Olhei ao redor e estava em cima de um divã rosa felpudo em um cômodo todo rosa bebê e uma mulher  me olhava, ela estava sentada em uma poltrona. Também rosa. Fitei ela por alguns momentos... Ela era a personificação da beleza. Pelo menos meu tipo de beleza... Seus olhos mudavam de roxo pra castanho claro e azul elétrico, tinha os cabelos castanhos escuro com californianas loiras como os meus, era branca, mas não tanto e o sorriso dela meio que me irradiava. 

- Está em um dos meus templos. Quer dizer, está por assim se dizer. Isso é um sonho. – Ela falou com uma voz melodiosa, como um canto hipnotizante.

- Ah, mas... Quem é você? –Perguntei.

- Isso você já deve ter deduzido bobinha. – Ela falou, batendo o dedo de cima pra baixo no meu nariz, como você faz com uma criancinha só pra irritar ela sabe?

- Afrodite...

- Exatamente.

- Mas, o que você quer comigo?

- Dar um aviso? – Ela disse.

- Sou toda ouvidos. – Me recostei no divã e cruzei as pernas.

- Bom, os semideuses deveriam descobrir o seus defeitos mortais sozinhos sabe? Mas eu contornei algumas regras, e vou contar o seu porque... bom, eu gosto de você. – Ela deu de ombros.

- Ãn... Okay. – Falei gesticulando pra ela continuar.

- Então, seu primeiro defeito mortal como uma filha de Hades, é guardar rancor, você não pode guardar rancor, isso geralmente se torna fatal. E o outro, que é o que mais floresceu digamos assim, é amar.

- Amar? Tá de brincadeira comigo né?

- Não, e sim, é amar. Você tem a tendência a querer salvar muito as pessoas, tomar as dores delas, seu maior defeito mortal é amar demais. – Disse Afrodite. – Mas ai é que tá, essa também é a sua maior qualidade, uma vez eu disse isso pra uma filha minha, e vou repetir agora pra você. Meu ponto é que amor é o motivador mais poderoso do mundo. Estimula os mortais à grandeza. Os seus atos mais nobres e bravos são feitos por amor.

- Preciso dizer que eu estou confusa? – Falei e ela riu.

- Tudo bem, na hora certa você vai entender isso direitinho, só tenha cuidado com muitos sentimentos misturados, isso também pode ser um defeito mortal. Agora, hora de voltar querida. – Eu ia falar alguma coisa, mas como Hades fez, ela estalou o dedo e eu estava de volta a cama com o rosto enterrado no tronco do Greg, e ele abraçado a minha cintura.

- Greg, Greeeg. – Chamei sacudindo ele.

- Acho melhor você voltar, já tá de manhã. Não quero que se meta em encrenca. – Ele abriu os olhos e me fito por uns cinco segundos.

- Tudo bem. – Falou com a voz rouca e já se levantando. – A gente se vê depois Helena. – Me deu um beijo na bochecha e desceu da cama.

- Greg. – O chamei quando ele já estava na porta.

- Oi?

- Obrigado, me fez sentir segura. – Ele deu um sorrisinho.

- Não tem que agradecer. – E então saiu porta afora. Eu me virei na cama pra tentar dormir mais um pouco. Aquele seria um dia longo...